As Listas de Ellen [versão wattpad]

Capítulo 28 - Wendy's

Nunca entendi a relação de Andy com seus namorados.

Na verdade, nunca entendi a relação dos ditos namorados com Andy. Ele é o mais atencioso, carinhoso e paciente namorado de qualquer relação que eu já tenha presenciado. De alguma forma, todos os rapazes com quem ele se relacionou acharam que a sua ingenuidade não tinha limites, e acabaram fazendo coisas inimagináveis com o coitado, a ponto de 1) traí-lo com seu próprio ex-namorado, 2) mentir sobre já estar namorando, e depois de contar toda a verdade, propor um ménage com o namorado, e 3) tudo o que é considerado detestável para um ser humano.

Ao conhecer Malcolm, é impossível não se sentir acolhido. A confiança que ele passa e quase nos obriga a passar é um fator importante, um ponto a mais em sua relação com Andy. Porque quando você arruma um namorado, você sendo o Andy, é necessário que seus amigos o aprovem. Isso já foi dito pelo próprio. Se não confiamos no rapaz, ele tanta de tudo para esquecê-lo – nem sempre sendo eficaz. Não porque ele acha que o mais importante numa relação é a aprovação dos amigos; não. É só que, admitindo ser uma pessoa ingênua, Andy precisa que os outros enxerguem as coisas boas sobre seu parceiro, para que assim ele tenha certeza que está certo. E sobre Malcolm é impossível não enxergar todas essas coisas maravilhosas.

Além de trabalhar na agência como modelo, Malcolm nos contou que está sempre procurando uma maneira de ganhar dinheiro se divertindo. E por se divertir, ele quer dizer trabalhar com crianças duas vezes por semana. Crianças especiais, só para apunhalar mais uma vez nosso coração.

Enquanto Brenda e eu lamentávamos a vida sem alguém tão aparentemente perfeito como Malcolm, pela primeira vez Andy ficava por cima, e não posso dizer que não fiquei feliz com isso.

Depois de tanto ser esfaqueado pelas costas, chutado quando já estava no chão e colocado de pé novamente só para levar mais uma pesada, está sendo maravilhoso ver como Andy pode ser feliz e esperançoso com um romance novo.

***

E sobre Malcolm, ainda vale ressaltar que ele tem os melhores amigos, com as melhores intenções de ajudar pessoas desempregadas e desesperadas por um ofício na vida.

A lanchonete a qual Malcolm me leva para encontrar com Julius não é tão modesta quanto pensei que seria. Me sinto amedrontada enquanto entro pela enorme porta de vidro com detalhes em vermelho que nos leva até o interior da Wendy's burguer. O chão é todo em piso preto e branco, cada quadrado é mais brilhoso do que qualquer joia que eu possa ter guardada em meu armário, e as mesas são posicionadas cada uma com a mesma distância da outra. São redondas e vermelhas, comportando quatro cadeiras brancas. O ambiente é todo em detalhes em vermelho, branco, preto e um verde piscina, além de uma parede em madeira escura. Um espelho escorre por toda a parede em madeira, e ao olhar meu reflexo, percebo como estou com a cara assustada, e logo arrumo a postura. Malcolm está bem a minha frente, conversando com Julius. Ele aponta para mim e em seguida me chama para juntar-me a eles. Meu andar é ligeiro e desengonçado.

— Então, Julius. Esta é Ellen, de quem lhe falei. Ela não é adorável? — Ele fala com gestos e sorriso exagerados. Julius está igualmente empolgado.

— Sim, muito doce. — Espanto-me com os elogios repentinos. Cruzo os braços sobre o peito e sorrio, encabulada. — Você já trabalhou em algum restaurante antes? — Balanço a cabeça negativamente — Lanchonete, Café? — Ele insiste. Continuo negando. Julius suspira e Malcolm morde a ponta do dedão, fazendo uma careta infantil:

— Ela pode aprender rápido — Malcolm aperta meus ombros com suas mãos supreendentemente fortes e sacode todo meu corpo. — Não é, Ellen?

Os olhares de expectativa em cima de mim me deixam mais nervosa do que eu já estava, mas respiro fundo e respondo que sim. Julius me explica, num tour rápido, como acontecem as coisas na lanchonete. São duas da tarde, a hora em que o local abre, e os adolescentes de cabelos oleosos começam a entrar, fazendo barulho e gargalhando como se o mundo fosse cor-de-rosa. Quero lhes dizer que a vida vai piorar, e muito, mas mantenho a calma – e a mágoa por não ser mais esperançosa quanto a tudo, como eles – e sigo andando e prestando atenção em cada detalhe dito por Julius.