Na Arca, a autoridade era absoluta. A autoridade, quando detecta o caos pela primeira vez em seus calcanhares, fará as coisas mais vis para preservar a fachada de ordem. A ordem involuntária, por sua vez, gera insatisfação, mãe da desordem, prima da guilhotina. Sociedades autoritárias são como a formação de crostas de gelo, intrincadas, mecanicamente precisas, e acima de tudo, precárias. Sob a frágil superfície da civilidade, o caos se convulsiona... E há locais onde o gelo é traiçoeiramente fino. Erika Kane era provavelmente a única pessoa na Arca que via o quão fino o gelo estava. Aos dezessete anos, ela foi presa ao lado de sua melhor amiga. Aos dezoito anos, Rika Kane continuava presa. Erika soube no momento em que os guardas a jogaram naquela cela minúscula que ela nunca seria libertada. Com o conhecimento que possuía, a sua mera existência era uma ameaça a fachada de ordem que seu pai e o concelho tanto lutavam para manter. Mas havia uma variável com a qual ela não contava, uma nuance que poderia ser o suficiente para mudar sua história de uma forma que a jovem delinquente não conseguiria sequer imaginar. A Terra.