Kim Taehyung.
Um nome tão bonito, e quando ele o disse... pareceu ainda mais bonito.
Vê-lo foi quase como levar um choque, doloroso ao ponto de eu querer me afastar. Mas algo nele me atrai, talvez seja a pele dele, eu sabia que a pele dele era suave. Quando ele estendeu a mão eu não sabia o que fazer, parecia que com o gesto ele estava dando um passe livre para que eu o levasse, que eu o tivesse exclusivamente para mim, porque se Taehyung fosse um boneco, ele seria edição única.
Mas ele não é um boneco, não ainda.
Preciso visitar minha casa de bonecos, claro que ela não fica no mesmo lugar de antes. Quando eu tinha quinze anos, achei uma cabana abandonada que ficava um pouco longe da minha antiga casa. Foi para lá que levei Seokjin, não lembro qual desculpa dei para que ele me seguisse, mas éramos jovens estúpidos na época, estávamos sempre a procura de aventuras, então não foi difícil levá-lo até aquela cabana.
Tudo o que lembro depois que chegamos lá são fragmentos, mas envolvia soníferos no refrigerante, uma mordaça e algumas correntes que já estavam naquele lugar. Eu o deixei lá, e o visitei todos os dias. Seokjin estava um pouco fora do peso, e tinha bochechas muito fartas na época, mas agora ele está ótimo.
Meu querido irmão, Min Seokjin.
Retiro uma jaqueta do guarda-roupa e visto, pego minha carteira e as chaves do carro que estão em cima da minha cama e desço as escadas. Ao lado da sala de estar, pego o corredor que leva até a garagem. Ligo o carro e aperto o botão para as portas da garagem se abrirem, dou ré no carro mantendo os vidros fechados.
Já na rua, hesito. Vejo uma picape cinza parar em frente a casa de Taehyung. Um homem desce do carro e caminha despreocupado até a porta, como está escuro, não consigo ver o rosto do visitante. Mas não gosto dele estar aqui.
Quem é ele?
Por que está indo na casa de Kim Taehyung?
Aperto no visor do meu celular, onze e quinze. O que esse homem faz tão tarde na casa do meu escolhido? Eu continuo observando, torcendo para que Taehyung não abra a porta, que não atenda esse desconhecido que acabou de tocar sua campainha.
E lá está ele, a porta se abre, os pêlos do meu braço se arrepiam outra vez, me pergunto se essa reação sempre vai acontecer quando eu vê-lo, sorrio.
Mas então ele sorri, ele sorri ao olhar para o desconhecido. E eu não quero que ele sorria para ele, porque ele é edição única, tudo que ele fizer tem que ser exclusivamente para mim. Eu fecho minhas mãos em punho, porque sinto a raiva subir.
Ele o abraça.
Eu consigo ouvir a risada dos dois.
Eles ainda estão se abraçando.
Um minuto...
Dois...
O relógio congela no agora, e eu odeio o tempo por ser tão desgraçado.
Minha mão segura a puxador da porta, estou prestes a abrí-la, eu quero muito abrí-la, caminhar até o outro lado da rua e afastar meu escolhido daquele desconhecido. Mas paro, porque se eu fizer isso, ele achará que sou louco, e assim não vou conseguir me aproximar dele. Tiro a mão do puxador e soco o volante com força, espero Taehyung e o homem entrar para poder ligar o carro.
***
Abro a janela e deixo o vento noturno entrar, meu rosto, antes quente pela raiva, vai esfriando, e ao olhar para o retrovisor, vejo que não estou mais vermelho.
Pego a direita da estrada e continuo dirigindo até as casas começarem a ficar menos presentes. Quando olho rapidamente para o espelho do carro, vejo Hoseok. Ele está sentado no banco de passageiros, a maquiagem de seu rosto está totalmente borrada. A base derreteu por toda sua pele, o rimel escorre pela bochecha já suja de blush, o batom vermelho escorre feito sangue pelo seu queixo.
Uma olhada para trás e comprovo que ele não está realmente lá, o banco está vazio. Continuo dirigindo, mesmo que eu sinta aquele desconforto novamente. Primeiro eu vi Seokjin enquanto cortava a grama do meu jardim. Ele estava sentado no balanço, usava as mesmas roupas de quando eu o levei para a cabana, mas naquela época ele tinha dezesseis anos, e aquele homem sentado no balanço tinha vinte e seis, por isso as roupas de criança ficavam horríveis nele. O que me deixou desconfortável foi aquele breve fato que eu notei: ele parecia horrível. Um absurdo, eu sei. Mais tarde naquele dia, quando fui para a casa de bonecos, fiquei aliviado ao ver que eu estava errado. Seokjinnie estava perfeito enquanto cozinhava.
Acontece que, duas semanas depois, enquanto eu cozinhava, eu vi a Jisoo. Ela estava me observando da janela, usava aquele laço estúpido na cabeça, o mesmo que usava quando a levei para o meu carro depois daquela balada. Eu perguntei se ela queria entrar, porque estava nevando muito, foi quando ela deu um passo pra frente e bateu a cabeça na janela. Eu observei o nariz dela desprender de seu rosto, mas não havia sangue, apenas uma camada preta e imunda. Um piscar de olhos e ela não estava mais lá.
Quando a neve finalmente diminuiu, eu peguei a pá para limpar a saída da garagem. Mas acabei desistindo, porque Namjoon estava lá. Ele olhava atentamente para o outro lado da rua, a casa que uma dia foi sua. A mão esquerda dele, que eu precisei cortar, já que ele era forte demais, estava junto de seus pés, ela deixava um rastro vermelho na neve. Mas ele não estava lá de verdade também.
Estaciono em frente a casa de dois andares, por fora ela não é grande coisa, já que preciso que pareça uma casa comum para quem passa por aqui. Saio do carro e coloco as mãos dentro dos bolsos da jaqueta enquanto ando de cabeça baixa até a porta.
Subo os três primeiros degraus e retiro as chaves do bolso, a maçaneta está fria quando a puxo e entro na casa.
Tateio até encontrar o interruptor e acendo a luz, logo a casa é tomada pelo brilho da lâmpada que reflete nas paredes rosadas. Tranco a porta e caminho pelo corredor de entrada, ouço o som da TV vindo baixinho da sala, o primeiro cômodo depois do corredor.
Sentado no sofá, Jimin assiste um canal de leilão de jóias, os pés dele estão jogados em cima da mesinha de centro. Jiminie sempre foi um garoto bagunceiro.
— Quantas vezes já disse para diminuir as horas que passa em frente a essa TV? — pergunto, me aproximando. Deixo um beijo em sua testa gelada e sento ao seu lado, capturando o controle da TV.
— Está vendo esse botão vermelho? Ele desliga a TV, seu bobão! — observo seu belo rosto que ainda encara o aparelho, agora desligado.
— O que é isso? — suspiro baixinho ao retirar a base dura que virou quase uma casca em seu rosto. — Vamos ter que consertar isso, não é? — pego o pente que está em cima da mesinha e seguro uma mecha do cabelo negro de Jimin.
— Você tem se dado bem com os meus irmãos? E com a Jisoo? Como meu melhor amigo, é fundamental que você mantenha um bom relacionamento com a minha prima. Ela pode parecer mandona e careta, mas se der uma chance, tenho certeza que vão se dar bem! — termino um lado do cabelo e levanto para conseguir pentear o outro melhor.
— Ótimo, fico feliz que vai tentar. — eu o beijo na bochecha, farelos de base e blush grudam nos meus lábios, os limpo rapidamente com a manga da jaqueta. — Vou ver meus irmãos, antes de sair eu faço outra maquiagem em você.
Vejo a luz da cozinha acesa e caminho até lá. Seokjin está em pé na frente do fogão, me aproximo devagar para assustá-lo.
— Buu! — gargalho, me apoiando na pia. — Você teve medo dessa vez, tenho quase certeza! — sorrio e o abraço pelas costas, as correntes tilintam. — O que você está cozinhando hoje? Alguma receita saída diretamente da sua cachola? — olho para a panela no fogão, há algumas verduras murchas dentro. — Parece bom, Jinnie, deixe um pouco pra mim!
Me ajoelho e confiro se os pés dele ainda estão firmes dentro da vasilha de cimento. Suspiro aliviado, seria uma tragédia se desgrudasse.
— Onde está o maninho? Namjoon tem diminuído nos jogos? Como irmão mais velho, você deveria dar um chute na bunda dele, mas ultimamente parece que eu sou o hyung de vocês! — eu aliso seus cabelos com os dedos. Jinnie me ignora enquanto olha para a panela. É sempre assim, ele sempre está concentrado em cozinhar. Dou um tapa em sua bunda, porque sei que isso o irrita. — Vou falar com o Jonnie.
Saio da cozinha e volto para a sala, subindo as escadas dessa vez. A porta do quarto da Jisoo me chama a atenção, há uma plaquinha retangular escrita "não perturbe". Bato na porta duas vezes e entro. Jisoo está sentada na cama, há um livro em suas pernas e ela o lê. Está linda como sempre, os longos cabelos descem brilhosos pelos seus ombros. Ela veste um pijama de pandas e, pelo menos dessa vez, não parece irritada por eu ter entrado em seu quarto. Deve estar de bom humor.
— Ei, seu dia foi bom? — sento na beirada da cama e enrolo meu dedo em seus cabelos. — Que livro é esse? Posso dar uma olhada? — cuidadosamente, eu pego o livro. — O bosque das ilusões perdidas, de Alain-Fournier. Você está gostando? Esse não parece ser um livro que eu leria, mas se você achar bom, me recomende!
Levanto da cama e caminho até a prateleira de bonecos. Passo a mão para espantar o pó acumulado e os deixo totalmente enfileirados.
— Vou falar com o Namjoon, ele deve estar jogando com o Hoseok, consigo ouvir o som do jogo daqui! Desculpe se eles estão te incomodando, vou pedir que abaixem o som. — sorrio carinhosamente para Jisoo. — Te farei uma maquiagem antes de ir, por isso não vou me despedir agora. Espere ansiosamente por mim!
Saio do quarto e fecho a porta, vejo que a do quarto do Namjoon também está fechada, o brilho da TV e o som do jogo passa pela fresta da porta. Retiro minha jaqueta assim que começo a suar.
Ao abrir a porta do quarto, encontro Namjoon e Hoseok sentados no chão, as costas estão apoiadas na beirada da cama, os controles em mão. Já na TV, vejo que a partida terminou, um grande "GAME OVER" está escrito em vermelho, uma musiquinha irritante acompanha o fim do jogo.
— Quem ganhou? — dou um beijo na testa de ambos. — Não reclame, Hoseok. Você sabe que o Jonnie joga isso o dia inteiro, não é de se esperar que ele seja melhor. Talvez na próxima você ganhe. O que acha?
Me jogo na cama e cubro os olhos com meu braço direito. A casa está quente como sempre, já que não gosto de correr o risco de abrir as janelas.
— Eu conheci alguém. — falo um pouco hesitante. — O nome dele é Kim Taehyung, ele é muito bonito, sabe? Estou interessado nele, quero trazê-lo pra nossa casa, mas para isso, preciso ganhar a confiança dele. — suspiro baixinho.
— O que você acha, Jonnie? — retiro o braço dos meus olhos. — Entrar no mundo dele? Hm, boa ideia, é o que vou fazer. — sorrio e levanto de cama, caminho até o guarda-roupa e retiro as paletas de maquiagem. — Não contem para o Jin hyung, sabem como ele é ciumento. — me ajoelho na frente de Hoseok. Pego o lenço com demaquilante e vou retirando a maquiagem do meu primo. Quando a retiro por completo, não consigo evitar a careta que surge no meu rosto. Hoseok está pálido feito um papel e algumas manchas roxas estão espalhadas pela sua testa e bochechas.
— É por isso que bonecos usam maquiagem, para esconder as imperfeições. — aplico a base e espalho com a esponja. — Não se preocupem, — olho para Namjoon, que tem seu olhar perdido na TV, consigo ver a costura entre sua mão e pulso, o plástico usado como cola brilha sob a luz do quarto. — vou deixar vocês perfeitos outra vez!
***
Então vocês finalmente conheceram a casa de bonecos, o que acharam?
Eu li e reli esse capítulo várias vezes já que é um dos mais importantes, não estou 100% satisfeita com o resultado, mas não sei o que posso acrescentar.
Enfim, lembrem de votar e interagir com a história.
Beijinhos!💙