Eu e Thomas nos dirigimos a sala de sua mãe e eu percebi que estávamos encrencados pelo fato de Thomas estar sério e de cabeça baixa.
Nós nos sentamos nas cadeiras de frente para a mesa dela e ela ficou de pé do outro lado da mesa.
- Estou esperando um de vocês me explicarem o que estava acontecendo lá. - A mesma falou calmamente e eu abri minha boca para falar, mas Thomas foi mais rápido.
- Eu fui lá. - A diretora olhou pra ele. - Eu precisava falar algo importante com a Lua, e aproveitei que a Dana estava com ela. Pra não ficarmos sozinhos. Ela foi pega totalmente de surpresa.
- Olha filho, eu até poderia acreditar que você tem TODA a culpa por essa situação... mas eu não posso simplesmente ignorar o comportamento da Lua durante essa primeira semana de aula. A senhorita esteve na minha sala 7 vezes por reclamações de seus professores. Em apenas uma semana. - Fiz careta olhando para meus pés. - Thomas? - Ele a olhou. - Pode me dar licença para falar com a Lua?
Olhei pra ele com a maior cara de assustada. Eu provavelmente ouviria horrores, mas Thomas me olhou com um olhar de que não era nada demais, então resolvi confiar.
Ele se levantou e saiu da sala.
- Olha diretora, eu... - Ela me interrompeu.
- Lua eu sei que você não veio pra cá porque quis. Sei que seus pais te colocaram aqui para você ter um estudo melhor e conseguir uma boa vaga numa faculdade, mas que você preferiria continuar em sua antiga escola com seus antigos amigos. Sei que tem feito tudo isso para ser expulsa.
- Sabe? - Ela sorriu e se sentou em sua cadeira.
- Eu já fui da sua idade Lua. Eu também fui obrigada a estudar aqui, e eu não gostei nada. Como você, eu também tentei ser expulsa. Mas eu entendi que não valia a pena. Entendi que estar aqui seria bom pra mim. - Abaixei minha cabeça. - O que eu presenciei hoje, é motivo suficiente para eu te expulsar. Mas eu não vou. Ao contrário, eu vou te dar o poder de escolher.
- O que? - Olhei pra ela confusa.
- Você escolhe Lua. Eu tenho um ótimo motivo para te expulsar, mas eu não quero fazer isso. Eu vejo em você é um grande potencial. - Abaixei meu olhar novamente. - Mas é você quem decide. Eu tenho uma carta de expulsão bem aqui na minha gaveta. Você quer ir embora ou quer permanecer aqui?
Um monte de coisas começaram a passar pela minha cabeça. Era por aquilo que eu vinha lutando durante toda a semana.
Era tudo que eu queria, ser expulsa desse colégio que me proibe de fazer tudo e que me fazia sentir sufocada.
Mas, com o poder ali na minha mão, eu já não tinha tanta certeza. Eu queria mesmo voltar pra minha antiga vida? Eu gostava, mas as coisas haviam mudado.
Naquele colégio eu aprendi a viver sem depender do meu celular, tenho tempo pra parar e simplesmente ver o céu, tenho amigas de verdade, e conheci o cara mais perfeito do mundo por quem eu estava loucamente apaixonada. Eu não queria mais ir embora. E eu sabia disso.
Me pus de pé a sua frente e olhei pro chão.
- Me desculpa pelo meu comportamento. Mas eu não quero ir embora. Pelo menos, não mais. - Falei decidida e notei a diretora sorrir olhando pra porta.
Me virei pra trás e vi Thomas pelo vidro da porta comemorando a minha decisão. Quando ele viu que eu estava o olhando, o mesmo disfarçou fingindo estar passando a mão no cabelo e saiu da frente da porta.
Ri dele e me virei para a diretora que também se colocou de pé.
- Fico feliz com a sua decisão, Lua. Eu espero não te ver aqui na minha sala tão cedo, ok? - Ela sorriu e eu assenti.
- Ok. - Sorri para a mesma e virei as costas para sair da sala.
- Lua? - Ela me chamou me fazendo olhar pra ela. - Eu sei que na idade de vocês é difícil segurar os hormônios, mas evite infringir as regras ok? Se eu pegar vocês dois no quarto novamente, eu não terei escolha. - Assenti.
- Vou me comportar, prometo. - Sorri.
- Sei que não fui a única feliz com sua decisão. Se soubesse o quanto o Thomas fala de você. - Ela falou rindo mexendo em alguns papéis e eu sorri olhando pro chão.
Sai da sala dela encontrado Thomas e Dana no corredor.
- E ai? - Dana se aproximou de mim preocupada.
- Ta tudo bem. Ela não me expulsou. - Sorri para ela que suspirou aliviada. - Com a condição de que não nos pegassem no quarto de novo.
- Da próxima a gente toma cuidado para que ninguém veja. - Thomas falou sorrindo e eu o encarei.
- Próxima? - Perguntei rindo e ele piscou pra mim.
- Eu não entendo, como ela soube? Percebeu que ela já abriu a porta como se soubesse que vocês dois estavam lá? - Dana perguntou com um olhar pensativo.
- Percebi. - Respondi. - Quem poderia ter sido? - Perguntei num tom irônico e os dois entenderam.
- Brooke? - Dana perguntou. - Mas a Brooke não fica no colégio os fins de semana. Não pode ter sido ela.
- Eu não consigo pensar em mais ninguém. - Cruzei meus braços.
Nós acabamos não chegando a conclusão nenhuma. Nenhum dos alunos que estavam no colégio eu conseguia ver um motivo para ter entregado a gente. Mas acabei esquecendo aquilo.
[...]
No resto do fim de semana eu apenas desenhei, ri muito com a Dana que estava super viciada em seu livro e passei bastante tempo com o Thomas.
Nós dois passamos o sábado e o domingo a tarde na arquibancada do campo apenas conversando e conhecendo melhor um ao outro.
Eu acabei descobrindo que era sim possível se apaixonar por uma pessoa todos os dias. E eu estava me sentindo tão vulnerável.
Hoje já era segunda feira de novo. Brooke havia voltado com suas malas e sua cara de tapada pro quarto. Coisa que nos fez descartar a possibilidade de ter sido ela a X9.
Eu não estava muito animada pra primeira aula, já que era daquele professor chato de Matemática.
Eu me levantei na força do ódio, tomei um banho vesti o meu uniforme. Eu também não estava afim de vestir aquela blusa social desconfortável, então vesti a saia, o tênis branco e em vez daquela blusa, eu coloquei uma blusa branca minha que tinha as mangas pretas e o número 23 atrás.
- Cadê seu uniforme? - Dana perguntou assim que sai do banheiro vestida.
- Ta no meu corpo. - Dei uma voltinha pra ela e sorri mostrando os dentes.
- Você não pode se vestir assim! É regra usar uniforme. - Brooke se manifestou logo cedo.
- Não diga? - Falei debochada e Dana riu.
- Você está quebrando as regras! - Brooke debateu.
- Você ta enchendo o saco e nem por isso eu fico falando. - Dei de ombros, peguei o bendito livro de matemática e sai do quarto puxando Dana.
Nós duas chegamos a sala e foi até estranho pra mim não ser o olhar de todos, já que eu não havia chegado atrasada dessa vez e quase não tinha ninguém na sala.
- Você viu a Amy? - Dana perguntou e no instante seguinte Erick entrou na sala e se sentou atrás de mim.
- Acabei de ver ela entrando na sala dela. - Erick respondeu. - Bom dia, Lua! - Ele falou com animação. - Gostei da camisa, 23 é referência ao Leblon James?
- Não, Michael Jordan. - Me virei pra ele que ria da minha cara.
- O que deu em você Erick? Ta usando droga? Fumando maconha por acaso? Tem estado muito alegre ultimamente. - Dana disse enquanto os alunos iam enchendo a sala.
- Eu to sobre o efeito de uma coisa, mas não é droga. Relaxa. - Ele sorriu pra mim e eu me virei pra frente. Euem.
Depois de alguns minutos, o Professor Rick entrou na sala de aula apressado pedindo desculpas por seu atraso.
O mesmo fez a chamada e logo começou a explicar uma das matérias do livro. Eu estava grifando uma das fórmulas do livro quando ouvi o barulho da porta da sala se abrindo, porém eu não olhei.
- Você é o aluno novo, correto? - Ouvi o professor.
- Que... gato. - Ouvi Brooke e logo depois umas meninas comentaram o mesmo.
- Isso. Me chamo Jonny. - Arregalei meus olhos no mesmo momento e olhei pra porta econtrando Jonny uniformizado olhando pra mim com um sorriso ladino.
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Continua...