Efiggus e a cadeira verde-musgo

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De forma curiosa e pitoresca, a grama do jardim estava aparadíssima, sem nenhum defeito que incomodasse os olhos. Este grande platô era igualmente dividido por um extenso caminho de pedriscos brilhantinos. A miudez destes certamente servia de mínimo detalhe comparado ao quanto o resto da casa possuía adornos magníficos, uma pintura impecável, chamativa pela harmonia e combinações de cores tão já conhecidas pelo resto das pessoas.

O porém, um dos únicos poréns, em verdade, era que a parede em que o cenário de areia, bolhas, colunas abandonadas no fundo do mar, junto de vários peixe-palhaço e algas marinhas tão finas que poderiam ser comparadas a palitos de dente murchos e verdes embaixo d'água estava em desfoque. Borrada. Todavia somente um pedaço dela. Como se alguém, não fizera muito tempo, tivesse passado a mão ardilosa por cima daquela arte construída a mando de seres celestiais.

Uma agonia transpassou por dentro de mim. Quis puxar meu coração para fora do peito inopidamente. Mas era só um arrepio repentino. Não sei se a sensação me arrancou gemidos. Ela somente também transpassou pelos meus calcanhares e pelos das pernas. Fastei-me, condenando aquela desfeita do diabo.

Uma forma felina assomou, entrelaçando-se num dos meus calcanhares. No esquerdo, para ser precisamente claro e exato em mesma medida. Olhei para a esquerda. Havia um monte destes. Variando em cor. Miando de fome. As formas tísicas destes me davam mais pena do que qualquer outro sentimento próximo do nojo, do horror, e dum princípio de medo. A luz amarelada iluminava o vão. E o coro de mios, nada que os cessassem!

Era a fome. A fome travava um embate incessante nas suas goelas. E a sede. O que diabos queriam saciar primeiro? Não há em mim ideia concreta. A perturbação miúda de seus estridos jazia por ali, no torno daquele vão. Por desventura que desconheço, não consegui saber nem compreender o porquê daquela imensa ninhada faminta. Nada me tirava o centro daquela pintura! Fosse o que fosse, nada que houvesse ali aquém dela furtava-me a atenção.

Nunca fora amante das artes, entrementes este podia considerar um passo, melhor: um enigma longínquo do qual não fazia ideia mínima do porquê diabos instigava-me como um imã. Somente estava ali, convidado a passos parados, meus sapatos engraxados pararam de ruir ao mesmo instante. Que incógnita! Aquilo estava pondo aos pedaços quebrados fde uma linha vermelha a minha paciência!

Não havia uns porquês!

Absolutamente nada de explícito ou pistas para seguir. Não haviam ratos que servissem de alimento para aqueles gatos; nem um homem carregando uma escadinha, um balde de tinta para retocar a pintura daquela parede aos borrões; deixei os bichanos, a parede de mar para trás e parti.

Outra vez no jardim, meus sapatos mastigavam e derrubavam a graminha aparada. Galgava sem olhar para que canto meus pés tocavam. Daí, caí. Meu corpo magrela tombou contra aquela maciez, que vez ou outra pinicava meu paletó. Caí como cai um enfermo numa maca Acometido de febre e quentura. Maçada! Que raios havia comigo ali? Minha cartola negra escorregou mínimo da minha fronte. Antes, vi claramente a extensão do meu braço esquerdo. E minha mão. Meus dedos reagindo a um tênue estímulo.

Contos para se aterrorizar: porque o perigo espreita as sombrasWhere stories live. Discover now