Entre números e partituras

By gatitamatsushita

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Após tirar uma das menores notas da sala na prova de matemática, Hinata recebeu do pai o maior esporro de seu... More

Prólogo
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo 7

Capítulo um

907 83 80
By gatitamatsushita

~ ~ n o t a s   i n i c i a i s ~ ~

Oiê, mozis! ♥️
Como vocês estão? Espero que bem e se cuidando direitinho. Eu voltei  para a minha faculdade, que é um internato na marinha, hoje e  aconteceram muitas coisas uma atrás da outra. 
Desculpem pela demora gigantesca, mas quem me acompanha (principalmente no instagram: @gatitamatsushita), sabe os reais motivos por trás disso tudo... Não estou melhor, mas garanto que estou progredindo!
Aaaaah! Meu computador resolveu atualizar O DIA TODO e fiquei até  agora esperando esse caralho terminar para poder trazer essa belezura  pra vocês ♥️

Aproveitem!


~~~~~~


13 de Junho.

— Sakura! Sakuraa! — A voz de Ino tirou Hinata de seus mais profundos pensamentos.

Era horário do almoço e elas tinham se esquecido de preparar obentous para aquele dia, então desceram até a cantina do colégio. Muitos alunos preferiam trazer comida de casa, mas também existiam aqueles que gostavam da comida da escola e não viam necessidade de uma marmita. Por isso, o local não ficava tão cheio e a maioria das cadeiras estava vazia.

Depois da aula de Kakashi, Hinata ficou em um estado letárgico fora do comum. Tudo bem, ela já poderia ser considerada uma garota ligeiramente devagar, só que a conversa com o sensei intensificara as coisas. Por que Uchiha Sasuke? Um garoto tão... Sasuke? Hinata não tinha palavras boas para descrevê-lo. Quase todos na Konoha Gakuen Kokkou vieram do mesmo campus de ensino fundamental dois, ou seja, a maioria se conhecia há bastante tempo.

Isso queria dizer que ela conhecia Sasuke – sim, mesmo de longe – desde o Chuugaku. Era impossível não saber nada sobre a família Uchiha, pois, assim como a Hyuuga, eram tradicionalmente famosas na pequena cidade de Konoha. Além disso, por algumas vezes, partilharam a mesma sala; contudo, nunca proferiram mais do que cumprimentos um ao outro.

— Testuda! Vem almoçar com a gente — Ino ainda chamava a amiga.

Haruno Sakura era sua segunda e última melhor amiga e, infelizmente, havia caído em outra turma naquele ano escolar. As três eram inseparáveis desde que se entendiam por gente e não seria uma mudança de sala que acabaria com aquela amizade.

— E você é muito chata, porquinha! — Sakura reclamou, revirando os olhos para Ino. — Hina-chan, ohayou!

— Ohayou, Sakura-chan! — a Hyuuga respondeu com um sorrisinho divertido.

Sakura sentou-se em frente às amigas e, diferente delas, carregava seu obentou cor de rosa. As três agradeceram pela comida e, enquanto a Haruno abria a pequena marmita, Ino começou a dizer, de boca cheia:

— Ne, Sakura, a Hina tem uma coisa importante 'pra contar 'pra gente. — E deu leves cotoveladas na amiga.

— Oi, Ino-chan! — a de cabelos azulados reclamou. — Falar de boca cheia é muito feio! — repreendeu-a, entre risos.

— Ah, e ficar te cutucando assim pode, né?! — Sakura rebateu apontando os hashis para onde Ino havia acotovelado a amiga. Hinata respirou fundo e balançou a cabeça negativamente. — Conta logo o que a porquinha disse que 'cê tem 'pra contar! — disse, segurando-se para não chutá-la por baixo da mesa por causa da ansiedade.

— Não tem nada de mais — Hinata começou, pegando o onigiri com os hashis. — Não sei nem por que Ino-chan fez esse escândalo. — Ino fez uma careta para a amiga e gesticulou como se a Hyuuga fosse louca. Sakura segurou o riso – enquanto mastigava – com as mãos em frente à boca. — Vocês sabem que eu fui muito mal na prova do Kakashi-sensei, né...

— Dã, você se ferrou muito — Ino tagarelou e recebeu um chute da Haruno por baixo da mesa. — Ai! Sakura!

— Não se diz essas coisas, sua maluca!

— Gomen nee.

Hinata revirou os olhos e terminou de mastigar para voltar a falar:

— Como eu ia dizendo... — A Hyuuga lançou um olhar mortífero para a Yamanaka, que devolveu um sorriso amarelo. — Eu tirei quatro naquela prova maldita e otou-sama me deu a maior bronca ontem à noite. — A revelação fez com que as amigas inspirassem o ar com surpresa. — Pois é, né... Enfim, fiquei 'pê' da vida e resolvi que precisava esfregar na cara dele que eu posso ser melhor que isso, sabe?

— Com certeza! Eu sempre falei que o seu pa-

— Deixa a menina terminar, Ino!

— Tá bom. Desculpa, 'more.

Hinata engasgou com o que mastigava e Ino precisou dar-lhe leves batidas nas costas para que pudesse engolir e voltar a respirar normalmente.

— Kami-sama, desse jeito vou morrer engasgada. — Hinata ria e seu rosto adquiriu uma tonalidade vermelha. Sakura e Ino também a acompanhavam nas gargalhadas. — Bom... — Respirou fundo. — Hoje na aula do Kakashi-sensei fui perguntar a ele se eu poderia fazer algum trabalho 'pra complementar minha nota e ele disse que não! — exclamou, injuriada.

— Sensato, né, querida? Eu também iria querer!

— 'Cê nem tirou nota vermelha. — Sakura franziu as sobrancelhas.

— Tirei seis raspando!

— Isso nem justifica, porca-chan.

— Então — Hinata disse com ênfase o suficiente para interromper as duas —, ele negou meu jeito de burlar a nota E chamou o Uchiha-san para me dar aulas de reforço. — Finalizou como se dissesse as horas.

Sakura, que bebia um suco de maçã de caixinha, cuspiu o conteúdo da boca todo em cima da mesa.

— É o quê?! — a Haruno exclamou, com as sobrancelhas cor-de-rosa arqueadas e um pouco de suco escorrendo pelo queixo.

— Eu falei 'pra você! — Ino olhou debochada para Sakura.

— Eu não sei o que diabos vocês veem nesse garoto! — Hinata bufou e olhou para o teto como se perguntasse a Kami a resposta daquela afirmação.

— Hinata, eu não vou nem discutir com você porque estou chocada demais 'pra argumentar qualquer coisa. — A de cabelos rosados respondeu enquanto limpava a boca e a mesa com um dos guardanapos que pegara na bandeja de Ino.

— Eu só digo uma coisa: já, já você vai parar de babar pr'aquele besta do Uzumaki e vai começar a enxergar quem é Uchiha Sasuke de verdade, bobinha — a Yamanaka cantarolou e Sakura apenas concordou com a cabeça.

— Pois eu duvido — Hinata rebateu, as bochechas infladas e os bracinhos cruzados sobre os seios. — E não fale assim do Naruto-kun, ele é um fofo...

A frase foi a sentença final para darem aquele assunto como encerrado e terminarem o almoço antes que o sinal tocasse.

A última aula à tarde foi de geografia, com o professor Asuma –  marido de Kurenai – e que passou relativamente rápido para os padrões temporais de Hinata. Talvez porque, em vez de manter seus olhinhos fixos nas costas de Naruto, imaginando como seria se pudesse tocá-las, a Hyuuga estava perdida em outros devaneios. Ela não conseguia achar um motivo plausível para o que Kakashi tinha feito.

Tudo bem, Uchiha Sasuke tinha as maiores notas em matemática. E daí? Aquele garoto não parecia se importar com nada nem ninguém além de si mesmo ou de basquete, afinal, era o capitão do time da escola. Além disso, ele não dava aulas! Não tinha nenhum prêmio por melhor didática do ano – oh, esse era Kakashi-sensei... Enfim, o que ela queria dizer: por que escolher um aluno para dar aulas de reforço ao invés do próprio professor?

Bom, ela também poderia ter recusado e obrigado o pai a contratar um professor de verdade para aulas particulares. Principalmente por ser Hiashi quem estava se doendo à toa... Droga, nem havia pensado nessa possibilidade!

Hinata mordia a pontinha do lápis que costumava usar para fazer as anotações de aula, completamente imersa. Tão fora da caixinha que não percebeu nem quando Asuma deu a aula como terminada e dispensou os alunos. Muito menos dera uma resposta concreta quando Ino se despediu, dizendo que iria para a aula extracurricular de jardinagem e botânica.

Não, Hinata estava totalmente off.

— Hey, Hyuuga. — Uma voz grave soou, detalhe: era a terceira vez que a chamava. Somente naquele instante Hinata submergiu das próprias indagações.

— Uhn... — Os olhos claríssimos voltaram a focar e encontraram o corpo grande de Sasuke. — Uchiha-san! — Ela surpreendeu-se, levantando a cabeça para olhá-lo.

Un... — Ele ergueu uma sobrancelha. — Achei que estava dormindo acordada.

Iya! — Balançou a cabeça em negação e ele estalou a língua no céu da boca.

— Que seja. — E Hinata notou que Sasuke era extremamente inexpressivo. — Me passa o seu número.

— O-o quê?! — Indagou, levando uma mão ao peito em estranheza. Tão repentino!

— Seu número de celular — disse pausadamente. Retirou o aparelho do bolso, desbloqueou-o e estendeu para Hinata. Sasuke se perguntava naquele instante o se passava na cabeça linda dela.

— Oh, claro. — Aceitou o celular e digitou o mais rápido que pôde devido à vergonha, a qual deixava suas bochechas vermelhas.

Ela devolveu o celular, que foi guardado de volta no bolso da calça social, e ofereceu um sorriso miúdo totalmente sem graça a ele. Sasuke franziu as sobrancelhas tão rápido que Hinata achou ter sido coisa de sua cabeça.

— Ah... É melhor você ir logo, ou vai se atrasar 'pra sua aula extracurricular. — O Uchiha avisou, apontando com a cabeça o material escolar ainda jogado sobre a carteira dela. Foi uma rápida sinalização e, segundos depois, Sasuke já atravessava a porta da sala.

E, então, Hinata percebeu: estava de fato sozinha e muito atrasada para a aula de piano no grêmio de música. Droga, teria de lanchar depois!

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Que dia cansativo fora aquele! Por sorte, era sexta-feira e poderia passar a noite toda lendo um dos livros de sua lista mensal, maratonar algum dorama, ou apenas assistir um bom filme. Não queria nem pensar em matemática por enquanto, mesmo tendo preparado seu cantinho de estudos só para poder recomeçar.

Foram horas complicadas e, para variar, Hinata não conseguira tocar uma nota sequer durante a aula de música. De novo. A Hyuuga sabia tocar e muito bem, entretanto, desde a morte da mãe, retomar o hábito havia se tornado um desafio doloroso, pois fora Akemi a ensiná-la as primeiras melodias.

O professor de música, Iruka-sensei, dizia que tudo tinha seu tempo de cura e não havia problema algum em ainda não conseguir voltar a tocar. As palavras, embora reconfortantes, não eram suficientes para fazê-la se sentir melhor. Havia dias nos quais Hinata conseguia tocar alguma coisa; mas outros, como aquele, se tornavam um tremendo desperdício de tempo.

Com tais pensamentos, deixou a mochila no quarto e seguiu para a sala de estar, onde ficava o piano de cauda, negro e bem lustrado, que um dia fora de sua mãe. Sentou-se no pequeno banco acolchoado em vermelho e passou a mão sobre o tampo que escondia as teclas – não estava empoeirado, porque tudo na casa dos Hyuuga era mantido em perfeitas condições. Abriu-o e permitiu-se dedilhar, sem a intenção de formar notas musicais.

O som suave das teclas chamou a atenção de Neji, que descia as escadas no cômodo ao lado pronto para ir à cozinha. Escutar Hinata, a única pessoa da casa que sabia fazê-lo, tocar piano era uma raridade. Às vezes acontecia por dias seguidos e, em outras, o hiato poderia estender-se por meses.

— Vejo que Kami-sama ainda faz milagres — ele comentou, divertido. Hinata não parou de dedilhar, porém, soltou uma pequena risada.

— Não é bem assim, nii-san. — E então parou, pousando as mãozinhas sobre o colo. — Durante a aula hoje não consegui fazer nada, isso aqui foi até um progresso. — Admitiu, virando levemente o rosto para observar o primo se aproximando.

— Hm. Entendo que esteja assim. — Ele lhe lançou um sorriso reconfortante e Hinata sorriu de volta, mas o dela era triste. A garota chegou mais para a esquerda, de forma que Neji pudesse se sentar ao seu lado. — Eu escutei a conversa ontem... Na verdade, pareceu um longo monólogo de Hiashi-sama. — Apesar de estar zombando do tio, ele ainda mantinha o respeito na voz.

— Ah... — Hinata abaixou a cabeça junto do olhar cabisbaixo e encarou seus dedinhos finos entrelaçando-se de nervoso. A simples menção do esporro da noite anterior a deixava arrepiada. — Você ouviu, né... Não esperava menos, essas paredes também... — A voz dela era apenas um sussurro.

Un, nem me fale dessas paredes! — exclamou, passando os dedos sobre as teclas brancas. Eles ficaram em silêncio por meros segundos, até que o mais velho suspirou forte e disse: — Ne, Hinata-chan... Eu só queria me desculpar por não ter falado com você ontem. Achei que estaria sensível demais, seu pai consegue ser muito cruel quando as coisas não acontecem como ele gostaria.

— Tudo bem, Neji-nii-san! — Ela apressou-se em dizer. — Eu precisava mesmo de um tempo sozinha.

— Claro, mas mesmo assim, gomen ne. — Ele começou a apertar algumas teclas aleatórias, não soando tão melodioso como quando Hinata tocava. — Tem outra coisa, também... Sinto muito por não me oferecer 'pra ajudar você com a matéria.

— Ah, niisan!

— Ne, eu sempre soube que você tinha dificuldade com matemática... E eu tenho facilidade, não custava nada te ajudar. — Soltou o ar pelas narinas em uma risada sem graça. — Bom, eu não consegui enxergar porque estava ocupado demais com as coisas da faculdade, sabe? A transição do cursinho 'pro daigaku é muito cansativa... — Neji tagarelava enquanto Hinata corava por se lembrar do que acontecera no início do dia.

— Oi, niisan! — Chamou-lhe a atenção. — Você pode se acalmar, onegai? — E deu uma risadinha leve. — Está tudo bem, eu juro. Tudo o que otou-san disse ontem serviu justamente para que eu abrisse os olhos e procurasse ajuda. Antes eu achava que ia dar conta porque, bem, todas as vezes deram certo, por que agora não daria? — Riu de novo, virando o rosto para olhá-lo melhor.

— Sempre muito orgulhosa com seus estudos. — Ele soltou a frase e depois fez uma careta divertida.

— Gosto de me manter acima da média, algum problema? — Hinata mostrou-lhe a língua, uma velha mania que tinha quando se sentia confortável demais com quem conversava.

Arienai! — Neji ergueu as mãos em um sinal de defesa e a mais nova gargalhou.

— Está tudo bem, niisan. Tenho tudo sobre controle, prometo. — Ela encostou a cabeça no ombro do mais velho e fechou os olhos, suspirando.

— Se você diz, então eu acredito.

— É que eu fui hoje falar com o Kakashi-sensei para que ele desse alguma luz pra minha vida. — Neji riu. — É sério! Eu queria que ele me passasse um trabalho 'pra aumentar a nota.

— Hyuuga Hinata querendo trapacear, é isso mesmo? — O garoto fingiu surpresa e Hinata se desencostou dele. — Isso sim é um milagre!

— Ei... — Ela tinha as bochechas vermelhas e queimando. — Não é bem assim... Eu estava desesperada...

— Eu sei, eu sei. Daijoubu, Hina. — Ele passou o braço esquerdo sobre os ombros curtinhos da prima e a puxou para um abraço desajeitado. Hinata retribuiu, passando os braços pelo tronco largo e repousando a cabeça sobre o peito dele.

— Aí, Kakashi-sensei disse que não podia, né... — Neji fez um som gutural em concordância. — E logo depois chamou um garoto da minha sala pra me dar aulas de reforço. — Resolveu omitir a identidade do garoto pois sabia das desavenças que o primo compartilhava com a família Uchiha, só que seu problema era o irmão mais velho de Sasuke, Itachi.

— Um garoto vai te dar aula de reforço? — Indagou e se afastou o suficiente para poder ver os olhos tão expressivos dela. — Isso é muito errado, não vai dar certo... — disse, soando mais desgostoso do que pessimista.

— Ia dar no mesmo se fosse você me dando aula, né? — Ela alfinetou e ergueu uma sobrancelha. Ingênua demais, Neji pensou.

— Ai, ai, deixa pra lá. — Suspirou e bagunçou os cabelos lisos dela com a mão livre. — Vamos jantar?

— Vamos, estou morrendo de fome!

Ambos se levantaram do pequeno banco e caminharam em direção à cozinha. Rapidamente Hinata esqueceu o assunto que trataram antes, entretanto, Neji ainda matutava o fato de a prima ter aulas de reforço com um garoto da própria sala. Não esperava nada muito profissional vindo de Kakashi mesmo.

— Vocês demoraram — Hiashi comentou quando chegaram ao local. O pai e Hanabi já se encontravam sentados à mesa, a qual esbanjava a comida gostosa especialmente preparada pelo patriarca.

— Estávamos no piano — Hinata disse e fora o suficiente para que o pai não se pronunciasse mais. O piano era um assunto sagrado naquela casa.

Todos agradeceram pela comida e jantaram sem trocar muitas palavras, apenas dizendo o necessário sobre o dia que tiveram em particular. Depois de comerem, como Hiashi havia cozinhado e Neji lavara a louça de manhã, Hinata e Hanabi cuidaram da pia suja com muito cuidado. Revezar as tarefas domésticas era um hábito antigo na família Hyuuga.

Quando estava tudo limpo – finalmente! – ambas decidiram que assistiriam a alguma coisa juntas. Fora ideia de Hinata, visto que precisava descansar um pouco a mente e também tinham alguns dias que não passava um tempinho com a irmã.

— Vai escolhendo que eu vou lá em cima trocar de roupa. — Afinal, ainda vestia o uniforme escolar.

— 'Tá bom, anee-chan — Hanabi respondeu e foi direto para a sala de televisão.

Chegando ao quarto, enquanto tirava a roupa, Hinata resolveu dar uma olhadinha no celular e quase deixou o objeto cair no chão quando viu uma mensagem especial lhe esperando. Era de um número desconhecido – mas ela sabia quem havia enviado.

Terça-feira depois das aulas extracurriculares, na minha casa.

Uchiha Sasuke  1h atrás

Ainda bem que era sexta, né?

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17 de junho.

Não seria preciso mencionar que Hinata passou o fim de semana inteiro pensando em como seria Uchiha Sasuke como professor de matemática. Talvez ele apenas jogasse algum livro da matéria sobre a mesa e dissesse "estuda aí" enquanto fazia qualquer outra coisa que não fosse, de fato, ensinar. Ou, então, leria as definições e diria "é tão simples, como você não entende?", depois bateria com o livro na sua cabeça para que o processo de aprendizado fosse mais rápido.

Nada daquilo fazia sentido algum, embora Hinata não parasse de imaginar mil e uma situações que jamais aconteceriam. A verdade era que ela tinha medo de não conseguir aprender nada, mesmo com o melhor aluno da turma – em matemática, só para esclarecer! – e acabar se dando mal na próxima prova.

Sua cota de broncas já estava batida, obrigada.

A segunda-feira passou rápida como o fim de semana, com Sakura e Ino surtando pelo fato de o primeiro reforço ser no dia seguinte e, inclusive, na casa de Sasuke. Na cabeça de Hinata, obviamente, não era nada de mais, as amigas sempre tendiam a fazer alarde com qualquer coisa que dizia respeito àquele garoto.

Falando nele, ou melhor, pensando nele, a Hyuuga não sabia se deveria comentar algo ou se a resposta positiva que havia enviado na sexta-feira seria o suficiente. Então, envergonhada, evitou até mesmo olhá-lo durante as aulas de segunda. Ela não sabia mesmo lidar com nenhum menino além de Neji.

E quando a terça-feira chegou, Hinata não sabia o que fazer. Decidiu, repentinamente, fingir que nada de diferente aconteceria e seguiu o dia como outro qualquer. Ela ficara tão convencida de ser um período de aulas comum que, quando Kakashi adentrou a sala de aula, no terceiro tempo, sua mente voou.

De forma súbita, fora como se os cabelos loiros de Uzumaki Naruto fossem muito mais interessantes que qualquer equação de segundo grau ou qualquer gráfico parabólico desenhado no quadro. Vixe, aquela não havia sido a matéria do ano passado...? Ah, não importava mais. Onde estava mesmo? Ah, sim... O único garoto com o qual Hinata gostaria de interagir era definitivamente o dono daquela pele bronzeada. Era tão bonita, desejava tocá-la para saber se era macia também.

A jovem tinha o queixo apoiado sobre uma das mãos e a outra segurava um lápis inutilmente. Quem olhasse de fora, diria que ela estava sonhando acordada – o que não deixava de ser verdade. De mesma forma que começara a pensar em Naruto, sua mente migrou, através da probabilidade de um dia poder beijá-lo e todos os cálculos incluídos, para a nota quatro que havia tirado. Como pôde? Sempre fora uma menina muito esforçada em relação aos estudos e muito orgulhosa, como Neji havia pontuado. Então não conseguia aceitar que sua primeira nota vermelha tinha vindo na matéria de um dos piores professo-

— Hinata-san? — A voz de Kakashi-sensei ressoou – provavelmente não era a primeira tentativa – e a Hyuuga enfim voltou a focalizar o olhar e ajeitou a postura de forma rápida.

— Sim, sensei?

— Meu deus do céu. — Escutou Ino sussurrar atrás de si.

Kakashi pareceu indeciso, seria vergonhoso demais chamá-la à frente da sala só para montar o gráfico que propusera? Certamente sim. Dessa forma, limitou-se a dizer:

— Preste atenção na aula, sim? — Ela balançou a cabeça positivamente várias vezes e ele voltou com a explicação.

— Hina do céu, o que 'tá acontecendo com você? — a loira perguntou, levando as mãos aos ombros tensos da amiga a fim de massageá-los.

Ano... Eu só estava tentando entender por que fui tão mal na prova... — respondeu, escondendo o fato de pensar em Naruto momentos antes.

— Eu sei bem! — A Yamanaka inclinou-se para sussurrar em seu ouvido: — Você não tem prestado atenção na aula do Kakashi-sensei!

Hinata ficou quieta, afinal, Ino tinha razão. Apenas aproveitou a massagem em silêncio, até que a aula acabou e deu a hora do almoço. Naquele dia, ambas trouxeram obentous e Sakura viera da outra sala para almoçarem juntas. Era o único momento em que podiam conversar e relaxar sem ter a atenção chamada por algum professor.

Quando o sinal soou, Sakura já havia recolhido suas coisas e saído da sala, assim como os outros alunos – que optavam por almoçar em outro lugar – já voltavam. Por um instante, enquanto Hinata colocava sua marmita dentro da mochila, seu olhar cruzou com o de Sasuke e ela prendeu a respiração.

Que garoto estranho! Ficou lhe encarando de um jeito intenso demais.

No fim da aula de música, Hinata estava relaxada por ter conseguido tocar uma melodia inteira! Rá, nem Uchiha Sasuke, nem todos aqueles cálculos bizarros seriam capazes de deixar seu dia ruim – ah, mas nem um tiquinho! Despediu-se de Iruka-sensei e colocou a mochila nas costas. Naquele instante, antes de sair da sala, ela se perguntou: e agora? Entretanto, a indagação não se alongou mais, pois assim que abriu a porta da sala, deu de cara com Sasuke – parado e esperando com as mãos dentro dos bolsos da calça.

— Uchiha-san! — exclamou, deveras surpresa.

— Vamos, falei 'pra minha kaa-chan que você iria jantar lá em casa.

Era no mínimo curioso ver Sasuke referindo-se à mãe com um apelido tão fofo como aquele. Não que fosse da conta dela o modo como as pessoas deveriam chamar a própria mãe, claro...

Sem dizer mais nada, a Hyuuga apenas seguiu o garoto da escola até a casa dele – a qual acabou descobrindo ser bem perto da sua, não mais que três quadras de distância. Ponto positivo! Não precisaria andar tanto quando tudo acabasse.

Sasuke anunciou a chegada ao passarem pela porta da frente, segundos antes de deixarem os sapatos de rua na entrada. Ao longe, uma voz feminina recebeu-os animadamente e logo Hinata conheceu sua dona.

— Hinata-san! — Uchiha Mikoto era uma mulher madura e muito, muito bonita, a mais nova não pôde deixar de reparar. — Okaeri!

Arigatou gozaimasu, Mikoto-san! — Agradeceu, realizando uma breve mesura.

— Sinta-se à vontade, sim? É muito bom Sasuke trazer novos amigos 'pra casa, deveria fazer mais isso, filho. — A mulher dizia de forma gentil, fazendo Hinata sorrir.

Un, un!

— Okaa-san.... — Ora, ora, ele estava claramente envergonhado! A Hyuuga arqueou as sobrancelhas, aquela seria a primeira expressão de sentimento por parte de Sasuke que presenciava? — Vem, preparei umas coisas no meu quarto. — E puxou Hinata, seguindo na frente para que ela não visse suas bochechas quase rosadas.

— Logo mais o jantar vai ficar pronto! — Mikoto ainda dizia e Hinata limitou-se a andar atrás do garoto e a acenar com a mão livre.

O quarto de Sasuke definitivamente fugia de todos os padrões que ela poderia imaginar. Não, a Hyuuga não imaginou como seria o quarto dele, em momento algum... Enfim, a casa, por fora, era muito tradicional e fiel à antiga arquitetura; entretanto, por dentro, parecia ter sido redecorada com uma leve inspiração na modernidade.

— Pode deixar a mochila do lado da mesa — ele disse, fechando a porta de correr.

O quarto tinha as paredes pintadas de branco e basicamente todos os móveis eram pretos, com exceção da roupa de cama, a qual possuía um degradê vermelho. Havia alguns quadros pendurados e pareciam ser de bandas e jogos que Hinata não conhecia – tinha um em especial que era feito de quebra-cabeças. Embaixo da janela, ficava a mesa de estudos, longa e com bastante espaço para cadernos, livros, muitas gavetas e um computador, acomodava também duas cadeiras acolchoadas e giratórias.

Aproximaram-se. De longe, ela não conseguira enxergar, mas, de perto, podia ver que sobre a mesa tinha um vidro de proteção. Deixou sua mochila onde Sasuke dissera e permaneceu em pé, enquanto o garoto já havia se sentado.

— Por onde vamos começar? — Ele quis saber, abrindo a primeira gaveta e retirando um estojo de óculos. — Qual é a sua maior dificuldade?

A de cabelos azulados, costumeiramente presos em um rabo de cavalo comprido e firme, franziu as sobrancelhas. O Uchiha queria mesmo saber sobre suas dificuldades? Aquelas que nem mesmo ela saberia dizer? Jamais iria admitir, contudo, que estava surpresa pela, hm, terceira ou quarta vez no dia.

— Eu não vou poder te ajudar se não souber a partir de qual ponto você não entende a matéria, Hyuuga — repetiu, abrindo o estojo e pegando os óculos de armação preta e retangular.

— Você usa óculos?! — soltou mais rápido do que esperava. Certo, era a quinta vez!

— Sim...? — Sasuke colocou o objeto no rosto e, caramba!, ficava muito bem nele. — Uso para ler, tenho hipermetropia.

— Oh. — Foi tudo o que conseguiu proferir.

Por alguns segundos, o silêncio permaneceu entre ambos – não era incômodo, para falar a verdade era até engraçado. O de cabelos negros cruzou os braços, esperando que Hinata se pronunciasse; e tudo o que ela conseguia perceber era que Sasuke continuava mais alto mesmo sentado na cadeira. Ela era tão baixinha assim?

Ele a olhava de volta, achando graça das bochechas coradas e das sobrancelhas franzidas. Tão fofa e tão desligada.

— É, eu já entendi qual a sua dificuldade. — O Uchiha suspirou e virou para frente. — Vai, senta aí. — Ela se sentou rapidamente, mantendo a postura ereta como Hiashi havia ensinado.

— Ne, Uchiha-san... — chamou-o enquanto o observava procurar por algum livro entre os vários que jaziam sobre a mesa. Ele fez um grunhido para que continuasse. — Ano... O que você vai querer em troca? Aquele dia você perguntou...

Sasuke parou o que fazia para olhá-la. Não poderia dizer para o pequeno ser a sua frente que, na verdade, tinha planos... Bem, tinha certos planos que não deveriam ser proferidos em voz alta. Pelo menos, não diretamente para ela e não enquanto o observava com aqueles olhinhos brilhantes e inocentes.

— O quê? — Ele indagou-se e pigarreou. — Nada, não quero nada. Aquilo foi só 'pra zombar de você.

Ora, ora, ela sabia! Sasuke estava brincando consigo aquele tempo todo! Não havia  colocado muita esperança de fato, o tombo era sempre menor quando as expectativas permaneciam baixas.

— Agora vamos focar no seu problema, pois é para isso que estamos aqui. — O Uchiha falou e estendeu o braço direito para pegar o livro que procurava. — Acredito que esse tenha uma linguagem mais compreensível 'pra gente começar.

Hinata ainda estava parada com as mãos sobre o colo,  a coluna começando a doer, olhando todos os movimentos dele, e incrivelmente desacreditada.

— Ne, Hyuuga. O principal ponto que precisamos trabalhar é a sua falta de atenção nas coisas. Desde que chegamos aqui, você pareceu não prestar atenção em absolutamente nada do que eu disse. — Pontuou, soando como um puxão de orelha. Certo, Sasuke estava certo. — Ou será que você só não está me levando a sério?

— E-eu não... — Oh, mas era verdade, sim!, que duvidava de qualquer boa vontade daquele garoto.

— Eu vou te ajudar — ele frisou — a recuperar sua nota, tudo bem? Você só precisa confiar em mim. — Completou com um sorriso discreto e ela arqueou as sobrancelhas. Sexta vez!

Ok... Talvez, ela estivesse mesmo completamente errada sobre Uchiha Sasuke.

x² - 1 = 0

~~~~~~

Vocabulário: 
Konoha Gakuen Kokkou: Campus de Ensino Médio Konoha;
Chuugaku: Ensino fundamental II;
Iya: É uma negativa, tipo um "não";
Un: Uma afirmativa, "sim".

Se tiver mais alguma expressão que vocês não saibam e eu não tenha colocado aqui, podem perguntar nos comentários!

Gennnnte! Ele capítulo foi só amorzinho, nossa. Eu amei demais  escrever, caramba! É a partir daqui que vocês vão perceber que o Sasuke  não é uma coisa ruim que nem a Hinata pensa; na verdade, ele é muuito  melhor :3 Ain, espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu gostei de  escrevê-lo!
Me sigam no instagram! @gatitamatsushita Tô sempre postando spoilers e coisas sobre meus projetos futuros :3
Bom, é isso mozis. Me digam o que acharam <3
Um beijão e até o próximo!!

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