Capítulo 16

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Durante todo o caminho não se importou em conversar com Michael. Já que tinha a desculpa de estar brava com ele, passou grande tempo do trajeto pensando no que ele havia falado o que ele queria dizer com “para garantir que você vá me visitar essa semana”? Por que raios ela não visitaria? Na realidade, ela desconfiava que nem raios nem uma completa tempestade iriam fazer com que a vontade dela de estar com ele todo o tempo diminuísse.

Oh, céus! Se esses pensamentos fossem corretos, ela estaria metida em grandes problemas. Tinha que considerar que nem ao menos o conhecia tão bem para se apegar tanto assim. Ela não deveria se apegar tanto assim a ninguém, deveria se lembrar que acabado o trabalho dele ele irá se libertar do colégio, ela não.

Mas o ponto não era o seu abandono. Era o abandono de Michael. Quer dizer, ela nem ao menos sabia se ele havia sido de fato abandonado, mas parecia. Ela mesma havia agido loucamente assim quando soube da morte de seus pais, tinha medo de ficar sozinha e por isso fazia de tudo para tentar se encaixar em algum dos grupos de meninas do internato. Mas ela nunca fora e nem seria como elas. Nunca passava férias fora, e não tinha nenhuma vivência a não ser o Colégio Santa Tereza.

Isso a lembrava que fazia anos, muito anos, em que não botava a cabeça para fora do internato. Na época em que andava em carros, os painéis não eram tão cheio de botões, com luzes azuis celeste. Resolveu se inclinar para frente inspecionar do que se tratavam tantos botões. Com cuidado passou o dedo sobre eles, sentia o olhar de Michael sobre ela, mas não iria deter sua investigação só porque o Senhor Provocador estava se sentindo incomodado, apesar do carro ser dele.

Até que esbarrou o dedo em um dos botões que imediatamente ecoou um estrondo em todo o carro, lentamente olhou para Mike consciente do estrago que tinha feito. Ao encontrar com os olhos dele, uma expressão divertida dominava a imensidão castanha esverdeada de suas pupilas.

- Isso se chama Blink 182 – ele disse no momento em que girou outro botão que fazia o estrondo suportável aos ouvidos.

- Blink de piscar?

- Sim, mas neste caso é o nome de uma banda.

- Ah, mas faz muito barulho, não é?

- Pra você que não está acostumada, sim.

- Eu não sou acostumada a muitas coisas. Estava tentando fazer as contas de há quanto tempo não saio do internato, mas me perdi nos anos.

Ela dizia isso com o típico humor despreocupado dela, mas Michael pensou que se pudesse a levaria para conhecer cada canto do mundo que ela não conseguiu ver nesse meio-tempo.

- Você ainda é nova, terá muito tempo pra recuperar esses anos... – ele disse genericamente, pensando que não poderia simplesmente dizer todo o tipo de história melosa que passava pela sua mente.

- Vai vir com a história de que ainda sou uma garotinha?

- Não, prefiro evitar gritos histéricos – disse Michael sorrindo.  – se quiser olhar aí no porta-luvas e procurar outro CD, com menos “barulho”, fique à vontade.

Não precisou ele falar duas vezes para Laura rapidamente abrir o compartimento e começar a revirar o seu conteúdo. Estava curiosa para saber o que mais ele escutava além desse tal Blink, qualquer coisa que permitisse que ela o conhecesse melhor despertava profundamente o interesse de Laura. Só para conhecê-lo, Laura deixou claro em seu pensamento.

Ele tinha muitos CDs ali dentro, mas nenhum que ela realmente conhecesse, nem de nome. Em uma pilha havia McFly, Cartel, All Time Low, Red Hot Chili Peppers, Maroon 5. Depois de uma longa inspeção nas capas dos CD’s percebeu que todos eram bandas. O que era engraçado, porque ela mesma gostava de bandas. Uma vez por ano, no dia do aniversário do colégio, vinha uma banda tocar na comemoração anual. Eles tocavam todos os cânticos que aprendiam na Igreja com um ritmo diferente, muito mais contagiante do que nos dias normais de missa. Era muitíssimo divertido.

AgridoceWhere stories live. Discover now