Caos e Sangue | COMPLETO

By HumanAgain

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Carmerrum é um país pequeno, com poucos habitantes, onde não há governo e o poder político é controlado por t... More

Parte I
Capítulo 1 - Uma garota e seu irmão
Capítulo 2 - Um Kantaa na minha enfermaria? (Flashback)
Capítulo 3 - Uma proposta irrecusável (Flashback)
Capítulo 4 - O namorado de Quentin
Capítulo 5 - Um lugar para crianças órfãs (Flashback)
Capítulo 6 - Uma conversa consigo mesma.
Capítulo 7 - Quem é Serpente? (Flashback)
Capítulo 8 - Um roubo inusitado.
Capítulo 9 - O grande dia (Flashback).
Capítulo 10 - O novo mestre (Flashback)
Capítulo 11 - A Enfermaria
Capítulo 12 - Um teste que deu errado (Flashback)
Capítulo 13 - Não existe Saphira bom
Capítulo 14 - Adeus, Gehl! (Flashback)
Capítulo 15 - Criar vínculos não é fácil... Mas a gente pode tentar. (Flashback)
Capítulo 16 - Perguntas, muitas perguntas...
Capítulo 17 - Avaliada novamente (flashback)
Capítulo 18 - Quem procura, acha
Capítulo 19 - Uma noite no bar (flashback)
Capítulo 20 - Noite Sangrenta
Capítulo 21 - Apenas uma garota e sua mestre (Flashback)
Capítulo 22 - Há tragédias que terminam em amor.
Capítulo 23 - Primeiras Experiências (flashback)
Capítulo 24 - Amigos por conveniência.
Capítulo 26 - Um palhaço e alguns adolescentes
Parte II
Capítulo 27 - Uma Líder?
Capítulo 28 - Casamento às avessas
Capítulo 29 - Um homem arrependido
Capítulo 30 - Novo plano e novo recruta
Capítulo 31 - Um sacrilégio contra o sistema
Capítulo 32 - Erimar Lahem
Capítulo 33 - Acampamento Sangrento
Capítulo 34 - Ela fala demais... Ainda bem.
Capítulo 35 - Os ricos sangram igual
Capítulo 36 - Um retorno acalorado
Capítulo 37 - O mesmo sangue nas veias
Capítulo 38 - Mãe viva, filha também.
Capítulo 39 - Antigos amigos, novos soldados.
Capítulo 40 - Uma opinião feminina
Capítulo 41 - Uma noite frustrante.
Capítulo 42 - Sorte no amor, azar na guerra
Capítulo 43 - Um retorno às origens
Capítulo 44 - Fraturas, amizades e uma nova vida.
Capítulo 45 - Na calada da noite...
Capítulo 46 - Para a Capital
Capítulo 47 - Entre mãe e filha
Capítulo 48 - A batalha final
Capítulo 49 - Toda história tem seu fim
Capítulo 50 - Julien Regin (flashback)
Extra - Curiosidades
Extra - A ladra, a rainha e a enfermeira

Capítulo 25 - A grande tragédia (flashback)

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By HumanAgain

— Ei, garota. — Era o doce som da voz de Serpente. — Já são nove horas. Você vai dormir a manhã inteira?

Loenna entreabriu os olhos. O sol adentrava pelos buracos da caverna; Havia pássaros cantando lá fora e a doce brisa do verão atingia seu rosto. A jovem, sonolenta, se levantou, espreguiçou-se e abriu os olhos. Tirou a remela que havia acumulado no meio da noite e focalizou uma sorridente Serpente, que trazia algumas frutas em suas mãos.

Peguei para você, imaginei que fosse acordar com fome. — Serpente jogou uma maçã para Loenna e tomou outra para ela própria. As pessoas vão começar a desconfiar se você continuar dormindo aqui todo dia, viu?

Mas ela não estava exatamente agindo como se estivesse incomodada.

Ah, que desconfiem. — Loenna mordeu a maçã que Serpente lhe trouxera. Eu não me importo.

Apesar do mau humor de Loenna, Serpente soltou um risinho gozador. Parecia que achava graça nas lamúrias da aprendiz.

Bom, mudando de assunto... — Disse ela, com uma expressão zombeteira, parecia que iria aprontar alguma coisa. — Que dia é hoje?

Loenna franziu o cenho. Será que ela sabia? Não podia ser. Loenna jamais havia lhe contado, não se importava com essas datas estúpidas.

Cinco de março. — Disse, confusa.

E o que mais? — Instigou Serpente.

A garota abaixou a cabeça e soltou uma risadinha tímida; Bem, talvez ela soubesse.

Vou te ajudar a chegar nessa resposta. — A esta altura, Loenna já sabia do que se tratava, mas esperou Serpente terminar o raciocínio sozinha. Hoje de manhã, quando eu fui na cozinha pegar algumas frutas para nós, descobri que os cozinheiros haviam preparado um bolo de aniversário. E descobri também que esse bolo de aniversário era para um mocinho bem ruivinho chamado Quentin. — Deu-lhe um selinho nos lábios. Foi quando eu imediatamente me dei conta de que esse mocinho tem uma irmã gêmea que, por acaso, também é minha aprendiz. Então, vamos lá... Que dia é hoje?

Com as bochechas coradas, Loenna riu timidamente.

Eu não me importo com essas datas estúpidas. — Respondeu, mas a verdade é que estava um tanto quanto grata pela mestre ter se lembrado de seu aniversário.

Bem, eu me importo. Não se faz 21 anos todos os dias. — Serpente riu e a presenteou com outro selinho nos lábios. — Mas vou te poupar do "Parabéns para você", se você não quiser.

Loenna se viu lançando-se para cima de Serpente, roubando-lhe um beijo doce e suave. Ela era a melhor companhia que uma aniversariante poderia ter.

Serpente... — Manhosa, Loenna passou os dedos sobre o rosto da mestre. Posso ser liberada do treino hoje? Para, quem sabe... — Loenna mordeu o lábio inferior, sugestiva. Ficarmos juntas...

Serpente lançou uma risada divertida.

Acho que não. — E enlaçou suas mãos na cintura da aprendiz. Todo dia é dia, afinal. Mas... — Dando-lhe leves selinhos nos lábios, Serpente amansava a voz aos poucos, tom a tom. — Eu adoraria me divertir um pouco com você depois que a gente terminar.

— Ou... — Loenna dedilhou os rolinhos dos cabelos de Serpente. Você pode se divertir um pouco comigo agora.

Com um sorriso sarcástico, Serpente a encarou.

Ah, você me dá ordens agora, sua abusada? — Riu. Eu vou ter que dar um jeitinho nessa sua petulância...

— Isso vai ser ótimo. — Loenna se lançou para cima de Serpente e colou seus lábios nos dela. Eu mal posso esperar...

E Serpente cedeu aos apelos da garota, beijando-a com voracidade e deslizando suas mãos para dentro das roupas de Loenna. Seu corpo macio estava inflamado e pronto para receber as carícias da mestre, tão sensuais e instigantes.

Mas, repentinamente, Serpente parou; Separou seus lábios dos de Loenna, parecia aérea ou atenta a alguma outra coisa. A garota praguejou em sua mente; Queria tanto continuar com os estímulos de sua mestre...

Serpente? — Perguntou ela, observando a dispersão da outra. O que está acontecendo?

Serpente levou um dedo aos seus lábios, como que pedindo para que Loenna ficasse quieta.

Ouça. — Murmurou ela.

A garota imediatamente se calou e tentou voltar sua atenção aos ouvidos, buscando captar algum sinal lá de fora do que quer que Serpente estivesse falando.

E, de fato, havia barulho vindo de trás de si; Se parecia com uma marcha, um grupo gigantesco de pessoas caminhando e berrando alguma coisa ininteligível àquela distância.

Tem pessoas lá fora. — Concluiu Loenna.

Serpente concordou.

Um exército. — Acrescentou. — Tem um exército lá fora.

Esgueirando-se sorrateiramente para a entrada da caverna, Serpente pedia para Loenna fazer silêncio; O motivo estava bem a frente de seus olhos.

Era uma tropa gigantesca de homens musculosos e mal encarados, todos vestidos com pesadas armaduras brilhantes e equipados de lanças pontudas e afiadas, bem ao estilo medieval. Enquanto marchavam, carregavam enormes estandartes ornados com o símbolo de um urso pardo, forte e imponente. Alguns entoavam hinos de glória em alguma língua antiga que nem Serpente e muito menos Loenna eram capazes de compreender.

São os Kantaa. — Afirmou Loenna. Serpente concordou com a cabeça.

Os Kantaa eram aversos a novos valores e novas tecnologias e, por isso, não tinham armas de fogo, ao contrário dos Eran. Contudo, se perdiam para eles neste aspecto, eram muito mais beligerantes que estes, baseando-se em princípios de glória, força e honra. Para os Kantaa, seus méritos eram determinados pelo sucesso em batalha, enquanto que os Eran o faziam pelo dinheiro. Não que os Eran também não lutassem suas guerras; Eles apenas o faziam de forma silenciosa e sórdida.

— O que eles procuram? — Sussurrou Loenna para Serpente, bem baixinho, aos pés do exército Kantaa que marchava assustadoramente sincronizado, como se tivessem ensaiado milhares de vezes antes.

Serpente mordeu o lábio; Parecia aflita.

Nós. — Respondeu. Eles estão procurando por nós.

***

Os Kantaa e a violência eram duas coisas indissociáveis. Eram adeptos do agir antes, perguntar depois; Quem os via lutar, sabia da brutalidade com a qual estavam acostumados. Eram dezenas de milhares de homens, todos eles loucos por sangue.

Loenna e Serpente seguiram o exército, correndo, mas incapacitadas de impedi-lo de marchar; Certamente seriam mortas. Não teriam tempo de avisar seus colegas e amigos do que estava por vir, dificilmente chegariam antes dos Kantaa. Sentiam-se de mãos atadas, sem mais o que fazer além de simplesmente observar a desgraça iminente.

O exército irrompeu as portas do albergue abandonado no qual a organização se alojava com um estrondo seco, enquanto as duas ainda se esgueiravam sorrateiras pelo caminho. Gritos foram ouvidos; Serpente e Loenna observavam ao longe, mas era claro como o dia que ali dentro já havia sido derramado sangue.

Ambas se entreolharam. Alguma coisa precisava ser feita.

Como? — Os olhos de Loenna estavam em lágrimas. —Como eles nos encontraram?

Serpente, soturna, mordeu os lábios e encarou o chão; Levou a mão ao punhal preso a cintura. Não sabia responder, até mesmo para ela essa pergunta era um mistério. E, no fundo, pouco importava; Pessoas estavam morrendo.

Um guincho esganiçado e familiar preencheu as orelhas de Loenna e, quando ela se virou, percebeu que reconhecia o dono da voz. Era de uma pessoa por quem ela não nutria definitivamente nenhuma simpatia Contudo, definitivamente não queria vê-lo morrer: Eriwan Gehl.

Gehl estava fora do albergue, talvez tivesse tentado fugir. Estava todo ensanguentado, as roupas eram trapos esfarrapados e os cortes já lhe cobriam todo o corpo. A espada tão imponente que ele sempre carregava consigo estava partida em duas e suas mãos tremiam, pareciam mais moles que gelatina. De frente a ele, estava um guerreiro Kantaa, imenso e musculoso como todos eles; Carregava um selo de urso em sua imponente armadura de ferro.

Muito bem. — Os Kantaa tinham um sotaque estranho e amedrontador. — Eu não vou lhe perguntar de novo.

— Eu já disse! — Gehl tremia da cabeça aos pés. Loenna jamais o tinha visto assim, tão vulnerável e tomado pelo pavor. Por favor... Me deixe em paz... Sou apenas um pobre senhor, tenho filhos, netos...

Gehl não tinha filhos e tampouco netos, mas aquilo não era relevante no momento.

Onde ela está? — O Kantaa não parecia se importar muito. Era uma máquina fria e sem sentimentos. Onde está Gillani Gaspez?

Serpente caiu para trás de sobressalto. Arregalou os olhos.

Eles estão procurando por você. — Disse Loenna

Assustada, Serpente assentiu com a cabeça.

Eles acham que eu sou a líder dessa organização. — Pela primeira vez, Loenna sentiu Serpente vacilar; Ela estava com medo. Pensam que vão acabar com ela toda se acabarem comigo.

E, de fato, sem Serpente a organização padeceria. Ela não era sua líder, mas era o maior exemplo e ícone dentro dela.

EU NÃO SEI! — Gehl berrou, frente a sua iminente morte. Nenhum de nós sabe onde ela está! Gillani é um mistério para todos!

Descontente com a resposta, O Kantaa atravessou o enfraquecido corpo de Gehl com sua lança, de ponta a ponta. O ex-mestre regurgitou sangue, encurvou-se, padeceu sobre a arma do guerreiro e, enfim, veio à morte. Este era o fim de Eriwan Gehl.

Se não fosse Serpente a tapar sua boca, Loenna teria soltado um grito. Ver Gehl morrer daquela maneira era simplesmente chocante demais para ela; E nada mais podia ser feito, o sangue derramado não era apenas do antigo mestre. A guerra estava instaurada, as poucas centenas de lutadores rebeldes que haviam sido pegos desprevenidos jamais seriam capazes de combater milhares de soldados Kantaa. A atmosfera estava repleta de gritos de guerra, gritos de desespero, sons de lâminas se chocando, cavalos relinchando. Era um completo desastre.

Eu preciso ir para lá. — Disse Serpente, em choque.

Loenna arregalou os olhos.

Você? — E agarrou os pulsos de Serpente, aterrorizada com a possibilidade de perdê-la. Por quê?

— Eles estão procurando por mim. — Afirmou, convicta. — Além disso... Esta organização é minha vida. Foi onde eu me criei e onde fiz meu nome. Eu preciso fazer algo por ela, preciso fazer algo por eles. Eu seria uma traidora se simplesmente desse as costas nesse momento.

— Mas, Serpente... — Loenna segurou o choro. Nem mesmo Serpente seria capaz de derrotar todos aqueles homens, tão musculosos, enormes e brutais. — Eles são muitos. Você vai morrer...

— Eu sei disso. — Disse, com pesar. Eu não tenho medo da morte.

E, nisso, Loenna não conseguiu mais segurar; Uma lágrima escapou pelos seus olhos, seu abalo era nítido e ela se sentia como se uma pontada tivesse atingido seu peito de fora a fora.

Ela iria perder Serpente.

Eu não quero te perder. — Loenna apertou os pulsos da mestre com ainda mais força. Serpente lançou-lhe um sorriso ameno.

Loenna... — Agora, Serpente não lhe falava no mesmo tom aterrorizado de antes. Parecia tranquilizada, como se já aceitasse o seu destino. Você é minha aprendiz e meu cristal lapidado. Sempre quis que você levasse um pouco de mim quando fosse minha hora de partir e, bem, chegou a hora. Eu terei que ir agora. Provavelmente não retornarei. Sei que você é boa o suficiente para se dar bem sozinha, nos últimos treinos já estava ganhando autonomia. Você é incrível, e nunca deixe ninguém lhe dizer o contrário. Sei que coisas grandes estão destinadas a você, coisas muito maiores do que eu construí. Então tudo o que eu te peço é para que não me esqueça. Agora, eu irei embora, mas se você permitir... Permanecerei sempre viva dentro de você. Tenho muito orgulho de você, não se esqueça disso; Você é a minha garota

E, com isso, Serpente se virou rumo a morte, mas Loenna a puxou de volta; Havia algo que ela queria dizer antes de perdê-la para sempre.

Serpente... — Ela já chorava um rio de lágrimas; jamais conseguiria lidar com essa dor. Eu te amo.

A mestre abriu o sorriso e encostou sua testa na testa da garota; Agora, Loenna conseguia sentir sua respiração.

Você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. — Disse a mestre.

E, antes que Serpente partisse em sua missão suicida, Loenna arrancou dela o mais intenso beijo que as duas já haviam trocado. Seu último desejo era sentir aqueles lábios pela última vez, permitir-se trocar aquela conexão com a única mulher que havia amado na vida antes que ela partisse.

Quando Serpente separou seus lábios dos dela, Loenna percebeu que seu tempo havia acabado.

Eu vou ter que ir agora, está bem? — Serpente, tenra, deslizou o polegar sobre o rosto de Loenna, limpando suas tão amargas lágrimas. Não se esqueça do que eu te falei. Jamais.

E enfim partiu em direção ao seu destino final.

Loenna observou seus últimos momentos; A encarou enquanto se distanciava, evitando que Loenna fosse descoberta pelos guerreiros Kantaa, e ao estar longe o suficiente, a imponente Gillani Gaspez assobiou para seus desafetos. Um enorme grupo de Kantaa virou-se em sua direção naquele exato momento.

Ouvi que estavam me procurando. — Ela não perdia a pose. Eu sou Gillani Gaspez.

Cerca de dez guerreiros Kantaa irromperam em sua direção, berrando coisas inaudíveis e bradando com suas armas afiadíssimas. Serpente saltou, pendurou-se nos braços dos armados e cravou seu punhal nas falhas da armadura de um deles. Os dez tentaram, ao mesmo tempo, atingi-la com golpes de lança e espada, sem sucesso; Serpente desviou-se de todos eles e conseguiu eliminar um dos homens fazendo-o ser atingido no meio das pernas por outro guerreiro Kantaa em um golpe cruzado; Em seguida, recuperou o punhal, tentou atingir outro Kantaa com ele, errando desta vez. Este Kantaa tentou atingi-la com a espada, e por pouco não conseguiu; Serpente se desviou por poucos centímetros.

Ela até conseguiu matar outro Kantaa, mas, quando Loenna olhou novamente, percebeu que os dez Kantaa do começo já eram mais de... Trinta, trinta e cinco, não sabia ao certo. A mestre seguia sem nenhum arranhão, mas sua testa já brilhava ao longe; Suas roupas estavam empapadas de suor. Era uma batalha perdida, uma única pessoa armada apenas de um punhal contra dezenas de guerreiros equipados de armaduras, lanças e espadas.

Loenna observou a luta vã de Serpente por mais alguns minutos. Ela matou mais um Kantaa. Fazia acrobacias para seguir viva, matou outro. Conseguiu nocautear o terceiro, mas, em seguida, um Kantaa conseguiu atingi-la com uma lança cravada na perna.

Serpente urrou de dor e Loenna queria urrar da mesma forma, de pavor. Aquilo certamente limitaria seus movimentos e a levaria à morte, e a garota não queria ver isso acontecendo. Tapou os olhos, se pôs a correr pelo lado oposto, com o coração acelerado. Serpente ia morrer e ela não queria encarar essa cena.

Ao que correu, correu e correu rumo ao infinito, Loenna sentiu alguém puxando-a pelo braço; Gelou, imaginou ser um Kantaa. Se pôs a berrar, ainda com os olhos cobertos, mas imediatamente sentiu alguém tapando sua boca.

Está tudo bem. — Era Quentin. Sou eu.

Quentin parecia ter ingressado em uma batalha por si próprio. Suas roupas estavam rasgadas, havia um corte vermelho em seu peito e seu lábio estava sangrando. Usava uma tiara de flores, daquelas que o garoto sempre gostou, que ele provavelmente havia colocado para comemorar seu aniversário.

Que belo aniversário eles estavam tendo.

Invadiram a cozinha. — Afirmou ele, com o olhar pesado. Os guerreiros tentaram nos defender, mas era tarde demais. O chef está morto, muitos de meus amigos também estão. Escapei por pouco, estive com medo de que você também estivesse morta...

Ver Quentin a salvo era um pouco reconfortante, mas nada apagava de sua mente a figura de Serpente padecendo sobre a lança Kantaa. Loenna sentia como se algo tivesse morrido dentro dela, queria chorar até suas lágrimas se esgotarem; Era de longe a pior dor que ela havia sentido na vida, comparável ou até mesmo maior do que a dor da morte de Gara.

O que está acontecendo? — Quentin era muito sensível; Certamente havia notado que havia algo de errado com Loenna. Você não está legal.

E, imediatamente, a irmã se acabou num pranto cruel. Ela só queria poder trazê-la de volta...

Serpente... — Foi a única palavra que conseguiu balbuciar antes de retornar ao choro consistente que havia tomado conta de si.

Quentin entendeu.

— Ela está morta, não está?

Loenna fez que sim. Queria se tacar de um penhasco naquele exato momento.

Olhe, eu... — Quentin acariciou os próprios braços. Parecia receoso. Eu sei que a sua relação com ela era mais forte do que simplesmente aprendiz e mestre. Eu sinto isso no seu olhar, em como você falava dela quando conversávamos.

Loenna o encarou no fundo de seus olhos. Não tinha certeza se ele estava se referindo ao que aquilo era de fato.

— Eu... Me interesso por rapazes também. E por garotas. — Sim, ele estava. Somos parecidos neste aspecto. Então, quero dizer que... Eu sei pelo que você está passando, e não vou te julgar. Eu entendo a sua dor.

E, com aquilo, Quentin agraciou Loenna com um carinhoso abraço. Ele era o mais puro cristal que já havia sido criado pela natureza. Era sensível, bom e empático; Naquele momento, dentro daquele tenro abraço entre irmãos, Loenna sentiu que poderia contar com ele para qualquer coisa, absolutamente qualquer uma.

Eu queria poder salvá-la. — Loenna apertou Quentin o mais forte que podia. — Queria poder fazer alguma coisa...

Os cachos de Quentin cheiravam à primavera e seu toque era suave. Ele sempre conseguia inspirar-lhe sentimentos bons, ainda que estivessem no mais completo caos.

— Eu sempre disse que guerra só gera mais guerra. — Suspirou. Vingança não leva à nada. Entende quando eu te falei que você só tinha a perder quando quis matar o mundo inteiro pela morte da mãe?

Loenna sequer estava em condições de concordar ou discordar, mas murmurou um "uhum" baixinho. Ela só queria morrer junto com Serpente, se jogar no meio daqueles guerreiros Kantaa e esperar que eles a matassem também, e seu único motivo para não fazê-lo era Quentin. Sua mente era traiçoeira, só lhe mostrava imagens de Serpente, com suas vestes sempre pretas, seus sapatos de couro e à sua cintura, preso o...

Naquele momento, um clique despertou sua mente.

O punhal. — Exclamou ela de sobressalto. Quentin se desvencilhou do abraço e coçou a nuca.

Punhal?

— Uma vez... — Lembrou-se Loenna. Serpente disse que, se morresse, queria que eu ficasse com o punhal dela. Eu não posso... Não posso deixá-la na mão. Não depois da morte.

Antes que se debulhasse novamente em lágrimas, Loenna se virou e preparou-se para partir em direção ao punhal; Quem a impediu foi Quentin, que num lampejo de sensatez, a puxou pelo braço e a impediu que seguisse em direção ao suicídio.

Você não pode fazer isso. — Advertiu. Está cheio de Kantaa por lá. Você vai ser morta.

Loenna bufou.

Mas eu não posso abandonar o punhal de Serpente. — Argumentou. Ela me pediu... Ela queria que...

Você tem certeza que quer ver o corpo de sua amada morta?

Aquelas palavras foram como um baque para Loenna. Se imaginou retornando ao local da batalha e imaginando o corpo sem vida de Serpente já mutilado, com suas entranhas à mostra e suas vísceras espalhadas pelo chão. Ela já havia visto o corpo morto de Gara antes e aquela experiência era uma da qual Loenna definitivamente não queria passar de novo.

Fez que não para Quentin.

Mas... E o punhal... — As lágrimas voltaram a cobrir seu rosto. Eu não posso... Eu não posso...

O punhal vai ter que ficar. — Respondeu Quentin. Eu tenho certeza que Serpente iria preferir você viva sem o punhal do que morta com ele. Por favor, Loenna... Não se jogue para o covil dos lobos...

E, assim, Loenna se retraiu. Sentou-se ao chão, abraçou as próprias pernas; Estava viva por fora, mas morta por dentro.

Quentin mordeu os lábios. Sabia que não havia muito a ser feito; Seus amigos estavam mortos e Serpente também estava. Tomou uma flor de sua coroa de flores e entregou para Loenna, na intenção de animá-la.

Você precisa ser forte. — E sorriu para a irmã. — Me prometa que você vai ser. Eu amo você e farei o máximo para poder te dar esse apoio. Por favor.

Com isso, o garoto ofereceu-lhe a mão. Ele era simplesmente um anjo. Loenna a tomou e, juntos, de mãos dadas, Quentin selou o seu destino:

Agora nós somos um só. Eu e você, sozinhos, por nós mesmos. — Afirmou. Eu vou te proteger, e você me protege. Combinado?

Loenna fez que sim, mas ainda não conseguia parar de chorar. Quentin abriu um sorriso tenro e limpou as lágrimas de seus olhos.

Não fique triste. — Ele disse. É o nosso aniversário.

***

Oie, pessoal! Sejam bem vindos de volta! Obrigada por acompanhar o capítulo de hoje e espero que tenham gostado (Eu pessoalmente adorei escrever a morte do Gehl). Se não for pedir muito, deixem uma estrelinha ou um comentário que me deixam muito feliz!

Até quarta-feira e um bom fim de semana para todos!

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