Lord Christian Grey

By Fanfc348

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PODERIA ELA DERROTAR A ESCURIDÃO E TRAZÊ-LO DE VOLTA À VIDA? Lorde Christian Grey voltara da guerra com o ros... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21

Capítulo 10

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By Fanfc348


— Não me lembro de ter visto um homem mudar para melhor em tão pouco tempo — o conde murmurou as palavras que foram um eco dos pensamentos de Anastasia.

Os dois estavam sentados à uma mesinha em um dos cantos da biblioteca, endereçando convites para o baile. No outro lado, lorde Grey e o vigário entretinham-se em uma partida de xadrez.

— Mudar talvez não seja a palavra certa — o conde corrigiu a si mesmo em voz baixa, para não ser ouvido pelo neto. — Voltar ao que era antes seria o mais correto. A sua influência sobre ele, minha querida, tem sido muito mais benéfica do que eu poderia imaginar que seria.

Anastasia continuou com a cabeça abaixada sobre o que estava escrevendo, para que o conde não pudesse adivinhar-lhe a dúvida no olhar. Ela sabia muito bem que não fora por sua influência e nem em seu benefício que lorde Grey fizera um esforço para mostrar-se mais sociável.

Mas que ele se esforçara, não restava a menor dúvida.

Anastasia vira os olhares e escutara os sussurros naquela primeira manhã em St. Owen. Embora Christian Grey houvesse escondido os sentimentos com a habilidade costumeira, ela pudera entender a profundidade da aversão de milorde por estar servindo de espetáculo. Muitas vezes

ela mesma passara por situações semelhantes em idade mais jovem. Quando cometia algum erro, não faltavam olhares e cochichos desaprovativos.

Depois daquela manhã, ela nem mesmo teria culpado lorde Grey se ele retornasse ao interior da concha protetora, pronto para ferroar quem ousasse penetrá-la.

Anastasia passou a admirá-lo por ele ter enfrentado a realidade.

Aos poucos, lorde Grey começara a envolver-se no pequeno mundo de Grafton Renforth. Comparecia à igreja regularmente e até estivera presente na pequena festa de despedida de Miles.

O conde fitou os dois homens curvados.

— Ele parece ter-se afeiçoado ao vigário, o que muito me surpreende.

Anastasia considerou que o contraste entre ambos, o vigário loiro e milorde moreno, era como o rei branco e o negro do jogo.

— Eles têm a mesma idade — ela comentou — e muitos interesses em comum. Não vejo por que não poderiam ser amigos.

Contudo aquela não era uma verdade. Apesar de o sr. Michaeljohn haver-se tornado um visitante habitual em Helmhurst, Anastasia não estava convencida de que lorde Grey realmente gostasse da companhia do vigário. Era bem possível que milorde estivesse preocupado com um futuro próximo, quando o avô fosse precisar do conforto de um religioso.

— Não se sente bem, minha querida? Ficou tão pálida de repente.

— Apenas um pouco cansada da nossa viagem a Londres — Anastasia sorriu para tranqüilizá-lo.

Nas últimas semanas, ela se convencera de que a saúde

Do conde melhorara. Essa esperança tornava-lhe possível visitar Helmhurst sem trair nenhum sinal de pesar ou preocupação. Animada, partilhava dos projetos ansiosos do conde para o baile, o que o deixava muito satisfeito.

Contudo Anastasia estava consciente de que suas fantasias róseas eram frágeis e não poderiam sustentar-se.

Volta e meia, a verdade, na forma de uma tosse cavernosa ou de uma expressão de dor, rompia suas ilusões. Era um lembrete de que o futuro sobre o qual o conde e ela falavam com freqüência talvez não o incluísse.

E quando se esgotasse o prazo, abrir-se-iam fendas em seu coração, como acontecia naquele momento.

— Cansada, minha querida? — O conde mirou o relógio de pedestal. — Não é para menos. Veja que horas são. O resto dos convites pode esperar até amanhã. Christian, meu filho — ele chamou o neto —, é preciso levar Anastasia para casa. Creio que a deixei exausta com os preparativos para o baile. Tornei-me tão amolante como uma criança com um brinquedo novo.

— De jeito nenhum — Anastasia protestou. — Milorde sabe que, para mim, os preparativos têm sido tão prazerosos quanto para o senhor. Por favor, cavalheiros, não interrompam seu jogo.

O vigário sacudiu a cabeça.

— Na verdade, posso considerar-me derrotado. É somente uma questão de tempo até lorde Grey chegar ao xeque-mate. E eu que pensava vencer esta noite. Minha posição parecia promissora até agora há pouco.

— O senhor é um oponente valoroso, vigário. — Lorde Grey moveu um de seus peões e tirou uma peça branca do tabuleiro. — E um excelente tático. Xeque!

— Acho que não sou adversário digno de um estrategista do seu calibre. — O sr. Michaeljohn contemplou sua

posição enfraquecida com um meneio desaleintador de cabeça, antes de avançar com uma de suas peças restantes. — Netherstowe fica no caminho para o vicariato. Como recompensa por ter perdido o jogo, terei o maior prazer de levar a srta. Steele para casa.

Anastasia não demonstrou o desapontamento que a atingiu. O vigário era uma pessoa excelente. Bondoso, cortês, prestativo e... muito bonito, com efeito. Mas em comparação a lorde Grey, a companhia dele era um tanto insípida, comparada à inteligência viva do barão que fazia tudo brilhar.

— Eu protesto, sr. Michaeljohn. — Lorde Grey capturou mais um dos peões do vigário. — Xeque. Se eu soubesse da penalidade pela perda, teria virado a partida a seu favor.

O barão voltou-se e fitou Anastasia com tal intensidade que deu a ela a impressão de que lhe acariciavam o pescoço. Ela foi invadida por um frémito violento, incontrolável, e desejou ter um leque à mão para poder abanar a face que sentia enrubescer.

— Espero que o senhor concorde — ele continuou com voz rouca — que a honra de escoltar a srta. Steele é um prémio que deveria tocar ao vencedor.

— Hum, sim. — O vigário tentou um movimento e voltou atrás. — O senhor tem razão. — Adiantou uma peça diferente. — Xeque!

Lorde Grey desviou o olhar de Anastasia com um fingimento convincente de pesar que despertou nela uma mágoa genuína. Analisou o tabuleiro por um momento e levantou uma peça com o dedo indicador e o médio. De longe, pareceu a Anastasia ser um cavalo.

Lorde Grey, sem pressa, deixou a peça sobre outra casa.

— Xeque-mate. — Ele estendeu a mão. — Obrigado por esta partida emocionante, sr. Michaeljohn.

— O prazer foi meu — o vigário respondeu, aceitando a derrota com elegância. — Agora, milorde, se me der licença, preciso ir para casa.

Depois de cumprimentar lorde Grey, foi até o outro lado do recinto, onde Anastasia endereçava o último convite.

— Srta Steele, como milorde ganhou a honra de levá-la de volta a Netherstowe, deverei passar na casa do sr. e da sra. Shaw?

Anastasia experimentou um mal-estar de culpa, embora tivesse certeza de que o comentário do sr. Michaeljohn não fora intencional. Ela estivera tão ansiosa por outro convite de lorde Grey para observar as estrelas que esquecera da pobre sra. Shaw.

— Vigário, eu lhe serei eternamente agradecida se fizer isso por mim. Não sei o que anda acontecendo com o sr. Shaw ultimamente. Ele é o mais afável dos homens quando está sóbrio.

— Shaw, o ferreiro. — Lorde Grey coçou o queixo, e seu olhar tornou-se sombrio. — Ele não serviu na artilharia, durante a guerra?

Anastasia anuiu.

—— Segundo ouvi dizer, ele e o primeiro marido da sra. Shaw serviram juntos. Na maior parte do tempo demonstra ser um homem de hábitos bastante moderados. No entanto, uma ou duas vezes por ano, ele exagera um pouco na bebida e torna-se bem desagradável. Sobretudo para a sua mulher. Quando o homem fica nesse estado, eu me preocupo com a sra. Shaw e com a criança.

— Uma situação muito triste, com certeza. — O vigário parecia perturbado e algo surpreso diante de tal comportamento. — Se eu chegar lá e o sr. Shaw estiver sóbrio,

vou me empenhar em incentivá-lo. Se o encontrar embriagado, talvez possa persuadir a sra. Shaw a refugiar-se no vicariato.

— Seria muita bondade de sua parte. — Anastasia criticou-se por haver comparado o vigário com lorde Grey, com desvantagem para o primeiro. — Espero que isso faça o sr. Shaw recuperar o bom senso.

O conde estalou a língua com intenção reprovativa.

— Minha filha, não sei se posso aprovar o seu envolvimento em uma situação tão deprimente.

— Nem eu — lorde Grey resmungou.

Aqueles comentários afligiram Anastasia bem mais do que as reprimendas escarnecedoras de sua tia. As opiniões de lorde Grey e do conde eram muito importantes para ela.

Nervosa e trémula, Anastasia ficou em pé.

— Em que situação ficaria o nosso mundo se todos pensassem assim? Se as pessoas de boa vontade jamais se envolvessem em situações deprimentes? — Ela ignorou tanto o olhar chocado do conde como o ameaçador de lorde Grey. — E se a Inglaterra nunca houvesse se envolvido com as questões do continente?

A sinceridade destemida de Anastasia emudeceu o barão e o conde. Ela dardejou um olhar fulminante na direção deles.

Com que direito o avô e o neto contestavam as pessoas que eram objeto de sua simpatia, sendo que ambos se beneficiavam dela?

— Tenho muita pena da sra. Shaw, do marido e, sobretudo, da criança. Não consigo dormir à noite quando penso no sofrimento daquela família. A única coisa que posso fazer é dar-lhes o pouco de assistência que está a meu alcance.

A consciência de Anastasia acusou-a de não estar sendo honesta. Não era justo descontar em lorde Grey e no conde as mágoas que nutria havia muito tempo contra os Bulwick. Mas o avô e o neto eram responsáveis por trazer-lhe à tona emoções que ela não ousava nomear. E também um pouco de raiva justificada não mataria ninguém.

Antes que suas emoções oprimidas pudessem correr por outros canais, Anastasia caminhou até a porta.

Sr Michaeljohn, acho que aceitarei o seu gentil oferecimento de levar-me. No caminho, podemos visitar o sr. e a sra. Shaw.

— Sim, podemos... — O vigário apontou o tabuleiro. -

Lorde Grey... a partida?

Anastasia convocou as últimas brasas de sua indignação e fitou milorde com olhar dardejante, como quem o desafiava a contrariá-la.

— No futuro, lorde Grey terá muitas oportunidades de cobrar seus ganhos.

Anastasia procurou executar uma retirada gloriosa, mas ao virar-se com ímpeto, tropeçou no carpete e quase foi ao chão. Conseguiu equilibrar-se no último instante e precipitou-se para fora da biblioteca, com o sr. Michael John correndo em seu encalço pela galeria.

Do ressentimento tolo em relação ao conde e a lorde Grey só restavam cinzas. Anastasia estava envergonhada. Em vez do encantamento de observar as estrelas durante algumas horas ao lado do barão, teria o prazer de enfrentar um bêbado detestável.

Prejudicara a si mesma para vingar-se de outrem.

— Não tenho sido censurado dessa maneira há muito — o conde comentou, bem depois da saída de Anastasia.

E o cenho franzido transformou-se em um sorriso.

— É bem interessante, não acha?

— Um balde de gelo sobre a cabeça tem o mesmo efeito, dependendo do modo de interpretar os fatos — Christian retrucou, sem tirar os olhos da porta.

Lorde Grey achou o termo "interessante" muito suave para a sensação de mergulhar em um lago no inverno.

Tivera esperança de persuadir Anastasia a fazer um desvio no caminho para Netherstowe. Quem sabe subir na torre para observar estrelas no telescópio? Naquele ano, a chuva anual de meteoros em Escorpião estava mais espetacular do que nunca.

Em suas análises astronómicas durante a noite passada, Christian havia se inspirado nos absurdos românticos de fazer um pedido para uma das estrelas cadentes.

Acabava de ver a evidência de sua tolice sentimental. Tornava-se evidente que Anastasia rejeitava a ideia de passar algumas horas da noite com ele e preferira mediar uma disputa doméstica entre o ferreiro e sua mulher. Independente de quanto ele demonstrasse querer alterar o fato.

Mais do que isso, a srta. Steele parecera ansiosa para ficar na companhia do belo e virtuoso sr. Michaeljohn. Baseado no conhecimento crítico de uma quinzena, Christian teve de reconhecer que o vigário era um camarada valoroso, tinha um caráter impoluto e possuía uma aparência excelente.

Christian não saberia dizer o que ele invejava mais.

— Ela estava certa, o que não deixa de ser vexatório.

— O conde tampou o tinteiro e fitou a pilha de convites que Anastasia terminara. — Eu não ficaria surpreso se alguém a advertisse para não se envolver com um caráter detestável como o seu, meu filho, ou com um velho encrenqueiro

e inválido como eu. Devemos agradecer às nossas estrelas da sorte pela persistência de Anastasia em pensar o melhor de todos.

Christian sacudiu a cabeça. O que fazia as pessoas imaginarem que as bolas flamejantes de gás, a milhões de quilómetros de distância, poderiam ter alguma influência sobre o destino humano? Seria porque as estrelas ficavam lá no alto, piscando, como se fossem olhos ternos de mãe que espiavam o berço de seu filho adormecido?

Ah, que ilusão extravagante! Tão tola como a de que Anastasia começava a gostar dele.

As palavras do avô trouxeram-no de volta à realidade. Anastasia gostava de todos. De ferreiros beberrões e suas esposas, de nobres doentes e de veteranos de guerra desfigurados. Assim como as estrelas lançavam seu brilho sobre pecadores e santos. Não adiantaria enganar a si mesmo. Não havia, e nem haveria, um lugar especial para ele no coração de Anastasia.

— Ainda assim, eu não gosto disso, meu filho — o conde afirmou, ao voltar para a sua poltrona predileta. Espiou a derrota do vigário ainda arrumada sobre o tabuleiro de xadrez. — Anastasia está envolvida em um jogo perigoso. A Inglaterra pagou um grande preço por meter-se nos planos de conquista do general Bonaparte.

As palavras do avô fizeram lorde Grey deduzir que possuía várias peças de informações discrepantes que poderiam criar um modelo significativo, se conseguisse organizá-las.

O conde descansou o queixo nos dedos entrelaçados.

Meu filho, pode chamar-me de velho intrometido, mas podemos conversar sobre o que aconteceu em Waterloo?

Waterloo! De repente, todos os fatos ajustavam-se em seus lugares.

— Obrigado, meu avô. — Christian encaminhou-se até a porta. — Falaremos sobre isso, eu lhe prometo, mas no momento tenho um assunto importante para resolver.

O conde acenou com expressão de entendimento... talvez maior que de Christian.

A carruagem modesta do sr. Michaeljohn ainda não alcançara a estrada principal, quando viram um pónei subindo a alameda de Helmhurst.

— Olá, vigário!

Mesmo no crepúsculo, Anastasia percebeu que era o sr. Barnes, o moleiro.

— Sim. — O sr. Michaeljohn puxou as rédeas e deteve o cavalo. — Aconteceu alguma coisa?

— É minha mulher, vigário. Teve gémeos.

Ao expressar as congratulações, Anastasia deu-se conta de que o sr. Barnes não teria vindo a Helmhurst à procura do vigário, se tudo estivesse bem com a esposa e os recém-nascidos.

— São muito pequeninos — o moleiro confirmou os receios de Anastasia. — Minha mulher está com medo de que eles morram. Quer batizá-los depressa. O senhor poderia ir até lá?

— Claro. Vou deixar a srta. Steele em casa.

O moleiro virou a montaria atarracada e voltou para a aldeia.

— Srta. Steele — o vigário reconsiderou o oferecimento —, talvez fosse melhor voltar a Helmhurst e permitir que lorde Grey a leve para casa. Sinto muito se lhes causei um desentendimento. Embora eu admire

sua natureza caritativa, não posso deixar de enaltecer o desejo de milorde em protegê-la.

Proteger?

Anastasia tratou de afastar a idéia antes de acreditar realmente nela. Entre as inúmeras razões que lorde Grey pudesse ter para desaprovar a ligação dela com os Shaw, com certeza o desejo de protegê-la não estava na lista.

— Não quero impedi-lo de batizar os bebês. Pode deixar-me na casa do sr. Shaw. É bem perto de Netherstowe. Farei uma visita rápida e depois irei para casa.

— Tem certeza? — O vigário afrouxou e estalou as rédeas, e o cavalo continuou o caminho a passo rápido. — E se o sr. Shaw estiver muito embriagado?

— Convidarei a sra. Shaw e a criança para passarem a noite em Netherstowe.

Anastasia procurou parecer mais confiante do que na verdade se sentia. Tia Hester ficaria lívida ao descobrir que a sobrinha dera abrigo aos abandonados na ausência da família. Talvez ela pudesse convencer os criados a fecharem os olhos. Somente dessa vez.

— Acho que lorde Grey não vai aprovar... — O vigário não escondia a sua reverência pelo homem de quem se tornara amigo.

A ansiedade dele acabou revivendo as brasas da irritação de Anastasia em relação a Christian.

— Se milorde censurasse a leitura da Bíblia aos sábados, o senhor aceitaria a desaprovação? Receio que a influência dele sobre o senhor seja perniciosa, vigário.

— Srta. Steele! Eu discordo. Trata-se apenas de...

— Por favor — Anastasia interrompeu-o. — Eu jamais me perdoaria se o atrasasse para a bênção daqueles pobrezinhos. Isso sem mencionar o conforto que o fato representará para a mãe.

Bem, se a senhorita está resolvida...

Anastasia estava certa de que lorde Grey não se deixaria convencer por suas desculpas ou seus protestos, em situação semelhante. Contudo a última coisa que ela desejava neste mundo era que o vigário endurecesse seu ponto de vista, pois a vacilação somente o diminuía diante de seus olhos. Era um sentimento contraditório, mas que não podia ser negado.

— Estou. Mas talvez eu tenha me preocupado à toa. O sr. Shaw pode estar sóbrio ou quem sabe terá adormecido de embriaguez e não fará ameaças a ninguém.

— Espero que tenha razão. — Apesar das dúvidas, o pastor puxou as rédeas para diminuir a marcha, quando se aproximaram da cabana dos Shaw.

Anastasia não quis dar-lhe a oportunidade de mudar de idéia. Segurou as saias e pulou do veículo, antes de este parar completamente.

— Não se preocupe, vigário. Nada acontecerá. — Ela acenou um adeus. — Obrigado por ter-me trazido e recomendações à sra. Barnes.

Seria imaginação ou teria ouvido vozes de dentro da cabana? Sem querer que o sr. Michaeljohn as escutasse, deu uma palmada no traseiro da égua. O animal saiu em um trote ligeiro.

Anastasia inalou fundo para fortalecer sua coragem e bateu na porta, que imediatamente foi aberta com uma força que a surpreendeu.

— Quem está aí? — O cheiro de gim espalhou-se ao redor.

— Anastasia Steele, sr. Shaw — ela respondeu com animação forçada. — Eu gostaria de falar com sua esposa, se for possível.

— E tem de ser justamente agora? — o ferreiro gritou esticando para a frente o queixo barbudo.

— A hora é inconveniente? — Anastasia espiou por cima do ombro dele. A sra. Shaw estava muito pálida e com o olhar arregalado. — Peço-lhe desculpas. Eu vinha voltando de Helmhurst para a casa com o vigário. Vi luzes e pensei...

— O que a senhorita quer com a nossa Lizzie? Anastasia raciocinou rápido e encontrou uma desculpa.

— Bem... O conde oferecerá um baile de máscaras daqui a duas semanas. Sei que a sua esposa é uma excelente costureira. Assim, eu esperava que ela pudesse...

— A senhorita acha que não posso cuidar de minha mulher? Que ela será obrigada a costurar?

O ferreiro deu um passo à frente, com olhar ameaçador. Embora ele fosse um pouco mais baixo do que Anastasia, seus braços eram musculosos e suas mãos enegrecidas, grandes e poderosas. Pensar na dor de um soco daquele homem forte e atarracado a fez ficar com vontade de sair correndo até Netherstowe. E pensamento idêntico a fez ficar parada, para o bem de Lizzie Shaw. Enquanto mantivesse o sr. Shaw ocupado na porta, ele não poderia atingir a esposa.

— Claro que não. — Anastasia queria que a sra. Shaw tirasse o filho da cama de rodinhas e saísse pela porta de trás, enquanto o marido estava distraído. — Na verdade, a sua esposa estaria me prestando um grande favor. Como não mando confeccionar roupas, também não conheço outras costureiras.

Anastasia preferia ser torturada a ter de admitir aquilo para qualquer pessoa de Grafton Renforth, mas o desespero para distrair o ferreiro era muito grande. A mulher pareceu ter escutado o apelo mudo de Anastasia, pois caminhou

na ponta dos pés até o leito do filho, ergueu a criança adormecida e apoiou-a no ombro.

— Tenho certeza de que o senhor é um homem próspero• — Anastasia continuou a tagarelar —, mas o conde ofereceu-se para pagar meu vestido, e alguma ajuda é sempre bem-vinda quando se trata de sustentar uma família, não é mesmo?

Na ânsia de falar sem trégua e também por medo, Anastasia acabou por erguer a voz. E a sra. Shaw, na pressa, não segurou a criança com a delicadeza que deveria.

E, como conseqüência imediata, o menino acordou e esfregou os olhos.

— Aonde vamos, mamãe?

Um instante antes de o sr. Shaw virar-se, Anastasia comprovou nele toda a fúria de um touro mal-humorado.

— Lizzie! Responda ao garoto! Para onde vai levá-lo? Aterrorizada, a mulher fitou Anastasia e o marido.

— Eu... eu...

— Ah, mas que menino lindo! — Anastasia gritou. — Ele precisa usar o urinol, não é verdade? As crianças odeiam molhar os lençóis.

O ferreiro não acatou a desculpa de Anastasia e desconfiou de uma fuga frustrada.

— Maldita seja, Lizzie! — Ele avançou na direção da esposa.

— Por favor, sr. Shaw! — Anastasia agarrou-se no braço do homem. — Não faça nada do que possa arrepender-se!

Ela sentiu alívio ao vê-lo virar-se. Nisso, viu o ódio nos olhos escuros e também... um abismo negro de sofrimento.

— A senhorita era conivente, não é? — Ele se desvencilhou e ergueu o braço.

Dividida entre o medo e a piedade, Anastasia preparou-se

para o golpe que poderia desacordá-la. Fechou os olhos, e uma questão bizarra veio-lhe à mente.

Lorde Grey teria uma máscara sobressalente para lhe emprestar? Se o ferreiro lhe acertasse o rosto, ela certamente iria precisar de uma.

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