Distopia Romena

By Abyss-Rose

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[EM REESCRITA] Medo; uma sensação tão trivial. Trivial quando seu lar é imperado por monstros julgados como m... More

Mapa - România Regală
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1 - Azul Oceano
Capítulo 2 - Vermelho Sangue
Capítulo 3 - Sorriso Mordaz
Capítulo 4 - Orgulho Ferido
Capítulo 5 - Chuva de Pétalas
Capítulo 7 - Seus Olhos
Capítulo 8 - Zacusca com Neve
Capítulo 9 - A Provação (Parte 1)
Capítulo 10 - A Provação (Parte 2)
Capítulo 11 - Sangue, Suor e Desespero
Premiação

Capítulo 6 - Fada de Chifres

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By Abyss-Rose

Dragoş


Minha mãe certa vez dissera-me, "O Homem é o lobo do Homem"; e desde então, tive convicção de que a humanidade era a sua própria ruína. Uma espécie capaz de fazer atrocidades a si mesma não merecia meu respeito. Era mera comida, conforme os mesmos preceitos da cadeia alimentar que tanto se vangloriava.

Havia vezes que a voz dela vinha à minha mente, recitando excertos com sua fala doce e sábia. E vezes, que a própria recitava a mim. "É melhor ser temido do que amado", contava-me. De fato, mãe, esteve certa o tempo todo. Afinal, "Quem num mundo cheio de perversos pretende seguir em todos os ditames da bondade, caminha inevitavelmente para a sua perdição".

De qualquer forma, estava eu concebendo um favor ao reinar tais bestas, animais selvagens envoltos de roupa. Deste modo, suas ações estúpidas não atingiriam o mundo novamente; o poder nunca foi feito para permanecer na posse destes.

Verifiquei-me no espelho e dei leves tapas no caftan vermelho sangue no qual eu vestia. Ajustei meu extenso casaco, que recobria até o pescoço, assim como as tiras de seda cingindo minha cintura. Ri de escárnio ao rememorar superstições ignorantes dos humanos sobre nós: "'Vampiros' não possuem reflexo no espelho". "Francamente, que disparate", caçoei.

Dispus-me a frente da longa porta de metal, e então, olhei fixamente para a tela logo ao lado. Depois de míseros segundos, a porta destravou. Fui afora.

Desloquei-me pelo amplo corredor, com elevadas abóbadas de ogiva. Janelas desnudas e de rendilhados elaborados adornavam as paredes laterais, assim como pilastras e candelabros prateados. Caminhei sem pressa, afinal, minhas responsabilidades estavam nos conformes e inclusive no horário. A escuridão eterna, cruzada pelas fenestras, atingia meu corpo lívido.

Resolvi abrir espaço em meus compromissos para tentar algo diferente. Eu estava disposto a seguir em frente; no entanto, não era como se eu fosse descartar minhas incertezas. Elodia não me enganaria tão facilmente, seu sorriso e graciosidade muito menos tirar-me-iam a razão.

Escancarei a grossa porta de madeira sem nenhum esforço e adentrei o salão de pequenas festas. Os empregados já concluíam seus retoques finais, limpando cortinas e afinando instrumentos. Disposto ao centro da única mesa do aposento, um candelabro era envolto por lisiantos brancos, bem como a decoração em geral mesclava o vermelho sangue com azul petróleo.

Ao contrário da noite anterior, defini eu os preparativos. Aprendi a lição ao incumbir a outro alguém minha responsabilidade; mesmo que este tenha solicitado e eu — cedido — por pura complacência. Realmente, a culpa tinha sido minha. Minha por ter gerado expectativas tão altas. Eu devia ter previsto que coisas como essa aconteceriam. "Não haveria uma segunda vez, isso eu garanto", concluí mentalmente.

Fitei os ornamentos com um olhar aguçado, cruzando as cortinas, cadeiras e ademais o candelabro. Tudo seguira minhas recomendações e observações, que inclusive, fiz questão de transcrever para não ocorrer desentendimentos e muito menos pretextos.

Puxei o relógio de bolso em meu casaco para averiguar as horas.

— Todos em suas posições — comandei.

Sentei-me em uma das cadeiras e ajustei meus múltiplos anéis. A melodia interrompeu o silêncio; o som do violoncelo solitário reverberou pelo aposento e inclusive meus ouvidos.

Elodia adentrou o salão de bailes, exibindo seus pés desnudos e um belo escoffion em sua cabeça; uma fada de chifres, com passos serenos e delicados, que deslizava o vestido de seda cor petróleo como um rastro de sua presença. Pena que eu não cairia em seu feitiço.

Pus-me de pé, e evidentemente, fui recepcionar a moça heráldica. Elevei um de seus palmos ao alto, beijando o topo com sutileza.

— Obrigado por comparecer — sorri sem dentes, de forma cortês.

— Eu que agradeço Maiestatea — ela fez o mesmo, porém, vislumbrou meus olhos por apenas um breve momento.

Minha futura noiva evitava fazer contato visual. Todos evitavam. "Tinham segredos demais para omitir, temiam ser desvendados com apenas um encarar", avaliei de olhos semicerrados.

— Devemos? — Gesticulei em direção da mesa, convidando-a para se sentar junto a mim.

Ela assentiu com a cabeça. Conduzi-a, até então segurando sua mão.

— O que te deixa desconfortável? — Perguntei ao notá-la diferente, após puxar o assento para a nobre e nos acomodarmos de forma devida.

A mulher passou seus olhos de gato pelos humanos na sala, um rápido vislumbre. Captei a mensagem.

— A memória deles será apagada, de qualquer forma.

— Prefiro não arriscar — suas írises cinza contemplaram os lisiantos sobre a mesa.

— Sabe que sou infalível no que faço — a insatisfação ficou vagamente evidente em meu tom de voz. Eu odiava ser subestimado.

Elodia permaneceu muda, pensando em uma resposta.

— Querida, se fosse para se preocupar com algo, seria conosco. O que esses insignificantes podem fazer? — Amansei minha voz.

— É, tem razão — cedeu enfim. Ela tinha feito a escolha certa; estava longe de ser teimosa.

— Por que me convidastes para um jantar? — A heráldica perguntou, trocando de tópico.

Por efêmeros segundos, ela avistou meus olhos, bem como sorriu. A dama sabia exatamente o que estava fazendo.

— Para desculpar-me — dei um pequeno hiato. — Fui rude com a senhorita noite passada.

Ela acabou por arregalar os olhos.

— Eu que lhe devo perdão — reverenciou-se minimamente, ao inclinar de sua cabeça. — Esqueci-me de um detalhe significativo. Era a primeira vez que seríamos oficialmente anunciados como um casal — balbuciou. — Tudo deveria estar perfeito.

Alcancei suas mãos, há pouco dispostas sobre a mesa.

— É comum errarmos. Querendo ou não, essa é uma herança dos humanos. — Finalmente, Elodia fitou-me. Ficou comovida demais com as palavras encorajadoras e adocicadas.

O suficiente para ter um vislumbre de seus pensamentos.

— E pode me chamar de Dragoș, se for de seu agrado — proferi contragosto. Mascarei o sentimento com um sorriso e fala amansada. Estiquei os lábios, não exibindo meus dentes; era deselegante diante de um nobre.

"Se acostume com isso, uma coroa pesa", reiterei em meio de meus pensamentos.

A senhorita ficou comovida; aparentemente, não esperava por isso. Essa reação tão exagerada quase me fez mudar de ideia. Quase. Soltei suas mãos e então acomodei meus palmos em minhas pernas. Era grosseiro dispor os cotovelos sobre a mesa.

Peguei-a então observando alguns humanos com um olhar faminto. Como qualquer anfitrião que se preze, indaguei:

— Querida, deseja algo?

— O usual — disse, com um rosto plácido.

— Fresco? — Elevei minhas sobrancelhas.

— De preferência.

— Sangue fresco para nós — aumentei o tom de voz para que ouvissem. — B negativo para a senhorita, e para mim, AB positivo.

Com passos hesitantes, tal qual uma expressão de puro medo, uma garota cor de jambo veio até mim. De cabelos negros e enrolados em um coque, suas emoções estavam à flor da pele. O medo era aparente, afinal, seus grandes olhos não se aquietavam em um ponto sequer. O eflúvio era delirante.

Ela aparentava ser tão frágil, assim como qualquer humano, reles criaturas. "Será que aguentaria uma mordida ou se espedaçaria antes mesmo?", cogitei, não por muito tempo. Seja como for, o fado estava ao seu lado. Não me agradava brincar com a comida, já Elodia, não poderia dizer o mesmo.

Fui sucinto. Elevei o pulso direito da garota até meus lábios e mordi-o; minhas presas adentraram a carne sem nenhum impasse. O gosto aprazível de sangue fluiu, bem como tomou conta de minha boca; cerrei as pálpebras para melhor saborear.

Dei vários goles; a sensação era fantástica. Cada vez mais, os sorvos ficavam fugazes, sedento por mais e mais.

Abruptamente, um apito ressoou do dispositivo no braço esquerdo da garota, cessando o momento. Sua pressão estava caindo. Eu poderia prosseguir, o que a vida de um mero mortal significava?

Recordei-me que se não suspendesse, não obteria um exemplar como aquele tão cedo; remeter cartas de agradecimento pré-escritas muito menos era a questão. A contragosto, interrompi os goles e afastei seu pulso de minha boca.

— Dispensada — ao dar o sinal, a menina disparou.

"Que falta de educação", franzi o cenho com a atitude. Eu me lembraria disso. Elevei uma flanela à boca, a fim de limpar a sujeira.

— Deseja mais uma rodada? — Perguntei, com os lábios esticados e parcialmente escondidos pelo pano.

Depois do banquete, bailei com Elodia pelo salão. A dama girou de forma airosa, rodopiando o vestido petróleo de seda, minuciosamente bordado. Era eu, ela, a música e a cidade subterrânea, que transpassava pelos longos vitrais.

O corpo lívido da moça se aproximou do meu e envolvi sua cintura, dançando conforme a cadência. Ela estar bonita não era de se admirar, tinha um senso estético impecável. Era uma presença afável de fato, se não me lembrasse de outro alguém.

— O que foi Maie- Dragoș? — Ela se autocorrigiu, vislumbrando brevemente meus olhos.

— Eu iria dizer o quanto está encantadora esta noite, se me permite — elevei sua mão até meus lábios e depositei um beijo.

O rosto da dama atingiu uma leve expressão de surpresa, e após, sorriu, satisfeita.

Dançamos então, com a Cidade Imperial como plano de fundo, emoldurada pelas alongadas janelas do salão de bailes.

"Sou um Imperador agora, não tenho tempo para isso", insisti em minha mente, para cessar de vez os pensamentos indesejados que se formavam. Mal sabia eu que já haviam me consumido por inteiro.

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