Efêmero ϟ Potterverso

De EvanoraCaligari

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Carregar o sobrenome Greengrass era uma tarefa tão desagradável quanto vantajosa, especialmente quando uma de... Mais

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De EvanoraCaligari

O cenário revolto não influenciou em nada a paciência com que Daphne Greengrass ajeitou a capa de lã tartan sobre os ombros trêmulos da irmã caçula. Ao seu lado, Pansy ainda reclamava da forma como McGonagall ignorara a sugestão de entregar Potter a Voldemort, soando muito lógico a ela colocar-se contra O Escolhido diante de uma professora tão correta quanto a diretora da Grifinória. E a aluna não era a única. Outros sonserinos concordavam com a fala tacanha da garota.

Cercada pelo desespero, a filha mais velha do Sr. e da Sra. Greengrass pouco se importava com Potter ou a obtusa da Parkinson. Tirar a irmã do epicentro da batalha era o objetivo principal e nada se interporia em seu caminho.

Daphne respirou fundo para não revirar os olhos quando Pansy tentou incluí-la na discussão e preocupou-se em arrumar o broche — com o emblema de sua família — sobre o peito da irmã, antes de começar a se preocupar com a própria capa. As mechas loiras, embaraçadas do sono interrompido, escorriam pelas costas, destoando do tecido verde-escuro do pijama.

— Deveríamos ficar — murmurou Astoria, ganhando um olhar estupefato da irmã. — É o certo a se fazer.

— Não ouviu a Minerva? Menores de idade devem voltar para casa, e é para lá que você... nós iremos. — Daphne constatou, angustiada, a cor fugir dos lábios da menina. — Trouxe as suas poções?

— A escola precisa de nossa ajuda — insistiu Astoria, suando apesar do frio.

— Eles não querem nossa ajuda! Ninguém nunca quis nossa ajuda. Somos os malvados, lembra? — Um grupo de lufanos a encarou, surpresos com o tom de voz agressivo. — Onde estão as malditas poções?! — Ela vasculhou os bolsos, sentindo o nervosismo aumentar à medida que Filch e a Madame Pomfrey se afastavam com os alunos. — Nott! Ei, venha aqui! Cuide de Astoria enquanto busco as poções dela.

— Enlouqueceu?! — O rapaz esguio ainda vestia o robe, após ser acordado às pressas pelos monitores da Sonserina. — Logo, logo Hogwarts será tomada pelos comensais. — A voz quase falhou na palavra "comensais", certo de que o pai estava incluso entre eles. — Esqueça as poções!

— Faça o que mandei! Caso eu não volte a tempo, vá com ela para a nossa casa. Mamãe sempre tem frascos reservas. Ei, não se preocupe — acrescentou ao ver a irmã abrir a boca para contestar a decisão —, prometo que serei rápida.

Daphne deu as costas aos dois e correu em direção às masmorras. A influência da família Greengrass era um elemento importante para acessar as poções que permitiam Astoria ter uma vida, na medida do possível, confortável. Os ingredientes vinham de pontos inóspitos do mundo e, com um pedido encarecido do patriarca, Prof. Snape aceitara produzi-la e transmitir o conhecimento a Daphne.

Ela o vinha fazendo há mais de dois anos, mas com as dificuldades de um mundo bruxo comandado por Lorde Voldemort, conseguir o material tornara-se uma tarefa difícil. Deixar as poções para trás era o tipo de desperdício que colocaria a vida da irmã em risco.

O castelo estremeceu, dispersando poeira ao longo das masmorras, e Daphne teve que se proteger ao menos duas vezes dos fragmentos rochosos que caíam do teto.

— Basilisco — proferiu a senha em voz alta ao chegar em frente à entrada.

Ela observou a parede úmida deslizar para o lado, revelando uma sala comunal vazia. Ao contrário das outras casas, nem um sonserino se arriscaria em uma batalha de contornos tão pessoais quanto aquela. Daphne desceu os degraus e cruzou o cômodo comprido, sob o balanço inconstante das lâmpadas acima. Com a lareira apagada, o ambiente ficou ainda mais frio, banhado em um tom esverdeado por conta da luz provinda do lago.

Não foi difícil encontrar a caixa com os frascos e transferi-la para uma bolsa carteiro largada na cama. Por indicação sua, a irmã as guardara no armário de cabeceira, protegido por magia. Nenhuma das duas confiava o suficiente nas colegas para manter algo tão precioso sem a devida segurança. A bruxa não se preocupou com os outros bens, só correu o mais rápido que pôde, notando de relance a agitação dos sereianos além dos vitrais da sala.

O mundo não demorara a desabar do lado de fora, de onde se via clarões iluminarem os terrenos de Hogwarts sob a promessa inerente de infortúnio. A missão que impusera a si mesma foi resgatar as poções da irmã e fugir. Aquela não era a sua batalha, aqueles não eram seus amigos; ninguém necessitava mais de sua ajuda que Astoria. Ainda assim, no fundo, desejava que Potter chutasse a bunda de Voldemort.

Em questão de minutos, talvez segundos, mergulhou contra a vontade na luta que definiria o mundo bruxo, defendendo-se quando preciso, ajudando outros alunos quando isso não significava colocar a própria pele em risco. E quanto mais guerreava, mais o tempo se alongava. Estava presa em um pesadelo terrível quando tudo o que queria era voltar para junto de sua irmã, e nem o Lorde das Trevas em pessoa a impediria de atingir seu intento.

Esbarrar em Draco foi um incidente inesperado, especialmente ao vê-lo longe de seus "cães de guarda". Sangue se acumulava nos lábios, piorando a aparência já debilitada do herdeiro Malfoy. Daphne teria deixado ele se virar contra o comensal, que o encontrou escondido atrás da ruína que se transformara uma das esculturas de pedra, no amplo corredor próximo à escadaria de mármore do saguão, porém lembrou da paixonite que a irmã nutria pelo moleque. Astoria nunca a perdoaria caso soubesse que o abandonara para morrer.

Atacando o encapuzado por trás, sem um pingo de remorso, a bruxa correu até Malfoy e o segurou pelo colarinho ao fugir para longe do comensal caído. Em nenhum momento ele a agradeceu, tremendo feito vara verde até se abrigarem na primeira sala vazia que encontraram. A porta foi reforçada com feitiços de proteção, muito embora Daphne temesse que o teto colapsasse antes que outros serviçais de Voldemort os encontrassem.

Ela se largou na cadeira próxima e tentou acalmar a respiração, atenta a qualquer ruído próximo. Draco, por outro lado, continuou em pé, com o olhar perdido no quadro vazio de lições; os lábios entreabertos e inchados, manchados de sangue.

— Continue aqui até a batalha terminar — disse Daphne, levantando-se. — Caso o Lorde das Trevas ganhe, não será considerado o covarde que é.

— Espere! Onde pensa que vai? — Ela o mediu com desdém.

— Minha irmã precisa de mim. — A mão foi até a bolsa por instinto.

Com as barreiras do castelo derrubadas, só precisava de um lugar relativamente calmo para desaparatar.

— Ajude-me a encontrar meus pais. — Daphne riu ao entreouvir a entonação de ordem que o garoto tentou imprimir na voz.

— E o que ganho com isso, além do risco?

Draco piscou algumas vezes, pensativo.

— Terei uma dívida com você.

Ela arqueou uma das sobrancelhas e segurou-se para não voltar a rir.

— Não acredito que encontrar os seus pais seja a melhor escolha no momento, mas que se dane. O problema é seu.

De repente um calafrio percorreu a espinha de Daphne e a voz de Voldemort invadiu o castelo:

Harry Potter está morto. Foi abatido em plena fuga, tentando se salvar enquanto vocês ofereciam as vidas por ele. Trazemos aqui o seu cadáver como prova de que o seu herói deixou de existir. — De olhos esbugalhados, Draco a encarou.

As palavras do Lorde das Trevas continuaram a invadir seus ouvidos e os dois o escutaram com atenção até o silêncio retornar. O rapaz se encolheu, agachando-se e tapando as orelhas junto a uma das mesas, enquanto Daphne aguardava. Não sabia exatamente o que esperava, porém tinha certeza de que algo grande viria. Imaginar Potter morto provocava um gosto amargo na boca. Nunca o julgara capaz de derrotar Voldemort, pelo menos não sozinho. Descobrir que ele sucumbira, em contrapartida, era decepcionante.

Pensou em desaparatar e deixar Draco com seus problemas, mas desistiu da ideia ao ouvir uma gritaria, seguida pelo tremor das paredes. A algazarra instaurada atravessou o concreto e chegou aos dois como a confirmação da intuição de Daphne, que respirou fundo, segurando a varinha com firmeza.

— Temos que ir. Não me faça arrastá-lo! — esbravejou quando o colega de casa não se moveu. — Não vai encontrar seus pais enfurnado aqui! Vamos!

Ela o segurou pela mão e os dois atravessaram a porta com as varinhas em riste, prontos para ataques que podiam vir de ambos os lados. Quando despontaram na escadaria, a visão caótica tonteou Daphne. Todos os participantes da batalha apinhavam-se no Saguão de Entrada e no Salão Principal. Os sonserinos correram escada abaixo, tomando cuidado para não chamarem atenção.

O alívio foi ao encontro da menina ao avistar os Malfoy correndo na multidão, gritando a plenos pulmões pelo filho. Em resposta, Daphne puxou o moleque com força pelo antebraço, sem deixar de tomar cuidado com a tempestade incessante de feitiços que os atingiriam no menor dos descuidos. O olhar da jovem cruzou com o de Lucius em um instante crítico, entretanto o bruxo não a reconheceu de imediato. Foi necessário um grito na direção do casal para que Narcissa os avistasse.

Nem um dos dois perdeu tempo e trataram de carregar o filho para longe da batalha, com o auxílio de Greengrass. Os quatro se esconderam atrás dos escombros de uma das paredes do saguão e lá permaneceram, aflitos e ofegantes, prontos para se defenderam se necessário, mas torcendo para que a ocasião desafortunada não os encontrasse. Na periferia da visão, Daphne viu a Sra. Malfoy segurar o rosto de Draco nas mãos sujas e soluçar, incrédula diante do rapaz são e salvo.

A luta perdurou por uma fração de eternidade antes de escutarem os brados de alegria vindos do Salão Principal. Tomando todo o cuidado, Daphne espiou de sua humilde fortaleza e suspirou ao ver alunos, professores e aliados comemorarem. Não havia sinal de comensais, ou mesmo de Voldemort, nas imediações, à exceção dos três ao seu lado.

— O que está acontecendo? Quem ganhou? — Ela se virou na direção de Narcissa e o olhar correu pelos membros da família.

Os Malfoy sempre foram símbolo de riqueza e glamour, então não foi fácil para a garota encará-los naquele estado de abatimento. O ar de pomposidade os abandonara, substituído pelo esfacelamento do requinte ao qual tanto se orgulhavam. Narcissa ainda sustentava certa dignidade em face da aparência do marido, graças ao consolo, talvez, de encontrar o filho vivo em vez de retirar o corpo inerte dele dos entulhos. Lucius, por outro lado, em nada lembrava o Sr. Malfoy dos jantares e reuniões em sua casa. Os olhos encovados a encararam opacos; as íris pálidas mal se destacando na pele amarelada.

— Potter venceu — murmurou, engolindo em seco ao imaginar o futuro dos três daquele instante em diante.

Daphne se ergueu em um movimento suave, temendo chamar atenção do jeito errado e ser atacada sem necessidade.

— Espere. — O aperto firme no punho sobressaltou a garota, que encarou Lucius com surpresa. — Se eles nos virem...

— Direi que lutaram contra outros comensais para salvar Draco. — Ela o encarou de semblante vazio, sem saber exatamente como se sentir quanto às escolhas da família. — Não façam eu me arrepender disso.

Os dois se encaram e um vislumbre de esperança cruzou o olhar do Sr. Malfoy. Ao dar-lhe as costas, julgou ter ouvido um "obrigado" sussurrado, fraco demais para ter certeza de sua veracidade, principalmente por partir de alguém como ele. Imunda da cabeça aos pés e com cortes que já não ardiam mais, Daphne apalpou a bolsa, sentindo os frascos intactos. Só aquilo importava de verdade, o resto era poeira de escombros.

Notas

Depois do meme que recebi nos comentários lá no Spirit, ri tanto (e tava mesmo precisando rir) que não aguentei e postei agora. Espero que tenham gostado do primeiro cap. Os próximos se passarão alguns anos no futuro, como coloquei nas notas iniciais.

Gostaram da minha visão da Daphne? Ainda quero utilizá-lo em outras histórias, mas não com o Lulu

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