O rei de Asgard observou de longe seus companheiros contra a ameaça ao multiverso. Não pareciam perto de derrota-la, nem mesmo com seres poderosos como os irmãos não legítimos que possuía nessa realidade ou com guerreiros tão grandiosos quanto os que ainda estavam em pé quando chegou. Não havia parado nem mesmo para respirar de uma melhor forma desde que a estranha aeronave, com filmagens do que acontecia em outra realidade, apareceu sobre seus domínios. A derrota significaria o fim de tudo.
Agora, tão perto da Original, ele guiou sua equipe medica para que se juntassem a Bragi, comandou os monstros para que ajudassem aos que já estavam aos céus contra o inimigo e se reuniu com os monarcas daquela Midgard para que se organizassem com o restante das tropas de cada um.
Com Namor, T'Challa e Valquíria foi possível que encontrassem uma formação. O preconceito dos asgardianos daquele lugar com o jotun, que o líder dos recém-chegados demonstrava ser, poderia ter sido um empecilho para seus planos, assim como a relutância entre todos eles em seguir as ordens de um desconhecido, mas não haviam opções melhores. Mesmo que as tropas de cada um deles tenha sido reduzida a um número quase insignificante de integrantes, ainda era possível que contribuíssem para um bem maior caso não se posicionassem contra aquele Loki.
O deus da verdade galopou entre os guerreiros que possuía a sua disposição e analisou cada novo rosto, para não se esquecer destes estranhos ao fazer suas homenagens aos que partirem gloriosamente para Valhalla neste dia. Ele comandou os melhores deuses em guerra que conhecia para que iniciassem o movimento ao seu lado e abriu espaço para outros que fossem forte o suficiente para estarem ali.
Ver a deusa do trovão com o mjolnir não foi uma surpresa, mas ainda assim ele se sentiu grato quando a viu se colocando ao seu lado. Jane em seu mundo era uma grande amiga e aliada de Asgard, uma mera midgardiana que se mostrou digna de seu posto infinitas vezes e que fez com que sua tão poderosa arma a correspondesse de tamanha forma que nenhum outro ser em toda a história foi capaz de se igualar a ela, a mulher era uma aliada magnifica e teria se tornado digna de reinar em seu lugar no futuro, se as circunstâncias não houvessem causado seu sacrifício.
- Lady Thor. - O rei saudou com um sorriso calmo sobre o olhar desconfiado dos outros monarcas e da própria Foster.
- Vossa majestade. - Ela respondeu com desconfiança, mas não sentiu a raiva ou a insegurança que normalmente o Loki que conhecia causava em si. Aquele deus estranhamente lhe inspirava a paz e o conforto que um amigo teria feito.
Seus olhares se mantiveram unidos por alguns segundos, mas logo uma outra presença chamou a atenção do ser de pele azul. Perto dali, como se esperasse ser acolhido, estava a imagem refletida de seu irmão Odinson. Ele carregava um sorriso fácil e a mais esplêndida arma já forjada para seu reino como se ela não possuísse o peso de seu valor, chegando até a parecer alguém gentil. Se não conhecesse tão bem a figura de sua realidade teria acreditado facilmente na bondade que ele emanava, mas como confiar não era de suas melhores atribuições ele lançou a rainha do homem um olhar indagador, como se esperasse uma justificativa em relação a não hostilidade alheia.
- A Frigga de onde você veio era infértil e reconhecer um deus como seu irmão por aqui é uma surpresa? - a Valquíria questionou com um tom sarcástico, permitindo que Chris se aproximasse dela naturalmente.
- Eu deixei de reconhecer o deus do mal como meu irmão a muito tempo. - Sua voz por um momento se tornou tão fria quanto a própria Jotunheim, porém ele deixou de se incomodar com o ator rapidamente, não pretendia permitir que suas desavenças familiares causassem conflitos desnecessários. Seus olhos procuraram por uma das feras leiais que vieram morrer ao seu chamado, havia até mesmo carinho em suas feições quando ele gritou seu nome. - FENRIR! - O lobo gigantesco parou sua corrida para encarar o rei e veio até ele como um cachorro obediente, parando ao lado daquele que tanto se assemelhava com um de seus maiores inimigos, conforme ordenava o comando gestual de seu mestre. Hemsworth se afastou do monstro por precaução e não evitou demonstrar que estava sendo intimidado, conforme ele voltou a se aproximar com impaciência.
- Hmmm. – O ator olhou para os monarcas e deuses claramente esperando por instruções. - O cãozinho lindo está me encarando como se eu fosse seu almoço, isso é um pouquinho desconfortável.
- Um pouquinho? - Questionou Namor com deboche, claramente divertido.
- Sim, quando se corta o braço de alguém como ela para salvar um amigo, - Ele apontou para Nemesis ainda tentando se afastar do lobo. - enquanto reis, deuses, magos e mutantes não fizeram nada melhor, algumas coisas deixam de ser muito assustadoras.
A alteza aquática fechou sua expressão de forma quase cômica, visivelmente ofendido enquanto os outros olhavam para homem que virou deus como se agora simpatizassem mais com ele. Loki, que compartilhava da opinião dos seres da outra realidade sobre o estranho, apenas sorriu e dirigiu sua atenção para a ferramenta de proteção alheia como se visse uma pessoa ali.
- Fenrir é um suporte para seu escudo, já que estou ciente de que você pode voar e as habilidades dele me parecem uteis.
Chris recebeu os olhares questionadores de todos que prestavam atenção na conversa com bastante receio, ele não estava seguro sobre sair de perto do companheiro e, teoricamente, irmão, mas a vibração que o objeto mostrou lhe pareceu um aviso de que Tom concordava com seja lá o que aquele Loki estava propondo. Colocando-o no chão ele permitiu que o outro se transformasse de volta e então o humano tão parecido com o jotun trapaceiro que a maioria conhecia, apareceu.
O rei e o ator sentiam em suas peles que eram como uma extensão um do outro e seus pensamentos fluíram sem barreiras e com uma naturalidade estranhamente em comum. "Talvez as coisas fossem mais simples para você se não houvesse lido a história até o final.", ecoou na mente de Hiddleston a sua própria voz vindo do outro ser. "Eu fiz o que tinha que fazer.", ele respondeu, tentando não parecer muito hesitante. "Você também mentiu para eles, essa realidade é muito mais dependente da sua do que os fez acreditar," a acusação era dolorosa, mas não menos verdadeira. "Tão dependente que eu não consegui não dizer o que outros quiseram que eu dissesse.", foi sua resposta. "Entendo."
- Só eu acho muito estranho quando duas pessoas ficam conversando mentalmente e todos os outros ficam por fora sem entender nada? - Chris questionou tentando atrair a atenção do amigo agora deveras mais pálido de volta para si, o que deu certo e fez com que ele lhe dirigisse um falso sorriso divertido. Se tornava cada vez mais normal encarar Tom e ver muito do Loki nele.
O rei de outra Asgard desceu de sua montaria e caminhou até seu o correspondente da versão sua que cresceu naquele fragmento do multiverso. Ele era mais alto e ninguém negaria seu título de nobreza, depois de reparar em alguns de seus detalhes. Era uma criatura que exalava confiança, respeito e poder, mas que mesmo assim poderia se igualar a alguém tão falho quanto o ser mentiroso. Um olhar para Fenrir e o lobo se abaixou para permitir que o ator o montasse.
Jormungand ao fundo distraia a Original junto dos Bastardos de Odin, porém seu tempo estava acabando.
- Vá, você sabe o que fazer.
Hiddleston se aproximou do animal que abaixou as orelhas para ele e agitou levemente o rabo, se apoiando para colocar-se sobre o dorso do corpo enorme e peludo. Ele sabia que estavam caminhando para um momento decisivo e seu esforço para dizer o que os esperava contra a vontade de quem realmente os comandava chegava até mesmo a causar-lhe uma latente dor física, era horrível e constante, mas saber que vidas poderiam ser salvas se todos tivessem o conhecimento que possuía era a pior parte. Nenhuma palavra sobre o futuro que não fosse do interesse dos titereiros saia de sua boca e, desde colocou os seus pés nesta realidade, ele se sentiu terrivelmente consciente do controle alheio sobre suas ações, sendo a naturalidade próxima de se alcançar somente quando percebia seu personagem realmente se manifestando em seu corpo.
Olhando para o caos sobre o lobo gigante, uma parte mais perturbadora de Tom respondeu tremendo com uma excitação que ele não possuía, seja lá o que estivesse acontecendo com seu correspondente, não parecia possível para ele manifestar suas intenções em seu próprio corpo, logo o ator estava sendo a melhor ligação com o mundo real que o deus conseguia alcançar.
- Vou precisar que fique com eles. - Comentou o tão semelhante ao jotun, quando percebeu Chris se colando perto do animal, como se planejasse atacar sem se afastar do amigo. - Estou planejando uma brincadeira agora e você não está incluído nela.
O homem partiu sem dar espaço a qualquer comentário ou contradição e Hemsworth percebeu com certo pavor que não conseguia identificar nas ultimas falas e expressões dele alguém que não fosse o próprio Loki.
Dois dos Bastardos caíram em direção ao solo com uma força violenta e então a cobra gigantesca fechou sua boca engolindo a ameaça ao multiverso. Cada ser vivo que observava congelou onde estava, com receio sobre o contra-ataque que aquilo resultaria, mas os monarcas pareceram interpretar a atitude da fera como um sinal, pois em seguida já estavam alterando suas posições para uma formação de invocação. Chris não tinha certeza sobre como sabia do que se tratava.
O rei de Asgard ficou no meio, se deixando envolver com as chamas que foram conjuradas rapidamente. Ele se tornou de repente uma figura sombria como os gigantes de gelo que assombravam as histórias infantis do povo de Odinson, apenas muito mais real e poderoso assim como os monstros mais terríveis que milhares de guerreiros sonharam enfrentar para conquistarem sua gloria. Magia sombria sempre será um fenômeno marcante de se ver.
Aquele Laufeyson tomou o fogo em suas mãos enquanto Nemesis saia de seu confinamento atravessando a carne da cobra sem o mínimo esforço, matando-a processo. Talvez a mulher tenha lido suas intenções quando os encarou, mas não impediu o que desejava fazer.
- Com a chama eterna... - O jotun sussurrou enquanto todos se aprontavam para atacar. - Eu os trago de volta!
A chama fez contato com o chão e se espalhou por quilômetros de distância ressuscitando os mortos ainda úteis e os colocando à disposição de quem os chamou. Os monarcas avançaram junto de suas tropas, todos que ainda eram capazes de lutar entenderam que ganhariam com essa investida ou não haveria mais nenhuma esperança em que se acreditar.
(...)
A Original se viu no meio de um movimento suicida em massa, da mesma forma que aquele confronto havia começado e sem nada além de desespero movendo a maioria de seus adversários. Houve um instante em que chegou perto de sentir pena por eles, bons guerreiros morrendo por nada, mas isso não durou mais do que o tempo em que o primeiro louco levou para colocar seu poder contra ela.
Thrud, a bastarda imprudente que normalmente era a primeira a atacar, foi quem iniciou a série de tentativas frustradas que se seguiu. Ela era forte e talentosa, mas já estava ferida e próxima à exaustão, não teria outra chance de sobreviver se dependesse do inimigo. Sorte foi a dela que um de seus irmãos, o mais forte e quieto Magni, a tirou do caminho que a teria levado para Valhalla enquanto outros chegavam para causarem suas próprias mortes.
Sem sorriso em seu rosto e sem mais prazer para grandes massacres lentos, Nemesis repeliu os que ainda estavam perto demais e atingiu o solo destruindo os outros que tiveram o azar de chegar tão rápido. Ela se moveu mais veloz do que qualquer um ali conseguiria acompanhar e tirou vidas de inúmeras mulheres e homens que não deu importância o bastante para lembrar o nome. Assim teria continuado até o último deles, se um Capitão América não houvesse a acertado com seu escudo nano tecnólogo. Evans não sabia dizer se fora muito sortudo de conseguir atingir algo que nem ao menos via, ou muito azarado por colocar um belo alvo na própria cabeça.
Ela veio até ele mais devagar, como se desejasse retardar esse momento apenas para assusta-lo e também voltara a sorrir como um predador. Sendo a intenção ou não, o ator estava apavorado e improvisou uma posse defensora, que culpem sua coragem por permanecer ali sem fugir! Ninguém precisa saber que suas pernas não estavam respondendo. O braço arroxeado atravessou sua armadura e seu braço, mas errou propositalmente a cabeça.
- Você está causando danos a um velhinho com osteoporose, vadia!
A morte não veio, assim como a dor, outras pessoas decidiram intervir e mirar na adversaria agora parada. Ciclope, Visão, Robert, Scarlett, James Rhodes, Tocha Humana e Riri a forçaram a se afastar com suas rajadas de energia, porém o mais bonito de se ver (na opinião do ser ajoelhado, humildemente tentando equilibrar sua mão no que restou daquele ponto atingido de seu braço, conforme a armadura voltava a lhe dar estabilidade) foi quando Thor, Tempestade, seu homônimo e um Loki estranho apareceram aos céus entre os raios e fragmentos congelantes, prontos para unirem suas forças aos que agora a atacavam.
Eletricidade se misturou a energia já disposta de tamanha forma que Nemesis deu a eles o credito de recuar um pouco mais, sustentando suas forças com apenas uma perna e com o braço direito para desvia-las de sua coroa. Foi então que ela notou outra coisa curiosa acontecendo. Em suas extremidades, suas células de formação estavam morrendo mais rápido do que o normal e esse comportamento aos poucos se espalhou para grande parte de seu corpo como se algo estivesse desafiando sua regeneração com mais eficiência do que qualquer outro ataque foi capaz. A Original estava congelando, sua forma física chegava ao zero absoluto e uma das armas voltadas contra ela era responsável por isso. Jotuns podem ser surpreendentes quando querem.
Não foi meramente difícil bani-los para longe e deixar que outros se aproximassem, porém logo quando o fez, mais e mais loucos vieram, alguns deles mortos, outros prestes a morrer e alguns que valiam a pena prestar a atenção. Uma fera humana chamada de Logan chegou perto o bastante para ter a chance de golpeá-la, mas seus braços foram segurados com força o bastante para quebra-los antes que obtivesse sucesso e, mesmo assim, o homem não parou. Grunhindo e rosnando, mais se ferindo do que tocando-a, ele se debateu como um animal e se forçou contra ela determinado a faze-la sangrar. Um esforço inútil até que outra pessoa ajudou, atravessando uma lança longa e afiada pela pele do imobilizado até a carne do inimigo.
- Isso é satisfatório em tantos níveis... - murmurou Deadpool.
O vibranium da arma roubada claramente ajudou para que o liquido azul escorresse pela barriga de Nemesis, mas eles não estavam nem perto de serem considerados ameaçadores por ela e foram atingidos com uma explosão tão absurdamente poderosa que não restariam nem mais migalhas de quem eram, caso não possuíssem respectivas regenerações tão boas.
Mais e mais guerreiros caíram por suas mãos, um exército que representava esperança começou a ser dizimado muito mais facilmente do que estavam dispostos a acreditar e nem mesmo os incansáveis mortos conseguiam fazer alguma diferença. Embora, mesmo com todas essas falhas e sacrifícios, ainda era possível perceber que eles estavam planejando alguma coisa. Os recém-chegados possuíam uma ideia que julgavam boa o bastante para derrota-la, algo interessante ao ponto da mulher se permitir sucumbir a distração que os suicidas causavam.
O Homem formiga e o Sam Wilson deram uma abertura tumultuosa ao pirralho aranha, instigando mais da destruição ao arredor e permitindo que o garoto se aproximasse. Parker era um tolo ingrato que não aproveitou sua intervenção para sobreviver, ele não merecia mais de sua misericórdia. Ela permitiu que todos viessem até si, que tentassem e falhassem com seus feitiços, tecnologia e poderes. Também reconheceu os esforços de agentes comuns com seus helicópteros, aviões e outros objetos, tão inúteis até agora que ainda não havia reparado na existência. Um a um, ela os derrubou e os superou.
Valquíria e Namor em conjunto a desafiaram, uma atitude nobre, porém idiota. A lança de Odin era uma mera agulha para suas mãos e, por mais resistente que a genética do rei o tornasse contra seus rivais, para ela o homem não passava de um peixinho irritante. Logo ambos estavam tão feridos que teriam sorte se continuassem respirando. Shuri e T'Challa foram outra provação de que não haviam possibilidades de vitória para aquele povo. Embora a garota lhe agradasse e fosse próxima de uma amiga em outros tempos tudo o que fez em retribuição a essa época foi não golpear ela e o irmão com poder o suficiente para mata-los de imediato.
Então lá estava ele, Peter Parker, alguém que um dia foi como um irmão para uma versão menos perfeita da Original, alguém que honestamente não desejava ter que matar, mas que não voltaria a hesitar para salva-lo. Ela teve o pescoço dele em sua mão em instantes e o apertou, quebrando o presente de seu pai e partindo seus ossos. Foi bom vê-lo sufocar e tentar inutilmente afasta-la, logo não restaria mais vida naquele corpo para se preocupar, o estalo finalizador seria ouvido e então...
Uma coisa fez com que parasse. Um barulho característico de uma armadura prestes a disparar. Nemesis olhou ao redor, Robert estava ali para salvar o menino, porém não era dele que vinha o que a incomodava. Olhando mais longe ela compreendeu, perto de um lobo gigante abatido, a Viúva Negra mirava em alguém que compartilhava seu sangue, Morgan.
A Original não pensou, os desgraçados haviam encontrado uma forma de atingi-la verdadeiramente. Ela largou Peter e desapareceu, apenas para reaparecer novamente onde a criança estava no momento em que a Scarlett disparou, entrando na frente dela como um escudo inquebrável. Seu ódio não tomou conta, ela não retribuiu a ação de imediato a mulher corajosa, o que pareceu mais certo a se fazer era verificar se a pequena Stark estava bem.
Seus braços longos envolveram a irmã com o mais perto de desespero que poderia sentir, mas estava tudo bem agora, nada poderia machuca-la, nada ultrapassaria sua barreira. Ela estava a salvo. Não foi possível que percebesse suas lágrimas até que a menina usou suas mãozinhas para enxuga-las, tão delicadas e carinhosas quanto as que um dia tocaram a pele marcada.
- Está tudo bem. - A voz infantil sussurrou em seu ouvido. - Você não está mais sozinha.
Seu primeiro instinto foi sair daquele planeta e partir para um lugar onde só existiria Morgan e ela, mas logo depois essa possibilidade se dissipou. Não deixaria os humanos vivos por sua pedra preciosa, ela a protegeria de todo o mal independentemente do que acontecesse, porém as coisas finalmente seriam do seu jeito. Ela afastou uma das mãos da pequenina, uma mão que daria um fim mais fácil a tudo. Com pânico coletivo, todos perceberam que Nemesis estalaria os dedos.
Um final rápido teria sido uma escolha mais agradável, poderia parar de brincar com suas sanidades e fazer com que encarassem de vez o fato de que não possuíam a menor chance em todo esse tempo, essa seria sua misericórdia. Mas então as mãozinhas se envolveram nas bordas de sua coroa e fizeram com que ela fosse erguida por poucos milímetros... Seu primeiro reflexo foi esmagar a coisinha que segurava para que a extensão de seu corpo voltasse ao lugar e foi exatamente isso que ela fez, apenas para então vê-la se transformar de volta em um homem muito semelhante ao seu parceiro.
Ela o arremessou já quebrado ao chão com uma fúria incontrolável e decidiu que sim, acabaria com aquela raça maldita, mas que daria a eles o final mais insuportavelmente doloroso que era capaz de imaginar. Que seu estalar de dedos cause o maior tormento que o planeta miserável já viveu.
(...)
Quando sua soberana saiu, Loki se manteve parado onde ela havia o deixado. Por um tempo ele não sentiu absolutamente nada além do chão contra sua pele, depois ele começou a se culpar por ter sido uma companhia ruim para a mulher que tanto admirava, mas em seguida veio a tristeza e a raiva, acompanhados de uma necessidade urgente de se desculpar. Não foi pensando em trair sua rainha que ele tentou expandir sua magia, ele só queria chegar até ela e implorar por um abraço. Porém quando deve sucesso pela primeira vez e entrou na mente de um midgardiano agradável, sua percepção começou a mudar, sua própria energia voltou a fluir em si mais naturalmente e ele começou a se questionar sobre seus próprios pensamentos.
As vezes lhe parecia que estava melhorando e se lembrando de quem era, mas em outros momentos ele possuía uma quase irresistível vontade de procurar por sua mestra e pedir que ela voltasse para casa. Foi em meio a essa confusão mental que o príncipe de repente se sentiu abraçado e acolhido apesar do lugar desconfortável onde estava, apenas para pouco depois começar a se sentir ameaçado e sem que soubesse porque seus ossos repentinamente foram violentamente quebrados. Foi a dor quem conseguiu lhe trazer de volta.
Com a respiração ofegante o jotun tentou estabilizar seus poderes para se curar, porém foi um completo fracasso e a corrente mágica que o tornava um prisioneiro parecia drenar mais seus dons em cada nova tentativa de aliviar seu crescente desconforto. Por alguns segundos, ele se debateu inutilmente querendo quebrar aquela coisa maldita, mas depois o arrepio que o poder imenso e familiar causou em sua pele fez com que se lembrasse de que estava em um planeta sentenciado a morte.
Sua própria vida seria poupada, ele sabia, e embora isso fosse muito bom não estava disposto a viver sobre o domínio de outra criatura. Loki se viu em um beco sem saída com uma fera terrível esperando para destrui-lo e só então uma memória útil veio a sua mente, tão vivida quanto sua atual circunstância. A joia da mente havia lhe dado uma escolha, ela lhe deu uma arma poderosa e um enorme risco acompanhado dela, mas além disso a oportunidade de conseguir lutar contra uma existência que não desejava. Sua armadura tem a habilidade de transmitir uma cópia dos dons de cada ser vivo, em um alcance indeterminado, para seu próprio corpo, o que parece ótimo se não considerarmos que o recipiente em questão não é capaz de aguentar tudo o que isso oferece e sua sobrecarga causaria explosão massiva o suficiente para destruir um país, um continente, um planeta ou até mesmo uma galáxia dependendo das dimensões do que acabar absorvendo.
Convenhamos que morrer e levar uma galáxia junto seria algo bem marcante, com certeza seria um feito tão memorável que algumas espécies até mesmo mencionariam em seus registros históricos! Entre suas opções essa era uma ideia bem atraente. Ninguém com que ele se importava estava vivo, não precisava se preocupar com essas coisas inúteis, mas adoraria ter a chance de ver aquele rosto perfeito sangrar antes de morrer. Sem mencionar que também poderia chegar em um acordo com a Morte em algum momento, talvez pudesse retornar e... Não há tempo para pensar sobre isso!
Seus pelos se arrepiaram, conforme a armadura cobria sua pele nua, mas em nada tinha relação com o material na qual ela era feita e sim com o pânico que se espalhou por seus sentidos conforme a raiva de Nemesis era refletida no mundo. Ele sentia a tensão sobre um quase estalar de dedos e isso apenas o levou a agir mais rapidamente, antes que ninguém poderoso o bastante continuasse vivo para que seus poderes contribuíssem com seu propósito.
Suas mãos se elevaram para os chifres retorcidos da armadura e uma verdade saiu de seus lábios, cumprindo a exigência para que o poder lhe fosse concedido. "Eu sou Loki, de Asgard. Nasci para governar e não permitirei que uma criatura asquerosa tome o que é meu." a repugnância em suas palavras teria feito seus inimigos tremerem em outros tempos, mas naquele momento não passava de um apelo odioso para se agarrar a única coisa que o mantinha acordado.
Subtiliter o avisou sobre o quão terrível seria usar desta forma a arma que ganhou e, por isso, a as palavras foram adicionadas como recurso para existir uma última chance de desistir caso a situação o obrigasse a recorrer a esta habilidade, porém quando a energia começou a invadir suas células, Loki se sentiu muitíssimo bem! Midgard se conectou a ele e sua percepção sobre o mundo passou a ser tão única que poderia acreditar que havia se tornando um com aquele planeta inferior. Era simplesmente magnifico.
Nunca antes havia se sentido tão grandioso e imponente, poderia se adaptar facilmente a viver como um corpo celeste tão cheio de vida, ou pelo menos era assim que pensava até as pragas se tornarem perceptíveis. O tempo se tornou distorcido e muitas dores apareceram em conjunto, animais morrendo pela fome, sede e violência, espécies inteiras desaparecendo, o lixo inundando seus oceanos, poluição, escravidão, suas geleiras desabando e sua paisagem natural sendo arrancada, extensões de sua vida sendo cortas, desastres enormes, explosões catastróficas, guerras e muito, muito sangue derramado. O jotun percebeu que estava morrendo, mas não era a pior parte e já não conseguia voltar. Ele sentiu a dor e a perda de bilhões de seres sentimentais, assim como começou a absorve-las para si e a não suporta-las, ele sentiu seu núcleo se agitar ameaçadoramente e desejou explodir, ele sentiu o chão sobre seus pés vacilar e começou a deixar de ser o deus que conhecia.
Pensamentos invadiram sua mente descontroladamente, medo, raiva e amor, tudo isso veio como se fizesse parte de si. De repente ele era Mary e depois Jacob, Valentina e depois Enzo, Glenn e depois Angel, Anthony e depois Joseph, até que ele já não mais se preocupava com os nomes conforme as vidas passavam diante de seus olhos. Memórias infinitas se abrigaram em seu cérebro sobrecarregando-o muito mais do que deveria ser possível, mas não o destruindo. Se houvesse algum controle sobre seu corpo no momento ele teria gritado e fugido, porém como nada mais lhe parecia controlável ele permaneceu imóvel absorvendo o ciclo sem se lembrar porque estava ali.
Pessoas mais interessantes começaram a parecer, pessoas diferentes e habilidosas, algumas atualmente tão subjugadas que se encolhiam em seu próprio pavor, outras mais puras que conseguiam se erguer diante do que os amedrontava. O príncipe sentiu o poder de cada uma delas pulsando em suas veias, cada lembrança armazenada e cada dom copiado. Sua grandeza não parecia ter fim, mas em compensação a dor que sentiu no processo foi tão absurdamente alta que aos poucos seu lado consciente foi se dissolvendo e, mesmo com todos os novos recursos, não sobrou nada além de instinto que pudesse guia-lo por ele mesmo.
Imagens de uma outra realidade apareceram quando um ser tão grandioso quanto ele surgiu em sua visão e neste lugar ele contemplou formas de vida magnificas ao redor de uma mulher familiar, uma posse sua, sua pedra preciosa. Era realmente muito lindo, o que conseguiu acalma-lo para receber o poder daqueles sete como se fosse uma parte inteiramente dele e para voltar para seu corpo não como a criatura que um dia foi, mas sim como aquele que merecia o nome de sua armadura, o Imperador.
Quando a Original se ergueu, dezenas de entidades cósmicas caíram ao cederem seus lugares, porém quando Ele se ergueu nenhuma das que restavam teve a chance de se manter e um a um cada ser perdeu sua função, até que todos abaixo do One Above All foram rebaixados pela mera existência de alguém como o monstro recém criado.
(...)
Nemesis estalou os dedos e todos se ajoelharam diante dela em visível agonia, destruindo-os aos poucos com o sofrimento que mereciam. Não havia satisfação em seu semblante, apenas a calma fria de uma realização finalmente feita. Matar seres vivos costumava fazer com que deixasse de ser capaz de sentir, mas desta vez em especifico havia um remorso em suas entranhas que quase fazia com que se arrependesse. Humanos eram seres corruptíveis que só trariam destruição para o futuro, além de serem cruéis por natureza e indignos de seus privilégios. Ela sabia disso mais do que qualquer um, porém mesmo assim a culpa a tomava de tal forma que parecia até mesmo vir de outra pessoa.
Observar o sofrimento que infligia deveria ser agradável para amenizar sua raiva conforme recuperava o fôlego anteriormente arrancado em sua fúria pelas coisinhas desagradáveis, entretanto ainda lhe parecia que o equilíbrio não havia sido alcançado e que algo estava errado. Ainda não era possível apreciar a sensação gloriosa de erradicar um malefício universal e a entidade não conseguia compreender o porquê deste estranho mau pressentimento.
A mulher não reconhecia os arrepios que tomaram seu corpo, não estava familiarizada com o sentimento incomodo e isso a tornou tão inquieta que teve a necessidade de manter a guarda elevada com mais seriedade do em qualquer momento deste que voltou, procurando pelo o que quer que estivesse brincando com ela. Nunca antes havia se sentido assustada.