Medo: Contos de Terror

De WilliamDaRocha

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Assombrações, demônios, vampiros, lobisomens, zumbis e mais. Cada capítulo de Medo é um novo e aterrorizante... Mai multe

1. Home Office Macabro
2. A Casa da Rua 2
4. Criaturas da Lua Cheia
5. O Mal Observa Enquanto Você Dorme
6. A Caçada
7 - Sozinha

3. Dia de Sorte

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De WilliamDaRocha


Pela rua, onde o cinza do asfalto desaparecia em meio ao verde da vegetação, Carlos fugia de um grupo de criaturas famintas. Ele buscava por alimentos, mas sempre existia o risco dele mesmo virar a refeição; as incursões pelos bairros sempre eram perigosas e a daquela tarde não estava sendo diferente. Nunca estivera tão difícil de encontrar o que comer! Visto que os enlatados em mercados ou em casas abandonadas, em sua maioria, já haviam sido consumidos por outros sobreviventes. E se submeter aos regimes totalitários, dos poucos grupos que conhecia, estava fora de questão; Carlos preferia arriscar que sua carne virasse banquete para os monstros, que caçavam lá fora, do que abdicar-se do restante de sua dignidade. Corria a plenos pulmões, mas em algum momento seu corpo precisaria de descanso, enquanto que as criaturas não se cansavam; elas jamais cansavam, jamais sentiam dor, jamais sentiam medo e jamais estavam saciadas.

Carlos encostou a mão na pistola que carregava em sua cintura, mas só sobraram três balas. E, embora não parasse para ficar analisando com exatidão quantas criaturas o perseguiam, calculou que umas cinco deveriam estar na sua cola; pois o odor de carne podre aumentava gradativamente. Iria faltar munição. Precisava encontrar um abrigo e rápido! Mas era complicado... ele olhava para os lados: a maioria das casas estavam com os vidros das janelas quebrados; por onde os monstros atravessariam facilmente. O tempo estava se esgotando, pois começara a ouvir mais próximos os passos de seus perseguidores e, naquele instante, já pareciam ser bem mais do que cinco. Estava ficando difícil de puxar o ar e as pernas, embora fortes, já amoleciam e não tinham o mesmo desempenho de minutos atrás. Sua vida estava prestes a ter um final horrível.

"À direita...", visualizou uma casa de dois pisos que continha tábuas de madeira protegendo as janelas do térreo; e a porta da frente estava entreaberta. Talvez houvessem outros lá dentro, mas era necessário arriscar. Desviou da vegetação do pátio — que há dois anos atrás, provavelmente, tinha sido um belo gramado — e atravessou pela estreita trilha, parcialmente preservada, que levava até a varanda da casa. A fachada da residência já estava tomada por trepadeiras que escondiam o azul (desbotado) e as avarias causadas pela ação do tempo e da natureza. Com a agilidade de um atleta, subiu as escorregadias escadas tomadas por musgos e fungos e sentiu-se nauseado pelo miasma do corpo em decomposição à sua esquerda, na varanda; não havia tempo para maiores análises, mas percebeu que só restaram poucos pedaços daquele corpo que um dia foi de um homem ou de uma mulher. Saltou para dentro da casa e fechou a porta; estava com sorte, a chave estava na fechadura no lado de dentro, girou e a trancou rapidamente.

Bac!! Bac!! Unnngh!
Os monstros famintos forçavam a entrada principal!

Os impactos dos corpos das criaturas fizeram a porta de madeira balançar por diversas vezes; havia o risco que conseguissem arrombá-la, Carlos presumiu. Observou à sua direita, pelos feixes de luz do sol que entravam entre as tábuas da janela, um balcão; o empurrou com pressa, bloqueando a entrada. Em algum momento as criaturas deveriam se acalmar e buscar por carne em outro lugar, mas isso demoraria; e certamente ele precisaria passar a noite dentro daquela residência. Tirou a sua pistola da cintura e, apontando-a para frente, preparava-se para investigar os demais cômodos no térreo; procurando, inicialmente, por outras portas que davam para o lado de fora da casa e que pudessem estar abertas.

A luz do sol entrava pelas frestas das janelas e iluminava o suficiente aquele lugar empoeirado. Carlos não precisaria pegar a lanterna (que estava em sua mochila) e gastar as pilhas ainda. Seguiu cautelosamente pelo cômodo que estendia-se até a ponta oposta da casa; que contemplava o hall de entrada, sala de estar e sala de jantar no mesmo ambiente. Desviou e inspecionou com cuidado alguns móveis — pois ele sabia que, às vezes, um daqueles seres famintos poderia estar embaixo de uma mesa — e sem contratempos chegou ao fundo do local. Em seguida, visualizou a entrada de uma porta fechada (à sua esquerda), dois lances de escadas que levavam para o segundo piso (à sua frente) e uma grande janela tapada por diversas tábuas de madeira do lado de dentro, abaixo do segundo lance de escadas; esse cômodo e o segundo piso fica para depois, ele pensou. Afinal, à sua direita, havia uma entrada aberta para o que parecia ser a cozinha da residência.

Bac!! Bac!! Unnngh! Unngh! Bac!!

Carlos sentia que o som de sua respiração ofegante estava tão alta quanto os urros das feras que seguiam batendo e chocando-se contra a porta principal, mas ele se concentrou para fazer o máximo de silêncio possível.

Dentro da cozinha, analisou rapidamente uma porta que dava para os fundos da casa: estava trancada e segura, com tábuas de madeira fixadas por toda a sua extensão. Chegou a preocupar-se com um vidro quebrado na parte superior da porta, mas tranquilizou-se ao notar que haviam grades que nenhuma daquelas criaturas teria a capacidade de atravessar. Olhou para o lado oposto da cozinha e viu a entrada de outro cômodo; estava fechada. Dirigiu-se até o local e girou lentamente a maçaneta; o suor escorria pelo seu rosto. Com a pistola engatilhada, empurrou a porta com o pé; ela rangeu baixinho. Conforme a sala era revelada, os feixes de luz solar mostravam armários, máquina de lavar, baldes, mas nenhum monstro. Limpou o suor de sua testa e seguiu, ainda tinha mais um cômodo para analisar no térreo e, logo após, o segundo piso inteiro.

Bac!! Bac!! Unnngh!

A cada batida dos seres famintos do lado de fora, seu coração saltava mais forte.

Embora as criaturas seguissem batendo forte na varanda e rosnando alto, o som ainda não tinha atraído nenhuma de dentro da casa, se houvesse; isso era um bom sinal, mas não uma garantia. O homem retornou para a cozinha e percebeu, somente naquele momento, que haviam algumas latas de salsicha abertas sobre a pia. "Será que a sorte resolveu sorrir um pouco para mim?", sussurrou. Abriu os armários e se emocionou com o que acabara de ver: havia umas dez latas de alimentos e uma garrafa de vinho, ainda pela metade. Colocou a mochila sobre o balcão — que estava à sua frente — e guardou os tesouros que acabara de encontrar. "Alguém estava sobrevivendo aqui...", pensava Carlos. Estava sobrevivendo, pois a porta aberta indicava, no mínimo, um grande descuido. O mais certo era que algo deu errado (muito errado!) com o antigo residente. Provavelmente, fosse o corpo lá na varanda; uma saída para a rua no momento errado e bye! "Chega de pensamentos!" e sacudiu a cabeça. Com a mochila abastecida, colocou-a em suas costas e partiu para conferir os demais cantos da casa.

Bac!! Unnngh! Bac!! Bac!! Unnngh!

Nenhum sinal das criaturas ficarem calmas do lado de fora.

Conformado que acabaria passando a noite naquela casa, Carlos seguiu para a sala: era hora de investigar o último cômodo que restava, antes do segundo piso. Mesmo com a porta fechada, deixar vivo um daqueles seres poderia resultar em péssimas surpresas durante a noite; o homem tinha experiência o suficiente para saber disso. Carlos abriu a porta com todo o cuidado. A cada novo ambiente investigado, ele era tomado pela ansiedade. As mãos tremiam, a transpiração aumentava e a respiração ficava pesada. Mesmo com seus 38 anos; 36 de uma vida digna e 2 sobrevivendo ao apocalipse, nenhum nível de experiência faria ele se acostumar com aquilo. Ninguém se acostuma com aquilo! Entretanto, ao menos naquele cômodo, não havia com o que se preocupar: era um banheiro; limpo de monstros ou problemas de segurança que colocariam seu descanso em risco. "Só restou lá em cima".

O homem pisou cautelosamente em cada um dos degraus. Com a pistola apontada, ao terminar de subir as escadas, ficou de frente para outro banheiro, este com a porta aberta. Do lado de fora já percebia-se que o local estava sem criaturas indesejáveis. Então, seguiu por um corredor — iluminado pela claridade do banheiro aberto — que levava para três novos cômodos: um à direita, outro à esquerda e mais um à frente, respectivamente. "Falta pouco", dizia para si. O chão estava com manchas dispersas de sangue que poderiam levar para qualquer um dos quartos; não havia um rastro definido, mas sentia que estava muito tenso, pois poderia ser surpreendido a qualquer momento. Carlos tentava controlar a sua respiração para ficar mais calmo; inspirava profundamente e expirava lentamente.

Seguiu até o primeiro cômodo e girou com delicadeza a maçaneta da porta. Entrou com cuidado... a janela estava aberta e sem proteção; era algo até aceitável, pois nunca vira uma criatura escalar, mas ele a fecharia (por via das dúvidas). O ambiente estava bem iluminado, apesar das trepadeiras cobrirem parcialmente a janela. As bonecas empoeiradas, espalhadas sobre a cama e sobre as prateleiras, traziam à tona algumas memórias; entre elas, coisas que não gostaria de se lembrar, coisas que se esforçava diariamente para não lembrar. Carlos inspecionou rapidamente o quarto e saiu, já que não haviam criaturas dentro dele; ao fechar a porta, se perdeu por alguns segundos em memórias grotescas enterradas em algum canto no limbo de sua existência.

Bac!! Unnngh! Bac!! Bac!!

Os rosnados e as batidas dos monstros na varanda fizeram-no acordar de suas memórias.

"Faltam apenas dois.", falou para si e seguiu adiante. A porta dos dois últimos quartos eram próximas uma da outra; Carlos se posicionou rente a elas: uma das entradas estava à sua esquerda e outra bem em frente. Abriu a da esquerda primeiro e caminhou com bastante cuidado, preparando-se para atirar com a sua arma, se necessário. Assim como no outro quarto, a janela estava aberta e o ambiente inteiro bem iluminado com o sol daquela tarde; e nenhuma criatura saltou em cima dele de imediato. Isso era ótimo! Olhou para a cama de casal e pensou que seria ali mesmo que ele dormiria na próxima noite. Logo em seguida, observou o guarda-roupas, balcão e criados-mudos do quarto, "Vamos ver se encontro algo de útil...". E a sorte sorria mesmo para ele naquela tarde: no balcão, encontrou algumas pilhas que poderiam ser utilizadas como recarga para a sua lanterna; no guarda-roupas, juntou algumas peças de roupa que serviam e que couberam em sua mochila; em um dos criados-mudos, achou uma faca de caça que, imediatamente, guardou em seu cinto. Sorte...

Tac! Tac! Tac!

Escutou batidas que vinham de dentro do banheiro da suíte.

Carlos deixou a mochila sobre a cama e preparou a sua pistola, sentiu-se tomado pela adrenalina do momento novamente. Elas nunca estavam vazias, ainda mais uma casa com a porta da frente aberta. Por que com aquela seria diferente? Tac! Tac! O som persistia. Segurou a maçaneta e a girou bem devagar. Empurrou a porta apenas com força o suficiente para que ela abrisse toda: além da pia e um vaso sanitário, havia uma banheira e uma cortina de PVC no box; o som vinha lá de dentro. Segurou o tecido da cortina com uma das mãos e apontou a arma com a outra. Lá embaixo, como se sentissem a tensão do momento, as criaturas haviam parado de rosnar e bater na varanda; ficando apenas um silêncio que era quebrado somente pelo ruído de dentro do box e pelas batidas aceleradas do coração de Carlos. Era o momento! "Apenas um movimento forte.", pensou sobre como abriria a cortina. Enrijeceu os músculos e empurrou o tecido com força pelos trilhos.

Bang!

O estampido de sua arma disparando ecoou por todo o banheiro.

Um pássaro...era apenas a porcaria de um pássaro! O animal devia ter entrado pela janela e ficado preso no banheiro. Ao abrir a cortina do box a ave passou sobre a sua cabeça e voou em direção à suíte; havia gasto uma bala à toa! O homem, ainda de frente para o box, suspirou e sorriu ao perceber o tremendo susto que acabara de levar. Esfregou o rosto com uma das mãos e virou-se... Unnnnngh!

Antes de cair de costas — dentro da banheira —, ainda conseguiu segurar a cabeça da criatura que o atacara, evitando uma mordida; no entanto, a fera também caiu dentro da banheira e por cima dele. A arma, que estava em uma de suas mãos, ficou sobre o piso no lado de fora.

Bac!! Bac!! Unnngh! Unngh! Bac!! Unngh!

As criaturas na varanda rosnavam e jogavam seus corpos contra a porta ainda mais forte do que antes da pausa.

O monstro tentava arrancar um pedaço da carne fresca com os seus dentes podres. As investidas eram sem interrupção e Carlos usava toda a sua força para manter aquela boca fétida afastada de seu corpo. A criatura, assim como todas as outras, um dia havia sido um ser humano. No caso, aquela foi um homem calvo, alto e que devia pesar uns 100 quilos. Carlos era forte, mas toda a sua força estava sendo exigida no momento. Bastava uma mordida! Apenas uma mordida era o suficiente para ter o mesmo destino daquele ser; vagando eternamente em busca de carne fresca. Isso se sobrasse algum pedaço de seu corpo até o momento da transformação! A fome de um zumbi era insaciável.

O odor da carne apodrecida havia tomado o ambiente. Unnngh! Unngh! Outro deles acabara de entrar no banheiro; Carlos precisava agir e muito rápido! Tirou uma de suas mãos, que afastava a cabeça do zumbi calvo, permitindo que ele aproximasse perigosamente a boca de seu corpo, e pegou a faca de caça que estava presa na sua cintura. O monstro faminto quase lhe cravou os dentes, quando, em um golpe certeiro, Carlos enfiou a faca em sua têmpora. Sem hesitar, tentou sair de baixo do corpo daquele ser putrefato. Mas não deu! O outro morto-vivo acabara de saltar dentro da banheira, caindo com metade de seu corpo por cima do homem e do monstro recém abatido. O peso em cima do peito de Carlos era absurdo, mas usando o cadáver como escudo, conseguia se desvencilhar das investidas do zumbi que outrora havia sido uma mulher. Tentou tirar a faca da cabeça da criatura que acabara de matar, mas estava difícil, se deixasse o braço ali, iria acabar tomando uma mordida. Então, com toda a força que restava, conseguiu girar o corpo, ficando com as pernas livres para empurrar a fera que estava lhe atacando; fazendo-a cair de costas no piso do banheiro...

Era a oportunidade!

Carlos se desvencilhou do cadáver na banheira e ficou de pé, o outro monstro vinha correndo em sua direção. "A cortina!". Puxou rapidamente a cortina do box para a frente do monstro e se esquivou; fazendo a zumbi cair enrolada no tecido, debatendo-se, dentro da banheira. O homem pegou a sua pistola e, antes que o monstro escapasse daquela armadilha, atirou na direção de sua cabeça. "Só sobrou uma bala.", lamentou.

Bac!! Unnngh! Bac!! Bac!!

Os mortos-vivos seguiam fazendo barulho na varanda.

Carlos saiu com cautela do banheiro, pegou a sua mochila sobre a cama e foi investigar o último quarto que faltava. Ao chegar na frente da porta viu que estava aberta: "Estavam justamente neste!", sorriu com a ironia do que acontecera. Não havia mais nenhum zumbi dentro da casa. "Tudo limpo!", disse depois de terminar de revisar cada canto. Mais uma reforçada na porta principal e em uma ou outra janela e poderia passar a noite. Em algum momento as criaturas, ainda agitadas na varanda, deveriam dispersar.

Na manhã seguinte, após ter passado a noite deitado na cama da suíte e ter saboreado alguns dos alimentos que encontrara, o silêncio imperava. Era hora de sair! A casa era boa, mas casas eram as mais visadas pelos grupos — que ele gostaria de manter distância — e outros sobreviventes. Onde morava, tinha uma visão 360º de um grande terreno, fundamental para evitar ataques surpresas ou ficar encurralado quando aparecesse uma horda de mortos-vivos. Além disso, seu prédio inteiro já estava com armadilhas, prontas para capturar qualquer invasor.

Carlos pegou as suas coisas, retirou a mesa e o balcão que usou para deixar mais firme a porta principal da casa e a abriu com cuidado; as criaturas não rosnavam e nem batiam na varanda há algumas horas. Espiou: nenhum morto-vivo na frente da casa. Caminhou lentamente até a entrada e olhou para a rua: também não via nenhuma criatura vagando nas proximidades. Desceu as escadas e seguiu pela trilha que levava até a calçada e continuou, o caminho estava livre. Seguia em direção à sua verdadeira casa; quer dizer, à sua casa para aqueles tempos de fim do mundo. Pensava que, no fim das contas, o último dia havia sido um dia de sorte, afinal conseguiu comida e alguns itens úteis e, além disso, o mais importante: não estava vagando em busca de carne fresca como tantos outros.

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Comentários do autor:

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Ainda virão algumas novas histórias pela frente...

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▪︎Tradução Em Andamento! ▪︎Sinopse e descrição no primeiro capítulo!