Alea jacta est

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Não era suposto eu estar naquele lugar naquele dia. Tinha sido arrastada para lá. Tinham arrastado o meu ser para aquele medonho lugar ao qual chamam centro comercial. Acho que nunca entendi muito bem esses nomes que as gerações gostam de colocar nesses novos estabelecimentos.
Contra a minha vontade, havíamos saído da biblioteca da faculdade para procurar naquele (medonho) lugar a prenda perfeita para o Natal perfeito. Como se em algum dia o Natal se pudesse tornar perfeito. Natal que já nem significado tem, cuja palavra que denomina essa tão feliz tradição ganha a cada ano um contorno mais consumista e menos espirituoso. Mas mais uma vez, as gerações trocam os nomes brincando com eles como se de objetos se tratassem.
Arrastaram-me de loja em loja procurando por algo. A cada mostrar de um objeto um acenar já mecanizado da minha cabeça tentando esconder a indiferença que sentia por ali estar. Mas todos os outros pareciam felizes e como diz o velho ditado "Quem está mal, muda-se".
Ouvem-se as músicas características desta época a ecoar por colunas por todo o edifício. Sente-se o cheiro que nunca conseguimos esquecer porque nos acompanha desde que somos miúdos até sermos graúdos e que já em velhotes continua a melhorar o nosso dia. Acho que foi a melhor coisa daquela tarde (perdida) naquele lugar.
Até que o vi...
Olhei-o e senti algo que nunca havia sentido. Sentia a mente a fervilhar em ideias e as minhas mãos procuravam encontrar papel para descrever aquele ser tão singular.
Tinha um ar assim meio desajeitado diríamos. Uma coisa tinha certa, ou era fascinado por bandas ou estava numa. Aquela camisola dos antigos nomes não enganava ninguém.
Ele apanhou-me a observá-lo e sorriu-me. Senti-me envergonhada por o observar daquele jeito, como se fosse mais uma experiência laboratorial cujos resultados observamos em microscópios.
Tocam-me no ombro e subitamente é hora de partir. Eu que tanto desejava ir embora agora dava tudo para ficar e falar com aquele sujeito que de alguma forma me fez sentir algo que procurava em mim à meses. Mas quando me viro para lhe agradecer, já ele entre a multidão caminha distante e por mais que tente nunca chegarei a ele.
Retorno ao ponto do qual parti à três horas atrás com a mentalidade alterada, com o mundo virado e com as palavras atrapalhadas na boca, como se calhaus se tornassem sempre que as tento pronunciar.
Pela primeira vez em meses ou anos sou capaz de escrever algo por inspiração e não por trabalho ou frequência. Pego no computador e abro um site que em anos anteriores se havia tornado o meu melhor amigo.
Pela primeira vez não sinto medo, vergonha de quem sou ou do que escrevo. Sou o agora e o hoje e não tenho falta de nada nem de mim.
As palavras voam nos meus dedos como os pássaros no outono tentando abrigar-se. Um novo comentário em mim surge e sinto a sorte lançada, um renascer em mim.

"ALEA JACTA EST"








Hey malta.
Sei que tenho outras em atraso mas precisava de escrever esta nova.
Espero que gostem vai ser bastante diferente e com menos drama mas vai ser muito interessante.
Espreitem as minhas outras histórias
Byeee xx

Omnia fert aetasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora