Capítulo 2

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         Gricem?! Fechei a porta do banheiro e sentei sobre o vaso sanitário fechado. Meu Deus! Acho que eu tinha mais uma resposta para a minha pergunta. Era por isso que eu estava ali. Não podia ser uma simples coincidência a bruxa, a ser executada, ter o sobrenome “Gricem”. Será que era uma das herdeiras anteriores a mim?

        Elizabeth provavelmente conhecia a bruxa porque a sua reação foi reveladora. Ela simplesmente perdeu as palavras, não conseguiu esboçar qualquer reação ao nome dito por Zach.

        Será que era eu? Não é possível que eu tivesse voltado no tempo para ser executada... Será que Téo teria me levado para uma viagem ao passado e fui descoberta?

        Troquei de roupa rapidamente, mas jamais conseguiria amarrar todo aquele espartilho, sozinha. Abri um pouco a porta e perguntei à ruiva se poderia me ajudar. Em instantes, nós estávamos enfiadas no banheiro e suas mãos puxavam os laços com bastante habilidade. Deduzi que ela poderia ser uma daquelas criadas que cuidam de dondocas metidas.

        Ai! Nossa! Levei minhas mãos à barriga e me curvei para frente. A dor estava percorrendo toda a minha coluna e era lancinante. A moça pareceu ter entendido e passou seus dedos por entre os fios, os afrouxando. Continuei agachada tentando respirar e senti algo subir pela minha garganta. Tossi.

        Quê?! Porque tossi gotas de sangue?

        Senhorita?

        Rapidamente passei minha outra mão sobre as gotas. Sei que nos séculos antigos havia muitas doenças contagiosas e a última coisa que queria era ser exilada. Ainda mais quando sabia não estar doente. O problema é que quando meus dedos tocaram a palma suja da minha mão não havia sangue líquido. Eram apenas como manchas permanentes. Será que só eu as via?

        Obrigada. Estou com um machucado e não posso apertar muito. Desculpe não ter avisado.

        Ela olhou-me espantada e não consegui entender o motivo.

        — Senhorita, estou indo para a praça. Qual recado quer que eu envie para a sua família? – ela falou assim que seus dedos terminaram o serviço.

        — Desculpe a indiscrição, senhorita Fay, quem vai ser executada?

        — Maya Gricem. É a moça que trabalha na loja de remédios. – hum... Tive que fazer uma expressão de espanto como quem diz: “a moça que trabalha na loja de remédios?! Meu Deus, mas ela é uma bruxa?”. Espero que tenha funcionado.

        — Gostaria de acompanha-la até a praça. Já me sinto bem melhor. – Elizabeth olhou-me de cima a baixo e sorriu, apenas de um lado.

        — Vamos?

        Quando passamos pela porta, descobri que a casa de Elizabeth ficava em uma ruela... Ou beco sem saída. Era, na verdade, como um túnel. De um lado havia a casa dela, cuja fachada era feita de tijolos vermelhos, e mais uma ao lado. E, em frente, apenas uma parede de tijolos vermelhos. O chão era formado por grandes pedras cor de cinza e parecia, pelo menos ali, não haver diferença entre calçada e rua.

        Minha ‘nova colega’ parecia passar por dificuldades e isso só me fez reforçar a tese de que os menos abastados são os mais solidários.

        Mas a precariedade dali ainda não tinha acabado. Pouca iluminação, lixos amontoados em determinados pontos, homens pedindo dinheiro com pequenas canecas de latão e confesso que senti vontade de ajuda-los. Não suporto ver pessoas passando necessidades, mas não podia fazer nada por muitos motivos e o principal deles era que aquilo ali pertencia ao passado que não devia ser alterado.

        Enquanto analisava o ambiente meus ouvidos continuaram aguçados para as conversas esparsas entre Zach e Elizabeth. Bem... Zach parecia o tagarela e ela o repreendia, conforme já tinha percebido com medo da minha presença. Assim mesmo consegui reforçar a minha tese de que estavam ao lado de Maya e não daqueles que queria executá-la. Que bom! Mesmo sem conhecê-la eu também já estava ao seu lado, afinal nós éramos farinha do mesmo saco.

        E foi muito de repente que comecei a ouvir umas vozes.

        O que hão de ser estes pensamentos? Desistir? De nós? Um homem indignado reclamava. Hei de me entregar. Por nós. O perigo há de alcança-lo e a nossa infante. Não há outra escolha a ser feita. A resposta viera de uma mulher e consegui perceber o cunho totalmente romântico naquela briga. O homem não queria que ela partisse apesar de ser a escolha mais segura para a filha deles.

        Será que estava ouvindo a tal de Maya? Será que podia ajuda-la de alguma maneira e era por isso que tinha ido até ali? Para alterar o passado?

        Maya. Não há de esquecer-se de que eu a amo. Amo-te, minha senhora. A tristeza daquele homem me contagiou. Pude até sentir as lágrimas embargando sua voz ao dizer que amava Maya. Era como um filme. Amo-te. Hei de proteger-lhes para sempre. Houve um silêncio e quando percebi, eu e meus ‘guias’ tínhamos chegado à praça. Adeus Laura.

        E nada mais foi falado... bem... nada que eu tenha ouvido.

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Espero que gostem! Se sim, cliquem na estrelinha, ok?

Não deixem de dizer o que estão achando. Sei que o capítulo também é pequeno, mas os primeiros vão ser assim mesmo. Por isso, estou postando dois no final de semana.

Beijos!

A Maldição Gricem (Livro 2 - Saga A Herdeira)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora