Capítulo 28

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Anne tinha certeza que estava sonhando, enquanto caminhava pelo enorme campo de tulipas com os raios de sol refletindo sua pele desejou permanecer naquele lugar para sempre, ansiava pela aquela ausência de dor, como em toda sua vida desejou. 

Não queria lidar com as expectativas de sua avó ou com a dor da ausência de seus pais, a culpa que carregava por ver sua irmã ser tratada como uma pária e a culpa recente por seus inúmeros pecados, mas acima de tudo não queria se sentir tão sozinha, pois a verdade era que mesmo em uma sala cheia de gente ela sempre se sentia solitária, como se ninguém pudesse lhe entender. 

Ela desejava conversar e contar a alguém tudo o que estava em seu peito, mas a sensação que tinha era que poderia contar todos os seus segredos mais obscuros, declarar seus sonhos mais secretos e ainda assim ninguém no mundo conseguiria entender. 

—  Haveria alguém no mundo capaz de me entender? — questionou em voz alta se sentando na beirada do lago cristalino, com cuidado colocou seus pés na água se surpreendedo com a temperatura agradável. 

— Ah Anne —  uma voz amorosa soou atrás dela, de repente um tremor tomou seu corpo ao mesmo tempo que uma sensação de segurança a dominava, não pode voltar seu olhar para trás para verificar o dono da voz. —  Não es uma incógnita. 

 — Estou tão cansada — chorou a loira, enquanto encarava sua própria imagem nas águas cristalinas, seu cabelo loiro estava solto e caia em parte de seu rosto, resistiu a vontade de arranca-lós. De repente sua própria roupa chamou sua atenção, notando pela primeira vez o quão suja estava, sentiu vergonha e poderia chorar ainda mais ao constatar que não deveria estar na frente daquele homem daquele jeito. — Por que dói tanto? 

O homem se sentou ao seu lado, mas novamente ela manteve seus olhos baixos sabendo que não deveria encara-ló. 

— É essa sua mania de carregar pesos que não lhe pertence —  respondeu, sua voz era estranhamente calma e carinhosa, a lembrava a voz de sua irmã, de seu pai, de todas as pessoas que ela amava, era uma voz que exalava o próprio amor. — De pegar para si culpas que já foram justificadas, e é achar que precisa de algo além daquilo que já recebeu. 

—  E o que eu recebi? 

—  Amor — Ele disse cuidadosamente — , um amor imerecido. Ninguém no mundo vai te compreender por inteiro Anne, pois não foi feita para ser desvendada por homens. Não consegues entender quem alguém muito mais importante a notou antes mesmo que fosses formadas no ventre de sua mãe? Não consegues perceber que ainda que o mundo todo lhe abandone nunca estaras sozinha? 

— Como não? —  ela perguntou como uma criança birrenta, como uma filha para um pai. — Eu sempre estou sozinha. 

— Nunca estas sozinha —  respondeu o homem ao lado dela. 

— Então quem... —? ela não conseguiu concluir a pergunta, mas ele parecia compreender até mesmo aquilo que a boca dela não pronunciava. 

— Eu sou. 

Um vento forte percorreu todo o campo, mas ao contrário do que poderia se imaginar aquele vento trazia vida e ao olhar para sua própria roupa Anne percebeu que estava limpa. 

— Quem? Não entendo — ela encarou sua própria roupa novamente fascinanda com o quão brancas elas estavam. 

— Eu sou —  respondeu Ele novamente. 

O vento forte fez com que os cabelos dela voassem contra seu rosto e ela sentiu vontade de se jogar ao chão, por um breve momento a consciência de seu pecado a dominou. 

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⏰ Last updated: May 18 ⏰

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A Boa SamaritanaWhere stories live. Discover now