Lord Christian Grey

بواسطة Fanfc348

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PODERIA ELA DERROTAR A ESCURIDÃO E TRAZÊ-LO DE VOLTA À VIDA? Lorde Christian Grey voltara da guerra com o ros... المزيد

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21

Capítulo 18

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بواسطة Fanfc348

— A culpa é sua, bem sabe disso — Christian fitou com olhar severo a custosa lápide funerária de mármore que fora erguida sobre a campa de seu avô, no pátio da igreja de St. Owen. — O senhor encheu a cabeça de Anastasia com todas aquelas bobagens sentimentais a meu respeito. E agora ela deve achar-se na obrigação de cumprir os últimos desejos de seu amigo, e por isso persiste no noivado.

Os últimos raios do sol de outono escondiam-se no poente, entre o avermelhado a oeste e matizes de púrpura, o azul-escuro e o negro aveludado a leste. A ausência de nuvens permitiria que Christian se entretivesse, mais tarde, com o seu telescópio.

A brisa mais forte — um pequeno aviso das noites frias que se avizinhavam — farfalhava entre as gramíneas e os ramos das árvores. O som lembrou a Christian a voz do avô em uma gentil reprimenda.

Nem mesmo isso ele quis ouvir.

— Foi o senhor quem disse que eu não deveria casar-me com Anastasia, se fosse para comprometer-lhe a felicidade. Pelo menos nisso o senhor estava certo. Agora eu o entendo. Mas como poderei dissuadi-la de continuar com esse noivado?

Como?

Anastasia recusara-se de maneira definitiva a ir para Londres ou para Brighton ou para qualquer lugar que Christian sugerira. Em vez disso, instalara-se na aldeia, para grande consternação de lorde e lady Bulwick, em um dos chalés que o conde deixara para ela.

Freqüentava Helmhurst várias noites por semana e Christian não pensava em impedi-la de vir, com receio de causar escândalo. No começo, recusara-se a admitir a ansiedade com que esperava as visitas. Recentemente, antecipava-as até com desespero.

Anastasia parecia ter herdado, além dos bens materiais, a persistência calma e obstinada do falecido conde. Aos poucos e sem pressa, ela começava a vencer a firme resolução de Christian. Se ele não encontrasse logo uma maneira de fazer Anastasia desistir de seu intento, acabaria cedendo a um momento de fraqueza, como já acontecera uma vez.

Com resultados igualmente desastrosos.

— Nem sei por que venho até aqui — Christian resmungou para si mesmo, afastando-se do túmulo. — O senhor não me ajudou nem mesmo quando estava vivo, seu velho intrometido.

— Olá! — o vigário chamou da entrada da igreja. — Quem está aí?

— Sou eu. — Christian caminhou a passos largos em direção à luz que se derramava pela porta aberta de St. Owen. Recusava-se a admitir que estava ansioso por uma companhia. — Vim ver se a lápide do sepulcro de meu avô valeu o dinheiro que foi gasto. Não gostaria de ir a Helmhurst para uma partida de xadrez?

— Ficarei encantado de aceitar sua hospitalidade. — O vigário mostrou-se feliz pelo convite. — Eu estava mesmo aborrecido de ir para casa e ter de enfrentar uma

lareira fria. Minha governanta teve de ausentar-se por uns dias, por motivo de doença na família.

Enquanto o sr. Michaeljohn assoprava as velas do candelabro e fechava a igreja, Christian não resistiu à idéia de provocá-lo.

— Nathan, está na hora de pensar em uma esposa. Assim não terá de ficar refém dos caprichos das governantas e de suas famílias. Não será difícil encontrar uma boa moça, se resolver aceitar a idéia. Aposto como qualquer jovem solteira da paróquia aceitaria seu pedido na maior felicidade.

O vigário desceu os degraus, e os dois homens encaminharam-se em direção a Helmhurst.

— Talvez milorde esteja certo — o sacerdote respondeu com tristeza, como se Christian lhe sugerisse o trabalho missionário em uma tribo de canibais. — Um homem com o meu cargo deve ser mesmo prático em determinadas coisas.

Christian lamentou a própria falta de consideração.

— Nathan, nenhum homem pode permitir-se ser escravo de fantasias românticas. E elas não podem fazer parte do casamento, que é um passo muito importante.

— É fácil falar. — O vigário deixou escapar um longo suspiro. — Quando a mulher a quem se ama está ao alcance das mãos.

De repente, a resposta ao problema de ambos apareceu na mente de Christian com uma clareza extraordinária.

— A jovem que o senhor ama está ao alcance de "suas" mãos. — Christian esforçou-se muito para afirmar o que lhe parecia evidente. — E o senhor, das mãos dela.

— A jovem que eu amo? Deve estar havendo algum mal-entendido. Perdoe-me. Tenho de aprender a segurar minha língua.

— Nada disso. O senhor fez bem em falar. E não houve nenhum engano. Assim que o conheci, notei que estava apaixonado pela srta. Steele.

— Eu... eu não sei o que dizer. — O pobre camarada não negou a verdade. — Eu lhe juro, milorde, nunca dei à srta. Steele a menor demonstração dos meus sentimentos, nem pensei em afastá-la do senhor.

O vigário era um homem muito melhor do que ele!, Christian refletiu. Por que não tivera o juízo e a honra de encorajar um enlace entre Anastasia e o sr. Michaeljohn, quando o avô levantara a questão da primeira vez? Talvez ainda houvesse tempo para consertar o erro.

— Sei disso, vigário. Mas para o bem de todos nós, seria muito bom que o tivesse feito.

O pastor encarou-o, horrorizado.

— O senhor perdeu o juízo, Grey? Isto é, milorde. Quer que eu diga à srta. Steele como me sinto, depois da minha luta para esquecê-la? Quer que eu corteje a "sua" noiva? Nunca ouvi nada tão contrário ao senso comum.

— Receio que toda a situação seja grotesca.

E, assim, Christian começou a explicar como ele e Anastasia haviam chegado ao presente impasse, enquanto o vigário caminhava a seu lado no mais absoluto silêncio. Todavia lorde Grey absteve-se de revelar a verdade sobre o que ocorrera na noite da morte do avô e sobre seus sentimentos em relação à noiva.

— Claro que eu gostaria de atendê-lo, milorde, tanto pelo senhor... quanto por mim. — Perplexo, o vigário sacudiu a cabeça. — Mas cortejar uma jovem comprometida com outro homem? Impossível. Seria uma desonra. Eu não poderia fazê-lo.

— Como pode ser desonroso, se eu é que estou lhe pedindo isso? Qualquer pessoa sensata pode enxergar que

o senhor tem uma probabilidade muito maior do que a minha de fazer a srta. Steele feliz. Está em seu poder evitar que tornemos nossas vidas miseráveis.

Christian foi preso por uma sensação abominável de vergonha. Seria dessa maneira que o demônio armava seus estratagemas? Tentava as pessoas com argumentações persuasivas para induzi-las a concretizar desejos secretos que sabiam ser errôneos?

Aquele era um dos dias em que se sentia realmente disposta a romper com Christian Grey, Anastasia cismava no jardim de seu chalé.

Na verdade, ele nada dissera ou fizera de censurável, e até mesmo parecia aceitar as visitas que ela lhe fazia. Embora continuasse a tratá-la com a cortesia distante e devida a conhecidos de pouca intimidade, Anastasia detectara laivos de emoção nos olhos e na voz de Christian. O que fora suficiente para convencê-la de que uma boa parte da indiferença era fingida.

Carregando uma cesta, Anastasia deu a volta no pequeno jardim murado para colher cravos, petúnias e margaridas. Depois faria delicados buquês para levar a seus amigos que estavam acamados.

Havia alguns meses, a sua vida atual teria sido mais do que satisfatória. Tinha independência, um lar exclusivamente seu e podia dar assistência às pessoas que dela necessitavam. Parecia-lhe ingratidão desejar mais alguma coisa.

Entretanto não podia enganar a si mesma. Ela desejava Christian.

Queria passear com ele no jardim, sob o luar. Tinha necessidade de aconchegar-se em seus braços e apreciar

as estrelas. Ansiava por partilhar de seu leito e receber seus carinhos.

— Um belo dia, não é mesmo, srta. Steele?

A saudação alegre do vigário afastou-a de seus sonhos e, contrafeita, Anastasia remexeu na cesta de flores.

— É verdade. — Anastasia levou uma mão ao rosto, em uma tentativa vã de esconder o rubor. — Está bem quente.

O sr. Michaeljohn, parado na entrada, admirava as flores de outono.

— Posso fazer-lhe companhia?

Embora a presença do pastor não lhe agradasse de todo, ela abriu o portão.

— Claro! Mas que indelicadeza a minha não tê-lo convidado de imediato.

O vigário entrou, olhou em volta, colheu uma petúnia amarela e cheirou-a.

— Engraçado, não é? As flores de outono são coloridas e lindas, mas não têm o perfume das que florescem na primavera e no verão.

Exatamente como o sr. Michaeljohn, Anastasia pensou e repreendeu-se em seguida pela idéia.

— O se... senhor está certo. Eu nunca reparei nisso. O vigário era uma pessoa agradável, correta, além de ser considerado um homem bonito. Mas, na opinião de Anastasia, faltava-lhe algo tênue e vital, como a fragrância de uma flor.

O vigário teria passado por ali ao acaso ou viera tratar de um assunto específico?

— Então — ele falou depois de um silêncio embaraçoso. — A senhorita está gostando de morar na aldeia?

— Muito. — Anastasia continuou a colher flores. — A sra. libbs veio de Netherstowe para fazer os serviços de casa.

Ela mesma se surpreendera com o oferecimento e ficara

indecisa em aceitar, por causa do antagonismo de Tibby contra Christian. Anastasia deixara bem claro que não toleraria críticas a seu noivo, e Tibby resolvera calar seus pareceres.

— Perdão pelo que vou lhe dizer, srta. Steele — ele fitou o chalé muito arrumado —, mas parece um pouco estranho ficar aqui sozinha, sendo que dentro em breve tornar-se-á a senhora de Helmhurst.

Anastasia estremeceu. Por antecipação ou desalento? Christian acabaria por ceder ou prolongaria o noivado indefinidamente, com intenção de vencê-la pelo cansaço?

— Pois para mim, sr. Michaeljohn, parece perfeitamente normal. Eu vivi em Netherstowe desde criança e por caridade de lorde e lady Bulwick. A herança generosa do conde deu-me a oportunidade de exercer minha independência. E eu quero aproveitá-la, nem que seja por pouco tempo.

O vigário anuiu, como se entendesse.

— A senhorita está mesmo resolvida a casar-se com milorde, apesar da mudança das circunstâncias?

— O que o senhor está querendo dizer?

— Eu... tive a impressão... e perdoe-me se estiver enganado... que a senhorita e lorde Grey ficaram noivos... para agradar ao falecido conde.

Não era preciso esconder a verdade, mas desagradou-lhe confirmar as suspeitas do pároco.

— Foi assim mesmo que tudo começou.

A admissão desatrelou a língua do reverendo, o que deixou Anastasia atônita... e desanimada.

— Nesse caso, tenho algo para dizer-lhe, enquanto ainda é tempo. Acredite, tenho criticado a mim mesmo por não ter falado antes. Se eu suspeitasse das intenções matrimoniais de lorde Grey, teria vencido minha relutância

e revelado à senhorita meus sentimentos a seu respeito.

Sentimentos? Por ela?

Anastasia não notou que deixava escorregar a cesta das mãos.

— Por favor, sr. Michaeljohn, não diga mais nada, eu lhe peço. O senhor tem sido muito bom amigo tanto para mim quanto para milorde. Eu odiaria ter de cortar essa amizade.

Sem atender ao pedido de Anastasia, o vigário aproximou-se e agarrou-lhe uma das mãos.

— Embora eu devesse lhe obedecer, srta. Steele, não posso calar-me. Há muito tenho a impressão de que milorde não a valoriza como deveria. Se a senhorita o aceitou devido à afeição que nutria pelo falecido conde, ninguém poderá criticá-la por mudar de idéia com a mudança da situação.

Embora para um observador casual pudesse parecer que Christian não a "valorizava", a verdade era outra. Olhares descuidados, abraços impulsivos e uma ou outra confidência haviam-na convencido de que Christian ocultava mais do que ternura por ela. Ou será que teria superestimado algumas indiscrições vazias para convencer a si mesma daquilo em que queria acreditar?

O pároco tomou o silêncio por um encorajamento e continuou.

— Minha querida srta. Steele, durante o tempo em que nos conhecemos, sempre tive a mais sincera admiração e respeito pela senhorita. O calor da compaixão que demonstra pelos necessitados convenceu-me de que a senhorita seria uma parceira perfeita para o meu trabalho. Eu jamais me perdoaria se a deixasse casar com milorde,

pela crença infundada de que nenhum homem haveria de desejá-la como esposa.

— Sr. Michaeljohn! — Anastasia arrancou a mão das dele e afastou-se. — Pensei que o senhor se considerasse amigo de milorde. Que amizade é essa que permite cortejar-lhe a noiva às escondidas?

O pároco estremeceu com a reprimenda e ficou muito vermelho.

— Foi exatamente essa consideração que me manteve em silêncio até agora. Se eu estivesse convencido de que milorde gosta da senhorita tanto quanto eu, jamais teria quebrado esse silêncio.

As esperanças de Anastasia espatifaram-se no chão, juntamente com as flores.

— Christian disse-lhe que não me amava?

O pastor franziu a testa e deixou transparecer a pouca vontade de confessar-se.

— Eu tenho olhos — ele murmurou depois de uma hesitação, parafraseando uma passagem da Bíblia — e vejo com eles.

Anastasia gostaria de odiá-lo pelo que acabava de escutar e por ele se achar no direito de alimentar expectativas românticas em relação a quem não as retribuía. Mas como culpar o pobre homem, considerando os próprios sentimentos não correspondidos por Christian?

— Seja como for — Anastasia lutou para manter uma calma pelo menos aparente —, não tenho a menor intenção de encorajá-lo a dispensar-me nenhum tipo de atenção romântica. Seria uma falta de caridade de minha parte fazê-lo pensar de outra maneira.

— Talvez a minha declaração súbita pode tê-la surpreendido — ele sugeriu, esperançoso. — A senhorita pode

refletir sobre o que eu lhe disse e analisar como se sente a respeito.

— Na verdade, foi uma enorme surpresa. — Anastasia sacudiu a cabeça. — Mas isso não altera em nada o que sinto. Eu o admiro e acho sua companhia agradável. Mas é só.

O vigário torceu a boca.

— Entendi.

O pobre homem parecia tão mortificado que Anastasia gostaria, do fundo do coração, poder encorajá-lo. Embora admitisse que o sr. Michaeljohn estava certo em um pormenor significativo. Ela seria uma esposa muito mais adequada para um vigário local do que para um membro da Câmara dos Lordes.

— Sinto muito não poder dar-lhe a resposta que o senhor deseja. — Anastasia começou a apanhar as flores espalhadas. — Agora seria melhor que se retirasse.

O sr. Michaeljohn fez um aceno desanimado de cabeça e saiu pelo portão. Ao vê-lo caminhar de volta ao vicariato, Anastasia teve vontade de correr atrás dele.

Se o sr. Michaeljohn tivesse feito o pedido um dia antes da proposta de Christian, ela teria não somente aceitado, mas também ter-se-ia dado por feliz de ter merecido a atenção dele. Teria se conformado com um casamento sem amor, como fizera com a vida de subserviência em Netherstowe.

Mas depois de Christian tê-la feito acreditar que ela era merecedora de uma vida bem mais condigna, será que não lhe seria destinado mais nenhum minuto de satisfação?

— Então, como é que foi? — Christian nem precisaria ter Perguntado.

Bastava olhar a expressão desconsolada de Michael-

john e seus ombros caídos, para ter a certeza do fracasso de sua entrevista com a srta. Steele. Lorde Grey evitou entregar-se à faísca de satisfação traidora que ameaçava incendiá-lo. Lembrou a si mesmo, com severidade, que teria de desejar que o sacerdote fosse bem-sucedido em sua tentativa de cortejar Anastasia.

— Um desastre! — Com um suspiro profundo e por si só eloqüente, Michaeljohn deixou-se cair na cadeira que ocupava habitualmente, do lado oposto de Christian, junto ao tabuleiro de xadrez. — Ela me admira e acha a minha companhia agradável. Mas é só.

— Não se desespere. Não foi um início tão ruim. — No dia em que fizera a proposta do noivado fictício para Anastasia, ela nem dissera admirá-lo e muito menos afirmara ser a companhia dele agradável. — Esse tipo de abordagem requer estratégia e paciência. Como uma boa partida de xadrez. Vamos tomar uma dose de conhaque. Depois poderá contar-me tudo o que foi dito entre ambos. Assim poderemos planejar nosso próximo passo.

— Pois eu lhe digo que não haverá "próximo passo". — O vigário levantou a dama branca e bateu no rei igualmente branco. — Já fui empurrado para fora do jogo. Levei um xeque-mate. A srta. Steele disse que não encorajaria minhas atenções românticas. E ela falava sério. Nunca a vi tão determinada.

— Eu já — Christian resmungou ao despejar uma quantidade liberal de conhaque no cálice de Michaeljohn e sem querer investigar a causa do próprio sorriso de satisfação que ocultou por estar de costas. — Afinal a srta. Steele não esperava por isso. Ela precisa de um pouco de tempo para acostumar-se com a idéia de aceitá-lo como pretendente.

— Foi o que pensei a princípio. — Michaeljohn aceitou

o cálice oferecido por Christian e tomou um gole generoso.

— Mas a srta. Steele assegurou categoricamente sua posição.

Entre as pausas para tomar o drinque, o sacerdote repetiu tudo o que pôde lembrar-se da conversa que tivera com Anastasia. Quando terminou, Christian sacudiu a cabeça e revirou os olhos.

— Admiração sincera e respeito? — Christian repetiu as palavras do pároco. — O senhor disse isso mesmo? Não me causa surpresa que a srta. Steele não o tenha encorajado! E aquela história de achar que ela seria uma parceira ideal na paróquia... Ora, ora, o senhor deve dar-se por feliz. Ela poderia ter-lhe atirado o sapato na cabeça!

— Eu lhe disse que seria uma má idéia, milorde. — O vigário estendeu o cálice vazio. — Por acaso eu entendo como fazer a corte para uma mulher? Milorde deve saber que esse tipo de matéria não é exatamente o que se ministra no seminário.

— Creio que o senhor andou lendo partes equivocadas da Bíblia. — Christian tornou a servir a bebida, dessa vez com maior parcimônia. — Por exemplo, por que não começar pelo Cântico dos Cânticos? "Levanta-te, meu amor, apressa-te e vem." — Christian imaginou-se declamando as palavras poéticas para Anastasia e continuou com paixão.

— "O como és formosa, amiga minha, como és bela! Os teus olhos são como os das pombas, sem falar no que está escondido dentro. Os teus lábios são como uma fita es-carlate, e o teu falar, doce. Assim como é o vermelho da romã partida, assim é o nácar das tuas faces, sem falar no que está escondido dentro."

O vigário fitou-o, horrorizado.

— O senhor ficou maluco, milorde? Não posso dizer essas coisas para a srta. Steele. Deus do céu, nem mesmo ouso pensar nelas!

Bem, talvez o bom pároco não fosse um pretendente tão adequado para Anastasia, apesar de ser um homem bonito. Mas Christian tratou de esquecer a idéia bem depressa.

— Bobagem! O senhor precisa apenas de um pouco de prática.

— E como consegui-la? — Michaeljohn apoiou o queixo na palma da mão. — Já lhe contei toda a conversa, inclusive o que a srta. Steele disse. Ela não iria gostar de ver-me todos os dias na porta de seu chalé com novas tentativas, até uma delas dar certo.

— É, acho que não. — Christian ajeitou-se na cadeira e empurrou o peão duas casas à frente. — Vamos jogar um pouco. Isso me ajudará a pensar.

— Somente se milorde prometer não me deixar vencer.

— O vigário levantou o rei que derrubara. — Isso é mais humilhante do que perder de verdade.

— Se insiste. — Christian tomou um gole do conhaque.

— O senhor melhorou muito ultimamente. Achei que um pouco de estímulo fosse bem-vindo.

Michaeljohn deslocou o peão para a frente.

— Obrigado. Mas preciso aprender com as minhas falhas. No último instante, voltou com o peão e avançou com o cavalo. Um movimento corajoso.

Talvez ainda houvesse uma esperança para o camarada!, Christian refletiu.

Provavelmente como enxadrista. Mas, e como amante?

Christian avançou o bispo para proteger o peão do ataque do cavalo do opositor. Parecia-lhe injusto, ou pelo menos irônico que estivesse explodindo com palavras carinhosas que não ousava dizer a Anastasia, enquanto o pobre vigário ansiava em conquistá-la, sem encontrar os termos certos para expressar-se.

— É isso! — O alcance da idéia o fez pular da cadeira e correr até a escrivaninha do avô.

Christian quase derrubou o tinteiro na pressa de tirar a tampa. Por sorte, encontrou uma pena com a ponta bem afiada, senão acabaria cortando um dedo em sua aflição de fazer a ponta.

— O que é isso? — o vigário perguntou a Christian, que escrevia como um possuído.

Lorde Grey não respondeu e continuou a rabiscar no papel frases que lhe ocorriam com uma rapidez que a pena não conseguia acompanhar.

Anjo da minha vida... O coração de Christian batia no mesmo ritmo em que as palavras eram escritas. E, até ali aprisionadas, elas ganhavam liberdade. Tenha misericórdia de um homem que a adora, mas não pode falar desse amor. Eu não lhe peço mais nada, a não ser que leia minhas palavras para saber quanto é amada.

Christian continuou a escrever até encher duas páginas. E foi acometido do mesmo senso de libertação tão poderoso quanto o clímax do êxtase físico. Podia fazer amor com Anastasia usando as palavras. Ela ficaria com a pulsação acelerada, enrubesceria, daria um suspiro e teria despertadas as paixões de sua feminilidade.

Alegrou-se por realizar a proeza de maneira segura. Por procuração. E pouco lhe importava se Anastasia creditasse os louros ao vigário e viesse a gostar dele.

Embora a senhorita jamais possa ser minha, Christian concluiu, saboreando cada sílaba, eu sempre serei seu.

Enquanto a tinta secava, Christian recostou-se na cadeira, sem energia, mas aliviado. Conseguira desabafar a pressão explosiva que vinha aumentando dentro dele.

Dali a pouco, levantou-se, pegou as folhas e entregou-as ao vigário.

— O que devo fazer com isso? — Michaeljohn franziu a testa até as sobrancelhas loiras se juntarem pela curiosidade. Tentou decifrar o que lorde Grey escrevera.

— Volte para o vicariato. — Christian terminou de tomar o conhaque. — Copie tudo com a sua letra e amanhã cedo leve a transcrição para a srta. Steele. Não diga nada e muito menos dê explicações. Apenas entregue a carta e vá embora.

O vigário começou a ler e sacudiu a cabeça antes de terminar a primeira página.

— Eu não posso...

— Mas gosta dela, não gosta? — Christian fitou o outro com intensidade.

Deixara seus sentimentos mais profundos impressos no papel e Anastasia precisava ler tudo aquilo.

A luta entre a incerteza quanto à correção do plano e a vontade de executar o que milorde lhe ordenava ficou visível no rosto expressivo do vigário. Relutante, ele acenou a concordância com um gesto de cabeça.

— Ótimo — Christian suspirou fundo. — Então, faça o que lhe pedi.

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