Capítulo 25 - Sr. Certinho.

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Os quatro dias em que meus pais passaram comigo foram melhores do que eu imaginava que seriam. Quando mamãe me deu a notícia, fiquei desesperada, pois não saberia como lidar com meus pais numa semana tão conturbada. Para piorar, a notícia da demissão veio logo em seguida, só para me deixar sem saída. Porém, nem tudo foi pelos ares; algumas coisas correram a meu favor.

Como eu menti sobre a demissão, pude passar algumas horas do dia fora, e assim não ter que enfrentar meus pais me julgando por coisas que não tenho culpa, ou ouvir minha mãe tagarelando sobre a vida maravilhosa que tem, os best-sellers que escreve ou as melhores amigas do planeta, que sempre estão ao seu lado. Em vez disso, fiquei perambulando pela cidade, curtindo o ócio, como me sugeriu Andy, e pensando sobre o que diabos aconteceu no cinema, com Brandon. A única coisa que não me deixou feliz foi Brenda, que passou cada dia menos tempo no apartamento.

Na sexta-feira, quando eu tinha acabado de voltar do aeroporto, onde fiz questão de levar meus pais – mesmo com minha mãe insistindo para que eu não fizesse o esforço – a falta do que fazer me deixou com mais preguiça do que enfrentei no meio da semana, o que me fez ficar deitada em posição fetal, no sofá da sala, recapitulando tudo o que aconteceu em uma semana tão perturbada da minha vida.

Não consegui tirar o acontecido no cinema da cabeça, que ocorreu no mesmo dia em que eu criei coragem e coloquei um ponto final definitivo na história com Max. Tenho a esperança de que ele não apareça mais para assombrar minha vida, que já anda tão atordoada. Por outro lado, vem a incerteza do que pode estar começando a acontecer com Brandon. Um beijo não é nada para que eu comece a desenrolar uma história de vida com ele, também não é o suficiente para que eu comece a pensar nele vinte e quatro horas por dia. Só é o suficiente para que eu pense na improbabilidade dos acontecimentos. Eu nunca, em momento algum dos meus vinte e quatro anos, pensei em encontrar algum amigo numa entrevista de emprego. Ainda mais sendo a pessoa que me entrevistou, que eu sempre pensava serem pessoas intimidadoras e medonhas. O que Brandon mostrou não ser. A menos que eu considere sua confiança excessiva em pessoas praticamente desconhecidas estranho.

Enquanto eu estava perdida em um pensamento solto, sem nenhum gancho que o prendesse a qualquer história relevante, a campainha soou e eu corri para atender a porta. Estando tanto tempo sem uma companhia interativa, eu estava ansiosa por saber quem me chamava. Era Brandon.

Não me surpreendi ao vê-lo ali. Por que surpreenderia? Está se tornando típico dele, aparecer em momento em que ninguém o espera.

— Você atendeu muito rápido. — Ele constatou — Eu ainda estava pensando na desculpa.

— Que desculpa?

— Que eu arrumaria para poder vir aqui.

— Não precisa de desculpa alguma. — Eu disse, abrindo mais a porta, dando passagem para ele, que estava um pouco suado. Algumas gotas brotavam em sua testa. — Estava correndo? — Perguntei.

— Vim correndo. Não gosto da espera caótica por um táxi. Ou da confusão dos metrôs.

— De onde você vem não tem táxis ou metrô? — Perguntei, zombeteira.

— Você acha que vim de um lugar distante, onde tudo é diferente e não-desenvolvido? — Ele me devolveu uma pergunta, arqueando as sobrancelhas.

— Acho.

A conversa continuou no ritmo, e não passamos um minuto em silêncio. Tirando o tempo que passamos competindo para saber quem consegue enfiar mais Oreos na boca, sem engolir. Eu ganhei. Anos de prática.

As Listas de Ellen [versão wattpad]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora