Anjo Loiro

By AnneSouza6

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Alexandra era tão pura quanto uma criança. Criada num convento, não conhecia os segredos da vida e nem sabia... More

Chapter 1
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Gente

Chapter 2

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By AnneSouza6

Alexandra nunca experimentara tal sensação de amplidão e liberdade. Quilômetros de pastagens a se perderem de vista, acres e acres de terra onde rebanhos bovinos pastavam calmamente, levantando os olhos para ela, indiferentes, enquanto passava no jipe de Harry.

Depois de atravessada a cerca de madeira que delimitava a propriedade de Harry, Alexandra estava ansiosa para ver a casa da fazenda. Andaram quilômetros e nem sinal dela. À volta, viam somente o pasto imenso, coberto do capim típico do planalto de Santa Vitória. A estrada agora não passava de uma trilha esburacada, e ela estava arrependida de seu gesto impulsivo, oferecendo o lugar ao lado de Harry à Srta. Holland. Ali no banco traseiro do Range Rover, suas costas não eram poupadas pelos solavancos constantes.

De tempos em tempos, seu olhar cruzava com o de Harry pelo espelho retrovisor, e esforçava-se para parecer descontraída. Mas a coisa mais importante para Alexandra era estar lá e a certeza da proximidade do corpo atlético de Harry no banco à sua frente era toda a compensação de que necessitava.

Não tinha sido fácil, agora percebia. E até o momento de subirem no avião tinha estado aterrorizada com a possibilidade de receber repentinamente uma mensagem de Harry, proibindo-a de ir ao seu encontro. Mas desde a primeira vez em que seu pai havia lhe falado sobre Harry Styles, descrevendo o tipo de homem que era, contando sobre as aventuras no México e a vida saudável ao ar livre que ele sempre preferira, tinha desejado conhecê-lo.

Por toda sua vida quisera fazer as coisas que seu pai fazia, conhecer as pessoas com quem ele trabalhava, participar das emoções das escavações. Ela o teria seguido até os confins da Terra, se ele lhe tivesse pedido, mas isso nunca acontecera. Segundo o modo de pensar dele, era uma menina, e meninas não são bem-vindas no mundo masculino. Sua própria mãe havia morrido de parto, o que, segundo a opinião dele, provava a fraqueza das fêmeas, criaturas indefesas. Ele só havia mandado buscar Alexandra porque sabia que seu fim estava próximo.

Mesmo assim, Charles Durham não sabia bem o que fazer com ela. As afirmações da filha de que tinha competência de se defender sozinha não o convenceram, mas sua sugestão de fazê-la voltar para o convento de Saint Coeur deixaram-na sinceramente assustada.

Foi então que ela teve a idéia de escrever a Harry Styles, contando que seu pai estava morrendo, e pondo o seu futuro nas mãos dele. Sabia que seu pai o tinha ajudado quando estava em dificuldades, mas sabia também que Charles Durham nunca cobraria tal coisa. Em vez disto, ele ditou-lhe uma carta para os advogados, dando-lhes o endereço do convento e pedindo-lhes que, se alguma coisa acontecesse a ele, enviassem Alexandra de volta para lá, pelo menos até ela completar dezoito anos.

Alexandra nunca escreveu esta carta. Como a vista do pai estava fraca, era ela quem escrevia, e não foi difícil substituir esta carta por uma escrita por ela própria e fazê-lo assinar. Talvez os advogados tencionassem discutir o conteúdo daquela carta com ele, mas Charles Durham teve um violento ataque do coração no dia seguinte e não mais recobrou a consciência. E Alexandra, insegura e desprotegida, ficou à mercê de suas próprias maquinações.

A primeira vez em que Alexandra vira Harry Styles no hotel, as coisas não haviam corrido como imaginara. Naturalmente tinha esperado seu protesto pelo fato de ela ser mulher... o pai também não havia reclamado? Mas não esperava que ele fosse tão jovem. Estava preparada para encontrar um contemporâneo de seu pai, na casa dos cinqüenta anos, e não alguém vinte anos mais jovem. Mas o fato inicial tinha sido superado pela imensa atração que sentira instantaneamente por aquele homem alto, moreno e musculoso, um tipo físico com o qual ela sempre sonhara.

Harry, também se sentira confuso com suas novas responsabilidades, mas o fato de pensar que ela era um garoto havia sido providencial. Não fosse pela Srta. Holland, ele poderia ter proibido a ida de Alexandra para a fazenda, mas ela sentia agora que, não obstante o que ele decidisse, ela o teria seguido. Fora o destino que a tinha feito escrever aquela carta e por enquanto bastava estar a seu lado.

A Srta. Holland havia tomado a sério suas novas responsabilidades,e agia mais como uma babá do que como uma acompanhante. Às vezes até tratava Alexandra como a uma criança. Mas, afinal de contas, ela já havia feito dezessete anos e, mesmo considerando que levara até ali uma vida relativamente protegida, tinha lido muitos livros que até teriam escandalizado as freiras. A única coisa que seu pai não lhe deixava faltar era dinheiro, e ela o gastava generosamente em livros de todos os gêneros. Toda a experiência que possuía sobre o relacionamento entre um homem e uma mulher tinha vindo das leituras, e Alexandra achava que poderia enfrentar uma situação destas quando chegasse a hora. Era uma jovem madura e inteligente, ou assim acreditava ser, mas a maneira como a Srta. Holland se comportava a irritava. Este fato divertia Harry desde a chegada deles ao Uruguai, o que aumentava ainda mais sua frustração.

 Embora Charles Durham não tivesse deixado fortuna, não morrera pobre. Usara grande parte de seu capital para financiar expedições, mas a venda de uma casa que possuía em Ealing proporcionara a Alexandra uma boa herança. Ela pretendia reembolsar Harry pelas suas despesas, mas ele, antes de viajar para a América do Sul, insistira em pagar tudo até ela se tornar maior de idade. Aquilo doeu em sua consciência, pois sabia que o enganara, inventando a história do pai tê-lo indicado como seu tutor, mas agora não havia mais nada a fazer. Consolou-se pensando que uma vez morando em sua casa procuraria ser útil, e que algum dia lhe pagaria com juros.

Depois da partida de Harry, os dias se arrastaram. A Srta. Holland acompanhou-a tanto na preparação dos papéis de embarque como para tomar as várias vacinas contra doenças tropicais. Ele fora na frente, uma semana depois do primeiro encontro, porque não podia deixar a fazenda por muitos dias, e Alexandra viveu numa ansiedade febril até a hora do embarque.

Deixaram a Inglaterra num dia frio e cinzento, saindo do inverno europeu para o verão exuberante dos trópicos. A noite que passaram no Rio de Janeiro não impressionou Alexandra, mas a Srta. Holland encantou-se com o Corcovado e o Pão de Açúcar. Alexandra recomeçou a viver quando desembarcaram, na manhã seguinte, num modesto aeroporto de uma pequena cidade uruguaia, onde Jason as esperava. Alexandra, decidida a ignorar suas restrições, e para desgosto dele e da Srta. Holland, correu ao seu encontro e atirou-se a ele naquele seu modo habitual e impulsivo. Mas desta vez Harry libertou-se rapidamente, e o beijo que ela pretendera dar em sua boca resvalou para o queixo.

Agora o Range-Rover penetrava numa região montanhosa Ao longe, os picos da Serra Grande pareciam misteriosos e enormes. Já no fim da tarde, os ciprestes castigados pelo vento lançavam suas sombras na terra como dedos de um fantasma gigante. Repentinamente, entraram num vale ainda banhado pelo sol, e viram lá embaixo um rio que corria por entre as pedras.

Foi neste momento que Alexandra o viu! Sua silhueta desenhava-se contra os raios dourados do sol poente, num espinhaço oposto a eles: um magnífico garanhão negro que observou somente por um breve segundo e que sumiu tão depressa que a princípio ela temeu ter apenas imaginado.

— Oh! — exclamou, maravilhada, e Harry, satisfeito, voltou-se para trás. — Que lindo!

— Você o viu! — Era uma afirmação, não uma pergunta, e a Srta. Holland, sem saber o que estava acontecendo, perguntou:

— O que... — mas não conseguiu terminar a frase, pois foi interrompida por Alexandra, entusiasmada.

— Sim! Sim, eu vi! Ele é seu? Oh, Harry, mas ele é lindo!

Harry sorriu, meio zombeteiro, ao perceber a excitação dela.

— Duvido que aquela fera um dia pertença a alguém — comentou, realista. — Deve ser meu porque vive em minhas terras, mas ninguém conseguiu domá-lo ainda.

— Você conseguiu prendê-lo?

— Sim — Harry concordou. E cada vez a Srta. Holland entendia menos do que falavam. — Mas ele é um bastardo orgulhoso... Desculpe-me, Srta. Holland — corrigiu logo, ao ver a expressão desgostosa no rosto da mulher. — Ele acha que correr pelas minhas propriedades e fazer as minhas éguas felizes é seu verdadeiro objetivo.

Alexandra riu, apoiando o braço nos ombros largos de Harry, que repentinamente se mexeu e procurou desvencilhar-se. Por sorte, naquele momento a Srta. Holland perguntou alguma coisa e Alexandra recostou-se em seu lugar, enquanto Harry lhe explicava o que os dois haviam visto.

— O senhor cria cavalos?

— Os cavalos são a minha paixão. — Depois freou o carro numa curva mais fechada e acrescentou: — Mas a criação de gado de corte é meu ganha-pão.

— Mas este cavalo é selvagem? — insistiu a Srta. Holland.

— Acho que é — respondeu Harry, mas sua maior atenção estava nas rodas do Range-Rover que derrapavam na estrada pedregosa e estreita, aberta na rocha e ladeada por precipícios. — Mas às vezes fico pensando se ele não será mais civilizado do que nós. — Ao ver a aparente perplexidade da mulher, sorriu levemente. — Ele parece conhecer muito bem a fazenda e alguns vaqueiros chegam até pensar que ele é a encarnação dos deuses!

Neste momento, Alex quase perdeu o fôlego. Ao longe viu o conjunto de construções da sede da Fazenda San Gabriel. Ficava no fundo do vale. Os telhados vermelhos, a enorme varanda que cercava a casa, tudo aquilo com que sonhara tanto ali estava à sua frente.

 Sem se importar com a hostilidade de Harry, inclinou-se para ele novamente, tocando-lhe a nuca coberta pelos cabelos negros com seus dedos delicados.

— Aquela é a sua casa? — perguntou, seu hálito roçando o pescoço dele.

Harry levantou a mão, aparentemente para alisar o cabelo, mas realmente para afastar a sua mão.

— Sim, é San Gabriel.

— É uma casa enorme, sr. Styles — comentou a mulher.

— Tenho vinte homens que trabalham permanentemente para mim, e perto do dobro quando o serviço aumenta. Depois tenho um administrador, Ricardo Goya, e André Alberoni, que mora do outro lado do vale e é considerado o melhor boiadeiro da região.

— É uma propriedade muito grande — a Srta. Holland comentou, impressionada, embora Alexandra desconfiasse que ela ainda estava insegura por ter que morar naquele lugar tão remoto.

A estrada alargou ao se aproximarem das encostas cobertas de capim do fundo do vale, e agora podiam ver o rio que serpenteava por entre as margens coloridas pelas flores silvestres. Próximo ao rio, vacas pastavam placidamente, e eram bem diferentes do gado que tinham encontrado nos limites da propriedade. Ao chegarem mais perto, Alexandra viu os currais, com as éguas e suas crias, e, mais perto, cabras e galinhas que fugiam quando eles passavam.

Mas a casa grande prendeu a atenção de Alexandra. Agora podia ver a varanda comprida e larga, protegida pelo teto de telhas vermelhas e onde confortáveis cadeiras de vime convidavam ao repouso durante as noites quentes e estreladas.

A varanda, em cujos pilares subiam diversas trepadeiras, dava para um vestíbulo de onde saía uma escada de ferro batido, que levava ao andar superior. A casa era construída em estilo colonial espanhol, sólida e arejada. No andar de cima, várias venezianas pintadas de verde-escuro estavam abertas, mostrando as cortinas finas que protegiam as portas-janelas.

Incapaz de controlar seu entusiasmo, Alexandra inclinou-se novamente para a frente, mas Harry já tinha freado o veículo. Nem bem abriu a porta do carro, surgiu uma mulher. Era jovem à primeira vista, alta, com seios fartos e bem-feitos, os cabelos negros como os de Harry e longos como os de Alexandra. Suas feições eram delicadas e impassíveis, mas quando Alexandra saltou do Range-Rover percebeu que aquela impassividade era apenas aparente e que ela a hostilizava silenciosamente.

Harry cumprimentou a mulher com um ar preocupado e virou-se para ajudar suas companheiras de viagem a saltarem.

— Esta é a minha governanta, Sra. Estelita Vargas. Estelita, esta é Alexandra, a minha pupila... e sua acompanhante, a Srta. Holland.

Alexandra adiantou-se e estendeu a mão para a mulher, decidida a não se deixar intimidar. De perto, viu que ela não era tão jovem quanto lhe parecera à distância, mas percebeu que não tinha se enganado quanto ao olhar hostil e levemente reprovador quando Estelita olhou sua camiseta modelando indiscretamente o busto bem-feito e pequeno e a calça de brim amarrotada e empoeirada.

Estelita vestia uma saia preta e uma blusa franzida, mostrando-se bastante elegante. Estendeu a mão para Alexandra e cumprimentou-a, dizendo palavras amáveis mas que eram contestadas pelos olhos frios.

— Seja bem-vinda, senhorita.

— Entrem — Harry disse, enquanto subia os degraus ladeados por jarrões brancos com flores coloridas.

As paredes eram simples e enfeitadas com pequenos quadros. Num enorme vaso de cobre tinham sido colocados lírios do vale e do teto pendiam jarros com orquídeas, frágeis e exóticas, misturadas a enormes samambaias. Tapetes coloridos em tons fortes e vibrantes estavam espalhados pelo chão. Havia também um majestoso carrilhão e uma cômoda entalhada à mão. Alexandra teve a sensação de estar entrando em seu lar, uma sensação que nunca sentira antes, nem mesmo em casa de seu pai.

Olhando para a janela circular, sobre a galeria do primeiro andar, encantada com aquele lugar inesperado, Alexandra não percebera que Harry a tinha deixado só, e que agora Estelita e a Srta. Holland tinham se aproximado.

— Gostariam de ver seus quartos? — Estelita perguntou às duas recém-chegadas. — Eu lhes mostrarei, enquanto Pepe prepara um pouco de chá. — Depois, dirigindo-se à Srta. Holland: — A senhora vai apreciar uma xícara de chá, tenho certeza.

— Sim — respondeu a Srta. Holland, encantada.

Mas Alexandra não compartilhou de seu entusiasmo quando percebeu que Harry não estava mais ao lado dela, e olhou à sua volta, decepcionada. Várias portas davam para aquele hall e Alexandra não podia saber para onde ele tinha ido. Como algumas estavam abertas, pôde ver que havia um pátio interno, tão comum nas casas espanholas.

Estelita pensou que o silêncio de Alexandra era uma prova de que concordava com ela, e começou a subir os degraus da escada de ferro batido que circundava o hall, enquanto a Srta. Holland a seguia, curiosa. Era irritante ter que ir com elas. Alexandra não estava cansada, e estava ansiosa para explorar aqueles novos ambientes.

Harry não devia ter me abandonado com Estelita, pensava, impaciente.

Mas ao chegar a seu quarto esqueceu o aborrecimento. Era um cômodo espaçoso e do balcão podia-se ver o vale a seus pés. O quarto da Srta. Holland era parecido com o dela e Estelita explicou que infelizmente só havia um banheiro.

— Os homens usam os chuveiros do dormitório dos peões — ela explicou quando a Srta. Holland demonstrou sua decepção. Alexandra perguntou a que homens ela se referia.

— Ora... Harry — explicou, com leve ironia na voz —, e também Ricardo.

— Ricardo? — Alexandra perguntou, intrigada, aborrecida ao perceber que ela chamava o seu patrão pelo primeiro nome. — Está falando do administrador do... Sr. Styles?

— Certamente! — Estelita respondeu, seus olhos negros lançando chispas. — As senhoras o conhecerão na hora do jantar. E agora, se me desculpam, vou tratar de seu chá.

— Naturalmente, naturalmente.

A Srta. Holland concordou, mas logo que Estelita saiu, seguiu Alexandra até seu quarto e sentou-se, desconsolada, na cama.

— Acha que vai ser feliz? — perguntou, enquanto Alexandra ia até as portas que davam para pequenas sacadas.

Alexandra virou-se para ela.

— Por que me pergunta isto?

— Tenho a sensação de que não somos desejadas aqui — confessou. — Oh, não me refiro ao Sr. Styles, naturalmente. Ele é encantador. Mas Estelita Vargas...

— Estelita! — Alexandra disse, com voz firme, fingindo uma coragem que não sentia. — Estelita é a empregada, só isso. Não vou deixar que ela me assuste.

— Acha mesmo que ela é só a empregada? — a Srta. Holland perguntou, em dúvida, reforçando os temores que até então Alexandra teimara em abafar. — Ela parece... muito autoritária, em minha opinião.

— Bem, talvez sim, mas... — Alexandra falou, decidida. — Mas ela não vai ter autoridade sobre nós, Srta. Holland e isto é o que importa.

A outra deu um sorriso triste.

— A arrogância da mocidade! — murmurou, um pouco ansiosa, e estremeceu quando Jason falou atrás dela.

— Está tudo bem?

— Precisa chegar assim, sem fazer barulho? — Alexandra exclamou, irritada.

— Eu não entrei sem fazer barulho. Estava querendo saber somente se encontraram tudo em ordem.

— Bem, não encontramos — Alexandra respondeu infantilmente. — Estamos sentindo falta do dono da casa. Onde foi que se meteu?

Harry imediatamente recobrou o bom humor:

— Sinto muito, mas receio que isto aqui não seja um hotel de veraneio. É uma fazenda onde eu trabalho, com várias coisas esperando por minha decisão, e sinto muito se acham que eu descuidei de meus deveres...

— Oh, tenho a certeza de que não foi isto que Alexandra quis dizer — a Srta. Holland imediatamente respondeu, depois de olhar aborrecida para Alexandra. — Acho que estamos cansadas. Eu pelo menos estou.

— Eu não! — Alexandra discordou, inclinando levemente a cabeça e encarando Harry, mas ele tinha se afastado para permitir que a Srta. Holland saísse do quarto.

— Sugiro então que descanse um pouco, Srta. Holland — disse, atencioso. — O jantar é servido um pouco depois das oito, e vai dar tempo de tomar um banho, se desejar.

— Obrigada, vou seguir a sua sugestão — concordou, caminhando para o corredor e entrando no quarto. Só então Harry entrou, mostrando em seu rosto toda a sua exasperação.

— Não acha que deveria se controlar e não me embaraçar em frente à Srta. Holland? — perguntou, muito zangado, e a alegria momentânea desapareceu do rosto de Alex.

— Sim — respondeu, levantando o queixo. — Se você me garantir que Estelita não irá me embaraçar em frente dela!

— Deus! O que foi que ela disse?

— Ela não disse... exatamente nada. É a sua atitude!

— Entendo — respondeu, sério. — É só isso?

— Não, não é. Eu gosto muito do quarto, é lindo. Mas não quero descansar. Não estou cansada, quero ver a fazenda, quero ficar com você!

O rosto de Harry adquiriu aquela expressão controlada que ela se acostumaria a conhecer dali para a frente.

— A fazenda tem mais de mil acres. Quanto você calcula que poderá ver antes de escurecer? — Enquanto falava, fazia um gesto largo em direção à janela. — Amanhã... ou depois, pode fazer um passeio a cavalo. Vou mandar que Ricardo mostre a você nossas cocheiras.

— Ricardo! — Alexandra repetiu, indignada. — Não sei nem quem é Ricardo. Não quero que ele me mostre nada! Quero você...

— Alexandra!

Ela calou-se, espantada, ao ver o quanto Harry estava furioso.

— Quanto mais depressa perceber que seus desejos não são ordens, melhor para você. Está certo, eu deixei que viesse para cá, mas enquanto estiver vivendo sob o meu teto, existem certas coisas que terá que aprender e a primeira delas é que não vou dedicar o meu tempo para distrai-la.

Houve então entre eles um silêncio pesado. Depois, Alexandra falou, mas com voz tão baixa que Harry mal podia ouvir as suas palavras.

— Você quer que eu odeie este lugar, não é? Quer que eu ache tudo tão horrível que resolva arrumar as malas e partir, não é? Assim não vai precisar se aborrecer mais comigo! Você não me quer, como meu pai também não me queria!

— Alexandra! — A voz dele traía agora a piedade que sentia, e, cruzando o quarto com passos rápidos, aproximou-se e segurou-lhe os ombros com firmeza. — Pare com isto! — ordenou ele, sacudindo-a com raiva. — Pare de sentir pena de si mesma. Mas é lógico que quero que fique aqui. Se não quisesse, não haveria nada que você pudesse dizer ou fazer para me convencer.

— É verdade? — Os longos cílios dourados levantaram-se para ele, e a visão dos olhos negros atormentados dele, fixos nela, a fizeram recobrar a confiança. — Oh, Harry, Harry, você gosta um pouquinho de mim?

— Já disse que sim, não disse? — murmurou, afastando-se dela por precaução. Mas, instintivamente, Alexandra chegou mais perto, sendo envolvida pelo cheiro másculo que se desprendia de seu corpo forte e atlético. Nenhum livro jamais tinha descrito aquela sensação que experimentava agora. Podia sentir as pernas musculosas, encostadas às suas, e desejava, sem saber claramente por que, nem o quê, um contato entre eles, que não era somente de amizade.

— Harry...

O nome dele, assim balbuciado, era uma súplica, mas quando ele virou a cabeça e beijou a palma de sua mão, ela puxou-a, aflita, e grudou-a contra o corpo. Seus olhos muito abertos estavam presos aos dele, seu corpo todo vibrando de uma emoção que ela não tinha condições de enfrentar. Sentia os seios intumescidos contra a malha fina da camiseta, a cabeça rodando e as pernas fracas e moles, mal conseguindo suportá-la. Foi quando percebeu uma centelha de cinismo no olhar dele, a boca se abrindo num sorriso zombeteiro... e viu que a intenção dele fora precisamente esta. Reagindo imediatamente, ela soltou-se sem resistência da parte dele.

— Sim — falou ele, zangado. — Você não passa de uma criança, Alexandra. Portanto, pare de querer bancar a mulher fatal. Não convence...

— Eu... eu acho que você pensa que eu tenho medo de você — exclamou, sem jeito, os braços em volta do corpo, como se precisasse de proteção, e ele concordou, com um movimento de cabeça.

— E não tem, Alexandra?

E como se sua paciência tivesse se esgotado, passou por ela e deixou o quarto.

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