A troca de cartas entre a dona de casa e artífice Ana e o filósofo exilado G. se apresenta. O luto se faz sentir. E um final que se aproxima. Tempo de luto entre os amantes. Ana e G. estão na Baixa Idade Média. Ela, agora, Anan, uma moçárabe, escritora de kharjas (construção em versos em arte menor, feita especialmente por mulheres e que deram origem à literatura galego -portuguesa) está presente no episódio que marcou a inclusão de Lisboa ao território cristão de Portucale: o Cerco de Lisboa, em 1147. E é nesse cenário de fogo e caos que Anan perceberá que o desejo não é falta, mas produção de produção. G. é um polímata, filósofo cujo conhecimento não está restrito a uma única área. Escreve a Anan, comovido com a beleza da descoberta que a amada faz de sua própria potência. Tem com ele as últimas kharjas de Uma escrita e a restante vida e o tecido que Anan teceu na sua inurdidura artística. A descoberta da arte na imanência da vida finaliza a série de cartas que faz parte dos exercícios e experimentações de uma política de narratividade que se quer engendrada entre ciência, filosofia e arte. Enquanto a trama se encerra, a narrativa se roteiriza, ao modo da linguagem cinematográfica, fazendo aparecer uma outra ana: a pesquisadora da Universidade Nova de Lisboa. Os tempos e os espaços sempre múltiplos entrelaçam vidas que se produzem e se inventam junto às artes-manuais e à escrita.
3 parts