O Conto da Donzela do Santuár...

De VictoriaFrancoN

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Mikoto é uma miko, uma sacerdotisa de uma pequena ilha, ou era, até um estranho sonho levá-la a de repente fu... Mais

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De VictoriaFrancoN

Mikoto nunca estivera num lugar remotamente parecido com aquele palácio, e o espanto estava mais do que claro em sua boca aberta e na forma como olhava para todos os lados com os olhos arregalados.

-- Talvez seja melhor você esperar aqui – Takako sugeriu ao cruzarem a entrada do prédio – Isso vai ser só uma discussão política.

Sayuri fez menção de protestar, então Mikoto se apressou em concordar.

-- Eu não saberia nem como me portar na frente do rei – ela deu de ombros e ficou na entrada, observando as duas e os dois guardas se distanciarem. Quando elas desapareceram atrás das portas duplas, Mikoto voltou-se para o jardim.

Ele fora o principal motivo para ela querer ficar. Era enorme, e tão cheio de flores e grama como Mikoto nunca vira. Havia tantas flores no mesmo lugar, os poucos jardins de Iruka eram sempre pequenos, com os mesmos tipos de pequenas flores, enquanto aquelas eram grandes e tão diferentes umas das outras.

Andar por entre os caminhos do jardim também ajudou a esquecer o que estava acontecendo, pelo menos por enquanto.

-- Quem é você? – uma voz às suas costas questionou. Um rapaz da sua idade a observava com curiosidade – E que roupa é essa?

-- Eu vim com Takako e Sayuri...

-- Aquelas que entraram agora há pouco? As duas miko?! – ele perguntou cheio de esperança e abriu um sorriso quanto Mikoto assentiu – Por favor, convençam meu pai a parar com a ação militar, ele vai acabar causando uma guerra!

-- O quê?

-- Meu pai de repente começou a falar em derrubar o país de Aka e continuar a tomar outros territórios. Acho que ele está enlouquecendo.

-- Como assim? Ele teve essa ideia do nada de começar uma guerra?

-- Não, não exatamente – ele massageou as têmporas – Estou indo muito rápido. O que aconteceu foi que de repente meu pai pensou que tinha o direito de dominar e governar outros territórios, porque somos descendentes diretos da família real imperial.

-- Sério? Mas espere, seu pai é o rei Ayahito? Você é um... – o queixo de Mikoto caiu. O rapaz assentiu com simplicidade.

-- O príncipe.

-- Me desculpe, senhor, eu não percebi – ela gaguejou, a voz tão trêmula quanto o resto do corpo, e fez uma mesura desajeitada.

O príncipe riu.

-- Calma. O clã Kairiku não precisa de toda essa formalidade com os governantes regionais, vocês são importantes também.

-- Certo – ela murmurou, ainda acanhada. O príncipe continuou:

-- Eu estou assustado porque ele não parece mais meu pai, mudou da água para o vinho desde que aquela mulher chegou.

-- Que mulher?

-- Eu esqueci de mencionar que tudo começou depois que ela apareceu, uma mulher que se chama Yasha. Ela disse que era uma sacerdotisa com poderes especiais, e podia garantir um "futuro grandioso" para nós.

Uma sacerdotisa? Aquilo era bem estranho.

-- Fale mais sobre ela.

-- Não sei muito porque a maioria das conversas que ela tem com meu pai são em particular. Ele diz que ela é a chave para recuperar o trono imperial que é dele por direito, que pode nos dar o poder para isso, e o primeiro passo é subjugar Aka. Desde que Yasha começou a falar sobre essas promessas de poder, meu pai virou outra pessoa.

"Por isso fiquei tão aliviado quando vi as miko chegarem, acho que apenas vocês podem trazer meu pai de volta à razão. Podem fazer isso, por favor? "

Ele estava implorando, mas para a pessoa errada, e Mikoto não sabia o que fazer, quem devia tratar disso era Takako ou Sayuri, que àquela altura já estavam na presença do rei. Talvez houvesse só uma coisa que ela pudesse fazer naquela situação.

-- Onde está Yasha agora?

-- Ela não costuma aparecer para visitas, então deve estar na ala leste. Venha, eu te levo até lá – ele gesticulou para que o seguisse e os dois atravessaram o jardim. Num momento o rapaz voltou-se para a jovem – Todas as sacerdotisas usam quimono? Eu reparei que as outras não usam.

-- Só em cerimônias oficiais, é que eu não sou exatamente como elas – Mikoto falou pausadamente, escolhendo as palavras com cuidado.

-- Você é como uma aprendiz?

-- Sim... Alteza.

-- Ei, eu já disse que o seu clã tem uma posição de importância, então não precisa de toda essa formalidade. Que tal nos chamarmos pelo nome? Eu sou Shin.

-- Meu nome é Mikoto, senhor, digo, Shin.

Depois de dar a volta em quase todo o prédio, os dois chegaram a uma janela. Shin espiou por ela rapidamente, abaixou-se e apontou, movendo os lábios sem produzir nenhum som:

-- Ela está aí.

A janela era alta, Mikoto ficou na ponta dos pés para olhar o interior do recinto. Um quarto grande e luxuoso como esperado, considerando onde estava, mas a mulher que o ocupava era o que realmente chamava a atenção.

Era uma mulher alta, mais do que qualquer outra que Mikoto já vira, trajava um quimono muito decotado, seu cabelo castanho avermelhado estava preso num rabo-de-cavalo que ia quase até os joelhos. Era de uma beleza exótica, mas sua expressão de irritação dava-lhe um ar de animal selvagem.

O olhar dela cruzou com o de Mikoto, que instintivamente se abaixou, assustada. Shin segurou sua mão e a puxou para um canto do jardim, atrás de uma fileira de cerejeiras.

-- Ela é bem... – ele deixou a frase morrer. Mikoto assentiu, concordando plenamente.

Ela resistiu à vontade de espiar por trás da árvore, com medo de Yasha estar olhando pela janela e a visse. Era uma presença de fato estranhamente intimidadora, Mikoto não ia querer alguém assim zangada com ela.

Mas ela estaria mesmo ligada às supostas aparições de youkai? Mikoto pensou nisso e perguntou a Shin:

-- Você sabe algo sobre youkai terem aparecido? Nem que seja só um boato.

-- É claro, todos só falam disso há semanas. Na escola tem umas dez pessoas que juram ter visto pelo menos um na rua, principalmente à noite – o príncipe se sobressaltou – E pensando bem, isso começou na mesma época em que Yasha veio e meu pai começou a falar em guerra.

-- E o que seu pai diz sobre os youkai?

-- Que são apenas boatos de animais selvagens, e que ele é ocupado demais com assuntos importantes para se preocupar com isso – ele deu um suspiro cansado e se recostou no tronco de cerejeira.

Nesse momento Mikoto ouviu vozes chamando seu nome à distância. Takako e Sayuri já deviam ter terminado a reunião e agora procuravam por ela.

-- Preciso ir – e começou a correr de volta para a frente do jardim, onde as duas sacerdotisas e os rapazes a procuravam, junto de alguns funcionários do prédio.

Quando Mikoto apareceu, ofegante, diante deles, os guardas do prédio retornaram a seus postos e um homem de trajes elegantes e sorriso diplomático anunciou:

-- Agora que já encontraram sua acompanhante, nós nos despedimos aqui.

-- E nós agradecemos sua ajuda e hospitalidade – Sayuri respondeu igualmente diplomática, ao contrário de Takako, que encarava o portão com uma expressão de completa insatisfação.

No momento em que o homem se retirou, no entanto, o sorriso de Sayuri murchou numa careta idêntica à da prima.

-- Foi inútil, o rei mal passou dez minutos conosco e desconversou tudo o que falamos. Se tivéssemos ficado no jardim, daria no mesmo.

-- Eu acho que descobri uma coisa – Mikoto disse timidamente. As duas olharam para ela espantadas e Takako riu.

-- Talvez devêssemos mesmo ter ficado no jardim.

Mikoto contou o que o príncipe Shin falara e sobre a estranha mulher Yasha. Sayuri pensou.

-- É muita coincidência essa estranha aparecer ao mesmo tempo em que os youkai e que o rei mude tanto. Ela está envolvida de alguma forma.

-- Mas por que um ser humano se aliaria a youkai? – Takako coçava o queixo, pensativa. Sayuri esfregou as mãos uma contra a outra.

-- Podemos perguntar isso a ela quando a interrogarmos. A missão já está emocionante, não é, Takako?

-- Precisamos de algo para usar contra ela primeiro, que a torne uma suspeita.

-- Que tal um youkai? – o rapaz mais novo, Yukio, de uns vinte e poucos anos, sugeriu. O mais velho, Kurono, já na casa dos quarenta, deu um tapa em sua cabeça.

-- Está louco? Quer expor as miko a um perigo desses?

-- Na verdade é uma boa ideia, Yukio – Sayuri rapidamente se animou – Vamos esperar anoitecer, com tantos aparecendo na cidade, não será difícil encontrar um. Aí poderemos tirar a limpo se tem alguma relação com a Yasha.

Ela continuou a traçar o plano de ação enquanto voltavam ao navio. Antes que deixassem o jardim, Mikoto de repente sentiu uma mão pousar em sua cabeça e bagunçar seu cabelo carinhosamente. Viu, com alguma surpresa, que fora Takako.

-- Bom trabalho. A informação que você conseguiu é de uma ajuda inestimável – ela falou com gentileza, exibindo um sorriso suave.

Depois ela uniu-se à prima e os dois rapazes. Mikoto levou a mão à cabeça, sentindo-se corar um pouco, mas não por ter sido tratada infantilmente, até que gostara.Estava feliz por ter realmente contribuído na missão, em vez de ser apenas um fardo para as duas miko.

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