Caos e Sangue | COMPLETO

By HumanAgain

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Carmerrum é um país pequeno, com poucos habitantes, onde não há governo e o poder político é controlado por t... More

Parte I
Capítulo 1 - Uma garota e seu irmão
Capítulo 2 - Um Kantaa na minha enfermaria? (Flashback)
Capítulo 3 - Uma proposta irrecusável (Flashback)
Capítulo 4 - O namorado de Quentin
Capítulo 5 - Um lugar para crianças órfãs (Flashback)
Capítulo 6 - Uma conversa consigo mesma.
Capítulo 7 - Quem é Serpente? (Flashback)
Capítulo 8 - Um roubo inusitado.
Capítulo 9 - O grande dia (Flashback).
Capítulo 10 - O novo mestre (Flashback)
Capítulo 11 - A Enfermaria
Capítulo 12 - Um teste que deu errado (Flashback)
Capítulo 13 - Não existe Saphira bom
Capítulo 14 - Adeus, Gehl! (Flashback)
Capítulo 15 - Criar vínculos não é fácil... Mas a gente pode tentar. (Flashback)
Capítulo 16 - Perguntas, muitas perguntas...
Capítulo 17 - Avaliada novamente (flashback)
Capítulo 18 - Quem procura, acha
Capítulo 19 - Uma noite no bar (flashback)
Capítulo 20 - Noite Sangrenta
Capítulo 21 - Apenas uma garota e sua mestre (Flashback)
Capítulo 23 - Primeiras Experiências (flashback)
Capítulo 24 - Amigos por conveniência.
Capítulo 25 - A grande tragédia (flashback)
Capítulo 26 - Um palhaço e alguns adolescentes
Parte II
Capítulo 27 - Uma Líder?
Capítulo 28 - Casamento às avessas
Capítulo 29 - Um homem arrependido
Capítulo 30 - Novo plano e novo recruta
Capítulo 31 - Um sacrilégio contra o sistema
Capítulo 32 - Erimar Lahem
Capítulo 33 - Acampamento Sangrento
Capítulo 34 - Ela fala demais... Ainda bem.
Capítulo 35 - Os ricos sangram igual
Capítulo 36 - Um retorno acalorado
Capítulo 37 - O mesmo sangue nas veias
Capítulo 38 - Mãe viva, filha também.
Capítulo 39 - Antigos amigos, novos soldados.
Capítulo 40 - Uma opinião feminina
Capítulo 41 - Uma noite frustrante.
Capítulo 42 - Sorte no amor, azar na guerra
Capítulo 43 - Um retorno às origens
Capítulo 44 - Fraturas, amizades e uma nova vida.
Capítulo 45 - Na calada da noite...
Capítulo 46 - Para a Capital
Capítulo 47 - Entre mãe e filha
Capítulo 48 - A batalha final
Capítulo 49 - Toda história tem seu fim
Capítulo 50 - Julien Regin (flashback)
Extra - Curiosidades
Extra - A ladra, a rainha e a enfermeira

Capítulo 22 - Há tragédias que terminam em amor.

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By HumanAgain

E, como fazia todas as noites, Loenna estava de volta ao bar em que aguardava seus clientes.

Desta vez, contudo, ela havia deixado um pequeno pedaço de sua atenção em casa; Aya estava lá. Loenna queria poder ficar com a enfermeira vinte e quatro horas por dia, mas tinha medo do que pudesse acontecer. Os Eran sabiam que ela estava viva, certamente eles sabiam, e poderiam descobrir onde a moça estava alojada se ligassem sua sobrevivência a Loenna. Ela tinha de fazer o máximo para não parecer suspeita.

Infelizmente, não parecer suspeita incluía ir trabalhar normalmente. Com a cabeça à mil, a jovem suspirou fundo, adentrou o bar e dirigiu-se em direção a Seow. Era sábado, e em todos os sábados ela tinha um pagamento a fazer.

Cinco... Seis... Sete... Oito. — E entregou as moedas de ouro para o dono do bar. Oito moedas de ouro, Seow, assim como na semana passada. Está bem assim para você?

Seow tomou uma das moedas em mãos e a mordeu. Era autêntica, notou. O homenzinho sorriu e apontou para o canto mais afastado do bar, uma mesa empoeirada escondida da luz e do movimento.

— Temos mesas mais próximas, mas imagino que você vá preferir as mais afastadas. — E ele estava correto. — Belas pernas, a propósito. Elas ficariam muito bem entre a minha...

— Obrigada pela mesa. — Loenna fez questão de interromper. As insinuações obscenas de Seow a faziam querer vomitar.

A garota virou-se de costas e tomou a mesa mais afastada possível do grupo de bêbados que já não falava corretamente, apesar de serem apenas sete da noite. Sentou-se, pôs seus calcanhares para cima como sempre fazia, e aguardou.

Entretanto, desta vez ela não estava preocupada com seus clientes. Loenna apenas conseguia pensar em Aya, em como ela estaria e o que estaria fazendo. Queria que sua enfermeira ficasse bem, e não podia garantir isso ali no bar. Se alguém tocasse nela, Loenna jurou que o perseguiria até a morte; Era obstinada e insistente, certamente levaria esta promessa até o túmulo.

Ela não sabia dizer por quanto tempo se perdeu pensando em Aya e em sua segurança, mas certamente fora tempo o suficiente para receber uma visitinha nada agradável. Monvegar Eran E, desta vez, Loenna tinha certeza de que era o ricaço. Tratava com Seow em ares de deboche, como o cretino que era, e o dono do bar, sem muita paciência para as bobagens do patriarca Eran, apontou-lhe para a mesa em que Loenna estava alojada. Ela bufou quando Monvegar se dirigiu a ela com um sorriso sarcástico; Nada que fizesse aqueles malditos ricos sorrirem era bom.

— Bem vindo de novo, Eran. — Mas, a julgar pelo seu tom de voz, Monvegar Eran definitivamente não era bem vindo. A que devo esta ilustre visita?

Boa noite, senhorita. — O homem estava alegre. Muito alegre. Não venho encomendar nada desta vez

Então o que veio fazer aqui? — Loenna não queria interagir com os Eran mais do que sua profissão a obrigava. Meu modo "amiga" não está ativado para vocês.

— Ah, prometo que serei breve. — Apesar do nada amigável despacho, Monvegar Eran puxou uma cadeira. Vim aqui dizer que nós, Eran, não dependemos de seus serviços para nada.

E eu preciso dessa informação para...? — De fato, Loenna estava rezando para que os Eran não dispensassem seus serviços, porque estes representavam quase que a totalidade de seus lucros. Contudo, a garota não iria transparecer tamanha insegurança.

— Você é quem sabe, minha querida. — Sim, Monvegar Eran sabia da dependência de Loenna. Ele não era estúpido. Saiba que encontramos outra pessoa para dar fim a Marcus Gaddard.

A assassina gelou internamente. Por fora, entretanto, estava firme como um poste.

— Jamais duvidei que o fariam. — Loenna era incisiva, parecia não temer coisa alguma. Estava com medo, contudo, de que descobrissem que havia salvo a vida de Aya. O que seriam capazes de fazer com a enfermeira se soubessem?

Pois bem. Marcus Gaddard, 52 anos, um homem que dedicou sua vida a nos vasculhar, os Eran... Está morto. Não tem esposa, não tem filhos. Agora seu legado é apenas uma poça de sangue. — Disse Monvegar.

Loenna arregalou os olhos. "Não tem filhos", foi o que disseram; Marcus havia sido perspicaz em suas investigações: Escondera seu passado. Não deixou informações suficientes para que os Eran soubessem de sua filha e muito menos de sua esposa assassinada. Ele não era tão estúpido quanto Loenna imaginou.

— No entanto, apesar de não precisarmos de você... — Eran continuou. Gostaríamos de contar com seus serviços. O assassino que contratamos levou um contra-ataque de Marcus e morreu esgotado no caminho de casa. Uma lástima. Tenho certeza que você não se submeteria a esse nível de amadorismo.

Loenna ergueu uma sobrancelha; Então não havia sido incriminada pela morte do rapaz. Era tudo perfeito, Monvegar Eran não sabia da existência de Aya e não sabia do envolvimento de Loenna na cena do crime. Queria sorrir, mas as circunstâncias não permitiam; Dessa forma, seus músculos faciais muito bem treinados abafaram o que seria um espontâneo sorriso.

— E por que vocês estão dizendo isso para mim? — Indagou ela. — Por que eu devo me importar?

— Sabemos que você precisa de nosso dinheiro, garota. — Monvegar Eran sorriu. Estamos aqui para dizer que ainda é valiosa para nós. Mas não nos irrite, como fez da última vez, porque podemos dispensá-la em um piscar de olhos.

— Eu jamais pretendi irritá-los, Eran. — Na verdade, ela pretendia sim. Eu apenas tenho princípios que não cogito trair.

— Bem... Você é quem sabe. — Monvegar Eran levantou-se da mesa. Vamos procurá-la novamente. E esperamos não ter problemas com a senhorita da próxima vez.

— Vocês não terão. — Garantiu Loenna. Basta obedecerem aos meus requisitos.

O ricaço riu de maneira sarcástica. Não parecia estar levando Loenna a sério.

— Veremos. — Ele disse. — A propósito, eu tomaria cuidado com os Kantaa se fosse você. Talvez um passarinho tenha vazado a informação de como são as feições do assassinato de Maera Kantaa, seu ícone de guerra.

Loenna arregalou os olhos. Como poderiam ser tão sujos? Os Eran haviam ordenado a morte de Maera Kantaa, e agora denunciaram Loenna pelo crime? Unicamente porque ela se recusara a prestar serviços a eles?

— Seja boazinha conosco e nós seremos contigo. — Foi a última coisa que Monvegar disse. Loenna já estava indignada demais para respondê-lo. Não mexa com um Eran. Jamais.

E abandonou o bar sem sequer olhar na cara de Seow ou dos bêbados que ali estavam. Loenna, boquiaberta, tentava esconder seu espanto com a sujeira daquela família mesquinha, certamente a pior de todas... Mas, afinal, por que havia ela se surpreendido? Havia mergulhado de cara no lixão e agora estava chocada que ele fedia? Não. Os Eran eram assim, era de sua índole. Uma família feita de homens capazes de encomendar a morte do próprio irmão por poder é capaz de qualquer coisa.

Ela balançou a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Havia coisas boas a se pensar, certamente havia; E seu principal motivo para sorrir era o fato de Aya não estar mais ameaçada. Ela mal via a hora de voltar para sua casa e contar à enfermeira que ela poderia voltar às suas atividades normais, que os Eran não sabiam de sua existência. Certamente ela iria ficar muito feliz, e Loenna gostava de vê-la alegre. Um meio-sorriso se formou em seu rosto; Aya estava livre.

***

Eram já três da manhã quando Loenna esgueirou-se para dentro da cabana malcuidada onde ficava alojada. Abriu a porta com um ranger suave e alguns ratos saíram correndo para as entranhas da madeira. Aya estava dispersada na rede de pano empoeirada que Loenna usava para dormir; Na última semana, a enfermeira vinha dormindo na rede e Loenna no chão. A garota não se importava, já havia dormido em locais deveras insustentáveis antes; Contudo, a sua hóspede parecia bastante incomodada com a situação.

Usualmente, a assassina não acordaria Aya de seu sono Ela já estava suficientemente apavorada com as circunstâncias. Mas eram boas notícias desta vez. Loenna sorriu ao focalizar seu rostinho redondo coberto pelas ondinhas dos cabelos castanhos; Ela era de fato muito doce.

A garota deu batidinhas na madeira seca e fez uma apavorada Aya acordar de sobressalto, levantando-se com pânico no olhar e os punhos enrijecidos. Ela levava seus olhos de uma extremidade a outra da cabana, procurando qualquer que seja o inimigo que pudesse vir a atacá-la.

— Ei. Está tudo bem. — Tranquilizou Loenna. Sou eu.

Aya visualizou a imagem de Loenna e suspirou em alívio, relaxando seus músculos e retraindo seus ombros. A enfermeira estava de fato atemorizada.

— Aconteceu alguma coisa? — Ainda assim, ela estava alerta. Não podia dar-se o luxo do contrário ali, naquela situação. — Os Eran me acharam?

Não. — Loenna não era muito sorridente, mas seu tom de voz era tranquilizador. - Você está bem. Os Eran não sabem que você existe. Pode voltar para sua casa, e sua enfermaria; Apenas fique longe da casa de seu pai.

Aya franziu a testa.

— Não sabem? — Ela perguntou. Como assim?

— Aparentemente Marcus sabia que poderia vir a ser pego e escondeu todos os vestígios de sua existência. — Disse Loenna. — Os Eran acham que Marcus morreu sem deixar herdeiros, e sem esposa também. Ele era inteligente. Eu só te peço para que não arranje confusão, por favor. Deixe os Eran em paz

E um imenso sorriso se formou no rosto de Aya. Ela se levantou e abraçou Loenna com ternura, surpreendendo a assassina com um carinho extremamente propício.

— Que bom! — Disse ela. — Vou poder voltar a trabalhar.

Loenna fez que sim com a cabeça.

— Mas... — Nesse momento, Aya se desvencilhou de Loenna. Encarou-a bem no fundo de seus olhos, e a assassina conseguia discernir todos os tons de seus olhos verde-esmeralda. — Acho que eu quero ficar um pouquinho mais com você.

Como assim? — Loenna franziu a testa.

Aya sorriu. Levou sua mão ao rosto de Loenna, desenhou seus lábios com o polegar. Imediatamente, a assassina sentiu sua respiração se tornar pesada. Ela não sabia como lidar com essa situação de novo, não após anos desde a última vez.

Me diz... — O olhar de Aya era penetrante. O que você sente quando pensa em outras garotas?

— Eu... — As mãos de Loenna suavam. Ela sabia exatamente onde Aya queria chegar com aquela conversa. Eu me interesso por rapazes.

Aya murchou. Retirou sua mão do rosto de Loenna e o sorriso se desfez com a mesma rapidez que havia se formado.

Ah... — Ela parecia frustrada. — Me desculpe. Eu pensei que... Deixa pra lá.

Bom, de fato Loenna se interessava por rapazes, mas isso não era tudo o que ela tinha a dizer...

...E me interesso por garotas também. — Admitiu ela.

A vivacidade voltou ao rosto de Aya; Ela parecia novamente empolgada e animada com Loenna.

— Eu acho... — E seus dedos tornaram a percorrer o rosto e os cachos ruivos da garota. Que a gente poderia, quem sabe...

A enfermeira não terminou a frase. Deixou ali, no ar, esperando que Loenna captasse o que aqueles fatídicos três pontinhos queriam dizer. Mas Loenna era realmente péssima para romanticismos, não avançou. Estava confusa demais para mover-se, e sua mente estava de volta nas campinas de cinco anos atrás, onde somente ela e Serpente treinavam uma luta corpo a corpo. Naquele belo dia, ela e sua mestre...

Aya se fartou de aguardar uma atitude de Loenna; Percebeu que teria que fazer isso por si mesma. Lançou-se para cima da garota e permitiu que seus lábios tocassem os dela, levando uma sorrateira língua a se aproveitar da deixa também. E, enfim, as duas estavam se beijando.

A garota esqueceu-se um pouco do mundo ao seu redor e se permitiu levar pela graciosidade do beijo de Aya. Era muito agradável senti-la junto ao seu corpo, sentir o calor de seus lábios, de seus braços. Loenna percebeu então que não apenas queria ser beijada, mas sentia falta de ser beijada. Cinco anos atrás, a última vez. Ela se lembrava de como era sempre delicioso e molhado, e a deixava completamente arrepiada. Entretanto, ainda assim, mesmo com os doces e delicados movimentos da língua de Aya, Loenna sentia como se estivesse faltando alguma coisa... Ou alguém...

A garota não se permitiu concluir o raciocínio. Bobagem, ela estava morta. Talvez fosse o momento de seguir em frente, pensou Loenna. E naquele exato momento o beijo se partiu, o olhar de Aya era jovial e seu sorriso divertido.

— O que você achou? — Perguntou Aya.

Eu? — Loenna estava envergonhada, não sabia o que dizer. O beijo de Aya havia sido doce como ela. Eu não sei. E você, o que achou?

Aya dedilhou os cachinhos da testa de Loenna.

— Eu gosto do toque dos seus lábios. — Ela disse, com a voz serena, mansa e entorpecida. — Eu gosto do sabor da sua boca, e gosto do seu corpo entrelaçado no meu.

Você... — Loenna sentia-se cada vez mais atordoada. Você me quer, garota?

Aya não pode evitar de rir suavemente.

Você não é muito sagaz para o amor, não é?

Loenna sorriu de leve enquanto Aya roubou dela mais um doce beijo. E este era um daqueles beijos lentos e intensos, que tiravam o fôlego das duas partes envolvidas. Enquanto a enfermeira se deliciava nos lábios de Loenna, a garota só conseguia pensar em como sentia falta de outros lábios, aqueles lábios de cinco anos atrás, que ela havia perdido de maneira trágica...

Quando as duas se desvencilharam mais uma vez, porém, Loenna notou que Aya queria um pouco mais. A enfermeira deslizou as mãos pela cintura da garota enquanto levava os lábios ao seu ouvido, sussurrando bem baixinho, quase incompreensível:

Talvez esteja na hora de nós compartilharmos momentos mais íntimos... — Aya mordeu o lábio inferior. — Se quiser, eu estou pronta para você.

E apesar de ter demonstrado ser um tanto quanto lenta para as investidas sexuais da enfermeira, Loenna entendeu o que esta queria dizer; Fez que sim com a cabeça e se pôs a tirar suas vestes. Aya fez o mesmo e ambas as blusas foram ao chão.

Desta vez, foi Loenna quem retomou o beijo, voraz como ele deveria ser. Tateou o tronco semi-nu da parceira e Aya suspirou de desejo. Os dedos de Loenna perpassavam por entre as dobras de sua barriga, sua maciez a agraciava. A enfermeira acompanhou a garota e desenhou o contorno de seus seios com as mãos.

Enquanto Loenna envolvia Aya em seus beijos lascivos, pensava nela de olhos fechados. Em seu cabelo cacheado e preto, em seus olhos absurdamente escuros. Pensava no corpo esguio da amante, em sua pele marrom clara, seus lábios carnudos e seu cheiro de primavera...

Quando abriu novamente os olhos, se deu conta de que aquela não era Aya. Loenna estava beijando-a pensando em um outro alguém. E se sentiu covarde, se sentiu suja, se sentiu a pior amante existente; Em seguida, deu-se conta de que não iria conseguir fazer aquilo.

Os lábios de Aya e Loenna se separaram mais uma vez e, quando a enfermeira levou seu rosto para perto do dela de novo, Loenna se desviou. Aya assustou-se de início, mas em seguida sua expressão era somente confusa.

— O que está acontecendo? — Aya coçou o próprio couro cabeludo. – Eu fiz algo de errado?

— Eu... — Loenna acariciou o próprio braço. — Eu não vou poder fazer isso.

Aya ergueu uma sobrancelha.

— Por que não? — Questionou ela. — Eu fiz algo errado?

— Não é com você, eu... — E ela não precisou de muito tempo para formular uma desculpa: — Eu não quero me envolver contigo agora que acabou de perder o pai. É um evento muito traumático na vida de uma pessoa e você está vulnerável emocionalmente.

Aya, contudo, não comprou a desculpa. Novamente ergueu uma sobrancelha e Loenna sentia-se julgada em todos os detalhes de seu corpo. Era, além de suja, uma mentirosa.

— Eu não acredito em você. — Era o mesmo tom acusador de seu pai, Marcus. — Você não transpareceu verdade.

E como Loenna poderia contar uma mentira convincente a uma ouvinte tão perspicaz?

— Eu... — E disse a primeira coisa que veio à mente. — Eu não estou interessada em você, Aya.

Desta vez, Aya acreditou na mentira de Loenna; Ela esbugalhou os olhos e emitiu um gemido de desaprovação com a informação. A princípio, a garota pensou ter acertado, mas quando os olhos da enfermeira se encheram de lágrimas, Loenna desejou voltar no tempo e inventar outra coisa.

— Oh. — Ela estava nitidamente aborrecida. — Me desculpe. Eu... Me deixei encantar por você, acho. Mas eu fui com muita voracidade, não é? Acho que sim. Peço perdão por ter confundido as coisas...

E derrubou as lágrimas como um conta-gotas derrubaria seu conteúdo. Aya estava chorando e a culpa era toda de Loenna.

— Era mentira. — Apressou-se Loenna a desmentir. — Você é muito doce e eu a acho muito atraente. O que eu queria dizer era que...

— Você não precisa mentir para me agradar, Loenna. — A voz de Aya era fanha e manhosa. — Isso não é culpa sua, eu sou apenas uma tola por pensar que alguém como você teria algo comigo.

— Você está errada. — Loenna estava desesperada. Ela queria a companhia de Aya e até mesmo mais do que isso, mas não no momento. Naquele momento, sua mente ainda estava em Serpente, e ela não poderia se deitar com uma mulher pensando em outra. — Não tem absolutamente nada de errado com você, sou eu quem...

— Não me quer. — Cortou Aya, seca. — Eu sei. Olhe, talvez seja melhor a gente cortar a nossa relação por aqui, tudo bem? Eu não preciso mais da sua proteção, então vou voltar à enfermaria. Me desculpe por qualquer transtorno. Eu preciso ir embora.

— Mas... Aya... — Loenna tentava inutilmente convencer a moça, que já juntava seus trapos mais um pouco de comida, pronta para voltar ao seu cantinho. O que ela poderia fazer? Não era muito persuasiva...

— Eu não deveria sequer ter vindo aqui. Te coloquei em perigo à toa. — Aya, já de trapos organizados, voltou-se à emperrada porta de saída. — Estou indo embora agora. Por favor, não vá atrás de mim.

— Agora? — Loenna compreendia a urgência de Aya em voltar para sua casa, mas a esse horário? — São quatro da manhã. Você vai se perder.

— Eu sei como chegar em casa. Estudei o caminho por todos os dias na última semana. — Disse Aya. — Eu preciso ir embora agora, Loenna, ficar aqui está me fazendo mal. Espero que você me entenda...

Loenna mordeu os lábios e, apreensiva, fez que sim com a cabeça. Aya engoliu o choro e, sem deixar o menor rastro, foi embora pela porta que rangia à frente. Era como se jamais estivesse sequer estado ali.

A garota aguardou alguns segundos, até que os sons dos passos de Aya pelas folhas secas fossem se tornando cada vez mais baixos. E, então, focalizou a parede; Pendurada nela, havia o crânio de Serpente, que a garota havia roubado dos Kantaa há alguns meses No exato mesmo dia em que conhecera Aya. E fizera 26 anos.

— Você morreu, mas eu ainda não consigo esquecer você. — Dizia ela ao crânio. — Por que ainda é tão presente na minha vida, depois de tantos anos?

Uma leve brisa gelada soprou das frestas do quarto direto para o rosto de Loenna. Os grilos cantavam lá fora e isso a lembrou de que já eram quatro da manhã.

Frustrada, a garota se jogou na rede e fechou os olhos, aguardando que o sono lhe batesse. Acordara uma assassina; Fora dormir como uma fracassada no amor. Talvez fosse isso que o destino lhe reservava: Apenas um passado frustrado de uma relação que já não era mais possível, porque uma das partes envolvidas havia falecido.

***
Apenas para fins de esclarecimento: A bissexualidade não é binarista e eu tenho noção disso. Bissexualidade inclui atração por todos os gêneros, seja homens, mulheres ou não binários. Mas para a época eu achei que o "gosto de garotos e garotas" fosse adequado e por isso ele está aqui inserido. Se alguém por ventura tiver uma sugestão de como eu definiria a bissexualidade de uma forma adequada para a época e para o contexto, não hesite em me dizer! Eu ficarei muito grata!

Oi, pessoal! Espero que tenham gostado do capítulo de hoje! Quarta feira que vem tem mais e eu fico muito feliz que estejam acompanhando!

Estamos quase chegando a 2k de leituras e isso me deixa muito feliz! uhul! 

Gostaria de saber, se alguém quiser se manifestar, se vocês preferem que eu solte dois capítulos por semana ou preferem do jeito como está. Há essa possibilidade já que, como eu disse, a história já está pronta, mas não adianta eu soltar mais capítulos se for sobrecarregar vocês e vocês não tiverem tempo de acompanhar a história. 

O que acham? Se eu não tiver respostas (o que é bem possível kkkkk) vou manter do jeito que está. Podem responder quando quiserem, independente do curso da narrativa! Mais uma vez, obrigada pelo carinho e espero vê-los nos comentários. Forte abraço!

Ah, só mais uma coisa: O próximo capítulo terá hot explícito. Espero que isso não seja problema para vocês, caros leitores!

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