O Herdeiro da Máfia (Kacchako)

02

Fazia exatos 2 meses desde que sua mãe morreu em um terrível acidente de barco na sua cidade Natal, Shiang Mai. Ochako estava devastada e não conseguia sequer por os pés dentro do apartamento onde viviam juntas. Ela definitivamente estava numa maré de azar muito grande, perdendo tudo o que realmente amava, deixou os ringues a cinco meses e três meses depois sua mãe faleceu, era o pior momento de sua vida com toda certeza, até receber um convite do seu velho pai para ir auxiliar a academia de muay thai enquanto ele estivesse fora, pois já estava um tanto velho para aquilo e treinar um pouco a cada dia ajudaria na recuperação da lesão no joelho direito, sua melhor arma no muay thai. As imagens daquela luta onde teve o joelho deslocado completamente por um chute da adversária não saia de sua memória, um descuido ridículo na hora do cansasso, mas não podia negar que a lutadora russa estava no seu melhor momento, com um suspiro confiante ela entrou no avião levando consigo um par de luvas amarelo pendurado na alça da mochila vermelha nas costas.

— Uma vida Nova Ochako — Ela disse para si mesma observando seu país ficar cada vez mais distante pela janela do avião enquanto sentia sua barriga dar um nó de tanta ansiedade.

Depois de algumas horas dormindo no avião ela pode ver seu pai com uma pequena placa escrito seu nome em tailandês e seus olhos encheram de lágrimas, era um tremendo esforço para aquele velho japonês escrever os caracteres tailandeses, Ochako não o via desde os 15 anos quando ele decidiu deixar sua família e seguir acompanhando um antigo aluno e lutador pelos ringues a fora até estacionar no Japão e criar raízes em uma pequena academia no centro de Tóquio, sua cidade Natal, sempre dizendo que um dia a buscaria na Tailândia, o que nunca aconteceu, ele nunca tinha dinheiro o suficiente para isso.

— Como está a sua recuperação? — Sr.Uraraka perguntou dando um abraço forte na filha.

— Lenta — Ochako suspirou — Não posso encarar os ringues, não ainda — A mestiça caminhou até o carro amarelo que os aguardava na entrada do aeroporto — Como estão as coisas na academia?

— Você verá quando chegarmos lá.

O sorriso do velho era calmo, era um sorriso de alguém que tinha vivido tudo o que queria durante a vida, não era rico, mas com toda certeza se considerava um homem com muitas riquezas e satisfações. Uraraka gostou de toda a simplicidade da academia, lá tinha tudo o que era preciso para formar um bom lutador.

— O professor faz o atleta, não a academia — pai e filha disseram juntos quando ela largou a mochila.

— Vamos, tenho um quarto que preparei todos esse anos só pra você — Disse o velho treinador animado.

Ochako descansou por um dia inteiro antes de sair para conhecer a cidade, ainda estava estiante sobre morar em Tóquio, mas agora era sua única opção, estava com sua única família e ali era o seu lugar. Depois de uma sessão de cordas ela calçou seu tênis de corrida e saiu pelo quarteirão, sem reparar muito na arquitetura do local, apenas curtindo suas músicas, mesmo com muitas pessoas mal encaradas vestindo terno naquela região ela não se sentiu intimidada, mas não ficou encarando para ver o que acontecia. Quando completou sua corrida ela calçou suas luvas e foi para frente do saco de pancadas treinar algumas variações de golpes, a academia ainda estava vazia, não tinha alunos que treinavam aquele horário, então ela apenas continuou até aparecer alguém que pudesse ser seu parceiro de treino.

— É proibido fumar aqui — Disse ela observando por sua visão periférica a silhueta de camisa vermelha encostada na parede.

— Onde está o mestre Uraraka? — Ele perguntou analisando a garota de cima a baixo enquanto ela socava o saco de pancadas. Katsuki nunca tinha visto uma garota ali naquela academia nos seus seis meses de treino.

— Você vai jogar isso fora ou eu vou ter que ir aí arrancar da sua boca? — Agora aqueles olhos negros dela estavam cravados no homem que sorriu ao jogar pela janela o que restou do cigarro que fumava.

— Que garota difícil — Ele resmungou — Só responde minha pergunta.

— Sr.Uraraka não está — Disse ela analisando o homem a sua frente com a respiração ofegante — Se veio treinar ainda esta cedo, volte daqui meia hora com roupas apropriadas.

— Não treino com mulher — Ochako sorriu com desgosto tomando um gole da água em sua garrafa que estava no canto do ringue — Não me leve a mal, mas sabe, mulheres não deveriam fazer esse tipo de coisa.

— Entendi — ela concordou irônica — Você é daqueles que acha que nós temos uma única função, servir vocês sexualmente.

— Nah — Ele estalou a língua — Também precisamos de alguém que façam os afazeres.

— Você se considera bom no muay thai? — ela jogou um par de luvas para ele — Vamos lá machão, me mostra o que sabe, não me faz arrebentar essa sua cara até você parar com esse discursinho machista.

Katsuki tirou os sapatos e calçou as luvas, com o cabelo preso em uma pequena tiara preta ele manteve a camisa de manga comprida, não queria mostrar suas tatuagens a uma completa desconhecida e era um trato que ele tinha com Sr.Uraraka, ficar invisível, pois se qualquer um alem dele souber que ele é da Yakuza ele seria expulso do tatame. Ochako vestiu seu protetor bucal cor de rosa, seus cabelos trançados em duas tranças caiam ao lado do ombro, suas luvas amarela estavam embaixo de seu olhos, uma guarda completamente fechada, não conhecia seu oponente, ainda mais quando sabia, que ele provavelmente teria o dobro de sua força por ser homem. Katsuki se colocou em guarda, o sorriso branco era esbanjando atrás das luvas, mostrando que estava sem sua proteção na boca. Ochako atacou com um chute de direita na linha da coxa e Katsuki contraiu os lábios e investiu, jeb, direto e chute na linha da costela, seu primeiro erro, Uraraka chutou sua perna de base e ele caiu de costas no chão.

— Quando quiser parar gatinho é só pedir —Ela debochou enquanto ele se levantava.

— Não vou passar por essa humilhação — Ele chutou na altura da coxa e Ochako se contraiu com a dor, mas bateu o pé algumas vezes no chão e voltou para a luta.

Jeb, direto, joelho na linha da costela e um frontal no peito Katsuki parou nas cordas procurando por seu fôlego que foi embora no instante que o joelho dela tocou seu baço. Ochako já sabia onde bater, e seria na linha de cintura que ela acabaria com ele, ela fechou a guarda na investida dele quando bateu direto, cruzado de direita e foi para o clinch, um, dois, três joelhos e ela atacou com um Hook* na costela direita e ele se arqueou sentindo novamente o fôlego e foi aquela deixa que Ochako usou para finalizar com um giratório bem no queixo do adversário que cuspiu sangue e caiu de joelhos.

— OK já está claro que você é a vencedora aqui — ele ergueu a mão esquerda em rendição — Quem é você?

— Eu? — Ela sorriu ao tirar as luvas — Ochako The Sweet Uraraka, campeã mundial de muay thai 7 vezes. — disse ela orgulhosa entregando uma garrafa de água para ele.

— O que você é do velho?

— Filha — Ochako sentou ao lado dele no centro do ringue — Seu comentário foi muito escroto sobre mulheres na luta.

— Foi mal — Ele respirou pesado —  Mas realmente não imagino que seres delicados façam tal coisa.

— Então você conheceu o grande tesouro do mestre Uraraka — Sorriu Midoryia ao deixar sua mochila no armário.

— Da pior forma — Sorriu Katsuki ao olhar para a garota ao seu lado.

— Prazer Uraraka-san me chamo Midoryia Izuku— ele estendeu sua mão direita para a garota — Sou o aluno e atleta mais antigo do Mestre Uraraka.

*Hook nomenclatura para cruzado na linha da cintura