Por Nidavellir

By rodzandonadi

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Sindri é uma jovem princesa do reino dos anões, Nidavellir. Ela está voltando de uma missão diplomática com s... More

Sobre este conto (dá uma lida, vale a pena :))
Capítulo 2
Capítulo 3
Um pouco mais de Etherion

Capítulo 1

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By rodzandonadi

— Majestade, estamos sendo seguidos por goblins.

Sindri estava com um pedaço de carne de mastodonte a caminho da boca. Com os outros anões que estavam por perto ela olhou para o batedor. Seu rosto estava suado e olhos arregalados, enquanto ele ofegava.

Depois de alguns segundos todos os guardas riram dele. Sindri deu de ombros e voltou a comer. Era normal existirem goblins por aquelas bandas. Sua avó tinha lhe dito isso enquanto o acampamento era montado. Nidavellir fazia fronteira com Svartalheim, lar daquelas criaturas odiosas. Elas habitavam a Montanha Sussurrante que dividia os dois reinos.

O batedor, que não devia ter mais que a idade de Sindri, doze verões, recuperou seu fôlego o suficiente para falar com calma. Todo o divertimento morreu. Afinal, uma centena de goblins acabava com o bom humor de qualquer um. Quando o garoto terminou o relato, o silêncio dominou a clareira.

Aquela parte da Floresta Sussurrante tinha uma quietude anormal. Com trinta anões armando acampamento e fazendo comida, mal se percebia. Afinal eles eram anões, e Sindri sabia que silêncio era algo que seu povo ignorava. Mas agora com todos quietos... Sindri engoliu em seco. Olhou para a carne de mamute. Era sua comida favorita. Mas com o leve e constante sussurro de uma língua perdida, a comida não estava mais convidativa.

Ela lambeu os dedos engordurados. Aproveitando que não estava presa aos protocolos do palácio, limpou os dedos na roupa. Sentiu uma alegria rebelde ao fazer isso. Depois franziu as sobrancelhas. Sua mãe faria com que lavasse aquela camisa. Mas ela sorriu feliz por esse pequeno ato de rebeldia. Sorriso que se foi quando sua avó levantou ao seu lado.

Se já havia silêncio ele se tornou incômodo, tenso. Sua avó encarou o batedor. Sindri teve compaixão ao ver o garoto se encolher. Sua avó tinha uma presença impactante.

— Os goblins estão vindo nessa direção, Pacu?

O garoto acenou com a cabeça.

— Estão há três horas de distância majestade. Caminham devagar. Mas sim, vem em nossa direção.

Sindri fechou a mão para evitar que notassem que estava tremendo. Cem goblins contra trinta anões. Até ela sabia que as chances eram ruins. Sua avó pareceu pensar a mesma coisa. Ela colocou a mão no queixo antes de falar para si mesma.

— Eles podem simplesmente ir para outro lugar. Mas é muito arriscado ficarmos parados aqui — ela olhou para o líder da guarda. — Helrog. Estamos há cinco horas da Passagem Tortuosa, certo?

O corpulento anão limpou a boca e se levantou.

— Sim majestade. Se formos pela estrada chegaremos em cinco horas.

Eles mal haviam comido o café da manhã. Tinham partido da Cidade de Durin no começo da manhã. Sindri ergueu os olhos para o Olho de Jade no meio dos céus. Seus raios amarelo-esverdeados entravam pelas aberturas dos emaranhados de galhos e folhas. Mesmo com a proteção da floresta o calor do Olho os castigava. O vento soprou as folhas e um raio de sol iluminou sua avó. Ela olhou para Sindri antes de falar.

— Partimos em quinze minutos. Vamos para a Passagem Tortuosa.

Todos começaram a se preparar para a partida. Sindri se levantou para selar seu Javali quando sua avó de Sindri se aproximou e lhe entregou duas adagas. A garota ergueu as sobrancelhas enquanto olhava as armas em suas mãos.

— Mas você disse que armas eram para soldados — falou com medo e excitação percorrendo seu corpo.

Sua avó estalou a língua.

— E são minha criança. Que Stodverrg nos permita que você não precise usá-las!

Olhou para Sindri por algum tempo sem que a menina entendesse o que brilhava em seus olhos. Logo ela saiu sem dizer mais nada.

Sindri percebeu que algo estava errado ali. Ela só não conseguia entender o que era.

∴ ════ ∴ ❈ ∴ ════ ∴

Sindri gostava de florestas. Era fascinada principalmente pelas florestas elementares. Mas chegou à conclusão de que ler sobre elas era melhor que estar nelas.

Depois de saírem da Floresta dos Sussurros sua avó lhe disse que iriam para a Floresta Petrificada. Se os goblins estivessem atrás deles ou encontrassem seus rastros, aquela floresta era o melhor lugar par despistá-los. E ela logo entendeu porquê.

O ar era sufocante. As trilhas eram tortuosas, o que dificultava guiar os javalis. E também os impedia de ir mais rápido. Levaram duas horas para atravessar a floresta para o lado que daria para os Morros do Javali Corcovado. Quando as árvores deixaram de ser de pedra e o terreno se tornou íngreme, Sindri suspirou de alegria. Seu javali grunhiu e balançou a cabeça. Ela se inclinou sorrindo e acariciou a cabeça do companheiro.

— Também está feliz por deixar aquela floresta, não é Sugoi?

Alguns grunhidos e bufadas foram toda a resposta que ela teve. O que ela interpretou como "com certeza, não via a hora de sair de lá".

Subiram durante algum tempo e depois rumaram para o leste. Cavalgaram por meia hora até chegarem a um riacho. Helrog ordenou que enchessem os cantis e descem de beber aos animais. Sindri guiou Sugoi até o riacho e o deixou matando sua sede enquanto mergulhava a cabeça e se refrescava. Estava bebendo água quando uma notou uma comoção entre os soldados.

Erguendo os olhos ela não pôde evitar um grito de terror escapar de seus lábios. O garoto Pacu vinha deitado sobre seu javali, que tinha vários cortes pelo corpo e avançava devagar. Mas o braço esquerdo do batedor tinha sido arrancado. Sangue escorria pelo corpo do anão. Alguns soldados correram em sua direção, mas ele caiu no chão antes que chegassem a ele. Helrog o virou com delicadeza enquanto Sindri se aproximava devagar. Em segundos sua avó estava ali.

— Majes... majes... majestade...

— Acalme-se Pacu. Vamos cuidar de você.

Sindri viu Pacu balançar a cabeça.

— Veneno... garras de orco...

O sangue sumiu do rosto da avó de Sindri, mas ela mal reparou. Seu coração parou. Sua boca secou. Ela via Pacu mover os lábios, mas não identificava as palavras. Ela se concentrou no garoto, afastando o terror por alguns momentos.

— Atravessam com dificuldade, mas o orco é mais rápido...

Minha voz colocou a mão no rosto dele.

— Tudo bem, querido. Descanse — falou com a voz suave.

Meus olhos arderam. Pacu e eu nunca conversamos. Eu nunca o tinha visto até ele chegar à clareira relatando o avanço dos goblins. Mesmo assim...

O outro braço de Pacu se moveu. Seus olhos se arregalaram.

— Uma arma... uma arma majestade... por... por favor...

Sua avó olhou em volta. Antes que pensasse no que estava fazendo, Sindri se tirou uma das adagas do cinto, se adiantou e colocou na mão de Pacu. Os olhos do garoto brilharam com gratidão e algo mais que ela não soube o que era. Ele segurou a adaga juntou ao peito e olhou para Sindri.

— Por Nidavellir – ele sussurrou.

Então fechou os olhos. E não os abriu mais.

∴ ════ ∴ ❈ ∴ ════ ∴

Sindri olhou para trás uma última vez. Orou para que Stodverrg guiasse a alma de Pacu em direção dos Reinos dos Mortos, e que ele aceitasse a missão do garoto e a adaga de Sindri como pagamento para o Salão dos Mortos Honrados.

Ela apertou com os calcanhares a barriga de Sugoi. O javali partiu para alcançar a montaria de sua avó, na frente da comitiva. Chegaram ao Vale de Guimli e continuaram, imprimindo o máximo de velocidade que os javalis aguentavam. O Olho de Jade tinha se escondido atrás de nuvens escuras. O calor deu lugar a um vento gelado. Sindri apertou os mantos em volta do corpo.

Cavalgaram por uma hora até que um soldado chegou perto de Helrog e lhe confidenciou algo. Quando o soldado se retirou, Helrog olhou para Sindri e sua avó.

— Os batedores avistam fumaça na borda da Floresta Petrificada.

— São os goblins não são? — Sindri se viu perguntando.

Helrog afirmou com a cabeça.

— Quanto tempo? — perguntou sua avó.

— Uma hora — falou Helrog depois de pensar um pouco.

Seguiram em silêncio depois disso. Apenas o som dos cascos dos javalis era ouvido. Os minutos passavam e a sensação de desespero crescia em Sindri. As aventuras sempre lhe pareceram épicas. As histórias dos livros nunca falavam do medo e da angústia que os heróis sentiam quando o perigo os perseguia. Se bem que Sindri não se sentia uma heroína. Se tivesse uma torre em Nidavellir ela tinha certeza de que sua mãe a trancaria lá. Seria a princesa triste esperando ser resgatada.

A imagem de Pacu não lhe saia da mente. Suas últimas palavras dirigidas a ela. Como se ela fosse a representação do reino. O garoto merecia viver. Merecia se tornar um cavaleiro, um soldado ou até mesmo um ferreiro de renome. Quem sabe um Mestre Artesão, ainda que não tivessem ouvido notícias de um há centenas de anos. Mas Pacu não merecia o fim que teve.

Algumas gotas começaram a cair. Logo uma chuva fraca chegou para deixar a viagem ainda mais deprimente. Mas para Sindri foi um alívio. Ela pôde chorar sem que ninguém percebesse.

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