Blue Kitty ⁽ᵐʸᵍ⁻ʲʰˢ⁾

By shooky_ronron_

81.4K 10.4K 10K

Por causa de alguns problemas na sua antiga vila, Yoongi, um híbrido, acabou sendo expulso por pessoas más. A... More

하나 - Hana
둘 - Dul
세 - Set
네 - Ne
다섯 - Daseos
여섯 - Yeoseos
일곱 - Ilgob
여덟 - Yeodeolb
아홉 - Ahob
열 - Yeol
우리 - Uli
열두 - Yeoldu
열세 -Yeolse
열네 -Yeolne
십오 - Sib-o
열 여섯 - Yeol Yeoseos
열일곱 - Yeol-Ilgob
십팔 - Sibpal
열 아홉 - Yeol Ahob
스물 - Seumul
스물 하나 - Seumul Hana
스물 둘 - Seumul Dul
스물셋 - Seumulses
스물 넷 - Seumul Nes
이십오 - Isib-o
스물 여섯 - Seumul Yeoseos
스물 일곱 - Seumul Ilgob
스물 여덟 - Seulmul Yeoldeolb
스물 아홉 - Seumul Ahob
서른 - Seoleun
서른 하나 - Seoleun Hana
서른 두 - Seoleun Dul
서른 셋 - Seoleun Ses
서른 넷 - Seoleun Nes
삼십 오 - Samsib-o
서른 여섯 - Seoleun Yeoseos (2/3)
서른 여섯 - Seoleun Yeoseos (3/3)
서른 일곱 - Seoleun Ilgob
서른 여덟 - Seoleun Yeodeolb (final)
서른 아홉 - Seumul Ahob (epílogo)

서른 여섯 - Seoleun Yeoseos (1/3)

850 88 455
By shooky_ronron_



Flashback, Min Yoongi

Ano: 1999

Idade: oito anos

Yeong-Wonhi Gamgi

A neve caía, como sempre. Eu estava com meus pais na nossa casa paupérrima, em cima das montanhas. Todos da nossa família eram híbridos de gato azul montanhês. Somente a minha tia materna, Min Eui, estava viva, além de meu pai, Min Kwan, minha mãe, Min Eun, e eu, Min Yoongi. Éramos pobres, isolados de tudo e de todos, mas éramos felizes. Tínhamos apenas a nós quatro, e vivíamos felizes assim.

-Yoongi, não suba tão alto nesse pinheiro, pode se machucar! -minha mãe me advertia, ao me ver subindo no grande pinheiro que cresceu em frente de casa.

-Ah, Eun, você se preocupa demais. Deixe-o brincar. -minha tia riu, deu um tapinha carinhoso no ombro de minha mãe e gritou para mim: -Suba mais alto, duvido que chega na copa! 

-Eu vou chegar, imo Eui! -ria alto, e subia o quanto meus braços e pernas curtos me permitiam.

-Você protege demais esse menino, Eun. Ele já deveria estar treinando seus poderes, para se defender mais tarde. -minha tia reclamou, pegando o cesto de roupas, e indo em direção ao varal, minha mãe foi atrás. 

-Eui unnie, eu não acho que ele precise. Quero dizer, olhe para ele. É tão pequeno, tão doce... treiná-lo o tornaria hostil para com os humanos. E, também, quem o faria mal? Ele não irá sair daqui, continuará vivendo aqui, ninguém irá o descobrir. Viverá em paz. -minha mãe disse, torcendo uma blusa com força.

-Eu conheço o sobrinho que tenho. Sinto que ele um dia vai querer sair. Se ele não quiser sair daqui, tudo bem, será melhor para ele. Mas você sabe bem do que estou falando. Quase não podemos usar magia ultimamente, eles estão captando qualquer sinal que possa comprovar que somos hostis para que possam nos capturar. -minha mãe revirou os olhos, e continuou a torcer as roupas, mais afastada de Eui. -Por favor, sou sua irmã mais velha. Me escute.

-Eu não vou fazer isso com o meu filho. Não quero que ele fique desconfiado de tudo como você! Estou tentando passar tranquilidade para ele, tentando dizer que está tudo bem, que eu vou proteger ele, sempre. -minha mãe jogou a roupa de volta no cesto, cruzou os braços e olhou para minha tia, visivelmente estressada.

-Você não vai poder protegê-lo para sempre, Min Eun! Um dia ele será adulto, terá seus próprios problemas, deixe-me pelo menos começar a ensiná-lo, por favor! -minha tia desenlaça os braços dela, e segura suas mãos com força. -Não ensinarei a ele poderes brutos, eu lhe prometo!

-Ensine o mais básico, apenas. -minha tia sorriu largo, e a abraçou rapidamente, mas minha mãe a empurrou de leve, sorrindo, pegou um pouco de neve e jogou nela, que riu alto. -Vamos, essas roupas não vão se estender sozinhas.

[...]

-Ah, appa, a comida tá gostosa! -sorri largo, enquanto comia o ensopado de bacalhau que meu pai tinha feito. Appa era simplesmente maravilhoso na cozinha, você poderia soltá-lo na floresta, e ele voltava com milhares de ingredientes, e fazia a melhor comida do mundo em meia hora.

-Sério, Mini Min? -sorria e despenteou meus cabelos, sorridente. Sentava-se a mesa, ao meu lado, em frente a minha mãe, e minha tia ficava ao lado dela. -Então, como foi o dia de vocês?

-Eu acho que cheguei mais alto no pinheiro! -sorri, depois de tomar um gole de água.

-Que ótimo! Amanhã quero ver você chegar lá na pontinha, filho. -ergueu a mão para um high-five, e eu bati na mão dele, que era duas vezes maior do que a minha. 

-Bem, eu terminei aquela colcha que estava fazendo há duas semanas, e brinquei um pouco na neve com Eun. -minha tia sorriu, olhando de esguelha para a minha mãe, que estufou as bochechas e deu um tapinha no ombro dela, rindo um pouco também. Resolveu tomar um pouco de água, -Nossa, encher o cabelo dela de neve foi ma-ra-vi-lho-so. - mas ela riu e a água saiu pelo seu nariz, fazendo nós todos rirmos junto.

-Omma, você virou uma cachoeira! -ri, colocando a mão na barriga.

-Tudo culpa da sua tia! -ela riu mais, tentando desesperadamente se limpar com um guardanapo, e minha tia estava simplesmente morrendo de rir. 

-Ah, como eu queria poder registrar isso! Vou fazer um desenho, mais tarde. -minha tia riu mais alto, e minha mãe arregalou os olhos.

-Em hipótese alguma, Min Eui unnie! -minha mãe ralha com ela. -Yoongi, coma, seu ensopado irá esfriar! 

-Já tá acabando, omma! -viro o pote em minha boca, depois passo a língua por meus lábios, os limpando. -Viu? Acabou! -sorrio.

-Tudo bem, vá lavar sua boca e ir dormir, amanhã você terá um dia cheio. -minha mãe falou, franzindo a testa de leve, e eu arregalei meus olhinhos.

-Jura? Com o quê? -sorri, animado.

-Não posso te dizer, vá, vá! Depois vou te dar um beijinho de boa noite. -minha mãe sorri, e eu subo a escada de mão que dava para o sótão, mais conhecido como meu quarto.

Ele era em formato de triângulo, por causa do telhado. Tinha uma única janela, e dava pra ver muitas luzinhas amarelas depois da vila em minha frente. Não conseguia entender porque ela era assim, sem vida... porque não plantavam umas margaridas? Ou, alguns pinheiros em alguns lugares... colocarem luzinhas brancas, como aquelas daquela data comemorativa... ah sim, o Natal.

-Yoongs, por que não está na cama? -ouço a voz da minha tia, e corro para a cama.

-Eu tô sim, humph. -franzo as sobrancelhas.

-Eu só queria saber o que tanto olha nessa janela, pequeno. -ela me cobre, e se senta na minha cama.

-Tem tantas luzes nas outras vilas, dá pra ver. Tem luzes amarelas naquela, luzes roxas na outra... porque a nossa é tão sombria? E tão silenciosa? -pergunto, abraçando meus joelhos.

-Tudo escolha dos humanos, ou do líder deles, não sei bem. -minha tia faz um biquinho.

-Imo Eui, mas a senhora não sabe fazer luzes? Ficaria tão bonito umas luzes brancas ou azuis, imagina! Aí teriam também umas margaridas nos jardins, alguns pinheiros bem altos espalhados... -sorri, gesticulando enquanto falava.

-Eu também acho, mas eles ficariam bravos comigo... vamos deixá-los para lá. Quer ouvir uma história? -minha tia deu um sorriso amarelo, e eu me ajeito direito nos travesseiros, assentindo. -Tudo bem, eu vou contar então... a história de um moço malvado, muuito malvado, que gostava de colocar medo em todo mundo. Se não fizessem o que ele mandava, ele brigava com as pessoas e as mandava para um lugar todo branco. Arrancavam fios de cabelos deles todos dos dias, e elas ficavam sem ar para respirar...

-Credo, imo Eui, que horrível! Ele não vai parar não? -um calafrio passou por minha coluna, e eu fiz uma careta de medo.

-Espere, eu nem acabei! Pois bem, esse moço malvado tinha um filho, e ele amava esse filho mais do que tudo. Porém esse filho, assim que começou a crescer, ele ficou mais malvado do que o pai, e começou a capturar até mesmo as pessoas que não faziam nada de ruim para ninguém, apenas por diversão... além de capturar híbridos, como eu e você. 

"O pai já estava quase ficando bonzinho, e o filho ficava a cada dia mais malvado. Ele chegou a capturar um híbrido de coelho, e um de jaguatirica com tigre. 'Mas appa, eles são raros.' ele dizia, mas o pai não ligava mais, apenas o mandou embora de casa depois disso. Três humanos bonzinhos foram lá, e salvaram eles. Além de conseguir, mais futuramente, capturar um híbrido de gato. Mas dessa vez, foram cinco deles, junto com os híbridos, pois tinha mais segurança. A luta foi terrível, mas eles venceram."

"O pai do garoto ficava muito desapontado com ele, mas não dizia nada. Alguns anos depois, o pai morreu naturalmente, e só depois o filho malvado percebeu que não tinha aproveitado nada com o pai, e sofreu muito. Se jogou no mar, e passou a ficar junto com os bacalhaus, para sempre. Fim da história." 

Assim que ela terminou de contar a história, eu caí no sono, e ela sorriu. Me deu um beijo na testa, e desceu a escada.

[...]

-Hey, Mini Min! Acorde! -appa gritou, do pé da minha escada. Me assustei, levantando em um salto.

-Que susto, appa! -coloquei a mão no coração, que batia rápido, e sorri. 

-Vamos, levante, Eui está a te chamar. -ele me jogou um beijo voador, e eu virei o rosto para recebê-lo na bochecha. Ri fraco, pulei fora das cobertas e me vesti como sempre, minha bata branca, calças pretas e minhas botas pretas. Desci a escada, e todos tomavam café da manhã na mesa. 

-Pão com patê, omma? -perguntei, franzindo os lábios. 

-Eu cansei de fazer kimchi, Yoongi. Isto aqui é muito mais rápido. -omma revira os olhos e sorri mínimo.

Comemos em silêncio, pois ainda estávamos sonolentos, e assim que acabei, imo Eui já me chamou.

-Ei, Yoongs, vem aqui comigo. -ela me chamou com as mãos. Eu a segui para o lado de fora, saltitante. 

-Omma me disse que hoje seria um dia cheio. O que vai acontecer, imo Eui? -sorri, colocando as mãos para trás. Ela me olhou com um sorriso triste.

-Eu vou lhe ensinar uma coisa muito divertida. Sabe como fazer isto? -elas estalou os dedos, e surgiu uma bolha ao seu lado. Ela moveu os dedos, e a bolha envolveu uma folha seca de castanheira que estava no chão, e a bolha voltou a flutuar ao seu lado. Eu fiquei boquiaberto.

-Uau, imo Eui! Me ensina, por favor? -juntei as mãos na frente do meu peito, e fiquei saltitando ao seu redor. -Por favor, por favor, por favor, por favor! 

-Calma, Yoongs! -ela ri, segurando meus ombros com força e me fazendo parar de saltitar. -Você tem que olhar fixamente pra coisa que você quer envolver com a bolha, estalar os dedos, e ela vai aparecer e vai envolver a coisa. Quando quiser soltá-la, espete-a com o dedo. Fácil, não? 

Olho para os lados e vejo uma pequena pedra. Olho para ela, estalo os dedos e uma bolhinha mínima aparece. Tento envolver a pedra, mas ela explode no meio do caminho, e eu faço um biquinho triste.

-Tente de novo, a cada vez que você tenta, ela fica maior e mais forte. -imo Eui sorriu, e se sentou na neve. -Quero ver você treinando, e depois vai tentar me levantar na bolha.

-Mas vai demorar muito! -bati um pé no chão.

-A prática leva à perfeição. Vamos, vamos! -ela bate palmas, me encorajando.

Olho para a pedra de novo, estalo os dedos, e uma bolha maior aparece, e eu sorrio mínimo. Movo os dedos de leve, e ela envolve a pedra. Tento fazer ela vir até mim, ela flutua por uns trinta centímetros e explode, fazendo a pedra afundar na neve fofa.

-Uau, que grande avanço! -ela sorriu mais, e bateu palmas. -Continue, continue!

Ficamos mais duas horas treinando, e eu já conseguia levantar até um cesto de roupas sem muita dificuldade. 

-Agora, tente me envolver na bolha. -Eui se levanta, eu estalo meus dedos um pouco doloridos, e a envolvo na bolha, sorrindo largo. -Você conseguiu, Yoongs! Parabéns! -ela ri alto, batendo palmas enquanto girava de leve.

-Ebaaa! -comemoro, depois estouro a bolha com a pontinha do dedo e abraço ela forte, e ela retribui, me girando algumas vezes, mas logo ela para e me coloca no chão. 

-Meu Deus, chegou a hora. -ela arregala os olhos, agarrando meus ombros com força. Quase pude ver um brilho azulado passar por seus olhos negros. -Yoongi, meu amor, que tal brincarmos de correr? Quero ver você chegar lá no topo da montanha mais rápido do que eu! 

-Você vai perdeer! -eu rio alto, e saio correndo em disparada. Em dez minutos, eu estava no topo da montanha, e gritei lá para baixo: -Eu ganheei- me virei, e arregalei os olhos.

Homens de preto pegaram minha tia, minha mãe e meu pai. Tudo acontecia rápido demais.

-Omma! Appa! Imo Eui! -gritei, desesperado. 

-Corra, Yoongi! -omma sibilou para mim, chorando, e eu neguei, começando a chorar também.

Balançando a cabeça, eu comecei a lembrar de todas as histórias que imo Eui me contava, sobre os humanos.

Homens de preto, pegando híbridos e os levando para as salas brancas.

Imaginei eles arrancando os cabelos longos azulados de minha mãe, os cabelos curtos da minha tia, e do meu pai.

Coloquei as mãos na cabeça, tudo estava ficando escuro.

Imaginei minha família ficando sem ar, a ponto de desmaiarem.

Por fim, caí na neve, no topo da montanha, todos foram embora. Não me viram. 

Eu estava a salvo.

Mas a que preço?

[...]

Acordei com alguém balançando meus ombros. Um híbrido de cabelos brancos e orelhas como as de um cordeirinho, além de pequenos chifres, estava ajoelhado ao meu lado, visivelmente preocupado. Já estava anoitecendo.

-Gatinho, gatinho, acorde, acorde!  -ele me chamava.

-Ah! Cadê a imo Eui? Cadê omma e appa? -me levantei em um salto, olhando em volta. Ainda estava no topo da montanha. Pela primeira vez em anos, eu sentia meu nariz ficar vermelho de frio.

-De quem você está falando? Eu achei que você estava sozinho! -ele tremelicou as orelhas.

-P-pelo visto eu tô... uns caras de preto levaram minha família... -abraço meus joelhos, e escondo minha cabeça entre eles.

O garoto olhou para mim, se sentou ao meu lado e me deu um abraço. 

-Hey, não fique assim, ok? Eu também não tenho ninguém, por enquanto. Eu sou Mark, e você? -ele sorri tristemente, e eu o olho, com pequenas lágrimas nos olhos.

-Sou Yoongi... vamos para a minha casa, você deve estar com frio. Não sei cozinhar tão bem quanto appa, mas ele me ensinou a fazer arroz e bacalhau. -levanto devagar, e ele se levanta junto.

Descemos a montanha devagar, sem dizer nenhuma palavra, até chegarmos em casa. 

-Preciso da sua ajuda, Mark. Vem aqui, e pega o colchão dessa cama, vamos levar até o meu quarto, é nessa escada aqui. -abri o alçapão, e levantamos o colchão até o meu quarto. Enquanto estou forrando a cama dele, ele sobe no meu quarto, e fica me olhando.

-V-vai mesmo me deixar ficar aqui, Yoongi? -ele diz, com a cabeça baixa.

-Vou. Você tá do mesmo jeito que eu, sem ninguém pra te apoiar... -sorrio, triste. -Posso... posso te pedir uma coisa? -pergunto, me sentando na cama, as lágrimas já acumuladas em meus olhos.

-P-pode, pode sim. -ele assente, rapidamente.

-Me abraça, por favor? -falo, piscando forte, expulsando as lágrimas, e soluçando.

Ele se aproximou de mim o mais rápido possível, e me envolveu em um abraço apertado e quentinho, e choramos juntos, compartilhando a mesma angústia de estarmos sozinhos no mundo, porque estávamos.

Mas, a partir de agora, tínhamos um ao outro. E isso foi perfeito, para dois garotinhos, um de oito anos, e outro de apenas seis. 

[...]

-Acorda, cabrito! -gritei do lado dele.

-Béééé! Cacete, Yoongi, custava me acordar de um jeito normal uma vez na vida? -ele reclamou, me dando um chute, enquanto eu ria alto.

-Você precisava ver a sua cara! Tipo, precisava mesmo! Foi hilário! -eu falei, segurando a barriga que doía de tanto rir.

-Aish, vamos comer. -ele revirou os olhos, se levantou da cama, e desceu as escadas, e eu o segui, sorrindo largo.

-Béééé! -o imitei, explodindo em mais risadas, e ele me deu pequenos socos, quase derrubando o pote de arroz que eu segurava. -Consegui algumas blueberry's,  vou aproveitar que esse arroz ainda não foi salgado para fazer uns bolinhos. Pega a farinha pra mim, e o fermento.

-Tá... -ele fica na pontinha dos pés, e pega o saco de farinha, quase no fim, e o pote de fermento, que estava cheio. 

Misturei os ingredientes, e Mark se sentou na minha frente, com o cotovelo apoiado na mesa, o queixo apoiado na mão e as pernas cruzadas.

-Yoon, eu tava pensando aqui comigo, e se pudéssemos ver o futuro? Sei lá, ver o que vai acontecer daqui pra frente. -ele olhou pro teto, e eu estalei minha língua no céu da boca, apoiando a colher no canto do pote.

-Tem alguns anos que eu venho pensando nisso, eu acho que imo Eui tinha esse dom. 

-Sério? Mas como você descobriu, ela te contou? -Mark retirou o cotovelo da mesa, se endireitou na cadeira e olhou diretamente nos meus olhos negros.

-Ela me contava histórias antes de dormir. Uma noite antes de nos encontrarmos, ela me contou o que aconteceria no dia seguinte. Mas o resto que ela me contou, eu não sei quando vai acontecer, ou se já aconteceu e eu não percebi. -voltei a misturar a massa, depois fui até o armário e peguei um vidro de óleo de girassol, passei nas minhas mãos e fiz bolinhas com a massa azulada.

-Quer me contar o que ela contou, Yoon? -Mark passou a mão por meu braço de leve, me fazendo suspirar.

-Ela me contou de outros dois híbridos que foram levados pra central do moço malvado, e de mais um outro, mas eu não me lembro direito do que ela me contou, exatamente. Faz muito tempo. -coloquei as bolinhas em uma forma, e depois no nosso forno do fogão a lenha, do lado de fora da casa, mas depois volto para dentro.

-Isso é... estranho. Mudando de assunto, faz quanto tempo que estamos aqui, mesmo? -ele levanta suas orelhinhas, um pouco mais animado, e eu sorrio. Desde que eu expliquei para ele o que era um aniversário, ele a cada semana me perguntava em que dia estávamos.

-Você tem dezesseis anos, e eu tenho dezoito. Hoje mesmo fazem dez anos. E... daqui a um mês é o seu aniversário, Mark-ah. Vou tentar fazer um bolo pra você. -sorrio, e ele bate palmas, felizinho.

-Eba! Será que vão ter estrelas cadentes como no ano passado? -ele arregalou os olhos e eu dou de ombros. 

-Eu não sei, mas acho que sim. Só acontece esse tipo de coisa no teu aniversário, no meu neca neca de pitibiribas. -fiz um biquinho, e ele riu alto.

-Da próxima vez que eu ver uma estrela cadente, eu vou fazer dois pedidos. -ele cruzou os braços, sorrindo.

-Tudo bem, mas você vai me contar? -levanto as sobrancelhas, e ele assente.

-Vou pedir para que tenha algo legal no seu aniversário, como um presente meu, e vou pedir também para que fiquemos juntos aqui para sempre. -ele sorriu fraco. -Eu já disse que você é como um irmão para mim? Te amo tanto, Yoon...

-Para, vai me deixar sentimental demais! -sorrio, dando um tapa na coxa dele, e ele riu junto.

-Tá bom, Senhor Coração de Gelo. -ele tinha me dado esse apelido besta a um tempo atrás, e toda hora ele me chamava disso, acho que pra ver se eu "derretia". Apenas revirei os olhos, e fui pegar os bolinhos, que já estavam assados.

-Olha, tá com uma cara boa, né? -sorrio torto, colocando a forma na minha frente. Mark pegou um bolinho e deu uma mordida generosa, mas logo fez uma careta.

-Vofê esfefeu o afúcar- -ele disse, depois foi ao lado de fora cuspir, e eu ri muito.

-Me desculpa, tem mais massa aqui, eu vou colocar o afúcar e vai ficar bom- Para de me bater, cabrito! -rio mais, depois que ele me dá um coice.

-Assa logo isso, eu tô com fome. -ele ri, se sentando de novo na cadeira.

[...]

-Mark-ah, eu vou te achar! -cantarolei, subindo um pouco a montanha. Tá, eu tinha vinte e dois anos, mas qual o problema em brincarmos de esconde-esconde? Nenhum, certo?

Rio fraco, enquanto eu subo mais um pouco, na metade do morro coberto de neve, como sempre. Vejo um chifre entre os galhos do pinheiro, e me calei, descendo a montanha na pontinha dos pés, rapidamente. 

"Ah, mentira que ele fez isso." sorrio largo, subindo na árvore com o máximo de cautela.

-Te achei! -berrei.

-Aah! -ele se assusta, se desequilibrando do galho em que estava, e caindo de cabeça na neve. Foi tudo muito rápido.

-Mark-ah! -arregalo meus olhos, e em um salto eu desço do pinheiro, ficando do lado dele. -Mark-ah, por favor, me responde!

Olhei para os lados, mas, como sempre, não havia ninguém. 

Suspirei, afoito, coloquei o capuz da minha camiseta, escondi minha cauda na perna da calça, e fiz a primeira coisa que me veio na cabeça, peguei ele no colo e desci a montanha o mais rápido possível.

-Mark-ah, vai ficar tudo bem. Eu vou dar um jeito, eu sempre dou, você sabe... -pequenas lágrimas se acumulam nos meus olhos, assim que olhei direito e vi que ele estava ligeiramente mais pálido do que o normal. 

Vê-lo assim me assustava. 

Ao chegar na primeira casa (ou sei lá o que era aquilo) que eu vi, eu bati na porta com o pé, com delicadeza. Fui atendido por um senhor de meia idade, que assim que bateu os olhos em Mark, estremeceu. 

-Senhor, por favor, você não poderia nos ajudar, por favor? No caso, ajudar meu amigo, ele caiu... -pedi, com a voz um pouco embargada.

-...some do nada, e me deixa falando sozinho. Appa? -um moço de cabelos loiros surge atrás do senhor, e ao nos ver, ele sorriu de lado. -Em que podemos ajudar? 

-M-meu amigo, ele caiu... e se machucou... -o loiro rapidamente tomou o pulso de Mark, e o retirou dos meus braços. -Ei! Me devolva ele! 

-Ele morreu. Deixe que eu cuide disso. -o cara loiro sorriu, empurrou o pai para um lado, e trancou a porta. 

-Não! Ele não morreu! Abra essa porcaria de porta agora, seu inútil desprezível! -gritei, batendo inúmeras vezes na grande porta preta. 

Ao invés dela ser aberta, ouvi uma sirene, e do nada muita gente apareceu atrás de mim, vindo de suas casas. Pude escutar alguns murmúrios curiosos, outros aflitos. 

-Saudações, Yeong-Wonhi Gamgi! Aqui é Song Jackson. Tenho um comunicado importantíssimo para fazer a vocês, cidadãos de bem. Estão vendo este, de cabelo azul na porta? -muitos concordaram, mesmo sem o ver. Eu negava com a cabeça, desesperado. 

-Pois bem. Esse indivíduo trouxe um pobre híbrido de cordeirinho, desacordado, dizendo que ele caiu. Mal sabe ele que eu sou inteligente o bastante para saber que ele está mentindo. Ele jogou um raio neste cabritinho. E sabem por quê? -Jackson riu fraco. -Porque ele é um híbrido de gato montanhês azul. 

-I-isso é mentira! Ele tá mentindo, eu nunca faria isso com ninguém! Ainda mais com ele, ele é meu irmão! -Eu gritei, mas as pessoas estavam apenas olhando para o topo da casa, não prestaram atenção.

-Ele fez isso -ele continuou -porque é parte do instinto da espécie. E qual é o instinto, vocês me perguntam? Eu respondo, cidadãos de bem. O instinto desta espécie maldita é ser má. Com qualquer coisa. Inclusive com outros pobres híbridos. Coitadinho deste cordeirinho, eu cuidarei dele, como vocês sabem bem. Eu cuido de muitos outros, por que não mais um? -Jackson riu, e eu comecei a chorar de ódio.

-A pena deveria ser morte. Mas, eu vou poupar a vida deste, por não ter matado o cordeirinho. Vamos apenas expulsá-lo daqui, para que ele carregue nas costas a culpa de ter quase matado um ser tão precioso. -senti olhares de ódio em minha volta, a cada direção em que olhava, homens, mulheres, crianças, e até cachorros rosnavam para mim, espumando de ódio. 

Tudo aquilo estava me deixando tonto.

"Quando o filho falava, todos obedeciam. Todos eram controlados por um feitiço terrível." a voz doce de imo Eui ressonou na minha cabeça.

Um feitiço...

-Por favor, não acreditem nele. Ele está controlando as emoções de vocês com um feitiço! -gritei, e Jackson riu alto.

-Se fingindo de coitadinho, gatinho? Deplorável. 

-Não me chame de gatinho, seu filho da puta! -explodi, chutando a maçaneta da porta, que quebrou. Silêncio imediato.

-Seu vândalo! -após uns instantes, uma mulher cuspiu essas palavras, olhando fixamente para mim.

-Bruto inútil! -um homem gritou.

-Bobão! -uma criança berrou.

-Babaca! Parvo! Canalha! Imbecil! Cretino! Estúpido! -a cada direção, vinham mais e mais xingamentos. 

Eu negava com a cabeça, chorando. Saí correndo no meio das pessoas, indo para qualquer lugar que fosse longe dali. 

-Saia daqui, bicho imundo! 

A cada passo dado, a névoa dissipava mais um pouco.

-Morra de fome, aberração! 

Pude ver uma ponte, ao longe.

-Tomara que algum criminoso o ache e o mate! 

Ao por os pés na ponte, olhei para trás, me beliscando com força para ter certeza de que não era o meu pior pesadelo, desde então. Mas não, Jackson veio atrás de mim, junto com os moradores da vila.

-O que está fazendo aqui ainda? Eu não mandei você sumir da minha frente? 

Me segurei muito para não me jogar no mar gelado que estava embaixo dos meus pés, e, dessa vez, eu corri sem olhar uma única vez para trás.

________

teremos mais um flashback, e depois o capítulo 36 normal.

tá ficando bom?

Continue Reading

You'll Also Like

404K 41.4K 14
[CONCLUÍDA] Tudo o que Taehyung queria era conseguir saciar seus desejos e tornar real seus sonhos eróticos com seu professor. Isso é, até descobrir...
294K 26.7K 55
Sem spoiler. plágio é crime⚠️
1.8K 299 10
[CANCELADA] Yoongi é apenas um jovem tímido, introvertido e reservado, que tem uma grande paixão por fotografia. Yoonie é apenas um little que tenta...
27.8K 1.2K 45
Jimin tirou Suga das ruas, e cuidou dele até o final... Mas talvez ele não tenha entendido esse final...