O Conto da Donzela do Santuár...

By VictoriaFrancoN

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Mikoto é uma miko, uma sacerdotisa de uma pequena ilha, ou era, até um estranho sonho levá-la a de repente fu... More

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By VictoriaFrancoN

A cor dos olhos do menino foi um choque para todos, e logo até Takako especulava sobre uma possível ligação entre ele e Mikoto. Mas não passava de especulação, pois não havia como provar nada. E ainda havia muito com o que se ocupar, como os enterros de todos os mortos. Os dois dias seguintes foram dedicados quase exclusivamente a isso.

Na noite do terceiro dia, o Genbu chegou a Kuroi, e tanto o príncipe quanto os tripulantes não acreditaram na devastação que viam.

-- Ouvir o que aconteceu pelo noticiário não é nada quando está diante de seus olhos – o rapaz comentou para Mikoto ao desembarcar – Não acredito que meu pai fez isso.

-- Yasha fez isso – Sayuri corrigiu com a voz firme – O imperador está ciente dos atos dela.

-- Vocês têm alguma informação sobre Ao? – Takako perguntou – Desde o bombardeio, os sinais de televisão e Internet estão horríveis.

-- O país fechou as fronteiras, então não sabemos muito, mas podemos supor que estão se preparando para o próximo ataque – explicou o capitão – Como Aka ainda está com parte das tropas de Kuroi, então o clã teme que Shiro seja o próximo alvo. A rainha Yamatohime já começou a mobilizar uma defesa de fronteira também.

-- Só piora cada vez mais – a voz de Takako saiu abafada, as mãos cobrindo o rosto – Não conseguimos evitar uma tragédia dessas. Estamos falhando como miko.

Mikoto segurou seu braço.

-- Ei, calma, ficar em pânico não vai ajudar.

-- Ela está coberta de razão – Sayuri concordou – Se pensarmos bem, veremos que o próximo passo é encontrar Yasha antes que ela prejudique outro templo. Vamos avisar ao clã para colocar guardas armados e toda a sorte de proteções mágicas em volta do Santuário Branco.

Enquanto as duas mais velhas embarcavam no navio, Shin ficou com Mikoto e só então percebeu a presença do menino, que apesar de agora estar com os cabelos limpos e cortados e de roupa lavada, seu quimono ainda dava a impressão de ser um samurai sem espada.

-- Vocês dois lado a lado parecem tirados de um filme antigo – o príncipe não conteve o riso – Quem é ele?

-- Não sabemos direito – ela contou as estranhas circunstâncias de seu aparecimento e como se comportava – Ele só aprendeu umas palavras até agora, parece que sua mente é uma folha em branco. Então hoje de manhã achei que o nome que mais combinaria com ele seria Haku.

-- Haku – repetiu o menino.

-- E você, Shin? Como está?

-- Quero falar com o imperador, ajudar no que puder. Foi o meu país que começou tudo isso, afinal.

O imperador se reunia provisoriamente com os ministros na ala leste do palácio desde que fora declarada estável pelos bombeiros. Mikoto levou Shin até lá e o príncipe ofereceu seu conhecimento do território de Ao, dos armamentos e estratégias utilizadas pelo exército.

-- Farei o que for necessário para devolver a paz à minha terra – ele se comprometeu. Um ministro estreitou os olhos para o rapaz.

-- Você não seria de melhor ajuda como refém? O rei não voltará a nos atacar se seu único filho estiver em nosso poder.

-- Ministro Sasagawa! – o imperador exclamou – O príncipe Shin veio prestar-nos seus serviços! Nunca utilizaremos esses métodos medievais.

-- E mesmo que usassem, não daria certo. Meu pai me expulsou de casa por eu não concordar com o que ele fazia – Shin balançou a cabeça.

Mikoto ficou aliviada que Mutsuhito tivesse respondido depressa à ideia absurda do ministro, senão ela mesma teria respondido, mas não podia garantir que seria tão formal. Nunca esperaria ouvir uma proposta como aquela de alguém em um cargo de tal importância.

Shin ficou com o imperador para planejar uma operação de infiltração, e como Mikoto não entendia daquilo, achou melhor voltar ao Genbu, onde encontrou Sayuri e Takako debruçadas no computador.

-- Estão todos muito assustados em casa –a mais nova contou ao ver a menina chegar – É melhor voltarmos para Shiro.

-- Mas Kuroi ainda está vulnerável – Takako argumentou.

-- Quais as chances de outro bombardeio aqui? Yasha já destruiu o Santuário Negro, e os Santuários Azul e Vermelho estão protegidos, então o próximo alvo dela é o Branco. Não podemos deixa-la chegar a eles também!

-- Sayuri, essa ânsia de voltar não seria porque você quer outra chance de brigar com os youkai? – Takako cruzou os braços. Sayuri olhou para a prima indignada.

-- O quê?! Como pode dizer isso?!

Era a primeira vez que Mikoto as via gritar daquele jeito, e sendo uma com a outra, só tornava a cena ainda mais assustadora. Em uma posição como a que ela estava, tentaria se fundir à parede e sair do recinto na primeira oportunidade, mas talvez pela visão de Haku a seu lado fazendo exatamente isso, encolhido como um animal assustado, Mikoto tomou outra atitude.

-- Parem! – gritou. As duas a encararam, só menos surpresas que ela mesma. Após engolir em seco e um instante de silêncio, Mikoto prosseguiu – Brigar só vai nos atrasar, e é isso que Yasha quer. Cheguem a um acordo.

Takako e Sayuri ainda olharam para ela por um breve momento, absorvendo o que escutaram, e a primeira quebrou o silêncio:

-- Isso foi muito maduro. Obrigada, Mikoto, acho que nós duas precisávamos disso.

Sayuri deu um profundo suspiro antes de recomeçar:

-- Eu só acho que ir para Shiro é a melhor decisão porque é o próximo passo óbvio de Yasha ela conseguiu destruir um santuário, se destruir outro, perderemos metade dos pilares principais. Nosso trabalho não é lidar com guerras e política, para isso tem o imperador e os reis.

Foi a vez de Takako suspirar.

-- Entendo o que você quer dizer, e eu concordaria, mas considerando o que aconteceu aqui, também seria uma opção reconstruir o Santuário Negro, porque agora que foi destruído, Kuroi está muito mais vulnerável a ataques youkai. Se Yasha voltar, estarão indefesos. Também é nosso trabalho zelar pela segurança das pessoas contra esses monstros.

As primas se encararam, sem saber o que dizer agora. Ali Mikoto percebeu que a posição de miko também pesava muito nos ombros delas, mesmo as duas sendo mais velhas e muito mais experientes, e agora essa responsabilidade as dividia.

-- Vocês podiam ir para Shiro, e eu fico aqui – ela sugeriu. Takako abria a boca para discordar quando um grito no corredor a sobressaltou.

-- Gente! – Yukio abriu a porta abruptamente, os olhos quase saltando das órbitas – Desculpe interromper, mas precisam ver isso!

A televisão do navio exibia a notícia de uma invasão de Aka ao território de Ao. Os tanques de guerra percorriam as ruas, e as pessoas na calçada só observavam, os rostos congelados em expressões de puro medo.

-- Como isso é possível? – Sayuri exclamou esganiçada. Kurono explicou:

-- Aviões de Aka bombardearam as bases aéreas, então Ao não pôde revidar quando veio a invasão por terra.

-- O imperador não pode ter permitido isso – Takako não conseguia desviar os olhos da televisão.

-- Não permitiu, não tinha como, do jeito que as comunicações foram comprometidas – respondeu o capitão – Se o imperador está incomunicável e um país se vê na ameaça de um ataque, o rei tem autoridade para ordenar a ação defensiva que achar mais apropriada.

-- O rei Sujin deve achar que a melhor defesa é o ataque – Yukio comentou.

-- Ainda não falaram nada sobre o rei Ayahito – Hiro aumentou o volume.

Mikoto foi para o convés, não queria ver mais destruição e guerra. Debruçada na amurada e observando o mar negro cintilante com a prata do luar, pensou que, quando via tais notícias de intrigas políticas em Iruka, tudo parecia tão distante da realidade tranquila e imutável da ilha. Nenhum ilhéu jamais pensaria que iria presenciar tais eventos, e Mikoto não era exceção.

Nos últimos dias ela vira mais morte e destruição do que na vida inteira, e apesar de não ter entrado em pânico como imaginou que faria, queria ficar longe de qualquer chance de passar por isso de novo. Por essa razão ela se candidatara a ficar ali.

Ajudar a reconstruir o Santuário Negro poderia fazer com que se sentisse melhor, mas com aquela invasão em Ao, com certeza Sayuri e Takako concordariam em ir para lá, e será que iam querer que Mikoto fosse também? Nenhuma pareceu gostar da ideia de deixá-la em Kuroi.

Sinceramente, naquele momento o que a acalmaria era voltar para casa e deitar a cabeça no colo de Megumi-sama, como fazia quando criança.

-- Mikoto, está triste? – para variar, Haku a seguira até ali. A jovem esboçou um sorrisinho para sua expressão ingênua.

-- Não, não exatamente.

-- Posso fazer alguma coisa para você melhorar?

-- Não é algo com que você possa ajudar, então não se preocupe.

Ele recostou a cabeça em seu ombro, numa tentativa de oferecer conforto. Mikoto retribuiu acariciando seu cabelo e voltou a contemplar o horizonte negro.

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