O Conto da Donzela do Santuár...

By VictoriaFrancoN

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Mikoto é uma miko, uma sacerdotisa de uma pequena ilha, ou era, até um estranho sonho levá-la a de repente fu... More

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By VictoriaFrancoN

Yasha não entendia o que dera errado, tivera certeza de mergulhar bem fundo no inconsciente de Mikoto e o remodelar para que não houvesse nada além do comando de obedecê-la. Como ela poderia ainda ter consciência para chorar e resistir a uma ordem sua?

E por que a pérola ainda brilhava? Não fazia sentido, Mikoto não estava usando nenhum poder sagrado. Sequer podia tirar o colar dela porque a pedra e brilhava esquentava insuportavelmente à mera aproximação de seus dedos.

De qualquer forma, a pérola não tem influência nenhuma no que me interessa agora.

Novamente Yasha segurou a cabeça de Mikoto e fechou os olhos.

Logo estava afundando dentro da parte mais oculta e íntima da psique da menina, e imediatamente percebeu que algo não estava certo.

Ali dentro estava completamente vazio, como ela deixara há meia hora, mas havia algo mais. Um pedacinho de Mikoto que de alguma forma ela deixara passar ainda permanecia ali, não mais que um fragmento de consciência que ficara para trás, mas que fora a causa da falha em matar as duas do clã Kairiku.

Não seria problema apagar aquele grãozinho, e depois Mikoto seria sua leal marionete para sempre.

Ao tentar alcançá-lo, no entanto, foi brutalmente repelida, como uma folha empurrada por uma lufada brusca, e quando tentou forçar a aproximação, sentiu-se queimar. Parecia que sua consciência estava em chamas.

Ela se afastou de Mikoto num salto.

-- O quê... Como? – balbuciou ofegante.

O que diabos fora aquilo? A sensação de queimação era parecida com a de quando aproximara a mão da pérola. Talvez ela realmente tivesse alguma influência afinal. Devia ser removida.

Ouviu um barulho ao longe, ruídos de combate. Não podiam ser as sacerdotisas, elas estavam no chão quando as deixara.

Não podia arriscar que elas interferissem ou que Akumi e Ikari voltassem ao laboratório. Yasha correu para o painel de controle da segurança e liberou todos os youkai do castelo. Isso atrasaria tanto os chefes quanto os intrusos, e daria tempo a ela para terminar o que precisava fazer. Conhecia alguns truques para apagar o que restava de Mikoto.

-- O que faz aqui, Yasha?

O susto passou num átimo ao reconhecer a voz de Ikari.

*

Não foi difícil descobrir o caminho por onde Mikoto viera, havia corpos de youkai mortos por quase todos os corredores por onde passavam, e quando não havia, Ame indicava para onde deviam seguir. Andavam devagar por causa de Haku, que se apoiava no ombro do irmão.

-- Eu o conhecia – Ame apontou para uma kitsune macho de duas caudas, morta em frente a uma porta – Ele me ensinou a me concentrar para conectar nossa mentes.

-- Então Yasha matou aliados também? Por que ela faria isso? – Sayuri pensou alto. Yukio, que andava à frente do grupo, opinou:

-- Talvez não sejam aliados agora. E se Yasha tiver decidido agir por conta própria?

-- Parece provável. Ela voltou-se contra os criadores – Takako concordou – Ter uma miko a seu lado garantiria o poder para isso.

Todos se retesaram quando um gato de pelos cor de fogo passou correndo por eles, mas lhes lançou apenas um rápido olhar antes de seguir em frente sem diminuir a velocidade.

-- Se um bakeneko nos ignorou, é porque tem algo acontecendo que é mais grave que uma invasão – Ame murmurou – Ele estava indo na direção do laboratório.

-- Deixem-me aqui e vão.

Agora todos olharam para Haku como se fosse louco.

--Nem pensar – Sayuri representou todos com essa resposta.

-- Eu só estou atrasando vocês. Irão chegar mais rápido se me deixarem aqui.

-- À mercê de todo tipo de youkai que pode ou não passar direto por você? Não. Fora de cogitação – Takako estava decidida. Haku ainda tentou argumentar:

-- Mas Mikoto...

-- Ela não ia querer que você fosse abandonado – respondeu Yukio.

-- Tive uma ideia – Ame se pronunciou. Ele ficou de costas para Haku e dobrou os joelhos – Suba nas minhas costas.

Com a força de Ame, foi muito fácil carregar Haku, e dessa forma o grupo avançou muito mais depressa.

Ainda precisaram parar uma ou duas vezes para enfrentar um kamaitachi ou tengu que aparecesse, e quase esbarraram em um mujina, mas felizmente ele estava de costas quando o encontraram, e Ame os levou por outro caminho para longe dele.

-- Estamos quase lá – anunciou. Se aproximavam do laboratório.

-- Ponha-me no chão, você pode precisar lutar – Haku pediu quando chegaram à porta de madeira pesada.

-- Tem algo acontecendo lá dentro. Estão ouvindo? – Sayuri quase encostava o ouvido na porta – Acho que tem gente brigando. Ou youkai.

Ame e Yukio abriram uma fresta na porta e espiaram o interior do laboratório. Ouviram vozes entrecortadas e ofegantes, seguidos pelo baque de uma mesa e tudo sobre ela sendo jogados no chão. Então os autores do barulho se fizeram visíveis: Yasha e um homem de jaleco branco e cabelo negro acinzentado.

-- Ikari-sama – Ame balbuciou em um sussurro assustado.

Yasha pulou sobre o homem com a selvageria de um animal e os dois rolaram pelo chão. Ikari podia parecer velho, mas tinha uma força equiparável à da mulher, e acertou um chute em seu peito que a arremessou três metros para trás.

-- Estão vendo Mikoto? – Takako perguntou às costas dos dois rapazes.

-- Não.

-- Ela deve estar nos fundos do laboratório – Ame supôs.

-- Mas como vamos chegar a ela?

Nesse momento Ikari olhou para a porta. Yukio e Ame se esconderam atrás dela imediatamente, com certeza tinham sido vistos.

Sayuri olhou pela fresta. O homem ainda dirigia sua atenção a Yasha, quando de repente ele ficou de quatro no chão, seu corpo começou a se contrair e encolher. As roupas desapareceram e deram lugar a pelos da mesma cor que seu cabelo, duas orelhas compridas despontaram na cabeça e duas caudas na base da coluna.

O homem se fora, agora era um nekomata que estava diante de Yasha, mas ela não se intimidou com sua forma felina do tamanho de um tigre.

O gato youkai abriu a boca e uma bola de fogo azul voou contra Yasha. Ela se esquivou e Ikari jogou-se em seu peito, arranhando tudo que suas patas alcançassem. Yasha o empurrou e ele aterrissou de pé com suavidade, para correr dela em seguida e desaparecer entre as mesas e estantes.

-- Aonde ele vai? – Takako espiava por cima do ombro da prima. Yasha o seguiu e perdeu-se de vista também.

-- Ele a atraiu para longe de nós? – Yukio ergueu as sobrancelhas, esperançoso. Haku o encarou com descrença, mas Ame concordou.

-- Ikari nos viu, mas não fez nada. Deve ter me reconhecido, e levou Yasha para outra parte do laboratório, para nós entrarmos.

-- Se foi isso ou não, não importa. Vamos aproveitar – Sayuri escancarou a porta e entrou.

Os outros precisaram suprimir o choque para segui-la, e passaram por móveis quebrados, revirados ou cheios de frascos e instrumentos cirúrgicos de aparência tão sinistra que sentiram medo de saber para que serviriam.

Ame sabia exatamente o que estava procurando, em pouco tempo chegou aos fundos do laboratório.

-- Mikoto! – Takako caiu de joelhos em frente a ela e sacudiu seus ombros – Acorde. Abra os olhos!

A menina não teve nenhuma reação.

-- O que há com ela? – Sayuri também se agachou junto da prima.

-- Yasha a adormeceu para mexer com a memória dela – Yukio, Ame e Haku viraram-se num salto para encarar Ikari, ainda em forma de gato. Mesmo sob a mira de armas de fogo, ele manteve-se impassível – Não temos muito tempo até Yasha voltar, se quiserem sua amiga acordada, vão precisar de mim.

-- Não confiamos em youkai – Yukio falou com desprezo. O nekomata revirou os olhos amarelos fantasmagóricos.

-- Claro que não, por isso tivemos tanto trabalho fazendo humanos – apontou com a pata para Haku e Ame – E por mais que eu não simpatize nem um pouco com o clã Kairiku, no momento preciso de vocês para conter a ameaça de Yasha, e o método mais eficiente é acordar Mikoto.

-- Você sabe como? – indagou Sayuri.

-- Sim. Encontrei Yasha trabalhando nela, para terminar de limpar sua mente e apagar por definitivo sua consciência, mas percebi que falhou, e essa estranha pérola azul brilhava, e continua até agora.

"O poder da pérola está ativado, acredito que para proteger a consciência de Mikoto da invasão de Yasha. Para que ela acorde, alguém deve fazer o que Yasha fez, mergulhar em seu inconsciente e trazê-lo de volta, e deve ser uma de vocês".

Agora a pata dele apontava para Takako e Sayuri.

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