Depois Que Caímos #Rabia G!P

By srtmarinsc

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Rafaella Kalimann não é o meu tipo! Cowgirls sensuais e polêmicas são boas nos filmes, mas na vida real, pref... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26

Capítulo 18

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By srtmarinsc

Mais um capítulo, para compensar o que não teve ontem. ❤️

           POV Rafaella Kalimann

— Diga-me sobre estas. — As mãos de Bianca passaram sobre a tatuagem
na lateral do meu corpo, e senti um arrepio na espinha. Provavelmente porque estávamos há uma hora na banheira, as bolhas haviam desvanecido e a água já não
estava nem mesmo quente. Mas eu relutava em sair. Não está chovendo hoje. Não tenho motivo para ficar.

— Elas são andorinhas — eu disse.

— Posso vê-las?

Eu me virei e sentei para ficar de costas para ela.

— Você tem duas delas. — Ela as traçou com os dedos.

— Dois turnos de serviço.

— Ah! Elas te trouxeram boa sorte?

Fechei os olhos. Ouvi tiros disparados. Corpos decapitados no assento
dianteiro. Cheiro de sangue.
Engolindo em seco, contraí o corpo e forcei a lembrança feia para fora da
minha cabeça. Aqui e agora. Aqui e agora. Aqui e agora.

— Só as fiz quando voltei.

— Então elas são mais um símbolo de uma viagem concluída do que um
amuleto de boa sorte?

— Algo parecido.

— Você se sente bem com isso? Por ter entrado para o exército?

— Eu me fiz muito essa pergunta. E acho que a resposta é sim. Quero
dizer, se tivesse que fazer novamente, sei que faria de novo.

— Sabe, você é a primeira mulher da minha idade que eu já conheci nas
forças armadas.

Eu olhei para ela. — Sério?

— Sim. Acho que alguém na minha turma de graduação foi para a
Academia Naval, mas eu nunca conheci pessoalmente um soldado, a menos que você conte veteranos da Segunda Guerra Mundial ou algo assim.

— Uau. — Sua vida tinha sido tão diferente da minha. Muito diferente.

Ela beijou meu ombro. — Nunca conheci ninguém tão corajosa como você.

Eu bufei, mas gostei do elogio.
— Obrigado.

— Ou alguém que trabalha tão duro ou sabe tanto sobre coisas que eu não
sei.

— Ou alguém cujas mãos ficam tão sujas quanto as minhas, todos os dias.
Aposto que a maioria das pessoas que você conhece usa ternos para trabalhar. Roupas chiques. Salto alto. Hidratam o cabelo com regularidade.  Barcos próprios, tacos de golfe e ações. Difícil não me comparar com essas pessoas.

— Ei. — Ela me cutucou nas costas.
— Eu gosto que você suje as mãos
todos os dias.

Não acreditei muito nela.— Mesmo?

— Sim. Faz você diferente das outras pessoas que conheço. Mesma coisa
com suas tatuagens. — Suspirando, ela passou os braços pelo meu pescoço e
recostou-se contra a banheira, levando-me com ela. — Eu não tenho tatuagens.

Minhas costas descansaram contra seu peito, minha cabeça em seu pescoço. A tensão havia sido drenada de meus músculos. Queria nunca ter que deixar esta banheira.

— Não achei que você teria.

— Por que não?

— Você só não me pareceu ser o tipo de garota que teria tatuagens.

— Eu não tenho — ela disse depois de um momento. — Você está certa. A
verdade é: acho que elas podem ser bonitas, mas parecem muito exóticas e proibidas para mim. Algo para pessoas que são mais corajosas do que eu.

— Por quê? Você tem medo de dor?

— Não, não exatamente. Mais como se estivesse com medo do que as
pessoas pensariam sobre mim.

— Elas que se fodam.

Ela suspirou novamente. — Mar morreria.

— Não, Bianca. Ela não morreria.

— Talvez não. Mas ela pensaria que eu fiquei louca.

— Então deixe. Não gaste sua vida preocupada com o que as pessoas
pensam de você. Esse tipo de medo é como uma gaiola, ele vai prendê-la
para sempre se você não tiver cuidado

Ela não falou imediatamente. E então perguntou. — Do que você tem medo?

Não respondi, porque sabia que diria muita coisa. Ela estava muito macia,
doce demais, muito quente. Seria muito fácil dizer-lhe coisas que ela não precisava ouvir, é muito egoísmo de minha parte revelar coisas só para compartilhar o peso das minhas verdades. Ela só tentava me mostrar que eu não era uma idiota que
pensava que era, assim como Gizelly teria feito.

Mas seria tão bom. — Provavelmente nada, certo? — Ela me apertou. — Você é uma forte soldada. Não tem medo de nada.

Falei sem pensar. — Tenho medo de me tornar irreconhecível. — Uma pausa.

— O que você quer dizer?

— Nada — disse rapidamente. Que merda estava fazendo? Eu até tentei
levantar, mas ela me segurou no lugar, envolvendo meu corpo com as pernas.

— O que o tornaria irreconhecível, Rafaella?

Exalando, me permiti me render, só um pouco. Só desta vez. — Soltar.

— O quê?

— Meu passado.

— Você não precisa abandonar seu passado: sempre será parte de quem
você é. Mas você não precisa deixá-lo gritar ou impedir que você se mova.
— Mas eu quero. Ela não sabia, não entendia. — Ei. — Ela me apertou novamente. — Fale comigo.

Deus me ajude, eu queria falar. Meus segredos estavam pressionados tão
fundo no meu coração que eu pensei que meu peito poderia explodir com eles. Eu queria admitir minha culpa.
Abrir minhas feridas. Sangrar por elas.

A tentação me dominou.— O acidente. Foi minha culpa.

— Eu não entendo.

Tentei engolir, mas não consegui.
— O acidente de Gizelly.

— Do que você está falando? Você não estava dirigindo o veículo que a
atingiu.

— Não. Mas... havia um carro diferente. — Minha voz estava fraca, e meu corpo começou a tremer. — Anos atrás. No Iraque.

A mão de Bianca começou a fazer carinho no meu ombro em arcos lentos e calmantes.

— Estou ouvindo. Conte-me.

Minha garganta estava seca e apertada, mas a história se forçava a sair.

— Meu comboio estava passando pelo país e nós tínhamos parado para
descansar. Três de nós estabelecemos um posto de controle. Os carros estavam sendo usados como carros-bomba, assim, nós tínhamos que parar todo veículo antes que eles entrassem na zona onde os soldados estavam descansando. — Ela
estremeceu, como se soubesse o que estava por vir. Pressionou os lábios contra minha cabeça. — Tínhamos placas em persa instruindo os motoristas a pararem e se um veículo não parasse, nós dispararíamos tiros de advertência a 600 metros. Era raro que os carros tentassem atravessar, a menos que carregassem uma bomba
caseira. Mas uma noite... — Parei.

Dentro da minha cabeça estava uma voz gritando para que eu parasse de falar, mas não podia. Cada palavra de minha boca aliviava algum tipo de pressão dentro de mim. Eu tinha que tirar tudo.

— Uma noite, alguém não parou? — Perguntou ela. — Havia uma bomba
no carro?

Eu balancei a cabeça, negando, engolindo o soluço que ameaçava me
sufocar. — Não, mas é possível que o motorista tenha pensado que os tiros de advertência viessem de trás, porque o carro acelerou assim que foram disparados. Então eu atirei diretamente no veículo. Eu nem pensei duas vezes.

— Claro que você não pensaria. — A voz dela era forte. — Rafaella, ninguém jamais a culparia. Você fez o seu trabalho. Você protegia as pessoas.

— Só vi quem estava no carro ao amanhecer e chegou a hora de sair
daquela posição. — Meus olhos se encheram de expectativa.

Ela ficou completamente imóvel.
— E?

— O motorista era uma mulher. E havia crianças com ela.

— Meu Deus.

— Três crianças. — Minha voz falhou e lágrimas escorreram de meus
olhos fechados.

— Ah, Rafa.. — A voz de Bianca estava embargada também. Ela me abraçou forte. — Isso deve ter sido horrível para você.

Inspirei, recuperando o controle.
— Quer saber? Não foi. Mal me abalou. Na época, eu me lembro de sentir orgulho por fazer o que tinha que fazer. — As palavras estavam amargas na minha boca. — Mais tarde, depois que cheguei em casa, caiu a ficha do que tinha feito. Eu estava um caco. Eu não podia falar com ninguém, não me sentia segura, não conseguia me sentir normal. A cada minuto estava esperando a punição, sabe? Era certo que o que eu fiz não poderia ficar impune. Eu queria a retribuição. Quase a
trouxe para mim.

Ela me abraçou ainda mais e senti o tremor em seu corpo enquanto ela
chorava. Beijou meus ombros, minha cabeça, meu pescoço. Passei as mãos sobre o peito e o estômago, como se tivesse de me assegurar de que ela ainda estava aqui.

— Eu sinto muito. E estou muito feliz por você estar aqui. Você não fez
nada de errado.

Eu não merecia sua simpatia ou suas lágrimas. — Você sabe quantos pesadelos de merda eu tive com aquela mulher? — Pressionei meu polegar e dedo indicador sobre meus olhos. — Ela está na minha frente e estou implorando e implorando para ela parar e ela não obedece. Eu acordava tremendo e gritando.

— Você ainda tem pesadelos?

— Às vezes. Por um tempo, melhorou, depois que fui ao médico. Comecei
a tomar medicamentos que me faziam esquecer o que eu sonhava. Eu não temia tanto dormir. Mas parei de tomá-los depois do acidente de Gizelly.

— Por quê?

— Porque foi minha culpa. — Eu recuei na verdade que me torturava,
repeti as palavras que me
assombravam. — Assim como fez, assim lhe será feito.

— Não, Rafaella. Você está errada.
— Ela fungou e se sentou mais ereta.
—  que você fez salvou vidas e não teve nada a ver com o acidente de Gizelly. Você não foi a responsável.

Fechei os olhos. — É a única maneira com que eu consigo entender.
— Ninguém jamais conseguiria entender uma tragédia como aquela.

— Às vezes eu sonho com o posto de controle e é Gizelly quem está dirigindo o carro — sussurrei. — No meu subconsciente, eles vão estar conectados para sempre.

Suavemente ela se remexeu, as palavras atadas com soluços silenciosos. — Não era Gizelly, Rafa. Ela era o amor de sua vida e você nunca a teria prejudicado. Você a fez feliz.

— Eu queria. Deus, eu queria fazer.

— Você fez. E se ela estivesse aqui agora, sei que ela estaria dizendo para você a mesma coisa que estou: Não foi sua culpa. — Eu sabia que ela estava certa, Gizelly diria isso e ela tinha dito mil vezes em minha mente. Mas apenas não podia acreditar. — E ela provavelmente ficaria brava por você se culpar — Bianca continuou. — Ela desejaria que você perdoasse a si mesma para que possa ser feliz novamente. Não acha?

Claro que sim. Ela ficaria bem aqui e discutiria comigo exatamente como
costumava fazer. Mas perdoar a mim mesmo significaria dar-me permissão para seguir em frente, para ser feliz, e eu não merecia. Eu nunca cometeria esse erro novamente.

— Eu não posso.

Ela se remexeu novamente, seus braços me abraçando, seus lábios
pressionados na minha pele. Quando ela falou, a voz dela estava baixa.

— Você já contou a alguém sobre isso?

Hesitei. — Gizelly e meu terapeuta sabiam sobre o Iraque. Mas nunca conversei com ninguém sobre me sentir responsável por sua morte, só com você.

Ela pensou a respeito, nós duas pensamos. Eu tinha compartilhado uma parte de mim com ela que não tinha compartilhado com mais ninguém. Eu nem sabia por que confiava tanto nela, mas confiei. Novamente, achei que tinha a ver
com sua presença temporária na minha vida. Isso me libertou para ser meu verdadeiro eu com ela.

— Eu gostaria que houvesse algo que pudesse fazer por você — disse ela.

Suspirei. A verdade estava dita. E apesar de não me sentir melhor nem
esperançosa, eu me sentia menos sozinha. Pousei minhas mãos sobre as dela em meu coração.

— Você está aqui. Você está ouvindo. Isso já é algo.

— Estou aqui. E estou feliz que você tenha me contado.

— Também estou.

Era surpreendente perceber que eu estava falando sério. Não tinha a intenção de revelar tanto de mim mesmo, mas há tanto tempo não tinha aquele tipo de proximidade com alguém, do tipo que obriga você a
compartilhar seus segredos.

Ela suspirou quando se inclinou para trás novamente. — Quer ouvir algo ridículo?

— Claro.

— O motivo pelo qual eu aceitei o trabalho aqui foi porque minha mãe me fez sair da cidade após a briga com os bolinhos.

Eu estiquei o pescoço para que pudesse ver seu rosto. — O quê?

— É verdade. Eu tive que deixar a cidade para que os rumores parassem.

— Jesus. E eles pararam?

— Sim. Ela ligou ontem e disse que poderia voltar.

— É por isso que você ia embora ontem?

— Sim.

Deus, estava feliz por ela não ter ido.
— Mas você ainda está aqui.

— Eu ainda estou aqui — ela sussurrou.

Eu a beijei, sentindo seus dedos acariciando minha mandíbula. Seus lábios eram quentes e macios e tinham cheiro de lavanda e eu não queria nada além de viver nesse beijo com ela para sempre. Prendê-la dentro de um vidro e ficar em
segurança dentro da redoma, livre das memórias que me assombravam e de um futuro que nunca poderia acontecer.

Eu queria tanto que eu não fiquei para passar a noite.

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