O Conto da Donzela do Santuár...

By VictoriaFrancoN

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Mikoto é uma miko, uma sacerdotisa de uma pequena ilha, ou era, até um estranho sonho levá-la a de repente fu... More

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By VictoriaFrancoN

Takako apertou a página entre os dedos até se tornar uma bola de papel. Sayuri entrara no quarto de hóspedes para acordar Mikoto e encontrou o bilhete sobre o criado-mudo, junto à flor de shion, e imediatamente chamou a prima. Agora as duas tentavam tirar alguma conclusão daquilo que tinham.

Ela deixara para trás tudo menos o presente de Takako, não levara o celular nem a naginata. Queria mesmo viajar com pouca bagagem e não ser rastreada.

-- O que ela quis dizer com "não quero correr o risco de prejudicar mais gente"? – Sayuri pensou alto, andando de um lado para outro do quarto – Ela dá a entender que tem medo de nos machucar, mas isso não faz sentido nenhum. No que ela estava pensando para fazer uma loucura dessas?

-- Haku – Takako olhou para o menino, encolhido na beirada da cama, imóvel desde que Sayuri encontrara o bilhete – Você sabe algo sobre isso?

Ele abraçou os joelhos e enterrou o rosto nos braços. Era toda a resposta que precisavam.

-- Você viu quando ela foi embora? Mikoto falou com você? – Sayuri exclamou.

Sem erguer a cabeça, ele assentiu. Takako sentou ao lado dele e insistiu:

-- O que Mikoto te contou? Ela disse aonde ia?

-- Só que não precisaria mais da minha proteção, que não era perigoso aonde ia, e eu devia ficar aqui com vocês.

As duas jovens se entreolharam, pensando o mesmo, e Sayuri verbalizou:

-- Ela foi para casa.

Takako balançou negativamente a cabeça.

-- Quantos navios vão de Shiro para Iruka por dia? Mikoto ainda pode estar na cidade.

Mas uma rápida busca mostrou que ela estava errada. Além de não encontrar pista nenhuma do paradeiro de Mikoto, Hiro soube que um navio com destino às ilhas doo sul zarpara naquela madrugada. Era uma certeza que Mikoto estava a bordo quando partiu.

-- O que faremos? – Sayuri girou sua pérola entre os dedos nervosamente. Takako, ao contrário, cerrou os punhos com firmeza.

-- É muito claro o que vamos fazer.

*

A luz do sol da tarde ofuscou Mikoto, mas ela não se importou. Uma vez fora do segundo navio no qual entrara clandestinamente, todas as sensações que se seguiram foram prazerosas. O sol, o vento salgado, o rugir das ondas ao longe e a visão de sua cidade natal.

A emoção de estar de volta à segurança e familiaridade do lar preencheu-a de tal forma que a menina achou que seu peito fosse explodir. Suas mãos tremiam tanto que quase deixou cair a caixa de madeira.

Ela correu para a pequena colina que abrigava o Santuário Mizushima, o único templo de Iruka, galgou a escadaria gasta e cruzou o torii desbotado para enfim chegar em casa.

Megumi varria a frente do templo, deserta no momento, e deixou cair a vassoura ao notar a neta diante dela.

-- Mikoto! Você voltou!

Ela teria respondido, mas ao abrir a boca, tudo que saiu foram soluços. Mikoto deixou a caixa escorregar de suas mãos e se jogou nos braços da avó. A mulher ficou surpresa e confusa, mas nada disse e deixou que ela chorasse.

Quando Mikoto se acalmou, Megumi acariciou sua cabeça delicadamente e pôs uma mecha de cabelo atrás de sua orelha, e por fim perguntou:

-- Quer me contar qual é o problema?

-- Desculpe – ela soluçou – Desculpe por fugir de casa.

-- Não estou chateada com isso, meu bem. Fiquei aliviada pelo clã Kairiku tê-la acolhido entre suas miko.

-- Mas eu falhei com elas! – as lágrimas rolavam pelo rosto de Mikoto – Eu atrapalhei, posso ter causado coisas terríveis. Eu não merecia estar com elas, por isso voltei. Eu nunca deveria ter saído.

Megumi nunca vira a neta tão abalada. Não fez mais nenhuma pergunta, e a conduziu para dentro de casa, uma pequena residência atrás do templo, onde a família da miko morava há gerações. Deixou que Mikoto dormisse, e falasse quando estivesse pronta.

O cansaço e a tristeza do último dia pesaram sobre a jovem, que só acordou depois de anoitecer. O jantar esperava sobre a mesa, e o cozido de Megumi nunca tivera um cheiro tão delicioso.

Depois de comer, as duas se sentaram na varanda de trás da casa para ver a lua minguante se erguer. Ali Mikoto contou tudo, desde os estranhos sonhos que a impulsionaram a fugir há um mês, até a suspeita que a fez voltar para casa, temendo pelos outros.

-- Acho que os céus cometeram um erro ao me consagrar uma sacerdotisa. Eu não mereço isso – ela tirou a pérola azul e a pôs de lado. Megumi segurou sua mão.

-- Não, Mikoto. Não se desfaça de um presente dos céus. Se não for para usar essa pérola lá fora, contra youkai, use-a aqui, mesmo em suas mais humildes funções.

Um pouco relutante, Mikoto manteve o colar, mas não o colocou. Queria algum tempo para voltar à normalidade, e para isso precisava de um tempinho longe de magia. No dia seguinte, tudo seria exatamente como sempre foram antes do último mês.

Logo de manhã Mikoto foi para o litoral oeste, onde quase todos da sua idade se reuniam nas férias. Sakura, Yona e Misaki, do clube de naginata, correram até ela no instante em que a viram e a bombardearam com perguntas. Mikoto contou uma versão modificada da verdade, onde o clã Kairiku a dispensou por ser muito perigoso para alguém com pouca experiência, e a mandaram de volta para casa.

-- Pouca experiência? – Yona ficou indignada – Mas você arrasou. Vi você na televisão um monte de vezes.

-- É, você estava em Kuroi durante o bombardeio e em Shiro também. Usou a naginata, foi demais – os olhos de Sakura brilhavam de animação. Misaki estava menos exaltada.

-- E youkai existem de verdade. Como eles eram?

-- Assustadores. Foi uma experiência assustadora. Parte de mim ficou bastante aliviada em vir para casa.

-- Pena que não pôde ver como isso tudo termina – Sakura encolheu os ombros. Yona ainda sorria.

-- E daí? Mesmo que não tenha ficado até o fim, agora Mikoto tem histórias para contar até o dia em que for avó.

Apesar de ser verdade, Mikoto preferiu ouvir as histórias de casa, e passou o restante do dia se deliciando com as atividades de férias que o clube de naginata realizara no último mês e o que ainda planejavam fazer com as próximas semanas.

O dia rapidamente se tornou noite, e com ela as luzes do pequeno festival de aniversário da fundação de Iruka. As meninas vestiram yukatas e seguiram para o centro da cidade.

-- Eu tinha me esquecido completamente que era hoje – Mikoto comentou ao andarem pelas barracas de comida.

Logo seria a hora dos fogos de artifício. Todos já olhavam para cima, as crianças particularmente ansiosas, mas passou-se o tempo e sem sinal do espetáculo pirocinético, algo muito incomum de se acontecer. As pessoas começavam o burburinho quando um grito cortou o ar, seguido por outros.

A multidão debandou apavorada. A visão de um mujina se erguendo acima das barracas fez o sangue de Mikoto gelar. As meninas gritavam atrás dela.

-- Mujina!

-- É de verdade! – Sakura parecia ao mesmo tempo impressionada e apavorada. Misaki parecia prestes a desmaiar.

-- Vão para o santuário, depressa! – Mikoto agarrou as mãos de Yona e Misaki e disparou para a colina.

Muitos também pensaram em se abrigar lá, o local estava mais abarrotado do que nos dias sagrados. Mikoto se esgueirou entre as pessoas, novamente agradecida por seu tamanho facilitar a tarefa, entrou em casa e tirou os presentes de Takako da caixa e pôs novamente a pérola.

Devidamente equipada, ela voltou para fora e começou a dança e a oração da barreira. Percebeu que todos a olhavam como se fosse louca, momentaneamente esquecidos do medo que os dominava instantes atrás, mas em pouco tempo as expressões se alteraram para espanto ao verem a barreira azul cintilante aparecer ao redor do santuário. Megumi-sama estava boquiaberta como os outros, mas diferente deles, seu rosto demonstrava um completo orgulho.

-- Os youkai não podem passar do torii. Fiquem aqui e estarão seguros – Mikoto avisou por cima do ombro e desceu a colina.

Foi para a escola e procurou na sala do clube de naginata, mas todas eram de treinamento, com madeira no lugar de lâminas. Nunca imaginou que viriam youkai para Iruka, senão teria trazido a naginata de Sujin. Agora teria que se virar com as de treinamento, que sequer eram afiadas, mas esperava que fossem pesadas o bastante para servir de porrete.

O mujina não era o único atacando. Na entrada da escola Mikoto encontrou dois tanukis, tão entretidos com a diversão de se transformar em monstros maiores para assustar que passasse, que não perceberam a menina se aproximar por trás.

Ela acertou a cabeça de um, e antes que o outro pudesse reagir, bateu nele também. Mikoto passou por cima de seus corpos desmaiados e correu para encontrar o mujina, no momento a maior ameaça.

Encontrou-o ainda em meio às barracas do festival, derrubando tudo por onde passava. A naginata de madeira não seria muito útil contra ele, então Mikoto a quebrou, transformando-a numa estaca de madeira. Precisaria acertar um ponto vital, talvez a nuca? Inspirou fundo e correu para o youkai.

E foi derrubada por uma rasteira. Sentiu gosto de sangue ao bater no chão, e a mão que ainda segurava a naginata foi dolorosamente esmagada por uma sandália. Yasha olhava para Mikoto com os olhos faiscantes e o rosto contorcido numa expressão que só podia ser descrita como pura fúria.

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