O Conto da Donzela do Santuár...

By VictoriaFrancoN

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Mikoto é uma miko, uma sacerdotisa de uma pequena ilha, ou era, até um estranho sonho levá-la a de repente fu... More

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By VictoriaFrancoN

Aqueles que não foram mortos fugiram em debandada. Haku gargalhava deliciado.

-- Corram, covardes!

Mikoto, entretanto, não compartilhava de sua empolgação, conjurar o kami da morte a deixara trêmula, com a cabeça girando.

-- Você espantou todos? – a voz de Yamatohime soou mais impressionada às suas costas.

-- Ainda há outros na cidade e no Santuário. Vamos para lá, Haku.

Ele a acompanhou numa trôpega corrida de volta ao Santuário Branco.

*

Takako não sabia há quanto tempo estavam lutando contra aquele gashadokuro, pareciam horas, ou minutos agonizantemente longos.

Nesses momentos ela queria ser tão empolgada e boa em magia combativa quanto Sayuri, que conjurava fogo, raios, neve, terra e o que mais viesse à mente contra o esqueleto gigante, enquanto Kurono, Yukio e todos os seguranças e guardas do templo descarregavam suas armas nele.

O monstro rugia ferozmente e produzia um horrível som de ossos se batendo ao mover-se, o que felizmente fazia mais devagar, sobrecarregado pelos ataques constantes, mas não desistia de chegar ao templo. Sayuri estava se saindo excepcionalmente bem em contê-lo com seus kami de barreira, o gashadokuro esbarrava nas paredes verdes cintilantes furiosamente.

A mão do esqueleto gigante se ergueu acima da cabeça e esmagou o chão à frente do templo, só não fazendo o mesmo com Yukio e Hiro porque os dois se jogaram para longe de seu alcance por pouco. Sayuri recuou para concentrar seu poder na conjuração de um kami mais potente.

O gashadokuro devia ter percebido, pois concentrou toda a sua atenção em ataca-la dali para frente. Kurono concentrou todos os homens em defesa da miko, mas o youkai agora atacava com muito mais vontade. Ele deitou o braço sobre o chão e varreu tudo e todos à sua frente.

Sayuri estava desprotegida, e ainda não terminara de conjurar o kami. Takako correu até a prima quando gashadokuro ergueu o punho e jogou seu corpo contra o dela, tirando-a do alcance dele.

A jovem lançou-se para o lado no instante em que o punho esquelético esmagava o chão, e ouviu um estalo ao mesmo tempo em que uma dor lancinante invadia sua perna. Seus olhos lacrimejaram e ela se viu incapaz de se levantar.

O gashadokuro já levantava o punho novamente, agora mirando Takako. Foi a vez de Sayuri vir em seu auxílio. Ela apontou um ofuda para o youkai e bradou:

-- Gravidade!

O esqueleto foi ao chão, empurrado para baixo por um peso invisível, e por mais que se contorcesse e grunhisse, de raiva, permanecia impotente. Sayuri se aproximou calmamente e colou o ofuda entre suas cavidades oculares vazias, falando de novo o kami, com mais raiva:

-- Gravidade!

O peso sobre o gashadokuro aumentou e o chão abaixo dele afundou. Completamente imobilizado, ele nada pôde fazer quando todos os guardas e seguranças avançaram como se fossem um só e terminaram de descarregar a munição nele.

Por fim seu corpo colapsou e se desfez em um amontoado gigante de ossos humanos, de tamanho normal. Todos suspiraram de alívio.

-- Ainda não acabou, ele pode se reconstruir – Takako sentou, ofegante pela dor – Precisa de um encantamento para não voltar. Sayuri, é com você.

-- Takako, sua perna! – ela, Yukio e Hiro se ajoelharam ao lado da jovem, que apenas bufou, irritada.

-- Isso pode esperar. Sayuri, faça o encantamento, depressa.

-- Eu? Mas você é melhor nisso. Eu vou curar sua perna e...

-- Não – Takako agarrou seu pulso com força – Isso vai te cansar, e ele pode se reconstruir antes de você terminar. Faça logo!

Apesar de insegura, Sayuri começou a dançar na frente da pilha de ossos e entoar o cântico de proteção. Ao término dele, a jovem caiu sentada, exausta, e observou os ossos se transformarem em pó e desaparecerem ao vento.

-- Todos estão bem? – Tamayori saía do templo. Kurono examinava a perna de Takako.

-- Takako quebrou a perna e Sayuri se esgotou para sumir com o youkai, mas fora isso, sim. O pergaminho está seguro.

-- E onde está Mikoto? – Takako perguntou. A alta-sacerdotisa estremeceu.

-- Ela foi atrás daquela mulher, Yasha.

-- Sozinha?!

-- Vamos atrás dela. Yasha pode matá-la – Sayuri não conseguiu ficar de pé, faltavam forças nas pernas.

-- Mas ainda nem refizemos a barreira – Tamayori argumentou, e antes que qualquer uma das jovens pudesse responder, uma nova voz gritou:

-- Youkai! – um dos rapazes em treinamento para sacerdote veio correndo do templo, completamente suado e sujo – Estão atacando!

-- Como?! – Yukio exclamou.

-- No clã e na cidade inteira. Eles estão em toda parte!

-- Calma, eles já estão em retirada – todos voltaram-se para as escadas para ver Haku chegar, ao lado de Mikoto, ambos também cansados e ofegantes – Atacaram a rainha, mas Mikoto os pulverizou, e os que sobraram fugiram. Deviam ter visto.

Tanto Sayuri quanto Takako teriam corrido até Mikoto no instante em que a viram, mas nenhuma das duas tinha condições de fazê-lo. Foi uma surpresa que Tamayori tenha ido até ela, e mais ainda quando disse:

-- Você precisa refazer a barreira. As outras não estão em condições agora, sobra apenas você.

-- O quê? – Mikoto reparou no estado delas – A senhora não pôde fazê-lo, Tamayori-sama?

-- Somente uma miko guardiã de uma pérola tem poder suficiente para isso – a mulher apertou a mão de Mikoto entre as suas – Por favor.

Mesmo com a cabeça girando, a menina sabia que estava em condições muito melhores que Takako e Sayuri. Ela pegou o suzu e o gohei que ganhara, mas não esperava estreá-los naquela mesma noite, e um pouco temerosa de se esquecer de alguma parte da dança ou da música, começou.

Quase dava para sentir os olhares sobre ela, mas Mikoto se concentrou na oração, e logo sentiu um calor brotar de seu peito e se espalhar para o resto do corpo como água jorrando de uma fonte, se concentrando em seus braços.

Então uma parede transparente cintilou azul por um momento ao redor do templo antes de desaparecer. Terminada a cerimônia, o calor no peito de Mikoto desapareceu e foi substituído por uma sensação de fadiga que a forçou a sentar, antes que caísse. Haku imediatamente veio e ofereceu seu ombro.

-- Está feito. O Santuário Branco está seguro – Tamayori levou a mão ao peito, aliviada – Bom trabalho, Mikoto.

A jovem só conseguiu sorrir fracamente em resposta, incrédula e ao mesmo tempo orgulhosa por ter conseguido realizar o encantamento em sua primeira vez. Também estranhou não estar tão esgotada quanto achou que estaria, mas ficou grata por não ter desmaiado.

-- Mikoto – Sayuri chamou, a voz tão fraca que a menina precisou se agachar ao lado dela para ouvir – Você agora é uma miko completa.

-- Como assim? Eu só...

-- Conseguir fazer a barreira com perfeição e sozinha na primeira tentativa é toda a prova que precisamos – Takako explicou, apoiada no ombro de Hiro para ficar em pé. Sayuri também precisou de ajuda para se levantar.

-- Você disse que não sabia qual o seu papel aqui, mas está na cara qual é. Você é a sacerdotisa do céu.

-- O quê?

-- Sua pérola azul é a prova disso. A terceira parte que nós precisávamos.

-- Tem toda a razão – Takako concordou – Você fez tanto por nós quando não podemos, o céu acima da terra e do mar. Teríamos falhado mil vezes se não fosse por você.

Mikoto não soube o que dizer, nunca ouvira ninguém falar algo assim para ela, uma demonstração de tamanha confiança, como se fosse membro da família de Sayuri e Takako, como se fosse uma irmã. Sem perceber, recomeçou a tremer, mas dessa vez, de emoção.

Aquele momento, no entanto, durou pouco. Yukio parou no alto da escadaria e observou a cidade abaixo. Colunas de fumaça se erguiam de vários pontos, caminhões de bombeiro, carros de polícia e ambulâncias cruzavam as ruas em alta velocidade, e mesmo à distância, os estragos eram bem visíveis.

Kurono deu voz ao pensamento do sobrinho:

-- O Santuário pode estar a salvo, mas com o que houve, essa vitória será um prêmio de consolação.

Qualquer pequeno sentimento de orgulho ou vitória evaporaram diante da constatação da verdade: os youkai destruíram a cidade, e o clã Kairiku não pôde fazer nada.

Mecanicamente,todos começaram a se mover, e levaram Takako e Sayuri para receberem tratamentomédico e repouso. Mikoto devolveu o gohei e o suzu à caixa e desceu com acomitiva para o distrito do clã, em um estado tão melancólico quanto os demais.

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