O Conto da Donzela do Santuár...

By VictoriaFrancoN

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Mikoto é uma miko, uma sacerdotisa de uma pequena ilha, ou era, até um estranho sonho levá-la a de repente fu... More

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By VictoriaFrancoN

No momento em que Sayuri pôde ficar de pé, o que aconteceu apenas na manhã seguinte, ela fez um encantamento de cura para restaurar a perna quebrada de Takako, e deu certo, mas o esforço a exauriu e ela teve que voltar para a cama.

Foram necessários dias para a cidade voltar a alguma normalidade. O dano causado pelos youkai não era tão extenso quanto o de um bombardeio, mas o verdadeiro estrago não estava nas paredes e ruas destruídas.

As pessoas aparentemente tinham perdido a confiança nas sacerdotisas e no clã Kairiku. Agora não eram apensa boatos e rumores, tornou-se oficial e inegável que youkai existiam, e o fato de haver monstros perigosos à solta criou um pânico generalizado.

E como nenhum membro veio em socorro dos cidadãos na noite do ataque, houve uma quebra na antiga confiança de que o clã protegia o mundo das ameaças da natureza de youkai.

Tamayori fez um pronunciamento para explicar que os monstros encurralaram as guardiãs das pérolas e todos os membros do clã de forma que não pudessem impedi-los de avançar para o palácio governamental. A explicação, entretanto, só convenceu alguns poucos. Apesar de ser a verdade, a maioria da população ainda estava muito ressentida pela falha e o que ela custara.

Mikoto ficou um pouco constrangida ao perceber que era alvo de muito menos hostilidade, por ter sido vista na rua enfrentando os youkai com a naginata e por ter salvado a rainha. Yamatohime foi até o distrito do clã agradecer pessoalmente, o que aumentou muito sua credibilidade com o clã e o resto da cidade.

Depois disso muitas pessoas começaram a abordar a menina para perguntar como ela salvou a rainha sozinha ou parabenizá-la por ser uma heroína.

-- Você deve ser muito talentosa para uma miko tão jovem – comentou um homem de cabelos brancos que devia ter uns sessenta anos.

-- Eu tenho dezessete anos na verdade – Mikoto murmurou em resposta. O homem ficou surpreso.

-- Mesmo? Achei que tivesse menos, mas não é uma diferença muito grande entre catorze e dezessete anos. Ainda é muito jovem.

Algumas vezes, quando Mikoto respondia que teve ajuda para chegar à rainha, os expectadores olhavam curiosos para Haku.

-- Vocês são irmãos? – perguntou uma mulher – Vocês têm olhos iguaizinhos.

Ouvir isso fez voltar à mente de Mikoto o que Yasha falara naquela noite do ataque, sobre os três terem a origem em comum, e como seus olhos eram idênticos.

Seria possível que viessem da mesma família? Uma família misteriosa de invocadores de youkai de olhos cinzentos, sobre os quais nem o clã Kairiku sabia. Se fosse mesmo verdade, por que Mikoto fora abandonada no oceano, e por que tinha poderes de miko em vez de invocar youkai como Yasha fazia?

Como podia ser uma miko se vinha de uma família de magos negros?

Perguntas demais sem nenhuma perspectiva de respostas. Se ao menos tivesse uma pista...

-- Hora do almoço – Haku entregou uma marmita a ela e sentou ao seu lado na calçada para comer. Mikoto teve uma ideia ao olhar para o menino.

-- Você está bem mais falante agora, Haku. Parece até que passar por essas experiências de risco te solta mais.

-- Acho que sim – ele rapidamente terminou o almoço, baixou os hachis e olhou para longe, pensando – Quando estamos em perigo, de repente me sinto mais alerta, e é como se uma força invadisse meu corpo, me sinto mais esperto, mais ativo, sei exatamente o que fazer. Às vezes parecer uma força que não é minha.

-- Como assim?

-- Não sei explicar – Haku procurou as palavras certas – Acho que, como essa vontade vem do nada, de repente, tive a impressão que ela não é minha, ou pelo menos não totalmente minha, como se outra pessoa a compartilhasse comigo. Sei que é estranho, só esqueça.

Mikoto levava o arroz à boca distraidamente enquanto ouvia. Ainda um pouco hesitante, perguntou:

-- Haku, o que você se lembra do seu passado? Sua infância, família...

-- Minha lembrança mais antiga é de encontrar Yasha e você no Santuário Negro. Antes disso é tudo muito confuso, nebuloso.

-- Não sabe como chegou lá?

-- Não, só sei que no momento em que vi vocês duas, com Yasha te machucando, eu soube que devia te ajudar. Ela era perigosa – uma sombra passou pelo rosto dele com a lembrança, mas voltou ao normal ao olhar para Mikoto de novo – E eu te devo muito por ficar comigo e cuidar de mim, por me dar um nome e me ensinar a falar.

-- Eu que te devo por me salvar naquele dia e nunca sair do meu lado desde então.

Os dois voltaram a trabalhar em limpar os restos de um muro da calçada, mas MIkoto ainda não abandonara o assunto, e tentou outra abordagem.

-- Sabe, eu era só um bebê quando fui encontrada em Iruka, mas quando forço a memória, consigo me lembrar de alguns flashes. Trovões e um céu escuro.

-- Eu tentei um pouco. Tudo o que vejo é um lugar escuro e silencioso, e acho que – Haku se interrompeu. Mikoto olhou para ele.

-- O que foi?

-- É muito vago, acho que é um rosto.

-- Um rosto? Talvez seja de alguém da sua família! Seu pai ou sua mãe.

-- Não sei, não me lembro bem do rosto inteiro, só dos olhos. Eram claros, cinza como os seus e os meus também.

Se isso era tudo que ele conseguia se lembrar, não ajudava muito, além da possibilidade de haver mesmo uma família de olhos iguais aos seus em algum lugar.

O coração de Mikoto acelerou com o pensamento de encontrar sua família biológica, mas um pensamento logo conteve essa emoção. Ela ia gostar dessa família se a encontrasse? Se foram pessoas capazes de abandonar um bebê em uma canoa e criar alguém como Yasha, que ostentava um título como Onihime, era bem provável que não.

Teriam abandonado Haku também, sozinho e desmemoriado? Isso seria muito cruel.

Os atos e palavras de Yasha iam e vinham em sua mente no decorrer do dia. Ela dissera que eram uma família, e que Mikoto estava fazendo um bom trabalho como miko, que devia continuar.

Era isso que fazia menos sentido. Quando Mikoto exercia suas funções de miko, o trabalho de Yasha era interrompido. Como ela poderia gostar que a menina interferisse com sua missão de espalhar o caos?

Eram tantas perguntas sobrepondo-se umas sobre as outras que a cabeça de Mikoto começou a girar.

Ao final do dia, ela e Haku foram com Sayuri à casa de Takako, que não parara de trabalhar desde o instante em que pôde andar. Quando chegaram, o pai dela, que tinha o porte de um general, os levou até o quintal, onde ela descansava observando as estrelas surgindo no céu.

-- Você está um caco – foi assim que Sayuri cumprimentou a prima, que retribuiu com um sorriso cansado.

-- O dever para com o povo não se limita apenas a cerimônias. Enquanto tiver energia, eu ajudarei a consertar nossa cidade.

-- Mas cuidado para não se esgotar. Morta de exaustão não vai ajudar em nada – Mikoto aconselhou. Takako revidou:

-- Eu poderia dizer o mesmo a você. Usou um kami bem perigoso na noite do ataque.

Mikoto se encolheu. Ela jogara fora o ofuda com o kami da morte logo que terminara o encanto da barreira, para que ninguém soubesse.

-- Como você soube?

Takako exibiu um papel amassado, mas onde ainda era possível ler claramente a palavra "morte". Sayuri não pareceu surpresa, sem dúvida a prima mostrara-lhe antes.

-- Quer nos dizer por que não contou?

-- É que é um kami tão sombrio e pouco usado, só ouvi falar dele numa história. Não sabia se era proibido ou perigoso, então não falei nada – ela torcia as mãos enquanto falava, evitando o olhar das duas. Haku veio em sua defesa.

-- Ei, qual é o problema? Ela salvou a rainha com isso.

-- Ninguém nega isso – Takako respondeu calmamente e pôs o ofuda no chão entre elas – Usá-lo virou a batalha a seu favor, mas há um tabu sobre ele, pois é um poder antigo, usado não por humanos, mas pelo próprio Deus da Morte e seu gato, que era nada menos que uma das nove bijuu. Não é um poder para ser usado por uma miko.

-- Não vou mais usar – Mikoto murmurou em tom de desculpa. Mas Takako ainda não terminara.

-- O que realmente importa é o fato de você ter escondido a verdade de nós. Fosse para não levar uma bronca ou não nos deixar preocupadas, não importa qual a razão, não podemos guardar segredos desse calibre umas das outras, porque nossa relação se baseia na confiança. Devemos ser uma família, e compartilhar nossos acertos, erros e situações perigosas.

-- É, se não for assim, Yasha ganha. Você mesma disse, Mikoto, se não estivermos em sintonia, fazemos um favor a ela – Sayuri adicionou. Haku entrou na conversa.

-- Então vamos combinar de ser totalmente abertos e sinceros daqui para frente. Sem mais segredos.

-- Sim – Sayuri exclamou alegremente. Takako repetiu com menos entusiasmo, mas com um sorrisinho.

Mikoto, entretanto, miou uma resposta, incapaz de desviar o olhar do chão.

A sensação de que não devia estar ali nunca esteve tão forte desde que tudo começara. Uma ideia se formara em sua mente, de que talvez Mikoto não estivesse interferindo na missão de Yasha, por isso ela parara de tentar feri-la, e dizia para continuar sendo uma miko.

E se tudo o que ela fizera nos últimos tempos fosse o que Yasha queria? Estaria ajudando a trazer caos ao mundo de alguma forma?

Essa ideia a perseguiu até tarde da noite e a manteve acordada muito depois de todos terem ido dormir. Revirou-se na cama do quarto de hóspedes.

Se o que ela fizera até agora era o que ajudava Yasha, Mikoto não podia continuar. O mais silenciosamente possível, ela abriu a gaveta do criado-mudo e tirou um pequeno caderno e uma caneta.

Na hora de sair de casa, Mikoto levou consigo apenas a caixa com o suzu e gohei que ganhara de Takako e Sayuri. Conseguiu ser mais silenciosa naquele momento do que em toda a vida, mas ainda assim foi surpreendida ao deixar o distrito do clã.

-- Aonde vai?

-- Haku?! – ela conteve o grito e o converteu num sussurro zangado – Não me siga. Volte agora.

-- Você vai embora? Deixe-me ir junto.

-- Não, Haku, o melhor para você é ficar aqui, onde o clã Kairiku tem muito mais a oferecer. E eu devo voltar para casa.

-- Por quê?

-- Pode ser perigoso se eu ficar.

-- Eu vou com você então. Eu te protejo.

-- Não, Haku! – o tom dela foi o bastante para fazê-lo dar um passo para trás. Mikoto suspirou e prosseguiu, mais calma – Não é perigoso aonde eu vou, mas aqui ainda pode ser, por isso você precisa ficar. Agora quem vai precisar da sua proteção são Sayuri e Takako. Fique com elas no meu lugar.

Ele fez uma cara muito triste, mas terminou por assentir, e ficou parado onde estava, inconsolável, vendo Mikoto desaparecer na noite.

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