A Menina dos Olhos Bicolores

Capítulo 61

Nesta manhã, nós iríamos fazer um passeio de barco. Eu. Odeio. Barco. Algumas pessoas ficam enjoadas quando começam a sentir as ondas mexendo e tals. Eu me sinto enjoada antes de entrar no barco, enquanto estou no barco e depois que eu saio do barco. Ou seja, eu vomitei a manhã inteira.

- Lucy, vai sozinha. Eu não tô bem.

- O que aconteceu? - Ela do nada ficou com a cara espantada e veio até do meu lado. - Quer um teste de gravidez? - ela sussurrou e olhou para Clarissa.

- Não, Lucy. Eu só tô... - Não deu tempo de terminar, pois corri pro banheiro pra vomitar. - ... Enjoada.

- Tá. Grávida. Tá. Grávida. Se for menina, vai se chamar Lucy, e se for menino... Lucyo. É isso aí. Serei a madrinha, viu? - Lucy começou a pular pelo banheiro.

- Lucy, eu não tô grávida. É só enjoo.

- Sei. Vou contar pro Zack.

- Lucy, vai pra porra de passeio de barco e para de procurar coisa onde não tem!

- Você tá nervosa. Tá grávida. - Ela saiu.

Umas vomitadas depois, Clarissa e Melody também saíram do quarto. Peguei o controle da TV e comecei a assistir Glee. Acabava um episódio, já começava outro. Acho que assisti uns dois ou três episódios.

- Sing it for the boys, sing it for the girls lalalalalalalalala. - Só eu que fico enrolando quando não sei uma parte da música? A porta se abriu, mas eu não parei, pois achei que era Lucy. - Sing it for the world, sing it for the world!

- Ariel. Calma, não precisa se desesperar. - Zack me abraçou e apertou minha cabeça em seu peito, acariciando meus cabelos de um jeito meio... forte demais. Ok, ele tava quase arrancando meu cabelo. - Não precisa ficar desesperada, eu estou aqui. E nós vamos passar por isso juntos, meu amor. Não chore.

- Eu não estou chorando.

- Ok, ainda não passou o choque. Daqui a pouco você começa a chorar, não sei se é de tristeza, desespero ou alegria, tá? Mas não se desespere. Eu sei que ser mãe nessa idade não é muito normal, mas nós vamos passar por isso juntos e...

- Peraí, como assim "ser mãe nessa idade"? Quem vai ser mãe?

- Ué, você.

- Não vou ser mãe.

- Mas todo mundo tá falando que eu vou ser pai. Alguns me dão os parabéns, outros dão os pêsames... - Eu o olhei confusa. - Mas, assim, eu acho que é mais pro parabéns. Eu tô muito feliz. Nós podemos procurar na internet alguns nomes pra bebês, porque daqui a pouco a gente já sabe o sexo...

- Zack, eu não tô grávida.

- Não? - Ele me encarou. - Mas como assim? Eu já tava até pensando na cor da parede do quarto do Théo.

- Quem é Théo?

- Nosso filho. Bom, se a gente tivesse a Ekena primeiro, aí a gente tinha o Théo depois, mas tem que ter o Théo - ele exigiu.

- Você já pensou até nos nomes? - Ele assentiu. - Meu Deus. - Eu ri. - Zack, não vai ter nenhum Théo, nem nenhuma Ekena. Quem foi que te disse que eu estava grávida?

- Não, então, todo mundo começou a vir me parabenizar e essas coisas. "Parabéns, papai" "Vou ser convidado pros aniversários, né?". Aí eu não tinha entendido, mas eu conversei com a Lucy e ela disse que você estava vomitando aqui. Aí eu liguei os pontos e pensei "Ariel. Vômito. Papai. Ela tá grávida".

- Eu não acredito. A Lucy espalhou que eu estava grávida?

- Não foi ela. Ela até ficou brava por eu saber. Acho que foi alguma das outras meninas que estão nesse quarto.

- Melody e Clarissa. Vagabundas.

- Então você não tá grávida?

- Não.

Ele assentiu e foi meio lerdo até a porta, sem cortar o contato visual comigo. Ele abriu a porta e olhou pra fora, logo me olhando de novo e dando um sorriso sem graça.

- Só um minutinho. - Ele saiu do quarto e eu grudei na porta pra escutar. - Ela não tá grávida, gente. Vaza daqui. Vai, sai. Ô, cara do sombrero, hermano, moço mexicano, tiozinho da serenata, puta merda, como chama esse moço? Juanito? Aí, é. Puede ir embuera, porque mí namoradita nón está gruávida. Vai tuomar uma cuêca-cuêla, tuema un dinheirito.

- Zack manjando dos espanhol - Andy disse. O que esse menino tá fazendo aqui? Não, melhor: o que um cara usando um sombrero está fazendo aqui? - Como assim a Ariel não tá grávida? Eu quase morri pra poder encontrar o Juanito! Foi a coisa mais romântica que eu achei! Juanito iria cantar Boquita de Cereza pra vocês! Não é música romântica, mas é a única que ele sabe!

- Alarme falso, cara. Ela não tá grávida não. Vou entrar antes que o segurança me veja aqui. Tchau.

- E o buquê?

- Vou dar pra ela, ué.

Eu me sentei na cama e continuei assistindo Glee. O que? Eu estava todo esse tempo assistindo Glee. Eu não fui escutar conversa dos outros.

Pouco tempo depois, Zack entrou.

- O que você tava fazendo lá fora?

- É, bom, ahm... Tá. Como eu achei que você estava grávida, eu meio que iria fazer uma declaração pra você. Aí eu mandei o Andy procurar alguma coisa romântica, aí ele achou o Juanito, aí o Juanito só fala espanhol. Aí eu tentei mandar o Juanito embora, mas ele ainda tá ali sentado. O cara tá parecendo um mendigo, mas não saiu dali. O Andy até tentou falar francês com ele, mas ele não entendeu! - Eu ri. - Então, ahm, esse buquê é pra você. - Ele me entregou um buquê de rosas. - Eu sei que você não gosta muito de rosas, mas foi o que eu achei aqui. É que tinha um canteiro, aí eu pedi pra tia embrulhar umas pra mim. Não ficou bom, mas... - O calei com um beijo. Puta merda, esse menino fala demais!

- Eu adorei. Não acredito que iria se declarar pra mim só porque eu supostamente estava grávida.

- Eu quero construir uma família com você. Agora não seria o melhor momento, mas... De um jeito ou de outro, eu quero. Não importa quando. Eu não sei viver sem você, Ariel.

- Eu também não, Zack.

Como a TV estava ligada no Glee, começou a tocar uma música lenta, tipo música de baile. Zack estendeu a mão pra mim.

- Me concede essa dança, senhorita?

- Claro, cavalheiro. - Deixei o buquê na cama e peguei sua mão.

Ele me levou até o meio do quarto, como se fosse o meio do salão de baile (estou me lembrando da Bela e a Fera, me deixem imaginar). Coloquei minhas mãos em seu pescoço e ele, em minha cintura. Ficamos dançando, apenas nos olhando. Era um silêncio gostoso, daqueles que é melhor permanecer assim do que estragar o momento com algum barulho que não seja a música. Dessa vez, ninguém nos interrompeu.

- Eu não quero estragar o momento, mas... Por que tem quatro pares de olhos na janela? - Zack sussurrou e eu me virei. - Finge que não viu, vai que eles vão embora.

- Andy, Lucy, Chad e Josh - afirmei e Zack assentiu. - Povo curioso! - gritei e logo escutei algo caindo.

- Ei, Josh! Fica quebrando os vasos! Parabéns! - Chad gritou.

- Ou! Não tenta tirar o seu da reta, não. Foi você que me empurrou!

- Gente, cala a boca, eu quero ver o Zack e a Ariel - Andy disse.

- Sai daqui, desgraça! - Lucy gritou.

Eu e Zack rimos e fomos abrir a porta. Saímos do quarto e os encaramos.

- Lucy, eu não estou grávida.

- Mas... Mas... Você tava vomitando!

- Isso é porque eu fico enjoada com a simples menção da palavra "barco". Odeio barcos.

- Mas espera aí, você não surfa? - Chad perguntou.

- Surfar é uma coisa, entrar em um meio de transporte do demônio fantasiado de Titanic é outra totalmente diferente.