O filho perfeito

By RobertaDragneel

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Dinesh Yamir é o filho de um grande empresário, por isso as expectativas sobre o seu futuro são altas. Então... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Especial [+18]
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27 (Parte I)
Capítulo 27 (Parte II)
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35 (Parte I)
Capítulo 35 (Parte II)
Bônus: "A Carta"
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38 (Parte I)
Capítulo 38 (Parte II)
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 16

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By RobertaDragneel

"Minha sanidade está em falta
Louco como um chapeleiro, olá surpresa!
Bomba relógio por dentro
Vivendo com o vilão
Estimulando minha mente." - Villain, Wild Fire


Dinesh encarava de canto o Kiran cuidando da mãe que ainda se encontrava debilitada em sua cama. Mahara bebia um chá de camomila feito pelo filho do meio enquanto suas mãos tremiam. Os olhos vermelhos por causa do choro faziam o coração do rapaz ficar apertado, como se não coubesse em seu peito. Então, esperava o seu irmão sair, o qual lançava um olhar de pura reprovação em sua direção, para entrar no quarto.

— Como está, mamadi?

Ela apenas abria um sorriso triste em resposta e o Dinesh sentava-se na ponta da cama, segurando a mão da mulher.

— Eu estou aqui para o que precisar.

— Hoje é a sua nomeação como presidente, não é...?

O rapaz acenava positivamente com a cabeça, incapaz de sentir alegria com tal fato.

— Eu tenho certeza que orgulhará o seu baldi.

— Obrigado...

— Eu gostaria de estar lá mas não estou pronta. — comenta com sinceridade apoiando a sua mão sobre a do filho. — Desculpa.

— Não se desculpe, mamadi. A senhora precisa descansar depois de tudo o que aconteceu nessa semana. Eu prometo que estarei aqui para cuidar de vocês, então não precisa se preocupar.

Mahara continuava sorrindo enquanto as lágrimas voltaram a escorrer por seus olhos. Então, ela desvia a atenção para um livro velho em cima da mesinha ao lado da cama e o pegava, abrindo uma página em especial onde havia uma rosa velha.

— O Raj havia me dado quando fez o seu pedido de namoro. — dizia com uma expressão nostálgica. — Eu guardei como uma lembrança do início da nossa história.

— É um gesto lindo...

— Ele prometeu que voltaria com as flores. — a voz dela começava a ficar trêmula por causa do choro. — Por que ele precisou descumprir essa promessa? Mesmo sabendo o que aconteceu, eu ainda quero esperá-lo voltar com um largo sorriso...

Ao vê-la iniciar outra crise choro, Dinesh abraçava fortemente a mãe repousando a cabeça dela em seu ombro. Ele acariciava seus cabelos longos como ela havia feito quando o rapaz estava aos prantos há meses atrás. Apesar de estar tão abalado quanto todos na família, Dinesh era o único que sabia do final trágico do pai, então essa ideia não trouxe surpresa como fez para os demais.

Ela apenas trouxe uma dor a qual foi sentida, gradativamente, pelo jovem há muito tempo.

Depois de estar ao lado da mãe até ela conseguir dormir, ele se levantou e foi ao banheiro onde tomou um longo banho. A água escorria por sua cabeça, passando pelo corpo enquanto permanecia cabisbaixo. Por mais que quisesse, as lágrimas se recusavam à sair como se só houvesse um vazio dentro de si. Para Dinesh, a sensação de estar morto por dentro era tão angustiante que desejava desistir de tudo. Porém, precisava estar lá pela sua família.

Quando secou o corpo, vestindo uma cueca e uma calça jeans escura, o rapaz passou longos minutos encarando-se no espelho com uma expressão vazia. Ele tocou levemente a ponta dos dedos no rosto.

Queria saber quem era ou, melhor, o que havia se tornado.

O seu conflito interno duraria mais tempo se o celular, em cima da pia, não tivesse começado a tocar. Ele nem se deu o trabalho de conferir o número, atendendo a ligação sem ânimo algum.

— Sim...?

Olá, Dinesh.

A voz do homem do outro lado o fez estremecer.

— O que você...

Gostou do meu presentinho de boas-vindas? Agora, você está oficialmente taxado como o meu adversário, não era o que queria?

— Você...

Sobre o seu pai, meus pêsames. — comenta ironicamente. — Ele também se meteu com as pessoas erradas como você, então teve um fim trágico.

— Seu filho da puta! Você vai...!

Eu até estava pensando em deixar o Raj em paz, mas me vi incapaz de fazer isso depois do filho arrogante dele agir com violência naquele dia. Eu não preciso saber nenhuma arte marcial para destruir o meu inimigo, Dinesh. Como eu disse, o meu poder é a minha influência e por causa dessa influência que você não contará nada à polícia.

Acha mesmo? Eu irei agora para a delegacia acabar com o seu showzinho, seu desgraçado!

Tente. Eles estão do meu lado e... — a última parte dizia em um sussurro. — Eu posso muito bem te delatar, armar para você e usar todas as provas para assumir a presidência da sua empresa em um piscar de olhos. Sabia que estou quase com o número de ações necessárias para isso?

O corpo do jovem Yamir paralisava ao receber essa informação, sentindo uma estranha tontura.

— Como você...

Eu sei jogar melhor do que você, Dinesh. Por isso, tudo é questão de tempo para obter o que eu desejo. Eu espero que a gente se dê bem com a minha retomada como seu sócio, meu caro amigo.

Você não merece usar essa palavra... Principalmente, depois de ter destruído a minha família.

Eu? Não fui eu quem provocou alguém poderoso. O único culpado é você e agora eu me pergunto: como olhará a sua família nos olhos sabendo que a sua arrogância a destruiu? Tem certeza que esse não era o seu desejo desde o início? Afinal, uma vez o Raj me disse que podíamos ter uma trégua desde que você se comportasse... Que pena que carrega sangue inocente em suas mãos, Dinesh. Pelo visto, somos mais parecidos do que imaginávamos... Isso não é bom?

Contudo, Dinesh encontrava-se sem palavras deixando o celular escorregar da sua mão. Ao ver que não obteria respostas, Thomas desligava a chamada com um sorriso vitorioso. Por outro lado, o jovem encarava o próprio reflexo sentindo, pela primeira vez após o velório, as lágrimas escorrerem por seu rosto. Ele apoiava a mão sobre o reflexo, vendo em suas orbes escuras o medo enraizado em sua alma; o medo de ser uma decepção. A única frase que ecoava em sua mente era "é tudo culpa sua!".

Ele ouvia como sussurros do Raj em seu ouvido, culpando-o por sua morte. Dinesh via todo o esforço ser jogado fora por causa da sua essência negativa como o avô, Aseem, havia dito. Aos poucos, as suas palavras faziam sentido ao mesmo tempo que machucavam seu coração. O rapaz não conseguia enxergar o homem à sua frente no espelho, não via mais um filho lutando para proteger a família, pois apenas podia ver um monstro destruindo todos ao seu redor.

Se Kiran carregava uma maldição ingenuamente por causa da sua reencarnação, Dinesh acreditava carregar um carma que era de sua total culpa.

O jovem Yamir tentava arranhar o próprio reflexo no espelho, desejando destruir o monstro à sua frente. Ele se odiava e, o pior de tudo, é que não podia destruir à si mesmo. Durante toda a sua trajetória, derrotou os adversários como se fossem meros insetos em seu caminho, mas agora estava lidando com algo pior do que qualquer inimigo: ele mesmo.

O caminho que seguia o levaria para o fim e se via incapaz de matar o mal que habita em sua essência.

A raiva consumiu suas veias, raiva de si mesmo e de todos os seus erros, então deu um forte soco no espelho o rachando. O sangue escorria do seu punho já machucado pelo golpe dado em Thomas, mas não sentia nada. Simplesmente nada, como o monstro que acreditava ser. Em passos lentos, afastou-se do próprio reflexo distorcido pelo vidro quebrado e caiu sentado no chão, arrastando as costas pela parede fria do banheiro.

Ele abaixou a cabeça puxando com força os fios longos do cabelo desgrenhados enquanto deixava um grito ecoar pelo local. Dinesh sempre fugiu do mal mas, agora, descobriu que ele morava dentro de si, sentindo-se angustiado por não ter para onde ir. Em todos os lugares, encontraria a pessoa a qual odiava com todas as forças.

Quando saiu do banheiro ignorando a mão sangrando, encontrou a Maya saindo do quarto abraçada com o seu ursinho, Cuddy. Ela ergueu o olhar para o irmão mais velho, ainda com os olhinhos inchados de tanto chorar.

— Bhaya... Eu sinto falta do baldi...

Ao presenciar a tristeza da irmã, sentiu um inexplicável aperto de peito e se viu incapaz de olhá-la nos olhos; não depois de todo o mal que estava trazendo para a sua própria família. Então, começou a recuar enquanto a pequena se aproximava com um semblante confuso.

Bhaya?

— Não... Não... Eu não posso ficar perto de você... Eu não mereço...

— Hã?

— Saía, por favor! — gritava em pleno desespero, fazendo o Kiran sair do seu quarto. — Eu...!

— O que está acontecendo?

— O bhaya está estranho... — a menor comenta voltando a chorar com medo do Dinesh.

— Maya, vem para o meu quarto. — o irmão do meio pedia e a conduzia para o seu quarto, olhando o outro rapaz com reprovação. — O que deu em você?!

— Por favor, afaste a Maya de mim... Afaste todos de mim... Eu tenho uma maldição como você...

— Está zombando da minha maldição, Dinesh?! Eu deixei de me importar com esse tipo de comentário mas, ao menos, respeite o luto da nossa família! Você não tem maldição nenhuma, a sua arrogância e prepotência são os seus carmas.

O irmão mais velho abaixava o olhar tendo dificuldades para respirar por causa do próprio choro excessivo. Mahara aparecia no corredor mas Dinesh já havia virado de costas, caminhando em direção ao seu quarto.

— Eu só queria pedir... — os seus olhos negros os encaram por breves segundos. — ... desculpas por tudo.

E fechava a porta com força, deixando a dúvida pairar na mente das pessoas presentes.

(...)

A nomeação do Dinesh foi tão silenciosa quanto o próprio funeral do Raj. Nenhum dos funcionários teve ânimo para comemorar, levando-se em conta a situação em que o rapaz foi empossado. Na verdade, ele também estava no mesmo clima e apenas apertou a mão de todos presentes no último andar antes de se trancar na sala.

Miyuki deu leves batidas na porta e entrou após ouvir a confirmação do rapaz. Ela usava uma camisa social branca, calça preta e um blazer preto combinando com seu sapato alto da mesma cor. O longo cabelo preso em um coque alto e uma sutil maquiagem em seu rosto. A mulher nem parecia a mesma que girava agilmente no poli dance.

— Senhor Yamir, eu gostaria de dar os meus pêsames pelo o que houve...

Dinesh afastava o cigarro da boca, falando ainda com o olhar focado nos papéis:

— Obrigado.

— Caso precise algo, eu estou aqu-...

— Pode sair. — dizia seco. — Eu estou ocupado.

— Tudo bem...

Ela fechava a porta da sala com um peso no coração, sentindo um pouco de decepção ao ser tratada daquela forma.

No outro dia, Dinesh optou por trabalhar no escritório da mansão pois estava sem ânimo para interagir com as pessoas na empresa. O novo vice-diretor ficou encarregado da maioria das funções e, mesmo sendo exaustivo, não reclamou pois compreendia a dor do Yamir.

Enquanto assinava alguns documentos e analisava a folha de pagamento dos funcionários, leves batidas na porta o fizeram se distrair.

— Pode entrar.

Mahara abria um sorriso triste, depositando uma fatia queimada de bolo sobre a mesa.

— Eu tentei fazer mas acabei queimando, de novo...

Ele encarava o bolo com desdém, voltando a conferir os cálculos. A mulher o fitava com pesar no olhar, apertando a mão que estava oculta em suas costas segurando algo.

— A Shanti ligou desejando os pêsames pelo o que houve. Ela disse que ficou muito triste quando soube e perguntou como nós estamos.

Ao ouvir o nome da amada, o coração do Dinesh falhava nas batidas. Mesmo estando destruído por dentro, não podia abandonar um sentimento tão forte como aquele que pulsava em suas veias pela ex-namorada.

— Ela está... Bem?

Mahara desviava o olhar para os próprios pés com a pergunta do filho porque, apesar de estar machucado, ele continuava a se preocupar com a jovem.

— Sim... Digamos que sim.

— Algo aconteceu? — questiona preocupado, ficando de pé e caminhando até a mãe. — Por favor, diga-me.

— Nada aconteceu. A Shanti só pediu desculpas por ter que entregar isso... — dizia mostrando um envelope azul. — Em respeito à nossa família, ela se sentiu na obrigação de nos convidar mas não imaginava que os correios iriam entregar em uma época tão conturbada como essa.

Dinesh pegava o envelope azul confuso, abrindo-o sem cerimônia alguma e começando a ler enquanto Mahara ainda falava.

— Os pais da Shanti disseram que esperaram demais e temiam ver a filha sozinha, por isso... Eles... Eles agendaram o casamento dela com o filho de um comerciante local no próximo mês. É claro que não iremos mas eu senti que precisava te avisar.

O convite de casamento consistia em um papel com bordas de rosas vermelhas e o nome do casal, junto com alguns versos apaixonados. Mahara observava o olhar vazio do filho, imaginando o quão destruído estava. Dinesh analisava cuidadosamente o convite com os detalhes que ele e a Shanti planejaram para o casamento, se tivesse acontecido. Então, de forma brusca, rasgou o papel ao meio e o amassou antes de jogá-lo no lixo.

— Que seja, eu não ligo.

— Mas você ainda a ama, Dines-...

— Eu disse que não ligo, porra! — gritava apoiando as mãos na mesa, permanecendo de costas para a mãe. — Desculpa, eu só preciso de um tempo sozinho...

— Tudo bem...

As mãos trêmulas do rapaz mal podiam se apoiar na mesa enquanto ele encarava um ponto qualquer do chão, sentindo o vazio em seu peito o consumir cada vez mais. Tudo pelo qual lutou para conquistar, estava escapando de suas mãos e não podia fazer nada à respeito.

Para não ser consumido mais ainda pela própria tristeza, Dinesh decidiu ir para a empresa naquela tarde e esfriar a mente. Porém, como não queria se estressar com o trânsito, contratou um motorista particular para levá-lo na limusine preta – o terceiro carro da família, depois da Lamborghini e a BMW dele. Enquanto encarava as pessoas do lado de fora, tinha lembranças com seu pai.

Aos seus cinco anos, o garotinho misturava a massa do bolo de chocolate, sujando-se com a cobertura mas rindo todo bobo. Mahara o observava com um sorriso junto com Raj que o incentivou a preparar a sua primeira sobremesa, por isso se encontrava ao seu lado vestindo o avental rosa da esposa.

— Baldi, eu estou fazendo certo?

— Sim!

— Eu quero um avental como esse, ele é bonito!

— Poderá usá-lo da próxima. — dizia o ajudando a bater a massa quando os braços do filho se cansaram. — Eu tenho certeza que ficará legal!

O sorriso da criança aumentava, dando pulinhos animado sujando tudo com chocolate.

— Eu vou crescer e me tornar um grande chefe de cozinha. Vocês estão convidados para o meu restaurante!

— Será a melhor comida do mundo. — comenta Mahara com um sorriso.

— Eu estou ansioso para vê-lo usando a roupa de chefe. Ela combinará com você! — dizia Raj.

Dinesh observava as pessoas na rua com um olhar vazio, ignorando a música que tocava no rádio da limusine. Conforme se aproximava da empresa, as lembranças se tornavam cada vez mais fortes e dolorosas.

Raj mostrava para o filho como formatar os documentos e os encaminhar para os demais setores. Aos seus vinte anos, o rapaz apoiava a mão no queixo prestando atenção nas instruções do pai.

— Não é tão difícil, Dinesh.

— Eu aprendo rápido, não se preocupe.

— Sabe, eu estou muito animado com a sua presença aqui. É a primeira vez que trabalhamos juntos, eu preciso registrar esse momento! — exclama apontando o celular para os dois, a fim de tirar uma selfie. — Diga "X".

— Isso é tão fora de moda, baldi.

— Ora, mas é o que dizíamos na minha época.

O mais novo apenas ri, abrindo um sorriso para a foto também se sentindo feliz por dentro ao estar perto do pai, mesmo esse não sendo o seu sonho.

A limusine estacionava na frente da empresa e o rapaz saía do carro, ajeitando o longo sobretudo preto que combinava com as luvas de couro da mesma cor. O vento gelado tentava atingi-lo mas falhava miseravelmente, porque nem mesmo o clima era capaz de causar alguma reação no Yamir.

A sua conversa com Aseem no hospital psiquiátrico parecia ser uma verdade irrefutável.

— Quem imaginaria que maltratar aquele demônio faria você voltar ao normal? Esse é a sua essência, Dinesh. — dizia ficando de pé, caminhando em direção ao neto. — Desde que te vi ensanguentado depois de bater naquele garoto, há anos atrás, percebi que não é como os demais. Você não é capaz de amar ou ter sentimentos, eu posso sentir.

— Por acaso, eles te deram alguma droga forte aqui?! Do que está falando?

Conforme Aseem se aproximava, Dinesh dava alguns passos para trás até as costas tocarem a porta. Ele não sabia explicar mas o seu avô possuía uma áurea tão desagradável e forte.

— O Raj é tão sentimental, isso será a ruína dele mas você, Dinesh, poderá salvar a sua família.

— Salvar? Com certeza, você enlouqueceu de vez!

— O mundo dos negócios é repleto de pessoas com péssimas intenções. Você precisa se tornar um deles se não quiser ser consumido por esse abismo. Por isso, torne-se o mal necessário para essa família! — exclama Aseem segurando com força a camisa do neto. — Siga a sua essência!

As portas do elevador se abrem e o rapaz entrava, ignorando todos ao seu redor com o mesmo olhar sem vida de antes. Thomas havia lhe dito que ambos eram muito parecidos e, agora, sua linha de raciocínio fazia sentido. Dinesh não conseguia sentir empatia por nada, nem por ninguém. Ele havia perdido o seu sonho de trabalho, a namorada, o pai e o respeito por seu irmão.

O que mais valia a pena lutar?

Ele estava sem forças até mesmo para desistir da sua vida, então se via em um looping eterno onde as vozes em sua mente o acusaram de todas as desgraças que aconteceram em sua família. Uma parte de si começou a culpar o Kiran o qual carregava uma maldição de vidas passadas, destinando todas as gerações da sua família ao mais puro azar. Contudo, não podia negar como também carregava uma parte da culpa porque agia como um herói quando, claramente, essa não era a sua função.

— Boa tarde, senhor Yamir. — cumprimenta Miyuki já estendendo o papel com o cronograma.

Ele pegava a pasta a cumprimentando com um simples aceno com a cabeça. Miyuki franziu o cenho confusa mas optou por ficar em silêncio, vendo-o se trancar no seu escritório. Dinesh jogou o papel sobre a mesa, colocando as mãos dentro dos bolsos da calça enquanto parava na frente da enorme parede de vidro. De todos, o escritório do diretor era o mais luxuoso.

Durante o seu momento de reflexão, outra memória passou subitamente por sua cabeça.

Dinesh chegou cedo em casa, correndo para a cozinha a fim de atacar a sobremesa do dia anterior. Ao parar na frente da geladeira, viu um recado da mãe dizendo que havia saído com os seus irmãos para fazer compras. Então, dava nos ombros e pegava a última fatia do bolo de chocolate enquanto subia às escadas. Contudo, a voz do seu pai no escritório o fez mudar o trajeto no corredor.

— Está tudo pronto, senhor Yamir. — dizia um homem de terno, fechando sua maleta. — Agora só falta levar para o cartório.

Muito obrigado.

O jovem se escondia atrás de uma vaso enorme de flores quando o homem aparecia no corredor, ousando entrar no escritório apenas quando ele estivesse fora do seu campo de vista.

— Quem era, baldi?

— Não me mate assim de susto, Dinesh! Ele é o meu advogado, veio aqui terminar o meu testamento.

Nesse momento, o sabor do bolo sumiu na boca do Dinesh e ele sentiu a garganta seca. Depois de ter conversado com o pai sobre o plano de assassinato vindo da mente do Thomas, ele não gostava de tocar diretamente no assunto.

— Eu só queria que algo pudesse ser feito...

— Não pense muito nisso, filho.

— Se aqueles homens ruins apenas morressem...!

— Calma, calma. — dizia Raj ao se levantar, caminhando até estar na frente do filho. — Eu não quero que use o ódio ou a vingança para guiar a sua vida. Você é muito maior do que isso, Dinesh.

— Mas é angustiante ficar de braços cruzados vendo o que eles fazem. Eu sinto vontade de revidar na mesma moeda!

— Terá que controlar esse impulso, porque não será somente a sua vida que estará em risco.

— Eu sei...

— Eu quero te pedir que me prometa duas coisas, Dinesh.

— O que?

— Prometa que cuidará da nossa família e que nunca agirá como uma pessoa ruim, da mesma forma que você fez no passado.

— Eu prometo.

Os olhos negros do rapaz pairavam sobre as pessoas na rua, mantendo um semblante neutro. Por um momento, refletiu sobre as palavras de Thomas apontando semelhanças entre ambos e também como as estratégias dele para derrubar seus adversários são mais agressivas. Dinesh pensou em todas as pessoas que saíram prejudicadas por causa do empresário, sentindo o ódio percorrer por suas veias.

Em sua mente ecoou a voz de si mesmo quando era uma criança, ajoelhando-se diante dos pais pedindo uma segunda chance para provar a bondade em seu coração. Apesar da atitude nobre, Dinesh não conseguia ver fundamentos nessa escolha porque, nesse exato momento, entendeu algo tão óbvio.

O seu destino não era se tornar um herói. Nunca foi.

Baldi, Kiran... Desculpem... — murmura fitando o horizonte. — Eu não posso cumprir a minha promessa de ser um bom filho, mas cumprirei a promessa de proteger a minha família.

Ele apoiava ambas as mãos nas costas, exatamente igual à postura que Thomas Adams adotava, sorrindo friamente. As suas orbes escuras perderam o brilho de antes, dando espaço para um olhar vazio e sem vida.

Eu irei te destruir, Thomas, nem que eu te puxe para o inferno junto comigo, pensava. 

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