𝐒𝐮𝐝𝐝𝐞𝐧𝐥𝐲 𝐋𝐨𝐯𝐞

By romncexkarl

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Shawn Mendes é um homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Camila Ca... More

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By romncexkarl

*qualquer erro, me avisem!

chapter song;
john legend — all of me

Camila Cabello P.O.V

Eu andava por uma grande quantidade de pessoas, todas homens. Na tentativa de não esbarrar em ninguém, meu corpo desviava dos vultos que passavam, todos indo na direção oposta à minha. Minha cabeça mantinha-se abaixada, meus olhos no chão, e foi quando os levantei pela primeira vez que notei:

Todos eles me encaravam. Eu não sabia onde estava. Imediatamente, desviei novamente os olhos para baixo, e por algum motivo me dei conta de que Shawn caminhava ao meu lado.

Senti um alívio libertador com sua presença, mas foi quando nossas mãos se tocaram acidentalmente que ele falou.

— Aqui não.

Encarei-o, cheia de dúvidas. Shawn continuava olhando para frente, imponente, caminhando de forma segura.

Então, como um estalo, me dei conta do que estava acontecendo: ele sentia vergonha de mim. Vergonha de me assumir como alguém que deveria estar ao seu lado. Vergonha do que todos eles, que caminhavam contra nós, pensariam se nos vissem de mãos dadas.

Shawn sentia vergonha de ser visto com uma puta.

– Mila...

Abaixei a cabeça, não conseguindo encará-lo. Não conseguindo formular uma frase sequer, porque uma tristeza imensa me calava. E então, eu estava sozinha outra vez.

— Mila...

Eu estava sozinha. Ele não me amava. E eu sabia disso.

— Mila... Acorda...

De repente, tudo que eu conseguia ver era seu rosto, um pouco longe, mas seus olhos castanhos muito próximos. Fui voltando à realidade lentamente, sua presença tomando forma diante de mim.

Era ele. Suas mãos passando suavemente por entre meus cabelos. Seu perfume me trazendo de volta à consciência mais depressa.

Depois de um momento breve, consegui me situar, e lá estava eu, de volta ao quarto de Shawn, deitada em sua cama, coberta por muitos dos lençóis embolados. Ele estava ajoelhado, arrumado e perfumado com um tipo de blazer escuro, muito próximo ao meu rosto. Mais próximo do que o necessário.

— Desculpa te acordar tão cedo. É que eu tenho que ir trabalhar.

Pisquei os olhos algumas vezes, ainda um pouco atordoada por causa do sono, mas com um alívio imenso em estar fora do meu pesadelo. Que horas deviam ser?

— E você vai ter que ficar aqui... Sozinha.

Ele não tirou os olhos de mim. Também não se moveu um centímetro sequer, ou parou de me tocar. Mas eu podia ver que alguma coisa o incomodava.

— Você... vai ficar? Promete que não vai embora?

Medo. De novo, ele estava com medo de que eu o deixasse. De novo, ele considerava essa possibilidade, e me perguntei o motivo pelo qual eu mesma já estava começando a esquecer dela.

— Eu vou ficar. 

Ele continuou me encarando, como quem quisesse buscar nas minhas palavras alguma pista de que aquilo era mentira. Pisquei algumas vezes para tornar meu olhar mais firme, até que ele finalmente pareceu acreditar em mim.

— Essa casa é sua, ok?

Não respondi, mas ele não pareceu se incomodar.

— Deixei o número do meu celular anotado, está em cima do criado mudo do quarto de hóspedes. Qualquer coisa que você quiser, ligue pra mim. E fique à vontade.
Vou estar de volta à noite.

— Ok. - Respondi, olhando diretamente nos olhos dele.

Permanecemos em silêncio por um bom tempo, e pela primeira vez em muito tempo aquele silêncio não era desconfortável. Não era um silêncio carregado de desconfianças, segredos ou perguntas caladas. Era apenas aquilo.

Como se fosse a atitude mais natural do mundo, Shawn curvou-se um pouco para baixo e me beijou delicadamente nos lábios. Eu poderia protestar por ter acabado de acordar, mas me deixei levar pela sensação de ter seus lábios tocando com tanta suavidade os meus, em um ato singelo, mas com um significado tão grande que fez com que as batidas do meu coração perdessem o ritmo.

— Até logo.

— Hhhmm... - Foi minha resposta.

Ele saiu, me deixando sozinha naquele quarto imenso, e eu fiquei ali, completamente derretida e apaixonada por ele.

Merda.

Fiquei por um longo tempo me espreguiçando e ronronando feito gato nos lençóis amassados, não sabendo se queria sentir o cheiro do corpo dele ali ou o cheiro do perfume que agora estava suspenso no ar. Mas qualquer um dos cheiros me dava arrepios, então eu não me importava.

Como passar horas pensando nas noites que eu tinha com Shawn parecia ser agora minha mais nova mania, foi o que fiz. Lembrei dos seus beijos, seus toques, do seu evidente descontrole quando entrei em seu quarto. Nunca entendi exatamente o motivo de toda aquela fixação pelo perfume do meu creme, mas não poderia ter ficado mais claro que aquilo o fazia perder a cabeça.

Sorri com a lembrança de tê-lo tão submisso a mim, tão entregue e impotente.

De alguma forma, vê-lo dessa forma fazia com que eu acreditasse, mesmo que por um momento, que ele realmente gostava de mim, e que aquilo tudo não era fruto de um distúrbio de personalidade ou sentimento de culpa por parte dele. Tê-lo daquela forma fazia parecer que ele realmente me amava, que era meu.

Como que para fortalecer minha esperança, fiquei remoendo o fato de termos feito sexo sem camisinha. Aquilo devia significar alguma coisa. Talvez não muita, mas alguma coisa, qualquer coisa, devia significar. Era como se ele não tivesse medo de ficar comigo, mesmo sabendo do meu passado. Era como se pudesse aceitar. Como se, no fim das contas, valesse à pena arriscar.

Será que ele realmente gostava de mim mais do que eu pensava?

Não seja idiota. Se transar sem camisinha significasse amor, não existiriam tantas mães solteiras pelo mundo.

Minha racionalidade. Sempre estragando meus momentos de alegria e esperança.

O relógio do criado mudo marcava 06:45h, o que achei ser muito cedo para levantar. Por isso, resolvi me aconchegar mais nos travesseiros macios e me deixar ser embalada pelo sono outra vez.

~~~~

Acordei uma hora depois, e agradeci aos céus por não ter tido um novo pesadelo.

Mexi-me um pouco na cama, agarrada ao travesseiro dele, e então fiquei estática e atenta ao ouvir a porta da sala bater.

Shawn havia dito que só voltaria de noite, mas de qualquer jeito não faria sentido estar de volta uma hora depois de ter saído. Ouvi passos de um lado ao outro, e quando finalmente me convenci de que não havia como identificar a pessoa que acabara de entrar no apartamento, levantei de um salto da cama e, notando que estava nua, corri para o armário, procurando alguma peça de roupa que me serviria. Tudo que encontrei foram camisas sociais, e me perguntei onde infernos estariam os enormes e largos casacos de hóquei que todo menino teve um dia e guardava como lembrança. Corri para o closet, tentando mexer o mínimo possível nas suas coisas, mas foi quando os passos começaram a se aproximar que o pânico me tomou e eu me vi obrigada a vestir a primeira camisa social ao meu alcance. Uma peça azul bebê muito macia e perfumada com o cheiro dele.

Saí do enorme closet e dei de cara com uma senhora que já entrava no quarto sem cerimônias. Perguntei-me se havia acordado na casa certa, e se sim, por que Shawn não havia mencionado a existência de uma senhora baixinha e gordinha em sua vida, fosse ela quem fosse.

— Deus, me desculpe! Pensei que não houvesse ninguém aqui! - Ela começou, se desculpando com um olhar esbugalhado - O sr. Mendes não trazia ninguém aqui há tanto tempo... Mil desculpas...

Continuei à sua frente, encarando-a completamente confusa mas feliz em sentir que a peça de roupa que usava cobria todas as partes do meu corpo que ela não deveria ver.

— Mas você deve ir agora, minha querida. - Ela continuou, com uma expressão doce e compreensiva - Você sabe... Talvez ele te ligue pra que vocês saiam juntos outra vez...

Eu estava tão confusa que, depois disso, provavelmente teria ido mesmo embora, não fosse pelo fato de que, na verdade, eu não tinha para onde ir. Mas como explicar isso a ela?

— Ah... Eu acho... Eu moro aqui...

Os olhos dela se esbugalharam outra vez, dessa vez tão abertos que pareciam poder saltar para fora das órbitas.

— Ah meu Deus, desculpe senhorita! Eu não sabia... Eu sou uma idiota, não devia... Desculpe-me, eu pensei que a senhorita era mais uma... Mas é claro que é especial... A senhorita é namorada dele.

Ela pensou que eu era “mais uma”? “Mais uma” o quê? E quanto à parte do “ser namorada dele”... Bom, eu não sabia como responder àquilo, então fui grata por não ter sido uma pergunta, mas sim uma afirmação.

— Vou deixá-la à vontade. Desculpe-me...

Ela começou a sair, ainda resmungando baixo para si mesma coisas como “idiota” e outros xingamentos, mas a interrompi.

— Está tudo bem... Qual é o seu nome?

— Me chamo Margarida. - Ela falou, ainda parecendo muito arrependida. - Venho arrumar o apartamento do sr. Mendes. Eu queria que ele tivesse me avisado... Não teria dado esse vexame...

— Muito prazer, Margarida. Eu me chamo Camila, mas pode me chamar de Mila.

— Muito prazer.

Sorri para a mulher de meia idade, e ela retribuiu o sorriso. Senti uma enorme gratidão a ela por não olhar para mim como quem estivesse me julgando ou me analisando, o que fez com que minha simpatia por ela fosse imediata.

— Vou sair pra que possa se arrumar. Desculpe invadir assim o quarto, é que eu realmente não fazia ideia...

— Está tudo bem. Obrigada.

Margarida finalmente se retirou, me deixando sozinha outra vez. Convencida a tornar aquela situação o mais normal possível, respirei fundo e rumei para o quarto de hóspedes. Ao entrar no banheiro, não encontrei minha escova de dente ou a toalha que estava usando durante aqueles dias. Intrigada, procurei nas malas e bolsas, mas também não estavam guardadas. Shawn havia mexido nas minhas coisas enquanto eu estava dormindo?

Voltei para seu quarto, então vi, no banheiro, minha toalha branca estendida no segurador, exatamente ao lado da azul marinho dele. Minha escova de dentes, inconfundível por sua cor rosa-choque fluorescente, pendia ao lado da sua no recipiente de louça. Encarei aquilo por algum tempo, me permitindo sentir uma pequena sensação de alegria com todo aquele significado, e foi ao me olhar no espelho, ainda distraída, que vi meu próprio reflexo sorrindo de volta para mim.

Havia tanto tempo que aquilo não acontecia que me assustei momentaneamente com a imagem. Outra vez, me distraí pensando no fato de como Shawn podia ser o motivo da minha mais profunda tristeza e, ao mesmo tempo, a cura para ela. Eu sabia a resposta desse quebra-cabeças, afinal não era burra, mas não deixava de ser curioso e, mais do que isso, um pouco assustador, chegar à óbvia conclusão de que ele simplesmente era importante demais.

Escovei os dentes, tomei um bom banho, me sequei, penteei meus cabelos, tudo isso sem nunca deixar de pensar nele ou de lembrar os momentos da noite anterior.

Talvez não importasse quantas vezes nós ficássemos juntos, a manhã seguinte seria sempre recheada com as recordações do que aconteceu entre nós, e a sensação dele em mim não me deixaria tão cedo.

Mas não era como se eu estivesse reclamando.

Saí do banheiro e senti um vento excepcionalmente frio. Corri até meu quarto e tirei rapidamente da mala de roupas “apropriadas” uma calça jeans, calcinha, meias grossas, duas blusas e um casaco de lã. Passei meu creme em pontos estratégico, vesti as peças de roupa e levantei um pouco a gola para esconder alguns hematomas ainda visíveis em meu pescoço. Deixei a camisa de Shawn pendurada atrás da porta e finalmente caminhei para a cozinha.

Margarida já tinha preparado algumas coisas para o nosso café. Me senti feliz em sentar à mesa com ela e manter uma conversa agradável. Escondi dela os detalhes que deveriam se manter escondidos, mas na maior parte do tempo fui eu que fiz as perguntas.

— Então, você trabalha aqui há muito tempo? - Comecei, dando um último gole no café.

— Há três anos. Venho às segundas, quinzenalmente, pra dar um jeito na casa.
Você sabe, homens não se preocupam em arrumar e limpar as coisas.

— Eu achei estranho, porque Shawn não mencionou nada...

— Sim, o sr. Mendes também não me informou sobre a sua presença aqui. - Ela falou envergonhada, ficando vermelha ao lembrar do que havia acontecido alguns minutos atrás - Mas não o culpo. Ele andou meio perturbado ultimamente, sabe. Fora dos eixos.

— Fora dos eixos?

— Sim... No início, quando ele ficava o dia todo deitado, pensei que fosse preguiça. Mas ele não voltou mais para o trabalho, e também não comia direito. Na verdade, ele não fazia muita coisa além de olhar pro teto. Quando ouvi uma conversa do sr. Mendes com a secretária, entendi que tudo não passava de uma paixão não correspondida.

Margarida pontuou a frase e me olhou interrogativamente, mas não disse nada.
Senti um pequeno frio na barriga, o impulso de quebrar o silêncio me tomando aos poucos, mesmo sem ter certeza do que estava prestes a falar.

— Ahm... Não sei... Talvez eu possa ter algo a ver com isso, mas...

Ela pareceu repentinamente elétrica em sua cadeira, me encarando com mais brilho do que nunca.

— Quer saber? Eu acho ótimo que alguém como a senhorita tenha aparecido e o tenha feito sossegar. Não que o sr. Mendes não fosse um bom homem, mas... A senhorita sabe... Há um momento na vida de um homem em que ele tem que amadurecer quanto a certos assuntos...

— Ele não era maduro em certos assuntos?

— Bom... - Ela começou, se arrependendo de ter tocado no assunto - O sr. Mendes é um homem muito bonito e rico. É claro que a senhorita sabe o quão fácil certas coisas são pra ele.

— Eu imagino.

— Ele nunca namorou ninguém. Desculpe dizer isso, mas acho que não deve ser segredo... Ele trazia muitas moças aqui.

— Hum... - Murmurei, sentindo meu rosto começar a esquentar de forma desagradável e uma raiva irracional me tomar lentamente.

— Era horrível, eu tinha que me livrar das pobres coitadas pela manhã. Algumas entendiam, acho que queriam a mesma coisa que ele. Mas outras pareciam realmente tristes.

— Entendo...

— Mas então, pelo visto, a senhorita apareceu, e ele parou com... bom, com essa péssima mania. O sr. Mendes nunca mais trouxe ninguém aqui enquanto estava daquele jeito. Na verdade, ele parou com isso até um pouco antes, o que estranhei. Só depois veio a depressão. Eu até me acostumei a não encontrar ninguém no quarto. Por isso entrei daquela forma hoje, e sinto muito por isso.

— Foi por isso que você disse que achava que eu era “mais uma”? Mais uma das... - Mais uma das mulheres descartáveis de Shawn. Era isso que passava pela minha cabeça, mas que eu não tive coragem de dizer.

— Sim. Mas não há como negar que a senhorita é diferente. Eu só o vi ficar quase da mesma forma há algum tempo atrás, quando uma aproveitadora barata o traiu. Mesmo assim, digo "quase" porque dessa vez ele ficou pior. E se me permite dar a minha opinião, levando em consideração tudo que vi o sr. Mendes passar dessa vez, acredito que a senhorita o tenha nas mãos.

Ponderei suas palavras, imaginando se havia alguma possibilidade de serem verdadeiras. Primeiro, como era possível Shawn ter ficado pior longe de mim do que na época de seu rompimento com a tal "aproveitadora barata" que eu sabia ser Lauren? Até onde eu sabia, essa havia sido a única mulher suficientemente importante para conseguir tocá-lo de alguma forma. Além disso, como eu poderia tê-lo nas mãos já que, como supunha, Shawn poderia escolher qualquer mulher do planeta? Por que justamente eu seria sua escolha?

Por que aquilo parecia tão difícil de acreditar?

Talvez porque, diferente do que Margarida pensava, os papéis naquela história estavam invertidos: Era ele quem me tinha nas mãos.

— E acredito que isso seja ótimo - continuou ela, me fazendo voltar à realidade - porque não é saudável alguém ficar com tantas pessoas diferentes.

Fitei-a por um momento, imaginando se sua atitude comigo mudaria caso resolvesse contar a ela a quantidade de pessoas com as quais eu já havia ficado. Cheguei à óbvia conclusão de que Margarida nunca mais olharia na minha cara.

— Não... Não é saudável. - Falei antes que pudesse impedir as palavras de saírem de minha boca, mas ela felizmente não entendeu o real significado.

Notei que ela me fitava, então sorri de forma simples, apenas para passar a impressão de que estava tudo bem. A mulher sorriu de volta para mim, me analisando um pouco.

— Você parece uma boa moça. Minha intuição diz que vocês vão ficar bem.

Trabalhando durante três anos ali, era de se imaginar que Margarida conhecesse Shawn, mesmo que pouco. Por isso, novamente tomada por uma onda de otimismo e nenhuma racionalidade, me deixei embalar pelo pensamento de que ela poderia estar certa quando disse que eu era especial, e que também acertara quanto ao meu futuro com ele. Talvez porque eu quisesse me prender desesperadamente a qualquer situação, mesmo imaginária, na qual ele também me amava. Talvez porque estava cansada de proibir a mim mesma de acreditar em um possível romance entre nós.

Talvez, pelo menos momentaneamente, fosse melhor acreditar que nós poderíamos ficar juntos. Porque me entregar a esse pensamento diminuía um pouco a angústia que martelava no meu peito durante todo aquele tempo.

— Espero que você esteja certa. 

Queria dizer que tentaria com todas as minhas forças fazê-lo feliz, se ele assim quisesse, e queria que ela soubesse o quanto eu o amava. Mas eu sabia que não conseguiria deixar tudo isso claro, então finalizei a conversa com mais um sorriso sincero, esperando que Margarida pudesse ver, através dos meus olhos, que fazer com que nós ficássemos bem era tudo o que eu queria.

~~~~

Meu dia foi melhor do que eu pensava. A companhia de Margarida fez com que eu me sentisse animada como não me sentia havia muito tempo. Enquanto ela arrumava e limpava a casa — que, tive que confessar, não via necessidade, já que tudo parecia no lugar — nós conversamos sobre todo o tipo de banalidades. Como meu tempo não estava sendo ocupado com absolutamente nada além de tagarelar com minha mais nova amiga, decidi ajudá-la com a arrumação, mesmo sob uma chuva de reclamações e “não precisa, senhorita!”.

O almoço foi preparado por ela. Não por vontade minha, mas porque Margarida quase me ameaçou de morte quando fiz menção de chegar perto do fogão. Ainda assim, fiquei contente com o ar leve e despreocupado que nossa amizade tomava em tão pouco tempo.

Tranquilizei-me quando minha oferta para trocar as roupas de cama foi aceita.

Não que houvesse algo para ver ali, mas alguma parte irracional em mim fazia com que eu me sentisse desconfortável em deixá-la tão próxima das evidências invisíveis de algumas noites sem pudor entre mim e Shawn. É claro que ela sabia o que acontecia, mas ainda assim, não precisava ser explícito.

Graças a ela, pude conhecer o resto da casa, ainda inexplorado por mim até então. Descobri um espaço aconchegante que ficava logo depois do meu quarto, com sofás confortáveis de couro preto e uma tv enorme, equipada com um sistema de som invejável.

Mais para os fundos, um pouco escondida, se encontrava uma discreta biblioteca, de aparência mais clássica do que o resto da casa, em tom de madeira com cortinas claras e uma lareira central imponente. Ainda havia mais um quarto, quase do mesmo tamanho que o meu, um banheiro social grande, um pequeno escritório com dois computadores e uma sala menor que consistia, toda ela, em um tipo de adega, comportando não só vários tipos de vinho, como também garrafas de whisky de diferentes anos, protegidas da temperatura baixa do ambiente por uma divisão específica.

Para minha total surpresa, conheci ainda uma área nos fundos do apartamento que dava para uma linda piscina de porte médio em chão de madeira escura, que dividia espaço com uma pequena sauna. Ambos os ambientes eram internos, completamente cobertos.

— O sr. Mendes nunca vem aqui.

Perguntei-me o motivo, já que o lugar parecia extremamente relaxante. Como resposta, Margarida deixou clara sua disposição em limpar aquela parte da casa, dizendo que tinha esperanças que agora ela seria devidamente aproveitada.

Minha cabeça foi invadida outra vez por diferentes combinações de pensamentos extremamente impróprios de nós dois ali, e então me perguntei quando foi que eu havia começado a desenvolver a constrangedora mania de pensar em sexo a cada inocente menção de nós dois juntos e sozinhos.

Margarida acabou seu trabalho perto das 19h, e fiquei um pouco desanimada com a ideia de vê-la ir embora, me deixando ali sozinha.

Ter alguém com quem conversar sem preocupações estava começando a me fazer falta, como agora eu podia notar (Shawn não contava, porque nós não conversávamos. Tudo o que fazíamos era escolher bem algumas meia dúzias de palavras para manter um mínimo necessário de comunicação). Além disso, a presença dela ali fazia com que eu não tivesse como pensar nas coisas ruins que ultimamente pensava. Ela ocupava minha cabeça com assuntos simples e distrativos.

— Não vai esperar Shawn chegar pra pagar a você? - Perguntei, esperançosa com a possibilidade de fazê-la ficar mais um pouco.

— Ele deposita na minha conta.

— Ah.

Abri a porta para ela, sentindo meu desânimo começar a dar sinais de vida outra vez.

— Como não vou mais vê-la por algum tempo, espero que a senhorita tenha um feliz Natal.

— Como? - Perguntei, um pouco confusa.

— Tenha um feliz Natal. - Ela repetiu, pensando que eu não havia escutado.

Mas eu havia escutado muito bem. O problema foi não conseguir processar a informação.

Por que ela estava falando em Natal? Em que data nós estávamos, afinal?

— Que dia é hoje? - Finalmente perguntei, depois de algum tempo em silêncio.

— 21 de dezembro.

Voltei ao meu silêncio mórbido, deixando aquele pedaço de informação escorrer como calda quente de pânico da minha cabeça aos meus pés.

— Está tudo bem, senhorita?

Tossi algumas vezes, tentando trazer de volta minha voz.

— Sim, claro. Um... feliz Natal pra você também, Margarida.

Ela continuava desconfiada de minha reação estranha, mas finalmente se deu por vencida e pegou o elevador, fazendo com que eu me tornasse a única pessoa naquele andar.

Fechei a porta, tentando abranger todas as possibilidades e o tamanho dos problemas.

Primeiro, eu precisava comprar um presente. E se fosse levar em conta que Shawn havia me dado, para dizer o mínimo, uma casa de presente, esse nível seria difícil de atingir. Segundo, eu precisava saber se nós passaríamos o Natal juntos. Pelo que eu sabia, ele tinha família. Em algum lugar do planeta. Era de se esperar que passasse com eles, fazendo com que tudo se tornasse um pouco mais complicado para mim: Se ele fosse e me deixasse aqui, o que eu achava mais provável, as coisas ficariam ainda mais confusas dentro da minha cabeça já perturbada. Se ele me levasse junto, eu entraria em algum tipo de crise de pânico. Terceiro, eu precisaria da ajuda de Victoria para resolver essas questões.

Respirei profundamente, tentando oxigenar o máximo possível meu cérebro, e ainda com a mão na maçaneta, fechei a porta. Fiquei algum tempo tentando entender como era possível ficar alheia ao Natal, mas no final das contas, ao lembrar de tudo pelo qual havia passado naqueles últimos três meses, já não estava mais surpresa em estar tão completamente perdida. E de repente, o frio invernal da época natalina começou a fazer sentido.

Decidi que falaria com Victoria no dia seguinte, de alguma forma. Infelizmente, isso implicaria em deixar Shawn ciente disso, já que não havia como ter contato com ela sem o intermédio dele, mas eu imaginava que, uma vez deixado claro que o assunto entre nós duas era particular, ele não insistiria em saber do que se tratava.

Como não tinha muito mais o que fazer, e como me preocupar com essas coisas não adiantaria de nada — embora eu não conseguisse deixar de lado a preocupação — resolvi me ocupar com coisas pequenas e aleatórias até o momento em que já não estivesse mais sozinha.

Fiz uma busca em minhas malas pelo carregador do meu celular, há meses esquecido sem bateria. Quando finalmente consegui ligá-lo, fui bombardeada por milhares de mensagens na caixa postal e ligações perdidas. Sem muito interesse, deixei-o em cima da cama sem procurar saber de quem eram as chamadas.

Permiti-me ligar o aquecedor da sala e do quarto de Shawn, já que a noite havia trazido um frio ainda mais intenso. Tomei um banho quente e, ignorando o arrepio que percorreu minha espinha ao sair do banheiro, vesti a camisa dele que ainda estava pendurada atrás da porta do quarto.

Rumei para minha nova parte preferida do apartamento, achando o interruptor e acendendo as luzes dentro e em volta da piscina. Não era demais, nem de menos: A iluminação e a sensação que ela passava ali eram simplesmente perfeitos. Toquei a superfície gelada de leve com os dedos, mexendo um pouco com a água, e sentei em uma das cadeiras de madeira, fitando os azulejos iluminados e as ondulações na superfície.

Encostei na cadeira e respirei fundo. Para minha alegria, as coisas pareciam estar se tornando gradativamente mais fáceis. O motivo eu não sabia, mas, diferente de antes, minha cabeça não trabalhava freneticamente em busca de respostas. Era como se a exaustão mental pela qual eu estava passando estivesse sendo substituída por algum tipo de aceitação, e embora isso pudesse acabar me machucando a qualquer momento, a sensação de calma fazia com que eu não precisasse remoer pedaços do passado ou dúvidas do que seria o futuro a partir de agora.

O tempo que fiquei ali era incerto. Embora o dia tenha sido cansativo ajudando Margarida com a casa, eu não estava cansada. Por isso, me mantive acordada, mesmo com o ambiente relaxante. Não sabia que horas eram, e não queria saber, porque isso implicaria em relacionar imediatamente os ponteiros do relógio com a chegada de Shawn, transformando minha paz momentânea em ansiedade.

Ouvi um barulho muito baixo, o que imaginei ser a porta da sala. Meu coração, como de costume, começou a pular freneticamente no peito, mas me mantive imóvel, tentando com tanta vontade me forçar a ficar calma que deixaria qualquer monge budista orgulhoso.

Os passos dele foram ficando cada vez mais rápidos conforme o tempo passava, então me perguntei se isso poderia significar um pânico crescente por não me encontrar em nenhum dos outros cômodos. Meu impulso foi gritar para que ele viesse logo e me visse ali, mas me contive, ainda imóvel, enquanto exercitava minha respiração.

Ele entrou de repente, já se preparando para dar meia volta e continuar me procurando pelo resto da casa. Quando me viu ali, suspirou alto, e me perguntei se essa era sua nova mania ao me encontrar em qualquer lugar.

— Quer, por favor, parar de fugir de mim?

— Ainda estou dentro da sua casa, não? - Respondi, e me surpreendi com o tom calmo em minha voz, enquanto sentia meu estômago dar voltas de 360 graus em todas as direções.

Ele não respondeu. Ao invés disso, se aproximou devagar enquanto mexia no cabelo. Shawn ainda vestia o blazer enorme de inverno preto, o que o deixava, além de lindo, extremamente elegante.

Foi quando ele me alcançou que pude notar a única flor que ele trazia em uma das mãos, que agora me era oferecida. Peguei a camélia branca sem pensar, sentindo as pontas dos dedos formigarem levemente, e como se pudesse estudá-la, fiquei olhando para ela por algum tempo.

As pétalas eram de uma perfeição hipnótica.

Levantei o rosto, ainda nervosa e sem saber o que responder, mas foi a reação no rosto de Shawn que me fez ficar calada. Sua expressão era de surpresa, seus olhos estavam iluminados com um brilho intenso, sua boca esticada em um sorriso torto tão absurdamente lindo que fez com que meu estômago desse mais algumas voltas involuntariamente.

A percepção do que estava acontecendo veio como um estalo, e então me dei conta de que eu mesma estava sorrindo de forma simples e verdadeira. O presente inesperado fez com que eu esquecesse de armar minha barreira contra Shawn da forma que vinha fazendo, e sem querer deixei escapar o que realmente estava sentindo. Isso pareceu iluminá-lo de uma forma inexplicável, mas quando entendi o que estava acontecendo, abaixei o rosto um pouco mais constrangida do que deveria.

— Obrigada. - Falei de forma simples.

— Que bom que você gostou. - Ouvi sua voz dizer acima de mim, e então senti o toque suave de seus dedos em meus cabelos, trazendo para trás da orelha uma grande mecha que servia como uma espécie de cortina entre nós dois.

Sem saber o motivo, minha voz pronunciou o primeiro pensamento que me veio à cabeça.

— Você esqueceu de me falar de uma pessoa.

Ele parou por um momento, tentando processar a informação. Olhei para ele e vi que, agora, Shawn parecia querer entender de quem exatamente eu estava falando. E pelo que tudo indicava, ele suspeitava da pessoa certa.

— Hoje é segunda, não é? - Ele perguntou, em uma voz baixa.

— É.

— Ahm... Então, você e Margarida se conheceram?

— Sim.

Ele sustentou meu olhar, fazendo uma pergunta interna para si mesmo e decidindo se deveria ou não verbalizá-la.

— Ela te tratou... direito?

Eu conhecia Margarida havia menos de 24 horas, e ainda assim poderia dizer que ela trataria “direito” qualquer pessoa. Shawn, conhecendo-a por alguns anos, sabia disso muito melhor do que eu. Mas o fato era que eu sabia do que ele realmente estava falando.

— Ela me tratou como as outras. Mas a culpa não foi dela.

Sua expressão se contorceu no que parecia ser um desespero contido. Ainda conseguindo adotar uma voz surpreendentemente calma, continuei:

— Eu expliquei a situação... Bem, mais ou menos. Ela entendeu, então está tudo bem.

— Me desculpa. - Ele se apressou em dizer - Eu era diferente...

– Tudo bem. - Menti. Embora eu não tivesse o direito de ter ciúmes de qualquer mulher que Shawn teve ou deixou de ter, simplesmente não conseguia conter a raiva em imaginá-lo com tantas outras.

E levando em consideração o meu passado, isso fazia com que aquela situação soasse ridiculamente irônica.

Ele continuou me encarando com uma expressão de arrependimento, e quando nenhum de nós dois tinha mais o que falar, me levantei.

— Está frio aqui. Acho que o aquecedor não chega até essa parte da casa. - Falei em um tom casual.

— Essa blusa é minha?

Senti meu rosto queimar de vergonha. Eu havia esquecido que, primeiro, estava vestindo só uma camisa, e que, segundo, havia pego uma peça de roupa dele sem pedir permissão.

— É... É que eu fui pega de surpresa essa manhã, foi a primeira coisa que encontrei no seu closet... Desculpa, eu não tive tempo...

— Fica muito melhor em você do que em mim. - Ele me interrompeu, enquanto seus olhos famintos varriam meu corpo de cima a baixo sem a menor discrição.

Fiz uma força sobre-humana para não deixar o arrepio que percorreu minha espinha se transformar em um tremor constrangedor, desviando o olhar e caminhando para a porta com mais pressa do que o necessário.

Rumei para fora com Shawn atrás de mim. À medida que sentia o calor do aquecedor se chocar contra minha pele com maior intensidade, me senti cada vez melhor. Quando parei, sem perceber, me vi de pé ao lado da cama dele, e eu sabia que minha atitude, mesmo automática, o havia deixado feliz outra vez. Me mantive de costas para não ver o sorriso presunçoso de vitória que eu sabia estar em seu rosto, e comecei a me xingar pela minha mais nova e irritante mania de agradá-lo sem querer.

— Eu vou tomar um banho rápido. - Ele começou, interrompendo meus pensamentos enquanto tirava seu blazer pesado - A tv é toda sua.

Não respondi, mas Shawn parecia estar se acostumando à minha falta de modos.

Então, sem dizer mais nada, entrou no banheiro e me deixou ali sozinha.

Respirei fundo e decidi fazer algo que já deveria ter feito, caso tivesse tido a oportunidade.

Achei um jarro comprido de decoração e o enchi de água, depositando minha camélia dentro e colocando-a em meu quarto. Revirei por algum tempo nas malas, finalmente encontrando o que procurava na última bolsa. Retirei de lá uma pasta com alguns envelopes, escolhendo dentro de um deles um papel específico. Guardei tudo outra vez e, por fim pegando uma caixa de comprimidos, voltei ao quarto dele, sentando-me na cama enquanto esperava que Shawn saísse do banho.

Algum tempo depois, a porta foi aberta e eu tive que esperar um pouco para que meus pensamentos, antes na ponta da língua, voltassem a fazer sentido. Tudo isso porque o desgraçado, obviamente de propósito, vestia nada além de uma boxer azul-marinho que delineava os músculos das pernas e do abdômen com uma perfeição angustiante. Seus cabelos estavam completamente molhados e o cheiro do sabonete nele me deixava um pouco tonta.

— Não está muito frio pra isso? - Perguntei, sentindo uma raiva irracional do meu próprio descontrole.

— Não. Aqui está um forno, o aquecedor está forte demais.

— Então diminua o aquecedor e ponha uma roupa.

— Por quê?

Para que eu possa parar de babar como um cachorro faminto.

— Você vai pegar um resfriado.

— Não se preocupe com a minha saúde. O que é isso?

Shawn apontou para os itens em minhas mãos, me fazendo lembrar do que eu deveria fazer.

— Coisas que eu queria te mostrar.

Ele se sentou ao meu lado na cama — excessivamente perto, fazendo com que todos os perfumes do banho recém-tomado me aturdissem mais um pouco — e analisou com interesse o papel que eu segurava.

— São exames. - Comecei, entregando a ele a folha dobrada - Eu sempre fiz a cada três meses. Você sabe, exames de rotina necessários pra... mim.

Aquele assunto era delicado, e se eu não tomasse muito cuidado com as palavras, nossa noite se tornaria extremamente desagradável de uma hora para outra.

Naquela folha estavam exames que provavam o que eu havia dito a ele na noite anterior: eu estava limpa de qualquer doença que pudesse vir a ter por causa do meu passado.

— Esses exames foram feitos há um mês atrás. - Indiquei com o dedo a data na extremidade superior do papel - E eu juro que não estive com ninguém, desde o dia em que você foi embora até o dia que você voltou.

— Eu acreditei ontem. - Ele disse, numa voz baixa e um pouco seca, mas ainda analisando o que dizia o papel.

— Mesmo assim, pra você não ter dúvidas...

— Eu parecia ter alguma dúvida ontem, quando te comi três vezes sem camisinha?

— Eu só queria provar, ok? - Me surpreendi com minha própria voz, que saiu mais alta e mais séria do que jamais havia ouvido antes.

Shawn pareceu notar isso também, então tudo o que fez por um bom tempo foi me encarar com uma expressão séria, mas leve. Então, sem ter mais nenhuma forma de levar o assunto adiante, ele finalmente se rendeu.

— Ok.

Tirei o papel de suas mãos com um pouco mais de força do que desejava, mas não me desculpei.

— Esse é o anticoncepcional que eu tomo. - Mostrei a cartela com os comprimidos, ainda no início - Você também não vai ser pai antes da hora.

Ele encarou a embalagem em suas mãos, sem dizer nada. Suspirou profundamente, me entregando de volta sem nenhuma reação.

— É uma pena que você precise me mostrar essas coisas pra se sentir melhor.

— Eu achei que você fosse ficar mais tranquilo se visse.

—  E eu achei estar claro que confio em você. Não precisa me provar nada, basta dizer e eu acredito. Por acaso eu também preciso mostrar algum exame pra que você tenha certeza...

— Você sabe que é diferente!

— Não é. Minha palavra deveria valer pra você a mesma coisa que a sua vale pra mim. E se isso não significar nada, devo lembrá-la que eu também já tive muitas mulheres?

— Não precisa. - Falei seca.

Outra vez, ficamos em silêncio. Infelizmente, aquele se tratava do silêncio antigo, o velho conhecido que se expandia entre nós de uma forma desagradável. Sem pensar, tomei de volta os remédios da mão dele e me levantei rapidamente, na iminência de correr para o meu quarto e ficar por lá.

— Não me deixa sozinho aqui. Por favor... - Ele falou, segurando meu braço sem força, mas com firmeza.

— Vou dormir no outro quarto essa noite.

Desvencilhei-me de seus dedos e saí sem olhar para trás. Entrei no meu quarto, fechando a porta atrás de mim. Joguei em cima do criado mudo as coisas que trazia nas mãos e fui escovar os dentes. Não me preocupei em ligar o aquecedor, apagando a luz e me enfiando de uma vez só por baixo das camadas do edredom fofo e quente, mergulhando na quase total escuridão do quarto, que só era comprometida pela pouca luz que vinha do lado de fora e entrava pela janela.

Fiquei ali remoendo aquele sentimento ruim, sem sequer saber o motivo de estar sentindo aquilo ou o que poderia ser. Cobri-me até a cabeça, tentando ficar mais tranquila, mas não conseguia. Por que eu estava irritada com Shawn, afinal? Só porque ele queria confiar em mim e eu não deixava? Isso fazia algum sentido?
Qual era o meu problema?

Fiquei imóvel, esperando o sono chegar, mas ele não veio. Talvez porque eu não estivesse cansada, mesmo depois de um dia de trabalho, ou talvez — e o que era mais provável — porque eu estava angustiada com a ausência dele. Embora não quisesse admitir, eu desejava desesperadamente que ele entrasse por aquela porta a qualquer momento, nem que fosse para perguntar qualquer coisa idiota.

Conforme o tempo passava, eu ia me convencendo de que ele não apareceria.

Considerei a hipótese de me levantar e ir dormir ao seu lado, mas logo desisti da ideia ao chegar à conclusão de que se Shawn ainda não havia ido me ver, é porque não queria me ver.

A escuridão do quarto se tornou sufocante. Uma chuva fina começou a cair do lado de fora, fazendo um barulho tão discreto contra as janelas de vidro que talvez eu não notasse, se não estivesse prestando atenção. De repente, senti um nó na garganta, o tipo de dor que eu sabia que precedia o choro. Tentei me sentir menos sozinha, convencendo a mim mesma de que, no fundo, eu não passava de uma criança idiota e carente, e que, pelo amor de Deus, ele estava no quarto ao lado!

Dando-me conta pela primeira vez da dependência que havia desenvolvido da sua companhia, cheguei à conclusão de que não obteria sucesso.

Então, fui pega de surpresa com o barulho da maçaneta na porta. Mantive meus olhos abertos, voltados para a janela, de costas para ele, e por algum motivo que eu não saberia explicar, fingi estar dormindo.

Ele ficou em silêncio por algum tempo, talvez observando meu “sono”. Mas o momento foi rápido, então ouvi a porta ser fechada outra vez. Amaldiçoei minha covardia por deixá-lo ir embora daquela forma, sendo que tudo o que eu queria era tê-lo ali, comigo. Mas nenhuma das minhas atitudes ultimamente faziam sentido, então não era como se de repente eu fosse ter algum surto de sobriedade.

Meus xingamentos imaginários foram interrompidos com o que senti logo em seguida. O colchão ao meu lado afundou lentamente, o edredom sendo suavemente puxado, e no segundo seguinte, um braço contornava minha barriga e um nariz respirava em meu pescoço.

— Desculpa se eu fui grosseiro. Não era minha intenção.

Não respondi, completamente imóvel, deixando que a presença de Shawn ali me cobrisse pouco a pouco com uma alegria quente e maravilhosa.

— Só queria que você entendesse que eu confio em você. Não importa o que aconteceu ou deixou de acontecer na sua vida, eu só preciso ouvir o que você tem a dizer. Desculpa-me se te magoei de alguma forma.

— Tudo bem. - Eu falei, instintivamente agarrando com força a mão que ele mantinha na minha barriga.

Eu queria dizer mais do que “tudo bem”, queria dizer que ele não precisava pedir desculpas por algo que não fez, e queria dizer que a grosseria naquela situação havia partido de mim. Mas tudo o que consegui fazer foi me agarrar ao seu braço com toda a força e aproveitar o alívio e a leveza de tê-lo comigo outra vez.

Shawn aplicou beijos suaves e inocentes em meu pescoço, fazendo um tipo de carinho com os dedos na minha barriga.

— Você disse que queria dormir nesse quarto, mas não falou nada quanto a dormir sozinha.

Ele pontuou a frase abrindo o botão de baixo da camisa que eu vestia, e de repente notei que a única coisa inocente ali era eu.

— Posso ficar aqui com você? - Ele perguntou ao pé do meu ouvido, suas mãos percorrendo a extensão da camisa e fazendo com que mais três botões fossem desabotoados com uma rapidez assustadora.

— Não acho que nós vamos conseguir dormir se você continuar fazendo isso.

Reuni toda a força que existia em mim para pronunciar as palavras sem deixar escapar um gemido. Talvez eu mesma estivesse guiando sua mão para os botões restantes, eu não saberia dizer.

— Eu não perguntei se podia dormir aqui.

Soltei o ar com força, sentindo meu corpo ferver por debaixo do edredom, enquanto a ponta dos dedos de Shawn faziam círculos deliciosamente provocantes que iam do meu umbigo até os limites das áreas mais sensíveis do meu corpo.

Você pode fazer o que quiser, contanto que fique aqui...

Era para ser um pensamento, mas é claro que saiu em alto e bom som. Mesmo assim, não me importei em ficar constrangida, porque isso implicaria em deixar de aproveitar todas aquelas sensações que as benditas mãos dele me davam enquanto exploravam meu corpo. E não poderia haver nada no mundo que me tirasse da nossa bolha particular.

Shawn me virou lentamente, enquanto abria o último botão ainda fechado na blusa que eu vestia. Outra vez, agi por impulso, agradecendo em silêncio por não estar raciocinando, e beijei-o às cegas, com tanta vontade que meus lábios doeram. Ele me puxou para perto dele, retirando completamente a camisa que eu vestia, e senti seu peito incrivelmente quente tocar o meu.

Ele nos virou na cama, se deitando em cima de mim e depositando beijos molhados e luxuriosos por toda a extensão do meu peito exposto. Imaginei estar me sentindo bem com a escuridão no quarto por fazer com que minha vergonha fosse menor, mas a verdade era que tê-lo daquela forma — nas sombras e, ao mesmo tempo, tão entregue — estava me excitando de uma forma perigosa.

Dei-me conta de que, em algum momento, ele havia acendido o abajur do criado mudo, e ao invés de me incomodar, senti uma grande satisfação em poder enxergar o que ele fazia agora. Sua boca foi descendo pela minha barriga, deixando um rastro molhado que se tornava automaticamente gelado pelo ar invernal. Conforme ele descia, carregava consigo o edredom, e quando sua língua decidiu parar no meu umbigo e brincar um pouco por ali, senti o frio do quarto se chocar contra minha pele, mas o ignorei.

Apertei os dedos nas mechas de seus cabelos quando Shawn resolveu puxar para baixo minha calcinha, de forma torturante e lenta. Sua língua ainda explorava os vários pontos sensíveis em meu umbigo, e eu tinha total noção de que me contorcia nos lençóis feito peixe fora d’água.

— Posso te perguntar uma coisa? 

— Pode fazer o que quiser... - Tentei falar sem parecer ofegante demais, mas falhei miseravelmente.

— Já fizeram oral em você?

Suas palavras me colocaram em choque imediato, e minha reação involuntária foi fechar as pernas, mas ele foi mais rápido. Com firmeza, mas sem me machucar, senti suas mãos segurarem minhas coxas e afastá-las novamente, se colocando agora perfeitamente entre elas.

— Mila... - Ele começou, chamando novamente minha atenção - Já chuparam você?

— Não! - Respondi, minha voz mais estridente do que o normal, enquanto, inconscientemente e com desespero, tentava soltar suas mãos das minhas pernas.

— Não quer saber como é?

— Não! - Gritei, ainda desesperada.

— Por que não?

Eu ia tentar responder, mas nesse momento Shawn resolveu descer sua boca até meu centro nervoso e jogar lufadas de ar propositalmente intensas ali, sem sequer encostar em mim, mas fazendo com que meus olhos revirassem nas órbitas.

— P-para!

— Por que não quer saber como é?

Cada letra sibilada que ele pronunciava resultava em novas sensações, porque sua maldita boca estava tão próxima a mim que seus lábios, ao se movimentarem, me tocavam sem querer (ou não), de uma forma extremamente suave, mas que estava me deixando completamente louca.

— Eu não sei! - Falei, quase em um sussurro, sendo absolutamente sincera quanto ao motivo pelo qual eu tentava impedi-lo de continuar. Eu não sabia como era, porque nunca havia sido tocada daquela forma, mas não era ingênua a ponto de não saber que devia ser muito, muito bom.

— Por que não me deixa fazer isso? Pode confiar em mim. Você manda eu parar, eu paro.

Meu controle estava se esvaindo rápido demais. A expectativa e a sensação de ter seu rosto a centímetros do ponto onde eu queria que ele me tocasse estavam me deixando tão absurdamente excitada que tive que reunir toda a força existente em mim para conseguir me manter consciente. Nunca poderia imaginar o quão sensível eu era naquela área, mas Shawn estava ponto à prova toda a minha resistência.

Não respondi, e como afronta, ele suspirou de forma proposital. Meu corpo tremeu violentamente, então senti meus músculos se contraírem com tanta intensidade que chegaram a doer. Fechei os olhos com força, provavelmente arrancando mechas de cabelo da cabeça dele com meus dedos desesperados.

— Eu já sonhei com seu cheiro mais de uma vez. - Ele começou - Mas você é mais doce do que eu pensava.

Ele inspirou profundamente, e sem saber exatamente como ou quanto tempo levou, meu corpo se contorceu em uma explosão de prazer tão grande e quente que, por um bom tempo, fiquei completamente aturdida e fora de órbita.

E assim, sem mais nem menos, eu gozei.

Esperei de olhos fechados minha respiração normalizar. Meus dedos, ao contrário do resto do meu corpo, estavam gelados e doídos pela força que eu fazia.

Estava frio, eu sabia, mas mesmo assim não conseguia sentir. À medida que fui voltando a mim, fui sentindo novamente o toque das mãos dele envoltas nas minhas pernas e sua respiração fraca ainda no mesmo lugar.

O silêncio foi suficientemente longo a ponto de permitir que eu voltasse do clímax e ainda conseguisse notá-lo.

Abri os olhos lentamente e olhei para baixo, encarando-o, sem saber como agir.

— Você gozou?

Ele parecia mais confuso e aturdido do que eu, mas tudo que pude fazer foi confirmar com a cabeça. Shawn continuou me encarando por algum tempo, e por um momento tive uma visão do que seria sua reação explosiva.

Outra vez, tarde demais.

Senti sua aproximação violenta, enquanto suas mãos apertavam minhas pernas com a força necessária para deixar marcas. Mas a dor era a última coisa que eu poderia sentir naquele momento, simplesmente porque a língua dele estava dentro de mim, e de uma forma nada convencional.

Os movimentos eram precisos, fazendo com que meu corpo ondulasse pelo colchão. Era de se imaginar que ele fosse bom naquilo, não só porque costumava ser bom em tudo — principalmente no que dizia respeito a sexo — mas porque ele teve bastantes oportunidades de ganhar experiência. Ainda assim, eu não imaginava que seria necessário tentar impedir que meu corpo explodisse em um novo orgasmo tão cedo.

Assim, tive que me refrear para não chegar ao clímax outra vez entre mordidas estratégicas, beijos intensos e lambidas provocantes. Se senti-lo respirar contra minha pele sensível havia sido bom, não havia palavras que descrevessem a sensação de ser chupada por ele. A intensidade do prazer resultou em algum tipo de reação estranha, então me dei conta de que minhas mãos e meus pés ficaram completamente dormentes.

Não me importei. Se o informasse disso, Shawn acabaria parando o que estava fazendo para me dar alguma assistência médica, mas a última coisa que eu queria era que ele parasse. Minhas mãos pendiam soltas nas mechas dos seus cabelos, sem fazer força. Minha boca estava completamente seca, e talvez eu estivesse prestes a ter alguma coisa muito séria, mas me permiti ser irresponsável e não interromper a melhor noite de sexo da minha vida.

Para o meu desespero, meu segundo orgasmo se aproximou com uma força inesperada.

— Shawn... Eu vou g...

Puxei seus cabelos para cima com força, tentando fazer com que ele saísse dali, mas Shawn era muito mais forte do que eu, e ao que tudo indicava, não iria a lugar algum. Por isso, não foi difícil segurar meus pulsos com força e me deixar completamente atada, me impedindo de fazer qualquer coisa que fosse.

Gritei de prazer enquanto sentia sua língua me penetrar no ritmo dos espasmos, minha cabeça ficando completamente vazia e meu rosto tanto quente quanto dormente.

Minha garganta doía, resultado tanto dos gritos quanto da força que eu havia feito para não gritar ainda mais. Meu corpo se assemelhava a fios desencapados, sentindo uma pontada de choque em cada centímetro que o corpo de Shawn entrava em contato com o meu.

Ele se levantou completamente ofegante e me encarou. Meus olhos, possivelmente desfocados, conseguiam ver apenas um borrão da silhueta dele, logo acima de mim.

— Vai ser rápido, eu prometo. - Ele disse, e mais uma vez me senti ser invadida.

Dessa vez, ele havia me penetrado da forma convencional, deixando seu corpo pesar sobre o meu enquanto fazia movimentos bruscos e fortes dentro de mim.

Eu não conseguia respirar direito, mas isso não era importante. Fui surpreendida por um beijo, me sufocando ainda mais, e imediatamente identifiquei o gosto diferente na língua dele.

— Você é uma delícia...

Embora eu discordasse, aquelas palavras fizeram o efeito que deveriam fazer.

Pela terceira vez, meu corpo começou a queimar e se contorcer em espasmos curtos, servindo como aviso de que uma nova onda de prazer me assolaria em pouco tempo.

Tirando forças não sei de onde, envolvi minhas pernas em seus quadris, reforçando o movimento que ele fazia dentro de mim, e me deixando sentir as ondas do corpo dele ditarem nossa dança sincronizada.

Como ele havia dito, foi rápido. Alguns minutos depois, me senti ser preenchida pelo gozo quente dele, que escorria dentro de mim como prova de uma noite perfeita e incrivelmente prazerosa. Como se não bastasse, de alguma forma — e eu não sabia como aquilo podia ser sequer possível — consegui ter um terceiro orgasmo, o que foi o suficiente para fazer com que meu corpo parecesse gelatina derretendo.

Mantive-me muito quieta, incapaz de dizer qualquer coisa, enquanto me concentrava no som que sua respiração, gradativamente mais calma, fazia perto do meu ouvido. Minhas mãos e pés começavam a formigar um pouco, me fazendo lembrar que eu ainda tinha extremidades. Aos poucos, voltei a sentir o frio do quarto se chocando contra minha pele um pouco úmida, e dei graças a Deus que o corpo dele estivesse me cobrindo.

Depois de um longo tempo em silêncio, me fazendo pensar por um momento que ele havia adormecido, Shawn se levantou devagar, me deixando completamente exposta e com frio. Não fiz força para abrir os olhos, esperando que ele entendesse o que estava acontecendo comigo. Não era cansaço, era diferente.

Senti meu corpo ser suspenso com facilidade do colchão quente, mas não me importei. Segundos depois, estava embaixo de uma ducha morna e revigorante, me fazendo voltar um pouco à realidade e me dar conta de que, afinal, eu conseguia ficar de pé. Notei também que os braços dele estavam em volta de mim, tentando ao mesmo tempo me ensaboar e não me deixar cair.

— Tudo bem... Pode deixar. - Consegui falar, num tom de voz muito baixo.

Mesmo assim, ele pareceu entender, então tratei de me lavar enquanto Shawn apenas se mantinha atento a mim e à minha falta de coordenação motora.

A ducha foi desligada, e eu já me sentia mais alerta. Fiz menção de pegar a toalha de suas mãos, mas ele ignorou minha atitude e me secou como se eu fosse uma criança de cinco anos. Não reclamei, mas achei engraçado.

Fui levada de volta à cama, me cobrindo com o edredom ainda quente e fofo.

Ouvi um ruído agradável do aquecedor, agora ligado, e esperei que o calor fosse o suficiente para fazer com que eu parasse de tremer. Virei de lado e me cobri até o rosto, esperando pela aproximação dele.

Quando já estava começando a me sentir deprimida pela demora, senti o colchão afundar ao meu lado, e no segundo seguinte seus braços já me abraçavam por trás outra vez, formando uma concha protetora ao meu redor. Sem pensar, coisa que eu estava adorando fazer, me aproximei mais dele, sentindo sua pele fresca e perfumada colada à minha, e finalmente suspirei.

— Agora... Posso dormir aqui?

— Você realmente pode fazer o que quiser. - Respondi, num tom baixo.

— Não me provoque. - Ele sorriu contra meu pescoço, me trazendo mais para perto dele e me abraçando com mais força.

— Não estou provocando. - Respondi, dizendo a verdade - Pelo menos, não de propósito.

— Então pare de ser provocante sem querer.

Sorri sem motivos, ainda contente em senti-lo tão próximo.

Ficamos calados outra vez, e minha alma parecia mais tranquila ao constatar que era o silêncio confortável que estava lá. Ao que tudo indicava, nosso convívio tornava-se menos complicado aos poucos. Imaginei até onde iria se me permitisse fazer tudo por impulso, já que o maior dos meus problemas era pensar demais.

Imaginei um dia em que seríamos um casal qualquer, sem contas a resolver, sem motivos para ter medo de nos expressarmos, e como seria bom estar ao lado dele sem o receio de pescar do passado, acidentalmente, qualquer coisa que o magoasse. Qualquer coisa que me magoasse.

Cheguei à conclusão de que, talvez, esse dia jamais acontecesse, e uma pequena pontada de decepção brotou em mim, abalando um pouco, mas não completamente, a alegria que eu estava sentindo. Ainda assim, se antes eu me agarrava à ideia de que tê-lo era impossível, agora minha racionalidade já havia admitido abertamente a derrota, me permitindo sonhar com meu conto de fadas particular.

E não importava do que meu lado pessimista tentasse me convencer: Se o príncipe em questão fosse Shawn, com todos os seus defeitos e suas complicações, então definitivamente era um sonho pelo qual valia a pena ter esperanças.

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