Sete Clichês em Minha Vida ✓

By thedebf

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OBRA VENCEDORA DO THE WATTYS 2021 NA CATEGORIA LITERATURA FEMININA. Melissa Fontoura sempre foi o tipo de gar... More

Epígrafe
BOOKTRAILER + ELENCO
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Epílogo
NOTAS FINAIS E AGRADECIMENTOS!

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By thedebf

Retornei para o interior quente do meu apartamento e deparei com Lilly lavando as louças sujas. Aproximei para secá-las e guardá-las, assim começando um trabalho silencioso. Ainda estava pensando sobre William. Sobre seu comportamento sério e quieto, mas aparentemente abatido. Não sabia se o problema era no trabalho. Tinha o receio de que talvez ele estivesse se exaurindo mentalmente com os casos que pegava. Sempre achei todos os casos pesados demais, envolvendo crimes violentos. Não sabia como meu amigo ainda se mantinha inabalável — ou apenas aparentava estar —, se fosse eu, certamente já teria desmoronado.

Sabia que o silêncio iria se manter por pouco tempo. Lilly poderia até fingir, mas estava incomodada com o comportamento de Will. E eu sabia que ela ainda tinha sentimentos por ele.

— Você acha que o Will está bem? Achei ele tão estranho hoje. — Sua pergunta soou baixa, constrangida por demonstrar a preocupação por nosso melhor amigo.

— Ele está bem — afirmei, tentando deixá-la menos preocupada. Não queria Lilly com a cabeça cheia. Talvez não houvesse nada para se preocupar a respeito de Will.

Entretanto, sua dúvida estava diretamente ligada à outra coisa. E eu deveria imaginar que se tratasse daquilo.

— Você acha que o Will... — Ela hesitou por alguns segundos, provavelmente formulando se devia ou não supuser tal questionamento. — Está com alguém?

Consegui interpretar sua pergunta instantaneamente. Senti toda a insegurança por trás daquelas poucas palavras. Mesmo com o passar dos anos, aqueles sentimentos permaneceram ali. Eu poderia até mesmo achar impossível, mas compreendia o que era amar alguém mesmo que anos se passassem. E como esse sentimento dificilmente desaparecia.

— Se ele está namorando alguém? — Ela balançou a cabeça rapidamente e terminou de lavar o prato. Eu o sequei e coloquei sobre o balcão, junto às outras louças. — Eu acho que não, pois se estivesse contaria, certo?

Lilly assentiu, mas supus que não estivesse tão convicta da própria resposta. Ela achava que ele poderia estar tendo um relacionamento e não ter nos contado. E mesmo que eu me negasse a pensar nisso, também acreditava na possibilidade de isso acontecer.

— Não se preocupe com Will — continuei, colocando a mão sobre seu ombro. — Se algo tiver acontecendo com ele, certamente vai contar.

Ela acreditou em minhas palavras. Mas eu não acreditava. Fosse o que estivesse acontecendo com Will, eu descobriria. Não poderia deixar meu amigo sofrendo sem meu apoio.

Elizabeth decidiu ir tomar um banho, pois estava cansada do dia cheio. Avisei que não demorasse, já que eu também estava necessitada de um. Ela partiu, deixando-me sozinha na cozinha. Aproveitei para guardar as louças limpas em seus respectivos lugares e depois fui para o quarto.

Aquele cômodo permaneceu como eu havia deixado dois dias antes. Mais cedo naquele dia passei brevemente por ali, sem observar com detalhes a aparência do recinto. Minha mala de viagem estava jogada no chão e o urso de pelúcia encontrava-se sobre a cama. Sentei-me sobre o colchão e o peguei, pensando no significado que havia por trás daquele presente.

Significava dar uma oportunidade ao meu coração. E a Alex. Será que éramos as pessoas certas um para o outro? Existia essa coisa chamada almas gêmeas? Se sim, nós éramos a alma gêmea um do outro? Se tratavam de questionamentos tolos, mas que tinham grande importância para mim. Se as respostas fossem afirmativas para todas as perguntas, por que meu coração ainda batia desajeitado na presença de Tom Flanagan? Ou sofria por saber que nunca pertenceria a Louis Turner? E, mesmo sendo algo que eu não gostaria de admitir, por que doía apenas por considerar em Will namorando outra pessoa? Bem, eu acreditava que se tratasse de não querer Lilly sofrendo ao saber disso. Entretanto, eu tinha a impressão de que nada tinha a ver com isso.

Empurrei o urso de pelúcia para longe de mim e me pus de pé ao ouvir movimentos no corredor. Lilly tinha terminado seu banho e eu precisava urgentemente de um.

No banheiro, sobre a água quente do chuveiro — mesmo evitando continuar pensando sobre aquele assunto —, decidi que amanhã eu finalmente tiraria minhas próprias conclusões e teria a certeza absoluta. Se o encontro entre Alex e eu desse certo, terminaríamos nossa noite com um beijo, concordando em tornar real nosso fingimento do fim de semana.

Contudo, ainda havia outro problema chamado Sebastian Johnson. Talvez fosse necessário contar a verdade a Alex. Mas como eu faria isso? Ainda não sabia ao certo, mas até o dia seguinte pensaria bem e tomaria minha decisão. Assim como ordenaria meu coração a parar de dançar toda vez que ficasse na presença de Tom Flanagan. Éramos agora funcionária e patrão, e permaneceríamos sendo assim para sempre. E Louis Turner agora seria meu amigo, ou seja, deveria também aceitar que ele jamais teria qualquer tipo de sentimento romântico por mim, mesmo que se forçasse a isso. Aparentemente ele não se sentia atraído por mim, por isso deveria conviver com tal situação.

Terminei meu banho e vesti um conjunto de pijamas de unicórnio. Fui à cozinha rapidamente para beber água, verifiquei se a porta estava trancada, assim como todas as janelas e desliguei todas as lâmpadas. Parti para o quarto de Elizabeth e abri a porta em um pequeno vão, notando que ela já estava dormindo. Fiquei feliz por alguém estar conseguindo esse feito, pois quando deitei sobre a cama e cobri-me quase que completamente, soube que a noite seria longa.

Meu cérebro vagava em todas as direções. Centenas de pensamentos cruzavam minha cabeça, surgindo e desaparecendo na mesma velocidade. Todavia, um mesmo pensamento insistia em aparecer, forçando-me a pensar nele. Ou melhor, relembrá-lo. A lembrança era incomoda, mesmo que fosse uma das últimas que havia tido ao seu respeito. E agora estava ali, balançando-se ao lado de uma dúvida incomoda. Era ou não ele? Contudo, ela estava acompanhada de outras. Depois de todo esse tempo? O destino e o universo poderiam ter sido tão injustos? Por que estava acontecendo somente agora? Por que meu coração batia acelerado só de imaginar nós dois no mesmo país... Ou melhor, no mesmo estado — praticamente na mesma cidade —, tão perto um do outro?

Sabia que dificilmente encontraria respostas para todas elas. Mas sabia que poderia responder somente uma.

A sonolência me pegou depois de algum tempo, incapacitando-me de impedir que tal lembrança ocupasse minha mente. Deixei que ela viesse em formato de sonho, mesmo sabendo que havia sido real.

Faltava menos de uma semana para meu aniversário, o qual não estava nem um pouco animada. O motivo? Não havia razão para comemorar. Minha vida estava indo de mal a pior. Minhas notas conseguiram ficar pior e eu agora passava à tarde na escola em grupos de estudos. Papai e mamãe conversaram com o diretor, suplicando por ajuda. Ele os ouviu, colocando-me em aulas de reforço, para ajudar a melhorar minhas notas. E tinha tido o sucesso de falhar.

Além disso, agora sem meu melhor amigo, eu passava todos os minutos do intervalo sozinha, sentada na biblioteca e devorando meu lanche em silêncio para não atrapalhar os estudos dos outros alunos. Meus outros amigos estavam ocupados com suas vidas. Lilly ainda andava com as líderes de torcida, enquanto Will continuava a fugir dos valentões — vez ou outra eu os espantava — e a se esconder no banheiro ou ficar sozinho em uma das mesas do refeitório estudando constantemente. Eu não me juntava a ele, infelizmente. Ainda recordava da admissão de seus sentimentos por mim, dos seus olhos brilhantes em minha direção. Poderia fazer algum tempo, mas também não queria parecer à amiga que só surgia em necessidade, como o fato de estar andando sozinha.

Eu não sentia rancor por cada um estar cuidando dos seus próprios problemas. Tínhamos cada um sua vida, e eu não queria conversar sobre assuntos que envolviam a minha. Os problemas em casa continuavam, nada de inovador. Mas agora estavam sendo ignorados e todas as atenções se voltaram para mim. E as minhas notas.

Mamãe havia chorado quando recebeu minhas notas. Ela estava profundamente decepcionada com meu desempenho. Eu até tinha escutado uma frase o qual já estava me familiarizando.

— Por que você não é como suas irmãs?! — Meus pais faziam essa pergunta retórica toda vez que eu fazia algo considerado errado por eles. E eu nem fazia o esforço de responder. Somente subia para o meu quarto e ficava chorando sozinha. Entretanto, antes fechava as persianas para Will nunca suspeitar do meu sofrimento.

Na escola eu estava sempre sorrindo. Conversava com todos, mas sempre me escondia entre as prateleiras altas da biblioteca. Lá era meu porto seguro. Os livros se tornaram meus melhores amigos, que guardavam todos os meus segredos e me confortavam. E depois de longos dois meses, não sabia ao certo quantos livros havia lido, mas eram eles que estavam suprimindo minha solidão e mantendo minha sanidade intacta. Sem eles, eu temia não estar mais ali.

Em casa não era muito diferente. Eu fazia meus deveres de casa, as obrigações, e depois me escondia no quarto para ler mais. E para escrever. Eram meus meios de escape. Foi assim que a escrita tomou significado para mim. Eu poderia ser quem quisesse nas minhas histórias. Desde a mocinha até a vilã. Eu poderia ter quem quisesse também. Desde o playboy perfeito até meu primeiro amor... Até Lee.

Durante madrugadas inteiras passei acordada, lendo e escrevendo. As noites se tornaram curtas. Meu laptop zunia e esquentava enquanto meus dedos batiam em suas teclas, escrevendo palavra por palavra. A história foi surgindo aos poucos, mas com rapidez ganhou proporção e significado.

Minha mãe questionava o que eu fazia quando passava o tempo inteiro digitando no laptop. Eu inventava qualquer coisa, desde estar jogando jogos online a conversando com Lilly. Ela acreditou, pelo menos por um tempo.

Meus dias seguiam daquela maneira. Isolando-me em casa e na escola, fingindo que minha vida estava perfeitamente bem — o que era uma farsa — e aguardando pelas cartas de Lee.

Cartas estas que nas últimas semanas se demoravam a chegar. Sempre que recebia alguma, tratava de responder com urgência e enviar pelos correios. Entretanto, suas respostas demoravam a vir. E eu sofria aguardando-as em expectativa todos os dias.

Naquele dia em especial eu estava retornando da escola. Quando o ônibus parou no ponto, eu desci com rapidez e corri as últimas quadras que faltavam até minha casa. Chegando diante dela, parei e abri a caixa de correios e verifiquei seu interior. Lá dentro, sozinha e solitária, estava um envelope branco cheio de selos. Retirei-o e li o nome do remetente. Lee. Finalmente, após um longa e tortuosa semana, sua carta havia chegado!

Corri para casa, abrindo a porta bruscamente e gritando para os meus pais que havia chegado. Não esperei por suas respostas, apenas atravessei o lance de escadas até meu quarto no andar de cima e fechei a porta atrás de mim. Joguei minha mochila no chão e sentei-me sobre a cama, abrindo o envelope com delicadeza, temendo rasgar o que continha em seu interior. Consegui tirar a folha de papel e a abri, reconhecendo instantaneamente a caligrafia de meu melhor amigo. Sorri satisfatoriamente quando meu coração se encheu de uma coisa boa. Estendi-a e comecei a ler o conteúdo da carta.

''Querida Melissa, fiquei muito feliz ao ler sua última carta. Estou profundamente contente em saber que você retornou a escrever, depois de todo esse tempo. É muito bom quando fazemos algo que gostamos, é um prazer inexplicável. E eu posso dizer isso por experiência própria. Por isso, espero que você possa me contar sobre o que está escrevendo. Quem sabe até mesmo me enviar, pois adoraria ler. Sei que tudo o que você faz é bom, pois acredito no seu potencial. Dá pra acreditar? Eu tenho uma amiga que é escritora!

Você me perguntou sobre novidades, sobre como está indo as coisas aqui na Coreia do Sul. Já peço desculpas por demorar em responder suas cartas. As coisas não estão fáceis. Eu já não sei o que é relaxar por um tempo, e o tempo que tiro para ler e responder suas cartas são raros. Mas saiba que anseio por elas todos os dias. Sempre quero saber o que você tem a dizer, porque tudo o que você me diz é interessante.

Bem, por onde devo começar? Honestamente, não há nada de interessante nas minhas novidades. Sei que você deve ter coisas mais importantes para fazer do que ler o que tenho feito no meu dia a dia. Enfim. Nas últimas semanas tenho passado praticamente o dia inteiro na escola treinando dança e canto. Eu raramente tenho ficado em casa. Isso fez com que minha mãe viesse quase todos os dias a escola trazer meu almoço como justificativa para me ver. Ela fica triste ao ver o quanto estou cansado e suado depois das aulas. Até já me pediu várias vezes para sair dessa escola. E insiste em dizer que eu daria um ótimo matemático, professor ou advogado. E eu repeti diversas vezes que não é isso que quero para minha vida. Por causa disso, nós acabamos ficando brigados. E passamos dias sem se falar. Papai teve que interceder entre nós e tivemos uma reunião de família. Depois de muito choro e briga, ela finalmente aceitou minha decisão.

Honestamente, não estou tão surpreso por ela finalmente ter concordado, mas em como meu pai aceitou rapidamente minha decisão. É bom saber que ao menos alguém da minha família está do meu lado. Por isso, tomei coragem para pedir permissão para ir a uma audição em uma empresa. Mamãe só concordou por pressão, mas meu pai me levou na sexta-feira passada até a empresa musical. Eu espero que tudo dê certo. E quando o resultado sair, farei questão de te contar imediatamente! Até lá só posso aguardar ansiosamente pelo resultado.

Quero muito ser aceito e, se isso acontecer, me tornarei um trainee. Você certamente não sabe o que é um trainee. Bem, é basicamente uma pessoa que vai para uma empresa para treinar, seja canto, dança ou atuação. Lá eu terei aulas que focarão no meu sonho de ser cantor e, quem sabe um dia, estrear na indústria artística como músico.

Ainda é um sonho bem distante, eu sei disso. Mas eu tenho fé que posso ser aceito. Se isso acontecer, estarei a meio caminho de distância do meu sonho. E um dia, Melissa, você vai ouvir minhas músicas nas rádios ou me assistir na televisão. Já pensou nisso? Seria incrível!

Outros colegas meus da escola também fizeram essa audição, que é bastante concorrida. Anseio que todos sejamos aceitos, pois seria bem divertido estar trabalhando com pessoas próximas.

Aliás, aqui eles não me chamam de Lee. Afinal, esse é meu sobrenome. Sei que aí na América vocês sempre consideram o primeiro nome como o nome principal da pessoa. Entretanto, aqui é o inverso. Mas saiba que você pode me chamar como quiser. Eu só estou dizendo isso para você não estranhar quando escutar as pessoas me chamando assim quando eu aparecer na televisão (não me ache um idiota por estar falando muito disso).

De qualquer forma, essas são todas as novidades que tenho. Minhas notas na escola estão boas e as suas? Já escolheu o que vai estudar quando for para faculdade? E como está o William e a Elizabeth? Espero que não estejam te deixando sozinha durante o intervalo de almoço!

E eu espero poder vê-la novamente em breve. Se um dia planejar tirar férias em algum país estrangeiro, coloque a Coreia do Sul como o primeiro da lista, ok? Eu vou adorar te receber aqui.

Acho que isso é tudo que tenho a dizer. Meus dias estão normais, consegui me acostumar com a nova rotina. Entretanto, ainda penso em como seria divertido ter de volta o que nós tínhamos. E principalmente sobre como eu fui um idiota por não ter admitido meus sentimentos por você antes. Em parte, acredito que isso só dificultaria nossa separação. Ambos fomos estúpidos por suprimir esses sentimentos por tanto tempo. E agora eu não paro de senti-los o tempo inteiro. Mesmo você estando distante, tenho a impressão de que está aqui comigo, bem perto, guardada no meu coração.

E acho que você pode perceber pelas minhas palavras que meus sentimentos não mudaram a seu respeito. E espero que os seus também não tenham mudado sobre mim. Eu ainda gosto de você, Melissa. E sinto muito sua falta.

Por isso, permanecerei forte e aguardando que um dia o destino volte a nos unir. Quando eu tento me enxergar no futuro, não me vejo sendo um cantor de sucesso ou coisa do tipo, sempre me vejo ao seu lado. E desejo que seja assim.

Para sempre seu e com amor, Lee JungSoo.''

Seria tolice se eu dissesse que deixei escapar algumas lágrimas dos meus olhos? Mesmo que não houvesse nada triste na carta, saber que os sentimentos de Lee... Ou melhor, JungSoo — era estranho chamá-lo desse nome, pensei, mas deveria me acostumar —, permaneciam o mesmo por mim causou-me àquela reação. Realmente, fomos tolos ao ter demorado tanto tempo para admitir tais sentimentos. Era frustrante amar alguém e essa pessoa estar tão distante. Agora deveríamos viver com a consequência das nossas ações.

Contudo, enquanto ainda tocava com delicadeza a borda da folha, pensando que Lee tinha encostado naquele mesmo pedaço de papel, jurei que tentaria ir vê-lo na Coreia do Sul o mais rápido que pudesse. Portanto, se fosse necessário — e certamente seria —, eu arranjaria algum emprego durante o verão, e com o dinheiro que conseguisse iria comprar uma passagem para visitá-lo. E, talvez, poderia até me mudar para lá!

Ok, talvez meus pais não aceitassem tal decisão, mas naquele momento eu realmente considerava ir atrás do meu amor em outro país. Nós sentíamos algo um pelo outro, certo? Tínhamos o direito de viver aquilo!

Sentei-me a escrivaninha e coloquei-me a escrever sua carta de resposta, ainda sonhando acordada com a possibilidade de vê-lo em breve. Respondi suas perguntas, mentindo um pouco em algumas — não poderia contar a ele sobre minhas notas péssimas e o fato de estar sempre sozinha durante o almoço no colégio — e contando sobre como estava às coisas. Admiti que ainda não tinha tomado minha decisão sobre qual curso ou faculdade escolher. Justifiquei que ainda faltava muito tempo, então escolheria depois. Informei que meus amigos estavam bem — conforme o que eu poderia supor sobre os momentos que os via pelos corredores da escola —, assim como em breve, quando concluísse meu livro, enviaria uma cópia para ele ler.

Entretanto, aquilo não passava de uma promessa vazia. Eu concluí o livro sim, mas nunca o enviei para Lee. O motivo? Ele nunca respondeu aquela carta.

Portanto, aquela carta foi a última que recebi de Lee JungSoo, meu melhor amigo e primeiro amor. E assim desfizemos o nosso contato, o único que tínhamos — mesmo eu tendo o número de telefone de sua casa — depois de sua partida.

Seria mentira se eu dissesse que nunca mais ouvi a seu respeito. Entretanto, aquela lembrança — todas ao seu respeito, na verdade — eu mantinha guardada a sete chaves. Elas me machucavam muito, principalmente sobre o quão facilmente fui esquecida, e como desisti daquilo que tínhamos. Logo eu, que acreditava tanto em romance! Acreditei que nossos sentimentos eram únicos e verdadeiros. E, por causa disso, sempre me questionei sobre suas últimas palavras na carta. Ele realmente gostava de mim? Então, por que nunca mais me mandou alguma carta ou me ligou? Porque tudo não passava de um amor passageiro, pensei, respondendo-me.

Lee certamente tinha encontrado alguém melhor por lá, ou se ocupado com coisas mais importantes do que eu.

Entretanto, sabia que eu estava arranjando justificativas para não sair mais machucada. Lee não se esqueceu de mim, ou pelo menos demorou para se esquecer. Da mesma forma que eu ainda tinha muita dificuldade para tirá-lo da minha cabeça.

A verdade — que eu não queria admitir — era que mesmo eu não sabendo o paradeiro de Lee, no fundo sabia. Durante todas as nossas cartas ele me deu a resposta. Ele tinha conseguido realizar o sonho que tanto almejou.


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