A teoria do caos

By AyzuSaki

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Alguns eventos moldam as pessoas. Acontecimentos que transformam o caminho de alguém totalmente, por terem um... More

Capítulo I - O homem que trabalha com lixo
Capítulo II - O menino que brinca com lixo
Capítulo III - Que tipo de herói você quer se tornar?
Capítulo IV - Os gatos de rua de Hosu
Capítulo V - Aqueles encontros predestinados
Capítulo VI - Desvios imprevisíveis
Capítulo VII - Convergindo
Capítulo VIII - Endeavor precisa esfriar a cabeça
Capítulo IX - Sua mãe nunca te ensinou a mentir, mas deveria
Capítulo X -Aizawa questiona as suas escolhas na vida - Parte I
Capítulo XI -Aizawa questiona as suas escolhas na vida - Parte II
Capítulo XII - O gato e o novelo de lã
Capítulo XIII - A órbita de um Midoriya
Capítulo XIV - O poder por trás de um nome
Capítulo XV - Os rolês aleatórios de Nora
Capítulo XVI - Um interlúdio antes da desgraça
Capítulo XVII - O paradoxo da força irresistível
Capítulo XVIII - Aquelas reuniões familiares com parentes que tentam te matar
Capítulo XIX - O menino e os monstros
Capítulo XX - As promessas que fazemos e que nos quebram
Capítulo XXI - O Inverno está chegando
Capítulo XXII - O paradoxo de Epicuro
Capítulo XXIII - Uma fúria feita de gelo
Capítulo XXIV - O inverno está aqui
Capítulo XXVI - O guia prático de como criar caos, por Izuku Midoriya
Capítulo XXVII - Um cego guiando um cego
Capítulo XVIII - A ponta do fio
Capítulo XXIX - Os galhos da árvore
Capítulo XXX- Izuku é uma calamidade de bolso

Capítulo XXV - Efeito bola de neve

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By AyzuSaki

"Você não pode esperar que a vida seja justa com seu coração, seu cérebro ou sua saúde. Essa não é a natureza do jogo que chamamos de vida. Você precisa reconhecer a natureza do jogo e saber que pode fazer o seu melhor para fazer as escolhas certas, mas a vida fará o que diabos lhe agradar de qualquer maneira. Tudo o que você pode controlar é como você reage ao que a vida joga em você. "

- Holly Nicole Hoxter, O Efeito Bola de Neve

Quando Takashi era criança, sua mãe costumava o sentar em seu colo e lhe contar histórias. Nunca eram histórias comuns para crianças, não que ele soubesse disso na época. Não, para o pequeno Takashi aqueles eram os melhores momentos do seu dia. Era quando podia se conectar com sua mãe finalmente, um momento só dos dois.

Ele lembrava que ela havia tentado incluir Inko, mas as histórias costumavam assustar tanto sua irmã que ela havia desistido de fazer isso.

"Muito parecida com o tio." Era o que sua mãe falava, a expressão melancólica enquanto observava Inko. "Emocional e boa demais para o próprio bem."

O tio era irmão do pai deles, Takashi sabia disso. Quando pegava sua mãe em um humor nostálgico ela poderia passar horas falando dele, os dois eram melhores amigos de uma vida toda, era o que ela dizia. Ao oposto do pai deles, do qual ela quase não falava nada e quando falava seus olhos sempre ficavam frios, a boca se retorcendo levemente.

"Há certas pessoas, Takashi." Sua mãe havia dito. "Que sobrevivem a tudo. É da natureza delas, fazer qualquer coisa para sobreviver."

E por isso Takashi não sabia bem o que pensar quando sua mãe falava que Inko era parecida com o tio deles, mas Takashi era uma mistura dos pais. Não parecia ser algo exatamente bom aos olhos dela, Takashi sabia. Ainda assim, era essa a razão de Takashi sentar em seu colo e ouvir as histórias, com expressão ávida, tomando cada detalhe.

Anos depois, quando ele retornava para esses momentos, ele conseguia entender finalmente a razão deles aconteceram, o quanto ela estava o preparando para o que estava por vir.

Takashi lembrava particularmente de uma delas, de um conto de Ray Bradbury, O som do trovão. Contava a história futurística, onde viagens no tempo eram oferecidas como passeios. Era sobre um homem que participava de um safári na época pré-histórica, mas havia ido contra as regras do seu guia e por isso pisado acidentalmente em uma borboleta, e assim modificado todo o futuro. A morte de uma pequena borboleta no passado havia mudado toda a linha temporal.

"Um pequeno ato, por menor que seja, pode ter consequências que não podemos nem sonhar em prever."  Sua mãe havia dito, as mãos finas passando em seus fios brancos. "Temos que ter muito cuidado, Takashi, em que borboleta vamos pisar."

O barulho de passos suaves o fez sair das suas lembranças. Ele nunca podia fechar os olhos ou dormir, algo sobre uma das quirks nele, imaginava, mas podia se colocar em um estado mental que era quase isso.

Era como estar preso dentro do seu próprio corpo, onde sua mente pensava rápido, mas seu corpo nunca reagia de acordo. Se perguntava se era assim que Inko se sentia no momento. Izuku havia dito que ela havia dado sinais, finalmente, mas não havia acordado. Eles sabiam que ela estava consciente do que acontecia ao redor, mas seu corpo não reagia a isso ainda.

Takashi apenas esperava que ela não estivesse em dor como ele quando finalmente voltava a sua "consciência." Não importava o quanto manejasse, não deixava de ser doloroso. Seu corpo parecia errado, sua mente quase sempre embaralhada, seus nervos inflamados. O mero ato de se mover parecia uma tortura.

A porta se abriu e Izuku estava lá, com seus muitos gatos pendurados nele, olhos grandes e ansiosos enquanto arrastava um monitor nos braços. Notou de forma curiosa que o cabelo dele estava diferente, com um penteado trançado no topo da cabeça. Provavelmente ele havia visitado a famosa Rei novamente na noite passada.

O que lhe lembrava que Izuku parecia desconhecer o significado de ficar quieto e não chamar atenção para si mesmo.

Takashi queria expressar o quanto estava irritado por Izuku ter caído no mesmo buraco do coelho que Takashi. Seu sobrinho havia corrido de cabeça e se tornado um vigilante, exatamente aquilo que Takashi não queria que ele se tornasse. E agora estava se metendo com problemas grandes demais, investigando coisa que não devia, pisando nos calos da comissão de heróis.

Ele queria apertar aquele pescocinho no momento, ele não sabia como ele conseguia se meter em tanta confusão em tão pouco tempo. Foram apenas meses, como diabos aquilo havia acontecido?

"Deve ser algo de família."

O pensamento não era muito reconfortante.

— Bom dia! Achei que ia querer assistir o festival.

Que ótimo, mais atenção para cima dele. Não bastava o que havia acontecido em USJ. Izuku não tornava cuidar dele uma tarefa muito fácil.

Ele queria muito poder falar para ele não ir, mas sabia que não poderia fazer isso.

Olhos grandes o fitaram da porta, esperando alguma aprovação para entrar. Takashi rolaria os olhos se pudesse.

Deu um grunhido e isso pareceu alguma resposta que ele queria ouvir, porque logo ele havia invadido o quarto, montando a televisão e conversando sem parar sobre os planos do dia, que partiria mais cedo para passar no hospital e visitar Inko, sobre o equipamento que levaria e mais um milhão de coisas que eram ditas rápidas demais para entender.

"Ele está nervoso."

Claro que ele estaria. Izuku falava desse festival desde sempre como um ponto definitivo em sua vida, algo que mudaria tudo.

Em um mundo ideal, ele teria Inko agora, orgulhosa e preocupada. Hisashi passando as estratégias com ele sobre como enfrentar os adversários. Takashi iria o deixar no estádio, com um discurso encorajador na ponta da língua.

Aquele não era um mundo ideal. Inko estava em coma, Hisashi estava morto, Takashi não podia fazer nada por ele. Izuku estava indo enfrentar isso sozinho, se entregando ao escrutínio e julgamento em uma sociedade que o via como algo defeituoso. Que iria rir dele, tentar o jogar no chão e o manter lá, como haviam feito a vida inteira.

E Takashi não podia fazer nada.

— ...está programado com o horário que vai começar. Okay, pessoal. Fiquem aqui com o tio Taka, de olho nele. Catchan eu nem vou tentar dizer para não vir, sei que é caso perdido, mas vocês se comportem melhor do que...

Ele estava cercado de gatos no chão, alguns agarrados firmemente nas sua roupa sem querer o soltar. Takashi observou alguns entrando na sua bolsa de equipamento escondido.

Takashi queria tanto dizer algo a ele, havia tanto que precisava falar, mas seu corpo não iria o ajudar nisso.

—... Pessoal! Não, voltem, saiam de mim, não podem vir comigo! Oê! Catchan, deixa de ser uma má influência! Ei! Você não estava aqui antes, quem é você? Ou você. Ou vocês quatro... Okay, quem trouxe mais gatos para casa? Catchan? Eu disse que não...

A frase morreu no meio do caminho quando uma mão grande o puxou para perto.

— Takashi?

Seu corpo monstruoso se moveu devagar, com cuidado em sua força, em cada movimento. O abraço o fazia perceber o quanto Izuku era quebrável em sua mão, o quanto Takashi havia se tornado um monstro. Era um pouco irônico. Takashi sempre pensou que a maçã não cai longe da árvore, estava em sua genética talvez, ser um monstro.

Ao que parece monstros podiam sentir também, porque no momento Takashi queria que Izuku não saísse daquele quarto. Ele havia o escondido por tanto tempo, ensinando tudo o que sabia para o tentar manter seguro, mas no fim ele não podia fazer nada por ele. No fim era Takashi que precisava ser salvo.

— Tio Taka... Vai ficar tudo bem.

O soltou devagar, as palavras queimando em sua mente, mas sem sair nenhum som além dos de um monstro.

Havia muito que precisava falar. Izuku não poderia ficar na ignorância sobre quem ele era. Hisashi estava errado, eles não poderiam proteger Izuku disso. Não quando as coisas viriam até ele de uma forma ou de outra. Talvez ele ir nesse festival fosse uma terrível ideia, mas Takashi sabia que as coisas já estavam em movimento.

Quando finalmente o soltou, seu coração apertou ao ver que, como sempre, Izuku já havia começado a chorar. Não era nem 6 da manhã.

— Eu tenho que ir.

Quando ele saiu pela porta esfregando o rosto, um gato na cabeça, um agarrado em suas costas, outros escondidos dentro da sua bolsa, Takashi sentia que não importava o resultado do que aconteceria hoje, ele não conseguiria mais proteger Izuku.

Takashi não tinha certeza sobre quando ou quem pisou na borboleta, mas a cadeia de eventos já tinha entrado em curso.

Era só questão de tempo.

................................................................

Apesar da proibição da entrada de civis, a área estava lotada. Havia também um grande número de heróis, o que era para ser esperado, depois de tudo o que havia acontecido.

Aya só agradecia por terem chegado mais cedo e escapado do pior da multidão. Com a necessidade para permissão do uso de equipamentos, os alunos do departamento de suporte precisavam chegar horas antes, já que não era só os alunos do primeiro ano que precisavam passar pela burocracia.

E ainda, sempre havia algum equipamento que acabava sendo banido na inspeção, o que atrasava ainda mais a fila.

Quando Aya viu Deku e Hatsume vindo da direção da área de administração sentiu o princípio de uma dor de cabeça vindo.

Claro que Deku iria trazer gatos para o festival.

Sua expressão deveria ser bem evidente de desagrado, porque tão logo ele se aproximou, três gatos pendurados e dois o seguindo, ele já começou a se defender.

— Eu só vi quando abri a bolsa na fila de inspeção!

— E deixaram você ficar com eles?

— Não tinha mais tempo!

E isso era uma grande mentira, eles ainda tinham tempo de sobra.

— Maijima-Sensei estava lá.

Hatsume comentou e Aya quase rolou os olhos. Estava explicado. Não que ela fosse reclamar, mas a sensação que tinha era que sensei deixaria Deku escapar de acusação de assassinato se ele lhe pedisse com jeito. Ou lhe mostrasse um novo projeto.

— Eles vão ficar com os professores durante os eventos, então está tudo bem. Além do mais, eles são uma necessidade. Com todo o estresse nada melhor do que gatoterapia!

— Essa foi a desculpa que usou? - Tako apontou para o gato mal-humorado pendurado no pescoço de Deku como uma scarf, olhando para eles como se fossem algo indigno, mas passável por associação. - Com esse gato?

— Hein! O que tem de errado com Catchan?

Deku e o gato olharam para eles com expressão de indignação, um miado alto pontuando a pergunta. Que ótimo, tinham ofendido o gato.

— Ele julga todo mundo.

— Bem, Tako, é a vida. - Deku falou muito sério, como se Tako fosse um ser particularmente inocente e ingênuo. - Você tem que se acostumar a ser julgado.

Cinco gatos, um muito grande para ser um gato normal na opinião de Aya, olharam para eles depois disso, uma expressão de julgamento muito próxima do dono.

Aya trocou um olhar com Tako e os dois suspiraram. E o dia estava apenas começando. Os outros viam correndo da área de administração também, carregando os equipamentos com o aval de inspeção. Hiro estava com um sorriso suspeito no rosto, então provavelmente eles haviam deixado passar algo muito perigoso sem saber.

Shinsou apareceu na multidão, alto o bastante para ser visto de longe, claramente procurando por eles. Aya tentou não rir quando viu Deku saltando no lugar tentando ser visto.

Como uma pessoa tão pequena conseguia dar tanto trabalho?

— Tudo certo com o equipamento, Deku?

— Christine 2.0 deu algum trabalho, mas Maijima-sensei assegurou que a gente montou do zero, então faz parte do equipamento. Hey! Hichan! Aqui!

— De qualquer forma vamos torcer para não precisar de Christine 2.0.

Algo lhe dizia que seria improvável, com Deku e Koto analisando os festivais passados e criando o padrão das provas. Ela havia aprendido a não duvidar desses dois quando se juntavam para fazer alguma coisa.

Shinsou os alcançou finalmente, parecendo calmo demais para a situação. Ou talvez ela não o conhecesse o bastante para notar se estava ansioso, mas os gatos, que imediatamente começaram a escalar ele, sim.

—Vamos entrar. - Deku sorriu, um sorriso muito largo para ser inocente. - É hora de causar caos.

Aya nunca ouviu uma verdade mais verdadeira na vida.

.....................................................

— Heeeey. O festival esportivo da U.A! O covil dos heróis! Um batalha anual de olho por olho! Mas afinal, todos vocês vieram aqui para verem eles, não é? Aqueles que contiveram o ataque dos vilões! As estrelas ascendentes que milagrosamente superaram as dificuldades com seu espírito de ferro! Departamento de heróis! Primeiro ano!! Classe A!!

Aizawa rolou os olhos. Era sua sala, mas o favoritismo era um tanto desconfortável e com certeza pintaria um alvo ainda maior nas costas deles.

Um dos gatos que Maijima havia lhe entregue saltou em cima da mesa. Claro que a criança problema traria gatos para o festival, como poderia não trazer?

Nemuri estava lá embaixo, com um deles pendurado no pescoço. Se perguntava quantos ele havia trazido. Nem começava o festival e ele já dava trabalho.

O mal humorado havia se enfiado em sua ferramenta de captura, olhando o telão com atenção, olhos inteligentes demais observando tudo. Esperando.

— Então, Classe B de heróis! Classes do departamento geral, C, D e E.

Olhou os heróis no meio da arena, sentindo satisfação ao não ver Endeavor. Inicialmente, o herói havia sido escalado para ficar nessa arena, mas depois do que havia acontecido ele havia sido realocado para o festival do terceiro ano, bem longe do filho. Como a classe A ainda havia sido vítima de um ataque e precisava de um herói de alto ranking na arena para desencorajar algum ataque, o próximo herói no ranking havia sido colocado como companhia do loiro idiota número 1.

Aizawa havia ficado um pouco surpreso por Hawks ter aceitado. O herói não era muito conhecido por se misturar, apesar de ser claramente popular. Ainda assim ele estava ali, asas vermelhas bem abertas em uma das entrada e boca cheia de alguma coisa.

"Que ótimo. Outro loiro idiota."

— Agora, para não esquecer que não apenas a classe de heróis enfrentou os vilões, mas também temos um representante ilustre em outro departamento. Do departamento de suporte! Que entrem a classe F, G e H, seguida pelo departamento de gerenciamento!

Os olhos vermelhos do gato ficaram mais intensos, miando suavemente quando a classe foi passada no telão, focando no 'representante ilustre' em questão. O rosto dele estava estranhamente sereno, descansado. O cabelo preso e fora do rosto, a cicatriz mais evidente do que nunca. Os olhos verdes fitavam diretamente a câmera, um brilho que lembrava do gato agora em seu ombro. Um sorriso se retorceu no canto da sua boca e Aizawa apenas sabia.

Aquele festival seria um caos.

E ele estava estranhamente empolgado esperando isso.

...............................................................

Do outro lado da cidade, preso a uma cadeira e equipamentos de suporte, o monstro olhou a tela com interesse, mesmo que não pudesse ver o que acontecia.

Se ele pudesse ver, se All Might não tivesse destruído seu rosto e o privado de sua visão, ele estaria encarando olhos verdes que miravam diretamente a câmera no momento.

Ele teria notado a familiaridade ali, sem dúvidas.

Em outro lugar na cidade, Inko ouvia o som da televisão, presa em uma cama e sem poder realmente ver. Olhos verdes fechados, ela lembrava de um garotinho, sujo de graxa e cabelos com pontos queimadas depois de uma nova explosão. Com um sorriso largo, ele havia dito que venceria o festival esportivo e se tornaria um herói.

Inko apertou a mão no lençol, os olhos lutando para se abrir, para ver este garotinho.

Em algum lugar da cidade, em um quarto do subsolo, olhos tão parecidos miravam a tela, com uma resignação de que depois desse dia as coisas não seriam mais as mesmas. Takashi conhecia Izuku o bastante para saber que ele pisaria, com gosto, no calo de algumas pessoas nesse festival.

Na arena, alheio a tudo isso, Izuku Midoriya sorriu em direção a tela.

Em direção aos três.

................................................................

Izuku se sentiu observado.

Procurando na fila da classe de heróis, ele encontrou olhos heterocromáticos o fitando.

Shoto estava horrível. Para quem não o conhecia bem ele deveria parecer como sempre, o rosto estoico e postura ereta, como de um soldado. Izuku não era uma dessas pessoas e por isso sabia que ele estava longe de estar bem.

Os olhos dele estavam instáveis, os ombros tensos demais, olheiras em seu rosto. No ponto de gatilho para explodir a qualquer momento. Três dias não era um bom tempo para processar o caos que havia acontecido, Izuku não sabia se ele deveria estar ali. Eles não haviam conversado ainda depois do que aconteceu, nenhuma mensagem sua foi respondida, então não sabia os detalhes, apenas que o dossiê foi usado e Shoto não estava mais morando com o pai, de acordo com Rei.

As únicas pessoas que pareciam notar algo de errado nele eram Shinsou e uma das garotas da sala, que o fitavam de soslaio. Shoto continuou o encarando por alguns segundos, com alguma emoção que não conseguia definir.

Izuku não sabia como tornar a situação melhor.

Ele devia saber que se livrar de Endeavor era só uma parte do problema.

— Você está bem?

Satou o cutucou e desviou os olhos de Shoto, sentindo o conflito se retorcer dentro dele. Izuku tinha um plano para esse festival, um plano que o levaria a vitória. O quão disposto ele estava de arriscar essa certeza para ajudar Shoto?

Retorceu a pulseira em seu pulso, a mesma que sua mãe havia utilizado anos atrás. Não lhe serviria de nada sem a quirk dela, mas lhe trazia algum conforto pelo menos. Assim como os nomes riscados nela, os nomes deles. Izuku estava ali por eles também, ele não podia falhar nisso. Pelo menos nisso.

Em outro universo, Izuku teria uma estratégia de ação que ao seu ver era a melhor para isso, que funcionaria naquele Shoto.

Nesse universo esse Shoto não era mais o mesmo, esse Izuku era completamente diferente. Esse confronto também seria, em parte, diferente.

A única constante seria que ele aconteceria, de uma forma ou de outra.

—Vamos para o discurso dos participantes. Agora o representante dos participantes, Bakugou Katsuki da classe 1-A, com a maior pontuação no exame de admissão!

— Da admissão dos heróis.

Alguém da classe geral resmungou da fila e Izuku tentou não rir. O favoritismo era tão evidente, mas afinal, no fim das contas eram os heróis que saiam que faziam o nome da escola. E eles precisavam tirar a atenção de que um aluno havia morrido, melhor focar nos que superaram as adversidades. Diretor Nedzu era, afinal, um jogador.

Kacchan subiu no palco e Izuku sabia que isso seria interessante. A sua classe o conhecia bem, notava pelas expressões de desespero ao ver quem iria os representar. Izuku tentou não rir da cara do Shinsou no momento.

— Sensei, eu vou ser o número 1. Sejam uns trampolins dignos e me deixem passar por cima sem encher muito o saco, ta?

Gritos de indignação.

Por mais que amadurecesse, Kacchan sempre seria Kacchan.

Uma batida do chicote e todos se calaram.

— Bem, isso foi interessante. As preliminares, é onde a maioria dos concorrentes nos servem drinques cheios de lágrimas todos os anos!! A primeira batalha, em que os destinos estarão em jogo, será... Corrida de obstáculos!

Koto o olhou e os dois tentaram na sorrir. Pelo menos eles sabiam que se essa previsibilidade continuasse o plano deles estaria salvo. As provas poderiam ser previstas com as que ocorriam nos anos anteriores, se não exatamente qual seria, ao menos a natureza delas. Todas se baseiam em algum aspecto da carreira de um herói quando sai para o mercado, seja a competição por rankings ou a necessidade de trabalho em equipe durante ataques.

— A pista será um perímetro de aproximadamente 4 km em volta deste estádio. Qualquer tipo de ação é permitido, contanto que se mantenham na pista. Não ter nenhuma restrição é um dos pontos altos da nossa escola!

"Bem." Izuku sorriu, seguindo os demais para o portão indicado. "Foi ela que disse que não tem restrição."

— Hora de usar Christine 2.0, Mei.

O sorriso de Mei nesse momento daria calafrios em qualquer desavisado.

— Vou buscá-la.

....................................................

—Começando os comentários com a transmissão ao vivo! Are you ready, Aizawa?

— Eu não queria estar aqui.

— Então vamos lá! E o primeiro obstáculo real, como alguns participantes perceberam, é a própria saída estreita. E o que aquilo? Oh! Shoto Todoroki, da classe A fez sua saída! Sua classe é mesmo alguma coisa, Aizawa!

— Eles treinam com ele, o conhecem melhor do que os outros para desviar dos ataques.

— Classe B não está muito atrás, nesse ano temos muitos talentos. E oh, o que é aquilo? Alguns alunos não saíram ainda, estão apenas parados. Será que desistiram? Oh! OH. Alguns alunos da classe de suporte estão apenas parados na entrada, o que está acontecendo?

............................................................

— Maijima, seus alunos desistiram?

Power Loader suspirou, mas não parecia particularmente preocupado. Alguns dos seus alunos haviam entrado no meio da corrida, mas a maioria parado na porta. Incluído o famoso Midoriya, que havia ouvido falar tanto. Ela estava um pouco decepcionada.

— Não exatamente, acho que eles estão esperando.

— Esperando o quê?

Maijima deu uma risada, um dos gatos em seu braço se esfregando nele.

— Se eu os conheço bem, o transporte deles.

................................................................

Hizashi estava muito empolgado, mas também curioso. Enquanto a classe A fazia um estrago, principalmente Todoroki, que estava destruindo a pista e a concorrência sem dó, os alunos do departamento de suporte estavam despreocupados na porta.

Isso até eles começarem a ouvir a música.

Ooga-chaka Ooga-Ooga

Ooga-chaka Ooga-Ooga

Ooga-chaka Ooga-Ooga

Ooga-chaka Ooga-Ooga

— Eh? De onde está vindo isso?

E foi quando ele viu, virando no estádio, vindo da área de administração, em toda sua glória verde e parando ao lado dos alunos.

— Isso é uma van!??

..............................................

— Christine 2.0, sim, é uma van.

Nemuri olhou abismada a cena, um por um eles entraram no veículo e partiram para a corrida.

— Isso é permitido??

— Desde que eles tenham construído algo, eles podem usar. E se passou pela inspeção então é, é permitido.

—Seus alunos construíram uma van?!

....................................................

Momo olhou incrédula a van vindo atrás deles, passando pelo gelo de Todoroki com facilidade.

— Isso é permitido?

Uma das participantes ao seu lado, uma garota de cabelo azul bem presa nas costas de uma garoto de vários braços a respondeu.

— Desde que seja construído pelo aluno do departamento, sim. E passado na inspeção.

Momo piscou lentamente. Ela não via algo de errado nessa lógica.

"Nesse caso."

....................................................

I can't stop this feeling

Deep inside of me

Girl, you just don't realize

What you do to me

— Momo Yaoyorozu, seguindo ao que parece o fluxo, cria uma moto de sua barriga e ganha a pista com Kyoka Jiro na garupa! Que surpresa, meus caros. E a van continua ganhando terreno, com um boost de velocidade ela corta caminho em sua direção perigosa! Derramando algo na pista no processo e atrapalhando os concorrentes, dignos da corrida maluca! Mas o porquê da música? Eu não sei! Mas será que vão ganhar velocidade para alcançar os outros? Isso é uma catapulta no teto?!

..........................................................

— Hizashi tem um ponto, qual a razão da música? Não que não esteja gostando.

— Um deles tem uma quirk baseada em música. Quando ele canta, ele pode consertar qualquer objeto.

— Então enquanto ele estiver cantando a van é concertada dos estragos? Seus alunos são insanos!

.....................................................................

— E o obstáculo a frente, os robôs estão a espreita! Todoroki, da classe A! Uma combinação de ofensiva e obstrução de passagem em uma única habilidade! Esse garoto é forte demais!

— Isso não vai segurar os outros por muito tempo.

— Mas o que é isso? Saindo da janela da van, Izuku Midoriya e Hiro Watanabe, departamento de suporte! Midoriya acaba de usar um tipo de linha de aço e se lançar em um dos robôs com Watanabe. Qual será seu plano? What the fuck!?

— Olha o palavrão.

— O robô apenas pegou a van nos braços e correu com ela, senhoras e senhores. Ele pulou por cima das valas, facilmente, passando por outro dos obstáculos. E os robôs que ficaram para trás estão se multiplicando?

..............................................

— Watanabe tem a quirk de vivificar, qualquer objeto que ele toca ganha vida. Ele agora está controlando o robô.

— E os robôs se multiplicando?

— Uma das irmãs Ikeda, que saíram na frente antes da van, provavelmente.

— Hum. Então elas estão aí só para atrapalhar os outros participantes?

— Sem restrições, você disse.

Nemuri tinha que concordar, eles não estavam quebrando nenhuma regra.

O robô saltou facilmente a vala com a van e os outros dois alunos pendurados nele. Com certeza era um sinal inesquecível e estava roubando toda a atenção da classe de heróis, algo que nunca havia acontecido antes.

Os outros participantes pareciam ter percebido o perigo da concorrência e alguns estavam mirando para a van, até que ela repentinamente desapareceu.

— Ham?!

Maijima deu uma risada, parecendo muito satisfeito.

— Aya Kenranzaki, quirk de mudança de cor. Provavelmente com Jimin Oono, inversão de quirk. Ao invés de mudar a própria cor ela mudou da van e causou camuflagem.

.................................................

I'm hooked on a feeling

I'm high on believing

That you're in love with me.

— Eles com certeza sabem como mostrar o poder das quirks, hein? E na ponta, temos Todoroki e Bakugou, em grande vantagem em relação aos outros participantes! E a van maluca segue atrás, junto com os outros participantes! E agora o obstáculo final, as minas terrestres! Não fortes o bastante para machucar, mas com certeza podem atrapalhar! E o robô lançou a van por cima delas!

Hizashi tapou o microfone e olhou Aizawa com os olhos arregalados em uma expressão clara de 'what the fuck'.

Aizawa deu de ombros. Pelo menos não eram seus alunos dessa vez que estavam causando caos.

.........................................

Lips are sweet as candy

It's taste stays on my mind

Girl, you got me thirsty

For another cup of wine

A van derrapou na pista de gelo deixada para trás por Shoto de forma perigosa, mas Mei a manteve sem virar, os restos do robô pegos nas explosões ficando para trás.

Hiro e Izuku se jogaram pela janela caindo nos bancos. Satou mantinha sua quirk ligada, amplificando a dos demais enquanto Nara continuava cantando e consertando os estragos da aterrissagem.

— Final logo à frente! Rebaixando a camuflagem, Aya!

— Okay!

Izuku olhou para trás, os participantes estavam logo atrás. Alguns ficaram presos nos restos do robô e estavam se atrasando.

Eles tinham ainda um último boost para pegar impulso, mas não seria o bastante para alcançar a frente.

Agora, Izuku poderia apenas ficar na van, eles tinham uma vantagem boa, com certeza mesmo com alguns passando eles eles ainda seriam classificados.

Apenas ele não ficaria contente apenas em ser classificado.

— Eu vou mirar em primeiro, Mei o lançador!

All the good love when we're all alone

Keep it up girl

Yeah, you turn me on

.................................................

— E estamos na reta final! Todoroki e Bakugou brigando pela frente. Mas esperem, o que é aquilo?

.................................................

Bakugou ouviu o maldito som atrás deles, mas não olhou para trás. Ele deveria saber que Deku iria aprontar uma dessas.

I'm hooked on a feeling

I'm high on believing

That you're in love with me

Ele não iria conseguir se livrar dessa música tão cedo. Ele havia verdadeiramente ponderado em desligar seu aparelho de audição, mas o risco de acabar se prejudicando na corrida era maior do que a sua irritação. 

Mas o mais importante no momento era vencer o bastardo ali ao seu lado e chegar em primeiro, ele não aceitaria menos do que isso.

Ele deveria saber que sendo Deku não seria assim tão fácil.

Um movimento de ar abrupto foi sentido acima da cabeça deles dois. Quando olhou para cima quase esfregou os olhos ao ver a cena. Com óculos de proteção nos olhos e deitado em uma prancha de metal, um gremlin voador passava deles, diante do olhar indignado dos dois alunos da classe de heróis.

No meio do ar a prancha foi jogada nos dois, o impulso restante sendo utilizado para lançar uma linha de aço no arco de entrada no estádio.

O gremlin olhou para trás brevemente, dando um pequeno salute, antes de se balançar em direção a vitória.

.................................................

— E Izuku Midoriya é lançado da van como um foguete, passando por cima da concorrência, ganhando primeiro lugar na primeira etapa do festival esportivo! Do departamento de suporte, Izuku Midoriya!

................................................

Algumas coisas, não importando o universo, nunca mudariam.

....................................................

Em algum lugar das arquibancada, a classe de gerenciamento observa o andamento das coisas, mais interessados nos outros participantes do que em realmente participar.

— O que acha?

— O valor de mercado de Midoriya com certeza vai aumentar drasticamente, mas considerando que sua quirk ainda precisa ser apresentada, o que vai acontecer a seguir é difícil de prever!

— Ele não tem uma quirk. - Sons surpresos ao redor, um dos alunos parecia ponderar profundamente, observando a van entrar na arena, classificando os alunos dentro dela. Eles com certeza sabiam fazer uma entrada. - Meu irmão estuda com ele, ele não tem uma quirk.

— Então ele está participando apenas para apresentar o equipamento?

—Não de acordo com meu irmão, ele realmente está mirando para ser transferido.

O grupo olha a arena em conflito. Isso era algo inesperado e sem precedentes. Nunca visto, nunca imaginado.

— Um herói sem quirk?

Era ridículo.

Podia ser também uma oportunidade.

— Um herói sem quirk. Quem quer que consiga deslanchar a carreira dele vai fazer história.

— É um desafio. E a aparência dele não ajuda, mas é...potencial.

— Potencial.  - Eles se entreolharam novamente e balançaram cabeça em concordância - Ele é nosso.

..............................................

Outras mudariam completamente. 

..................................................................

Notas finais

E temos a primeira parte do festival! No próximos teremos quem passou nessa etapa (sim, terá mudanças do canon, com tantos alunos do suporte passando) e  prova da cavalaria. 

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