Agridoce

By aimeeoliveira

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Laura L. não vê a luz do dia fora dos muros de seu colégio interno faz dez anos. Ela está desesperadamente à... More

Agridoce
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epílogo

Capítulo 16

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By aimeeoliveira

Durante todo o caminho não se importou em conversar com Michael. Já que tinha a desculpa de estar brava com ele, passou grande tempo do trajeto pensando no que ele havia falado o que ele queria dizer com “para garantir que você vá me visitar essa semana”? Por que raios ela não visitaria? Na realidade, ela desconfiava que nem raios nem uma completa tempestade iriam fazer com que a vontade dela de estar com ele todo o tempo diminuísse.

Oh, céus! Se esses pensamentos fossem corretos, ela estaria metida em grandes problemas. Tinha que considerar que nem ao menos o conhecia tão bem para se apegar tanto assim. Ela não deveria se apegar tanto assim a ninguém, deveria se lembrar que acabado o trabalho dele ele irá se libertar do colégio, ela não.

Mas o ponto não era o seu abandono. Era o abandono de Michael. Quer dizer, ela nem ao menos sabia se ele havia sido de fato abandonado, mas parecia. Ela mesma havia agido loucamente assim quando soube da morte de seus pais, tinha medo de ficar sozinha e por isso fazia de tudo para tentar se encaixar em algum dos grupos de meninas do internato. Mas ela nunca fora e nem seria como elas. Nunca passava férias fora, e não tinha nenhuma vivência a não ser o Colégio Santa Tereza.

Isso a lembrava que fazia anos, muito anos, em que não botava a cabeça para fora do internato. Na época em que andava em carros, os painéis não eram tão cheio de botões, com luzes azuis celeste. Resolveu se inclinar para frente inspecionar do que se tratavam tantos botões. Com cuidado passou o dedo sobre eles, sentia o olhar de Michael sobre ela, mas não iria deter sua investigação só porque o Senhor Provocador estava se sentindo incomodado, apesar do carro ser dele.

Até que esbarrou o dedo em um dos botões que imediatamente ecoou um estrondo em todo o carro, lentamente olhou para Mike consciente do estrago que tinha feito. Ao encontrar com os olhos dele, uma expressão divertida dominava a imensidão castanha esverdeada de suas pupilas.

- Isso se chama Blink 182 – ele disse no momento em que girou outro botão que fazia o estrondo suportável aos ouvidos.

- Blink de piscar?

- Sim, mas neste caso é o nome de uma banda.

- Ah, mas faz muito barulho, não é?

- Pra você que não está acostumada, sim.

- Eu não sou acostumada a muitas coisas. Estava tentando fazer as contas de há quanto tempo não saio do internato, mas me perdi nos anos.

Ela dizia isso com o típico humor despreocupado dela, mas Michael pensou que se pudesse a levaria para conhecer cada canto do mundo que ela não conseguiu ver nesse meio-tempo.

- Você ainda é nova, terá muito tempo pra recuperar esses anos... – ele disse genericamente, pensando que não poderia simplesmente dizer todo o tipo de história melosa que passava pela sua mente.

- Vai vir com a história de que ainda sou uma garotinha?

- Não, prefiro evitar gritos histéricos – disse Michael sorrindo.  – se quiser olhar aí no porta-luvas e procurar outro CD, com menos “barulho”, fique à vontade.

Não precisou ele falar duas vezes para Laura rapidamente abrir o compartimento e começar a revirar o seu conteúdo. Estava curiosa para saber o que mais ele escutava além desse tal Blink, qualquer coisa que permitisse que ela o conhecesse melhor despertava profundamente o interesse de Laura. Só para conhecê-lo, Laura deixou claro em seu pensamento.

Ele tinha muitos CDs ali dentro, mas nenhum que ela realmente conhecesse, nem de nome. Em uma pilha havia McFly, Cartel, All Time Low, Red Hot Chili Peppers, Maroon 5. Depois de uma longa inspeção nas capas dos CD’s percebeu que todos eram bandas. O que era engraçado, porque ela mesma gostava de bandas. Uma vez por ano, no dia do aniversário do colégio, vinha uma banda tocar na comemoração anual. Eles tocavam todos os cânticos que aprendiam na Igreja com um ritmo diferente, muito mais contagiante do que nos dias normais de missa. Era muitíssimo divertido.

Se tivesse sorte, alguma dessas bandas que Mike gostava já tinha se apresentado no colégio. Mas era pouco provável, pensou Laura, todos os nomes eram em inglês, elas deveriam ser dos Estados Unidos ou Inglaterra, e só deveriam tocar nas igrejas de lá.

- Mike, você acha que uma dessas bandas já se apresentou lá no internato?

Não deu para Michael segurar o riso.

- Eu acho que a Madre Superiora não deixaria nenhuma dessas bandas nem passar na frente do colégio.

- Humm, por que ela faria isso?

- Melhor você escutar, escolha um.

- Acho que esse aqui dos quatro moços nadando no oceano – disse Laura entregando o CD a Mike.

Enquanto a música tocava Laura voltava a sua tarefa de olhar os outros CD’s. Examinou uma grande pilha em que as capas tinham pessoas muito bonitas. Dois tinham umas moças loiras lindas, haviam três que as capas eram de homens, dois muito bonitos (não tanto como Michael, pensou ela) e outro muito engraçado, na capa estava escrito Elvis Presley. Esse sim ela conhecia! Seus pais costumavam escutar isso enquanto dançavam na sala após ter posto ela para dormir, eles eram muito alegres e animados, gostavam de viver a vida e Laura sempre soube se mover silenciosamente para nunca ser descoberta espiando seus pais dançarem.

Ia comentar algo com Mike, mas resolveu ver a ultima pilha de CDs que faltava. Esses já não tinham capas, era só algo escrito nos próprios CDs e Laura reconheceu a letra de Mike. E sendo assim começou o questionário.

- O que é “Viagem 1”? – mostrando o CD enquanto Michael olhava rapidamente sem desviar muito o olhar da estrada.

- Ah, esse eu fiz quando eu fui pro sul, são musicas calmas bem próprias para ficar um dia inteiro dirigindo.

- E “Viagem 2”?

Ele respondeu pacientemente a todos os títulos que havia na pilha. De Viagem 1 a 4 até “Músicas para correr” passando por categorias como, hard rock, lounge, vintage e natalinas. Que bom que era um cara organizado e podia explicar cada uma das categorias. E se felicitou ainda mais por não ter escrito nenhuma obscenidade em nenhum dos CDs (o que era típico dele, afinal de contas, sempre foi desembaraçado em relação a isso), simplesmente não saberia como explicar certas coisas para Laura.

Em falar nela, era de se admirar como seus olhos brilhavam, mesmo no escuro do fim de tarde, enquanto ele contava de suas viagens e aventuras, parecia que ela se agarrava a cada frase e palavra que ele dizia. Quem dera que ela se agarrasse assim a ele... Ia se recriminar por pensar assim, mas antes disso, ela voltou ao questionário.

- O que é “Maggie Levine”?

Só de ouvir esse nome Michael gelou, há tempos ninguém falava dela em sua presença, e muito menos a chamando de ‘Maggie’. Seu nome era Megan aquele era seu apelido carinhoso. E de carinhosa aquela mulher não tinha absolutamente nada.

- É uma pessoa, não uma coisa. – uma evasiva era o máximo que Michael conseguiria falar sobre o assunto.

- Está bem. Quem é Maggie Levine?

Era claro que Laura não se contentaria com uma respostinha daquela. E com a riqueza de detalhes que ele estava lhe contando sobre as outras coisas relacionadas aos outros títulos dos CD’S, ela não iria se contentar com pouca coisa. Mas ele não gostava de falar naquela mulher, na verdade não gostava de falar em mulher nenhuma, as encaravam como meros passatempos, bastante prazerosos, mas ainda assim passatempos. Falar de Megan para ele era difícil. Mas falar dela para Laura, era ainda pior.

- Ela é sua irmã? – perguntou ela ansiosa por uma resposta, enquanto ele se limitava a negar com a cabeça.

Espere aí, por que era tão complicado falar que já fora casado para Laura? Perguntou-se Michael um pouco irritado consigo mesmo por seus pensamentos desconexos. Ela não tinha nenhum direito sobre ele, muito menos sobre seu passado. Tudo bem que ele era vergonhoso, mas ainda assim era passado, aquilo não deveria mudar o conceito de Laura sobre ele.

Oh Deus, aquilo já estava ficando patético, como poderia ele, um homem maduro, inteligente e quase novamente bem-sucedido ficar se importando com o que os outros pensam dele, e pior, com o que Laura pensa dele. Faça-me o favor...

- Megan foi minha mulher – disse Mike como se tivesse dizendo “vai chover daqui a pouco”. E Laura, por outro lado, não parecia nada tranquila. Seus olhos estavam tão abertos que pareciam que iam saltar das orbitas, estava boquiaberta também. Dois segundos depois levantou as sobrancelhas e abriu mais a boca, como se tivesse feito uma grande descoberta.

- Aquela mulher da loja! – e ao ver a cara de interrogação de Mike resolveu explicar melhor. – a mocinha que te olhava muito estranho, a atendente. É ela a sua mulher, não?

- Não, aquela é Holly, pensei que você tinha lido no crachá dela. Vi seus olhos bem desdenhosos a olhando de cima a baixo, Laura. – estava claro que ele ainda tentava fugir do assunto.

- Ela parecia te conhecer.

- E me conhece.

- Ela parecia te conhecer bem – Laura não queria mostrar sinais de nervosismo, mas em seu interior, já tinha assumido que estava realmente com ciúmes. Mas que mal havia nisso? Ele era seu único amigo, queria... Queria preservá-lo. Bom, preservar a amizade.

- Sim, ela me conhece muito bem, muuito bem. – só de olhar de relance para a cara de Laura, notou que ela estava prestes a se lançar no pescoço dele se ele não explicasse direito – Podemos dizer que demos uns amassos – falou Michael calmo, ele estava tranqüilo. Viu, não era difícil falar de suas antigas mulheres com Laura, pensava ele se felicitando.

- O que é um amasso? É igual papel?

O ruim de Laura era que ela não era como aquelas mulheres sofisticadas que mesmo não entendendo nem meia palavra do que você está falando, balança a cabeça afirmativamente e sorri. Se ela não entendesse algo, ela perguntaria, mesmo sabendo que a resposta que viria era bastante embaraçosa.

- Dormimos juntos, Laura. Fizemos sexo, sabe o que é sexo não sabe?

Ela assentiu freneticamente, enquanto sentia que suas bochechas pegavam fogo. Não conhecia esse lado de Mike. Ele era indecente! E não tinha vergonha disso! Ela já deveria ter notado isso desde a primeira vez que o viu, seminu no jardim, mas ao invés de notar seu caráter ficou notando a anatomia do senhor Levine. Francamente, deveria estar se tornando tão indecente quanto ele, pensou Laura.

Mas, além disso, tinha algo mais grave, ele era casado? Ele não tinha cara de casado, por Deus! Ele a tinha beijado há algumas horas atrás, ainda podia se lembrar com detalhes como foi o beijo! Será que ele amava a sua mulher? Porque a traiu? E aquela Holly, como pode fazer coisas com ela sem estar casado? Podia de fazer aquilo? Provavelmente aquilo seria pecado, e dos grandes!

- E onde está sua mulher? – Laura perguntou sem jeito, se sentia muito sem graça de ter beijado um homem comprometido, ainda mais porque sabia que se pudesse, o beijaria de novo.

- Ela não é mais minha mulher – respondeu Mike sem nenhuma emoção sobre o assunto, o que era estranho, pois geralmente sentia muita raiva só desse assunto ter sido mencionado.

Mas Laura por outro lado estava com muitas emoções, muitas emoções nervosas, curiosas e até inseguras pipocando dentro de si.

Antes que pudesse bombardeá-lo com mais perguntas ele parou o carro, Laura não tinha se dado conta que já havia chegado ao  colégio, mas tinha certeza que não poderia voltar ao seu quarto sem esclarecer a confusão que ela sentia em sua cabeça e principalmente em seu coração.

- Você me deve uma explicação – disse segundos antes de Mike sair do carro e contorná-lo até abrir a porta do motorista para ela.

- A única coisa que lhe devo, madame, é um vestido novo e sem manchas – disse Mike estendendo a mão para ajudá-la ao mesmo tempo que fazia uma pequena reverência, se portando como um cavalheiro do século XIX. – permita-me ajudá-la

Laura não achou a mínima graça de todo o galanteio demodé dele, queria respostas não palhaçadas.

- Não preciso de sua ajuda, já subi na caçamba o dia inteiro sem ela – respondeu Laura com indiferença e revolta, enquanto descia sem usar nenhuma das generosas e bronzeadas mãos de Michael.

Enquanto Laura fazia o que podia para se instalar no compartimento agora lotado de materiais de construção, Mike voltava ao seu lugar no carro. Estava claro que ela estava muito descontrolada com a nova noticia de Michael, talvez ela se importasse com ele, pensou Mike satisfeito. Ou então era só mais um dos muitos descontroles de Laura.

Toda essa instabilidade de Laura estava de alguma forma passando para ele, já que não conseguia mais se controlar em seus pensamentos preocupados por aquela pirracenta. Não queria ficar insano como ela, e quando ouviu a batida estridente da parte traseira sendo fechada, pisou forte no acelerador. O carro deu uma poderosa arrancada que com certeza deve ter remexido com todos os materiais que estavam na caçamba. Que bom que ele avisara que a volta ia ser pior. 

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Oremos por um capítulo grande! BOOM! Espero que gostem <3 Não tenho muito o que dizer, só que amo chuvas de verão, mas isso é irrelevante, então, até mais ver!

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