Depois de algum tempo, Jimin finalmente saiu do banheiro e sentou-se em sua cama ao lado de Jungkook. O último estava deitado de bruços e o seguiu com os olhos.
— Então, eu li o livro — Jimin disse e se certificou de não fazer contato visual com o outro.
— Você leu? Você leu tão rápido, porra — Jungkook comentou. — O que você achou disso?
— Foi bom. O final foi triste, eu esperava um final feliz, mas não foi. — Jimin fez um biquinho que tremulou, mas sorriu um pouco. — Mas, também, foi isso que o fez uma boa história.
— Seu rosto está todo vermelho e inchado, você estava chorando?
— Sim... — Seus olhos de encheram de lágrimas novamente e ele se sentou na cama.
— Oh, Mochi, é só uma história, não é real. — Jungkook riu rapidamente e colocou a cabeça na coxa de Jimin, que sorriu para ele e brincou com seus cabelos macios.
Jungkook fechou os olhos e se inclinou para o seu toque. Ele sempre adorou quando as pessoas brincavam com seu cabelo assim, a maneira como seus fios realizavam com dedos gentis penteando seus cabelos sem emaranhá-los, era confortável. Ele estava prestes a cochilar quando se lembrou o porquê havia voltado para o quarto mais cedo naquele dia.
— Cereja? Você pode me ajudar com algumas coisas?
A mão de Jimin parou quando ele olhou para o mais novo.
— Com o que você precisa de ajuda?
— Vai parecer estúpido, mas você pode voltar para casa comigo? Eu preciso pegar as coisas do meu quarto, e... eu não quero ir sozinho. — Abriu os olhos lentamente e olhou através do quarto, para nada em particular.
— Claro que vou com você. — Jimin sorriu e pegou a mão de Jungkook na sua. — Eu protegerei você.
— Eu não tenho muito no meu quarto, então será rápido. — Rolou do colo de Jimin e se levantou. — Só não toque em nada, ok?
Jimin concordou e pegou as chaves da moto. Mesmo quando eles saíram em um silêncio pacífico, o loiro podia sentir o medo irradiando de Jungkook, ainda que sua expressão permanecesse inexpressiva.
— Você está bem? — Perguntou, preocupado.
— Eu vou ficar, não é nada. — Encolheu os ombros.
Jimin franziu a testa, mas deixou quieto por enquanto, achou melhor esperar até Jungkook estar pronto para se abrir. Saíram para o estacionamento calmo e Jimin caminhou até sua moto e logo colocando o capacete e subindo nela. Jimin se inclinou um pouco para a frente, assistindo o moreno fazer o mesmo. Jungkook sorriu subindo na moto e passou as mãos em volta da cintura dele. Suas mãos geladas percorreram o caminho sob a camisa do loiro e traçaram sobre sua cintura. Jimin ofegou e tentou bater nas mãos do mais novo.
— Pare com isso!
— Eu não quero. — Jungkook descansou a cabeça nas costas dele e continuou a traçar sua pele macia.
Jimin se mexeu desconfortavelmente e girou as chaves, dando partida na moto, enquanto tentava ignorar as mãos curiosas de Jungkook. Ele pilotou para fora da escola e desceu as ruas de Seul. O moreno se viu deslizando mais de sua mão, indo para a frente da calça do loiro e se divertindo, enquanto explorava curiosamente.
Jimin se sentiu ficando ainda mais tenso, de acordo Jungkook se aventurava em suas calças. Ele acelerou e chegou ao destino com uma parada derrapante e se inclinou para a frente, lutando para não deixar ruídos inapropriados saírem. Jungkook sorriu e deu um beijo no pescoço exposto do loiro.
— Tendo pensamentos sujos, cereja?
Jimin saiu de seu torpor hormonal e puxou a mão do moreno para longe de seu corpo, tropeçando na moto ao descer. Infelizmente, não notou o meio-fio e tropeçou nele, caindo na grama morta, com as pernas voando no ar. Jungkook riu ao descer da moto e segurar o capacete nas mãos.
— Isso foi tão fofo e engraçado.
Jimin fez um biquinho, colocando-se em uma posição sentada com as bochechas em um vermelho ardente, ao tirar o capacete. Jungkook parou em cima dele e cutucou sua bochecha esquerda.
— Você parece um mochi de cereja quando seu rosto fica vermelho.
Jungkook olhou em direção à casa e fechou a expressão, odiando ter que pisar ali novamente. Todas as lembranças dolorosas que voltaram à sua mente, o fizeram querer se virar e fugir. Todos os gritos, a dor amarga, todas as noites que ele desejava poder acabar com tudo, mas sem poder.
O vidro quebrado se espalhou pelo quintal, exatamente como o vidro que havia sido quebrado contra seu corpo frágil. A respiração de Jungkook ficou instável quando ele imaginou seus pais correndo para ele com expressões de raiva.
— Kookie? Ei, vai ficar tudo bem. Eles estão na prisão, você está seguro agora. — Jimin colocou levemente a mão no ombro dele.
— Seguro... certo. — Jungkook fechou os olhos tentando relaxar sua mente, de volta a memórias dolorosas que o assustaram
Jimin lentamente tirou a mão do ombro de Jungkook e pegou a mão dele, dando um aperto leve em segurança e começou a caminhar em direção à casa. O moreno caminhava ao deu lado a cada passo temido. Uma vez na porta, ele se atrapalhou com as chaves e lentamente abriu a porta para revelar a casa suja. Nada mudou desde a última vez que os dois entraram no local.
Um pequeno sorriso apareceu nos lábios de Jungkook.
— A TV não está ligada, eles realmente não estão aqui! — Se empolgou e correu em direção ao seu quarto, ignorando o vidro que triturava sob seus sapatos.
Jimin seguiu mais cauteloso, pelo vidro quebrado ao redor do chão e alguns móveis caídos. Indo para o quarto de Jungkook, ele olhou em volta, curioso. As paredes não continham nada e sua cama estava encostada na parede mais afastada da porta. Jungkook tinha uma pequena mesa de cabeceira ao lado, curiosamente, Jimin se aproximou e pegou a mesma moldura enquanto o outro não estava olhando.
A foto era de três crianças pequenas sorrindo enquanto o mais alto, obviamente mais velho, tinha o braço estendido como se estivesse tirando a selfie. O mais alto tinha uma aparência madura, mas ainda tinha um pouco de infantilidade no rosto, seu sorriso era impressionante na mente de Jimin. Seus dentes brilhavam intensamente e pareciam honestamente felizes ao tirar a foto.
Os outros dois pareciam alguns anos mais jovens. Eles tinham os braços entrelaçados um no outro; o mais alto dos dois tinha um sorriso quadrado e grande. O mais baixo dos três tinha bochechas gordinhas com grandes olhos de jabuticaba, cheios de juventude e inocência.
— Kookie, quem são essas pessoas? — Jimin perguntou, mostrando a Jungkook a foto.
— Hmm? — Parou de fazer as malas e foi até ele. — Aish, eu disse para você não tocar em nada.
— Me desculpe... eu não pude evitar. — Fez um biquinho.
Jungkook suspirou, tirando a foto de Jimin e a colocando no lugar de antes.
— Esse era meu irmão mais velho, Tae, e eu quando éramos mais jovens.
— Você tem um irmão?! — Se surpreendeu com a informação.
— Tinha. Eu tinha um irmão. Agora só tenho o Tae. — Deu de ombros, tentando esconder a dor que crescia em seu estômago.
— O que aconteceu com ele...? — Jimin perguntou curiosamente, olhando para a foto.
— N-nada — Jungkook gaguejou com lembranças inundando sua mente.
— Por favor, me diga, não vou contar a ninguém, eu prometo. Você pode confiar em mim.
Jungkook suspirou, mas decidiu que era melhor contar a pelo menos uma pessoa os trágicos eventos daquele dia. Ele arrastou os pés pelo chão, sentou-se na cama e olhou para o colo. Jimin sentou-se ao lado dele, olhando-o tristemente.
— Bem... como você sabe, meus pais são abusivos. — Jimin assentiu lentamente. — Foi minha culpa. Eu não queria ir para casa, estava com medo de me machucar novamente. Meu irmão, Junghyun, ele era tão carinhoso. — Jimin colocou a mão nas costas dele e a esfregou em pequenos círculos para encorajá-lo a continuar e confortá-lo. — Sempre que meus pais ficavam bêbados, ele tomava a maior parte do espancamento para me salvar. Ele era o melhor irmão que alguém poderia pedir, mas naquele dia, meus pais se enfureceram. E quando cheguei em casa... e-era tarde demais. — Ficou emocionado com suas próprias palavras.
— Kookie... — Jimin o puxou em sua direção e o envolveu em um abraço carinhoso. — Você não precisa continuar se for muito difícil.
Jungkook apenas balançou a cabeça.
— Havia sangue em todo lugar e eles ficavam dizendo que eu o matei, meu único irmão. — Jungkook começou a chorar e escondeu o rosto no peito de Jimin. — Eles me jogaram no meu quarto e ele estava deitado no chão. Ele não estava se mexendo. Meu hyung, ele não voltaria. Eu implorei e ele...
Lágrimas cresceram nos olhos de Jimin ao ouvir a dolorosa história do mais novo e o segurou mais perto.
— Eu queria salvá-lo como ele sempre me salvou... Mas ele já tinha partido.
— Sinto muito, Kookie — Jimin sussurrou.
Os sons do choro de Jungkook ecoaram por toda a casa em uma chamada final de dor junto com o novo som de conforto. Um som que a casa amaldiçoada não ouvia há muitos anos.
ೃ✧
ai, que dor :((
até logo!