A teoria do caos

Galing kay AyzuSaki

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Alguns eventos moldam as pessoas. Acontecimentos que transformam o caminho de alguém totalmente, por terem um... Higit pa

Capítulo I - O homem que trabalha com lixo
Capítulo II - O menino que brinca com lixo
Capítulo III - Que tipo de herói você quer se tornar?
Capítulo IV - Os gatos de rua de Hosu
Capítulo V - Aqueles encontros predestinados
Capítulo VI - Desvios imprevisíveis
Capítulo VII - Convergindo
Capítulo VIII - Endeavor precisa esfriar a cabeça
Capítulo IX - Sua mãe nunca te ensinou a mentir, mas deveria
Capítulo X -Aizawa questiona as suas escolhas na vida - Parte I
Capítulo XI -Aizawa questiona as suas escolhas na vida - Parte II
Capítulo XII - O gato e o novelo de lã
Capítulo XIII - A órbita de um Midoriya
Capítulo XIV - O poder por trás de um nome
Capítulo XV - Os rolês aleatórios de Nora
Capítulo XVI - Um interlúdio antes da desgraça
Capítulo XVII - O paradoxo da força irresistível
Capítulo XVIII - Aquelas reuniões familiares com parentes que tentam te matar
Capítulo XIX - O menino e os monstros
Capítulo XX - As promessas que fazemos e que nos quebram
Capítulo XXI - O Inverno está chegando
Capítulo XXIII - Uma fúria feita de gelo
Capítulo XXIV - O inverno está aqui
Capítulo XXV - Efeito bola de neve
Capítulo XXVI - O guia prático de como criar caos, por Izuku Midoriya
Capítulo XXVII - Um cego guiando um cego
Capítulo XVIII - A ponta do fio
Capítulo XXIX - Os galhos da árvore
Capítulo XXX- Izuku é uma calamidade de bolso

Capítulo XXII - O paradoxo de Epicuro

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Galing kay AyzuSaki

Notas inicias

Eu me atrasei. Muito. Minha vida não está fácil :')

Eu não corrigi esse capítulo ainda, então desculpem os erros.

Verifiquem as notas finais para explicações e previsões.


"Seria Deus desejoso de prevenir o mal, mas incapaz? Portanto não é omnipotente. Seria ele capaz, mas sem desejo? Então é malévolo. Seria ele tanto capaz quanto desejoso? Então por que há o mal?"

Epicuro por Charles Bray, A filosofia da necessidade.

O dossiê estava aberto na sua frente, parecendo inocente.

Naomasa Tsukauchi sempre foi orgulhoso da sua intuição, mais do que da sua quirk. Sua intuição nunca havia o deixado falhar, enquanto sua quirk poderia ser manipulada. Izuku Midoriya havia provado isso.

Izuku Midoriya, na verdade, era a origem das suas noites insones no momento e de toda essa especulação e de buscar aquilo nos arquivos em primeiro lugar.

O detetive soltou o ar devagar, se achando ridículo pelo medo de abrir um mero dossiê, um que já havia visto tantas vezes.

Antes mesmo de virar a página ele sabia o que encontraria. Havia decorado as palavras e as fotografias há anos. Min-Han-Su, geneticista renomada, desaparecida anos atrás. Min-Han-Su, envolvida com experimentos humanos ilegais e o desaparecimento de mais de 100 crianças sem quirk.

As frases "induzir surgimento de quirks" "mutações" "múltiplas quirks" agora traziam um novo significado de quando ele surgiu no seu escritório anos atrás, com postagem anônima e pistas que o levaram a restos de corpos e um laboratório destruído abaixo da cidade.

Pelos relatos do ataque de USJ, o monstro, que ainda não havia sido encontrado, havia apresentado múltiplas quirks, e isso havia deixado Tsukauchi e Yagi em alerta, pelas implicações disso, do que poderia indicar. Olhando para o desenho no dossiê e as imagens de USJ era claro a semelhança entre as criaturas indicando uma mesma origem.

Passou pelo nome "Tsubasa". Um pediatra especialista em quirks que nunca havia sido encontrado, sumido bem antes da investigação, aparentemente tendo mudado de cidade com o neto. Nenhum rastro. Não havia muito sobre ele no dossiê e desconfiava que se o médico realmente estivesse envolvido Tsubasa era um nome falso. A possibilidade de um médico que cuidava de crianças, que tinha acesso as suas quirks, estar envolvido em algo assim era assustador, por o colocar justo em uma posição privilegiada.

Tsukauchi abriu o outro dossiê na mesa. Da semana anterior, sobre a droga Trigger entrando em Hosu. Zonas de entrega marcadas em mapas, fotos noturnas. O mesmo padrão, apenas mais refinado depois de anos. Assim, lado a lado, era claramente o mesmo estilo. A mesma pessoa.

Noraneko havia surgido em Hosu apenas esse ano, mas pelo dossiê entregue, ele estava envolvido com tudo isso bem antes. Mais de dois anos de gap, e ele aparecia novamente. Por quê?

Fechou o outro dossiê e cruzou as mãos no rosto, olhando para o tampo da mesa de forma pensativa.

"Izuku Midoriya."

A primeira vista, se não soubesse onde olhar, tudo iria parecer uma coincidência.

Izuku Midoriya primeiramente havia sido apontada como uma das crianças desaparecidas, apenas para surgir anos depois, vivo.

Izuku Midoriya havia sumido do Japão mais de dois anos atrás e surgido esse ano.

Izuku Midoriya estava em USJ e mesmo sem quirk havia lutado de forma impressionante, que indicava alguém que sabia exatamente o que fazia e não um estudante apavorado.

Izuku Midoriya, que ninguém conseguia descobrir nada sobre os últimos anos, e mesmo ano ninguém conseguia achar um rastro para ter certeza onde ele morava.

Suspirou, por alguns segundos odiando sua intuição.

Porque ele sabia que estava certo.

— Que merda você está fazendo, garoto?

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Shinsou não tinha ideia do que estava fazendo, mas tinha uma certeza no momento:

—Minha mãe vai me matar.

Cutucou a orelha dolorida, fitando o reflexo no espelho em desespero. Ele mal havia entrado pela maldita porta e aquela maluca havia enfiado uma pistola na sua orelha em segundos.

— Por toda a história do vigilantismo ou pelo seu novo brinco?

Shinsou abriu a boca e a fechou rapidamente, olhando Midoriya de forma traída, porque não tinha uma boa resposta para isso.

O outro cutucava a própria orelha com curiosidade. O ponto vermelho piscou por alguns segundos enquanto ele ajustava algo em um aparelho. Notou outro ponto brilhante na orelha oposta e outro mais acima.

— Ela colocou mais de um em você.

— Quer também?

Tapou as orelhas de forma desconfiada, negando rapidamente, ainda mais ao ver Hatsume o olhar com a pistola ainda na mão.

— O que foi isso, afinal. Rito de iniciação?

Midoriya bateu em sua mão onde ainda cutucava a orelha, murmurando algo sobre cicatrização.

— Rastreadores. Mei não gostou do nosso último problema com os rastreadores e criou o dela. O outro é um ponto de escuta e uma câmera. Tem certeza que não quer?

—Absoluta.

O outro garoto deu de ombros, mas ainda assim Shinsou resolveu proteger suas orelhas a partir de então.

—Há uma câmera no seu uniforme. É mais uma precaução. Vamos ver o que fizemos para você, mas antes de tudo-

Izuku o empurrou para sentar na poltrona, a expressão séria como poucas vezes já tinha visto. Hatsume deu uma olhada na direção deles e decidiu os ignorar e focar no uniforme na mesa.

— Tem que saber no que está se metendo. De verdade.

—Já conversamos sobre isso, eu quero participar. Você prometeu. E me massacrou por semanas em treinos, então se quer dá para trás-

Izuku o interrompeu com um sinal de mão.

— Tem que saber, que se você for pego, as coisas vão ficar feias. No mínimo vai acabar com seu sonho de ser herói. Não estou falando de um puxão de orelhas, Hichan. Você não tem ideia do que eles são capazes.

— Eles?

— A comissão de heróis.

Midoriya o olhou de forma especulativa, ponderando claramente algo e então balançando a cabeça.

— Vai ter que saber disso. Se você for pego, a comissão tem você na mão.

— Midoriya, a comissão de heróis são os caras bons, do que está falando agora?

O outro o olhou como se fosse um idiota.

— Primeira lição de vigilantismo: tire isso de caras bons e maus da cabeça. Pela lei, nós somos os caras maus. A comissão tem um trabalho, eles fazem o trabalho deles. Isso em si já ferra algumas pessoas. E não falo de vilões.

Shinsou o olhou de forma duvidosa, mas assentiu.

— Vamos deixar isso para outra hora. Por agora, tem que saber que se for fazer isso e for pego, vai acabar com sua vida.

Shinsou sabia disso. Ouvir as palavras era mais assustador, mas não como se ele já não tivesse pensando na possibilidade.

Mas ele precisava disso.

Ele nunca verbalizou, mas ele sabia que se não fosse em frente com essa ideia nunca se sentiria merecedor de estar no curso de heróis. Não quando todos pareciam anos luz à frente dele.

Não quando ele via Noraneko, via Izuku Midoriya ali na sua frente, sabendo tudo o que ele havia feito e fazia pelas pessoas, mas fora do curso por algo técnico, enquanto Shinsou nem mesmo se sentia digno de estar na vaga que havia conseguido.

Shinsou não falou nada disso. Apenas sorriu em falsa confiança.

— Então é melhor não me deixar ser pego, Nora.

Izuku piscou os olhos devagar antes de assentir, aceitando facilmente aquela resposta.

— Certo. Uniforme.

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—Primeiro de tudo, temos que deixar sua imagem o mais longe possível da sua imagem de herói. Idade, altura, voz, tudo o que for possível tem que ser mudado. Agora, sua quirk. Quirks de controle de voz não são tão incomuns, mas cada uma tem algo específico que a diferencia, a sua é, por enquanto, a necessidade de uma resposta.

— Por enquanto?

— Toda quirk tem um ponto de evolução, mas não é importante agora. O importante é que sua quirk não pode ser ligada à você. E por isso esse modulador de voz. Não, não é como o do seu outro uniforme, esse é mais...peculiar.

Por alguma razão Hatsume pareceu segurar uma risada e Shinsou não gostou nada, nada mesmo disso.

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Shinsou às vezes odiava aqueles dois.

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Mei observou seu trabalho com orgulho.

O uniforme de Shinsou, mesmo necessitando de melhorias, parecia de longe bem melhor do que as primeiras tentativas que fez para Noraneko. Olhando ele assim, Shinsou podia facilmente se passar por um adulto. Ajudava que ele era alto, mas com os preenchimento nos lugares certos ele não parecia nada com o aluno de U.A.

Claro, eles não poderiam esbanjar tecnologia nos uniformes, isso geraria perguntas sobre a origem deles, o que não era bom. Era o motivo de terem investido em uma armadura interna para Izuku com nanotecnologia, mas deixado a parte externa sem muitas mudanças óbvias. Um uniforme feito com qualquer coisa chamaria menos atenção do que ele surgir repentinamente com melhorias.

Era um pouco decepcionante, mas compensaria nos uniformes da U.A.

Izuku colocou o taco no suporte nas costas, ajustando o visor. Os dois pararam e olharam Shinsou, testando os movimentos no uniforme. Ele ainda parecia rígido demais, mas logo pegaria o ritmo da coisa.

Esperançosamente.

Ele não havia mais tocado no modulador de voz depois do teste, mas Izuku parecia confiante que ele não precisaria usar a quirk se tudo desse certo. Ela confiava nele em saber o que fazia, afinal depois de meses ninguém tinha ideia que Noraneko não tinha uma quirk.

Izuku fez um som de apreciação. A armadura escura parecia feita de Kevlar, ninguém suspeitaria que não sem conhecer bem sobre o tipo de material. O capacete iria parecer um de motocicleta adaptado. Uma jóia disfarçada de roupas de plebeu, era o que eles tinham feito.

—Hatsume, já te disse que você é a melhor?

— Hoje não.

— Pois você é. Olha isso. Sentindo o cheiro de carro novo, Hichan?

Izuku jogou o bo-staff e Shinsou o pegou no ar facilmente. Ele aprendia rápido. Algumas semanas de treino e ele parecia menos hesitante.

— Você ensinou ele bem.

— É como ver um filho nosso.

—Parem vocês dois, isso é estranho.

— Até a atitude ele tem, Mei.

Shinsou grunhiu e os dois o ignoraram.

— Podemos ir agora?

— Sim, mas antes, regras: Primeiro, perto de mim sempre. Não vai sair sozinho, a não ser que seja uma emergência.

— Como vou saber se for-

— Mei vai falar. Nisso, nunca desligar o comunicador. Ouça Mei. Evite Endeavor a todo custo, ou qualquer herói realmente. E se Eraserhead surgir, corra como se o diabo estivesse atrás de você. Ingenium e a agência dele são seguros.

— Sério?

— Vai se surpreender com a quantidade de heróis que fecha os olhos para o vigilantismo. Eraserhead é um deles, mas não podemos arriscar com ele te conhecendo, então, se o ver, corra. Não morda mais do que pode mastigar. Fique longe dos outros vigilantes quando eu não estiver por perto. O que mais?

— Para proteger sua identidade, não faça nada que Izuku faria.

— Mei! Não sou tão ruim assim.

— Me diz de novo, quantas pessoas já sabem sua identidade mesmo?

—Traidora.

—Podemos ir agora?

Alguém estava realmente animado.

—Não sem ver um detalhe importante.

Os dois a olharam com curiosidade onde já se preparavam para sair pelos túneis.

— O quê?

— Qual o seu nome?

— Shin... Oh. Merda. Tinha esquecido disso.

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Meia hora depois e os três estavam deitados no tatame, comendo chips e ainda sem nenhuma ideia boa.

— Quem tal-

—Não, não vou ouvir sua opinião, Midoriya.

— Mas-!

— Você escolheu o nome com a primeira coisa que viu pela frente.

— E foi um ótimo nome!

—Se sugerir outro nome de um dos seus gatos eu juro que vou-

—Eu ia dizer Bakeneko.

Shinsou pausou e então o olhou de forma desconfiada, ainda mais ao ver Hatsume e Izuku trocarem um olhar.

— Bakeneko?

— É um tipo de Yokai, mas diferente do Nekomata, porque só tem uma cauda. Uma das habilidades deles de acordo com a lenda é falar com voz humana e-

— Possuir e manipular pessoas.

Shinsou terminou, com uma expressão que indicava se deveria ou não se ofender. No fim ele grunhiu.

— Outro tema de gato.

— Se não quiser-

— Não, sai fora! Pelo menos nesse pensou antes.

Dessa vez Izuku que o olhou de forma ofendida.

— Bakeneko. Tem certeza que não vão confundir com Bakaneko?

— Quem seria o idiota que faria isso?

— Okay. Bakeneko então.

Izuku bateu palmas.

— Perfeito. Agora, as docas. Recebi uma pista que um fornecedor do Trigger vai tentar fazer uma negociação por lá. Vamos observar.

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"Ingenium, não vai acreditar nisso, mas os gatos se multiplicaram."

Tensei paralisou onde entregava um dos vilões a Naomasa. O detetive o olhou com curiosidade com a expressão que fez ao ouvir o aviso no comunicador.

— Pode repetir? Acho que não ouvi direito.

"Manual esbarrou neles nas docas. Tem dois dois deles agora."

— É, acho que está na hora de me aposentar.

"Ingenium!"

Naomasa o fitou de forma questionadora e não sabia se ria ou chorava no momento.

—Noraneko parece que arrumou um estagiário.

O homem paralisou também, o chapéu a meio caminho da cabeça.

— Só pode estar brincando comigo.

— Não mesmo. E qual o nome do nosso novo problema?

"Parece que...como? Ah sim. Bakaneko?"

—Gato idiota?

"Ou Bakeneko, ele não tem certeza."

—Hum.

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Shinsou grunhiu, saltando de um dos containers, os dois escapando da cena com a chegada da polícia. Izuku fez um sinal de mão quando alcançaram a saída das docas e olhou para trás brevemente, surpreso ao ver que realmente não estavam sendo seguidos.

Era quase como se os heróis realmente não quisessem apreender os dois. Na verdade, Manual parecia realmente interessado na opinião de Midoriya antes de verem os carros da polícia.

— Ei, gatinho!

Izuku se moveu com uma rapidez que ainda não tinha visto desde USJ, girando no ar e o puxando pelo braço no momento em que um container foi empurrado na frente dos dois.

Shinsou amorteceu a queda com um rolar, a proteção em seu joelho ajudando no impacto quando saltou para o chão das docas. Olhou para cima e viu Izuku pendurado com uma linha de aço, antes de saltar e agachar na sua frente em defesa e já disparando duas facas em sucessão.

Tudo aconteceu tão rápido e se xingou por não reagir com tempo.

Shinsou só viu azul e sentiu um calor repentino, seu coração acelerado, mas pronto para atacar ou correr se preciso. Uma barreira azul se formou incinerando as facas e se dissipou em segundos.

E como mágica o corpo menor na sua frente mudou da posição agachada, uma voz de reconhecimento e exasperação tomando forma, mesmo que o corpo não houvesse relaxado.

— Hades. Que merda?

Um rosto cheio de cicatrizes surgiu das chamas, um sorriso maníaco.

— É Dabi. Devia me sentir ofendido que me atacou.

— Jogou um container na minha frente.

— Sabia que não ia te atingir.

Izuku ficou calado. Fazendo um sinal de mão pelas costas para não falar nada. Seja quem fosse esse cara Izuku era cauteloso sobre ele, mas não agressivo.

O outro o olhou de forma especulativa, o rosto virado. Seus olhos foram para Noraneko e Shinsou não tinha certeza do que estava acontecendo ali.

— Outro gato?

—Bakeneko.

Bakaneko??

Shinsou sentiu a sobrancelha tremer em irritação.

Midoriya o olhou em falsa inocência e ouviu algo pelo comunicador.

—Acho melhor nós terminarmos essa reunião, os heróis que estavam atrás de você estão vindo para cá. Foi bom te ver, Hades.

O outro sujeito hesitou por segundos, mas logo os três se moveram rapidamente, Midoriya o guiando até um dos becos e subindo pela escada de incêndio. Um herói passou de frente a entrada e seguiu adiante.

—O que foi isso?

—Outro vigilante. Eu acho.

—Você acha?

Midoriya se agachou e os dois olharam para a rua, não vendo sinal do outro cara.

— Nada é certo por aqui às vezes. Mas de uma coisa eu sei, não foi para querer conhecer você que ele me parou hoje.

— E o que acha que ele queria?

Midoriya não respondeu de imediato, mas por fim suspirou.

— Não faço ideia.

.....................................................................

Hizashi não sabia o que havia deixado Shota tão exasperado, mas só podia ser algo divertido. Nem em dia de folga da patrulha o homem parecia relaxar, entregue na pilha de exames da sua classe.

— O que aconteceu?

Shota aceitou o café, a expressão ainda tensa.

—Tensei.

Piscou, confuso.

— O que ele fez agora?

— Ligou para avisar que Noraneko agora tem um estagiário, aparentemente. Isso não tem graça, Hizashi!

Ele realmente não queria rir, mas a cara de Shota naquele momento era impagável. Era como quando um dos estudantes aprontava alguma coisa.

— Oh, Shota. Não precisa esconder, eu sei que gosta dele.

O outro não negou. Hizashi sempre se preocupou com a relação de Shota com vigilantes. Por um tempo, depois da graduação e até antes de ele aceitar a posição como professor em U.A, Eraserhead para muitos era conhecido como um vigilante com licença de herói. Ele não seguia regras, ele tinha contatos ainda com vigilantes e seus métodos sempre foram brutais. Ele sabia que o luto por Shirakumo havia causado tudo isso, mas Hizashi se perguntava como ele havia passado pelo radar da comissão. Talvez por eles se importarem tanto com números e rankings que Eraserhead nunca chamou atenção deles. Agradecia por isso.

Shota havia falado demais sobre Noraneko para conseguir disfarçar que ele tinha certo respeito, no mínimo, pelo vigilante. E apesar de rir da situação, Hizashi ficava preocupado, porque o vigilante sim parecia estar chamando muita atenção.

—Shota, você sabe que-

—Eu vou dormir.

Suspirou e balançou a cabeça.

Isso acabaria mal ainda.

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Shinsou parou no parapeito do prédio e olhou para baixo, fitando o objeto na mão de forma duvidosa.

— Tem certeza que é seguro?

— Não confia em mim? Não responda isso.

Que bom que ele já sabia. Pela quantidade de vezes que ouviu alguém falando "Bakaneko" naquela noite, ele devia não ter confiado nele nisso também.

— É bem semelhante ao que Eraserhead faz com a arma de captura. Mira onde quer alcançar, aperta e verifica se está bem seguro, então aperta de volta e vai ser puxado na direção.

— E tentar não virar panqueca em algum prédio enquanto balança a essa altura. Já usou isso antes? Além de hoje.

— Como acha que salto tão rápido de um prédio para outro? Nem tudo é Parkour na vida. Não vou deixar você cair.

A mão dele apertou seu ombro em conforto e se sentiu relaxar. Ele falou isso com tanta confiança e seriedade que dessa vez não tinha como não acreditar.

Suspirou e balançou a cabeça, respondendo suavemente.

— Certo. Me mostre como.

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Izuku se sentiu um pouco azedo ao perceber como Hichan era um natural. Em poucas tentativas ele estava balançando nos prédios com uma facilidade que Izuku havia demorado algumas semanas para conseguir. Com certeza isso ajudaria a o treinar com a ferramenta de captura de Eraserhead.

O outro adolescente parecia pegar as coisas rápido no geral, ele só precisava de um pouco mais de confiança em si mesmo.

Izuku pensava se era assim que Takashi havia se sentido com seu pai. E uma parte sua imaginava se essa era a razão de ter aceitado aquela loucura, mais ainda do que a expressão no rosto de Shinsou quando pediu. Uma expressão que lhe dizia que se Izuku não ajudasse ele tentaria sozinho.

Isso era diferente de Mei, que tinha uma relação de igual com ele no meio dessa bagunça. Mei não pediu permissão, ela apenas tomou passagem.

Hitoshi Shinsou era sua responsabilidade agora.

E da última vez que Izuku se tornou responsável por alguém todos eles morreram.

"Ótima forma de mudar o humor."

Estava tão preso em pensamentos pessimistas que não o viu a tempo.

—Noraneko!

O alerta veio antes da pancada. Por uns segundos pensou que havia batido em uma parede, mas logo ouviu o barulho das asas e sentiu o braço em sua cintura.

Olhou para cima, recuperando o ar ao ser parado de forma abrupta na velocidade que ia, suas costelas gritando com a pancada.

Hawks o olhou com um sorriso sacana e grunhiu em desespero.

Parece que era uma daquelas noites. O que seria da próxima vez, Endeavor?

"Noraneko? Nora?"

Soltou um xingamento baixo ao ouvir a voz muita alta de Shinsou no comunicador.

—Está tudo bem, Bakeneko. Fique aí. Mecânica, de olho nele.

Hawks deu uma risada baixa.

— E como tem tanta certeza que não vou te prender?

Tirou a mão do comunicar e olhou o outro de forma especulativa, tentando não olhar a altura em que estavam indo.

— Você vai?

O herói fez um som de dúvida, tomando seu tempo para aparentemente decidir: — Nam. Muita papelada.

Bom, era um alívio.

— Então, há alguma razão para quase quebrar minhas costelas?

— Ah. Ops?

O herói o olhou de forma culpada, os dois posando em uma torre. Izuku se agarrou nas grades, se equilibrando.

—Soube sobre USJ. Só verificando meu vigilante favorito.

Izuku fez um som estrangulado. Ele não queria lembrar seu pequeno problema em manter sua identidade.

Como?

O outro ignorou sua pergunta, sentando nas grandes facilmente e olhando a cidade.

— USJ, ataque de vilões, hum? Como foi isso?

Izuku o olhou de forma desconfiada. Hawks parecia interessado, mas não era em sua saúde.

—Contei tudo o que sabia para a polícia.

Okay, isso era uma mentira. E pelo o olhar do herói ele sabia disso. Izuku não confiava em Hawks, ele não o entendia e isso era perigoso. Geralmente ele conseguia entender bem as intenções de alguém, mas com o herói ele não tinha certeza.

Ele parecia o herói obediente e eficaz, que subiu de posto tão rápido vindo de lugar algum. Conseguir informações sobre ele era difícil e até mesmo onde ele havia se formado era contraditório.

E então, ele estava ali, confraternizando com um vigilante.

—Vou saber como sabe da minha identidade?

—Eu conhecia seu pai.

Izuku não esperava uma resposta.

E com certeza não essa.

O quê?

Hawks o olhou de lado, uma expressão estranha no rosto.

— É fácil perceber as coisas, quando vocês dois são tão parecidos.

Izuku tinha tantas perguntas. Ele não sabia por onde começar. Ele nem mesmo tinha certeza se o outro estava falando a verdade.

A boca seca, as mãos suadas, na sua mente veio olhos vermelhos.

"Você pode ser um herói, Izuku."

A pergunta que saiu da enxurrada veio sem seu controle.

—Ele está vivo?

Hawks desviou os olhos, fitando as luzes abaixo.

—Não.

Takashi havia dito, não com todas as palavras, mas ele havia insinuado. E que nunca haviam achado um corpo. Izuku nunca teve certeza.

—Oh.

Qualquer questionamento que Hawks queria fazer sobre USJ e as tantas perguntas de Izuku de repente não parecia tão importantes.

Izuku só lembrava de seu pai por um dia em sua vida. Nada de antes, nada de depois, um único dia.

Mas havia sido um dia que havia mudado tudo.

Hawks parou, ouvindo algo do seu próprio rádio.

—Hora de ir.

Izuku aceitou a mão em silêncio, que permaneceu enquanto desciam.

Já na calçada, ele ainda não sabia o que dizer de todas as perguntas entaladas, mas devia ser óbvio pela sua expressão corporal, porque Hawks suspirou, parecendo repentinamente muito cansado.

—O festival é em algumas semanas, hum? Participe.

Izuku o fitou, entendendo o recado.

Assentiu, ouvindo a voz de Shinsou no comunicador. Ele sabia que Mei havia lhe passado sua localização.

Hawks se preparou para voar, mas como um Deja vu, ele pausou e olhou por cima do ombro.

—Ele queria voltar para casa.

Izuku teve uma resposta para uma das perguntas.

Ele não pensou que a resposta que mais queria ouvir doeria tanto assim.

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A patrulha foi cortada pela metade do que Izuku geralmente fazia, mas Mei entendia. Para a primeira noite de Shinsou eles já haviam tido emoções demais.

Depois de um breve relatório sobre a noite e discussão sobre no que o outro poderia melhorar - e reclamações sobre o nome errado que estava se espalhando - Izuku colocou Catchan para levar Shinsou para casa.

Sendo que a casa ficava em um distrito adiante, a distância não ultrapassava o que eles vinham treinando, mas ainda era grande o bastante para Izuku não arriscar mais do que a ida e volta. Ainda assim, bem providencial, ela só esperava que os pais de Shinsou não fossem do tipo que iriam verificar o filho na cama no meio da madrugada.

Antes de ele ir notou como ele olhava Izuku de forma quase preocupada. Tinha que admitir que ele havia saído bem mais animado do que havia retornado. Para como passou o dia, antes de saírem ele quase parecia o seu normal.

Mei não conseguia compreender muita coisa sobre pessoas e interações no geral. Ela era a primeira a admitir que na maior parte do tempo ela não tinha tato para entender o que os outros sentiam, mas ela gostava de pensar que já conhecia Izuku o bastante, mesmo que evitasse fazer perguntas.

No momento ela não sabia o que dizer em uma situação como aquela. Dê uma maquina para ela consertar em qualquer momento e vai ter uma resposta, mas aquilo não era uma máquina. Mei não tinha uma solução lógica na ponta da língua.

—Você estava ouvindo.

Assentiu devagar, porque ele sabia que ela sempre estava ouvindo.

Ela sentiu vontade de perguntar algo pessoal, algo raro de acontecer. Ela sabia tanto sobre Izuku em apenas observar, mas evitava perguntar algo diretamente. Izuku era seu companheiro para montar coisas. Agora eles pareciam ser amigos também e não sabia bem como seguir sobre isso.

Ela nunca teve um antes.

"Akira saberia o que fazer."

O monstro no quarto do pânico que ela tinha certeza que era o tio que ele estava procurando e agora isso. E tinha a mãe dele no quarto do hospital e o quadro com as fotos de crianças desaparecidas que o pegava olhando.

A vida dele era tão...trágica. Mei não sabia o que dizer, o que fazer para consertar isso.

—Está tudo bem, Mei.

Izuku estava a olhando daquela forma que não entendia. Com compreensão? Não era Mei que devia estar fazendo alguma coisa no momento? Ajudando?

Izuku passou por ela, tocando seu ombro levemente de onde ainda estava sentada de frente aos computadores.

Talvez não precisasse falar nada.

Talvez só estar ali ajudasse.

— O que pensa sobre Hawks?

—Hawks?

Ela não sabia se tinha o que pensar. Ela não era boa em entender pessoas, esse era o trabalho do Izuku. O fitou enquanto ele tirava o resto do uniforme, a armadura abaixo desaparecendo nas áreas que haviam conseguido implementar os nanobots. Pela forma como ele gemeu levemente teria que melhorar isso. Talvez uma armadura completa, em breve.

Fez um som de dor em solidariedade quando viu a enorme mancha nas costelas dele.

— Alguma coisa quebrada?

O viu cutucar ao redor com o nariz franzido e negar.

— Nope.

—Então. Hawks.

—Hawks.

Parece que Mei teria que pesquisar bastante sobre Hawks. Era algo que ela sabia fazer bem.

— Não vai para casa agora?

Mei deveria. Akira estava em casa.

"—Ele está vivo?

—Não.

—Oh."

— Prometeu que ia olhar o uniforme do garoto da Classe A comigo.

—Oh. Kaminari. Sim. Eu olhei o histórico médico dele e estava pensando-

Os ombros dele relaxaram, falando e falando e falando.

Mei se sentiu relaxar também.

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Denki estava tendo uma manhã calma. Para variar.

Ele esperava que o curso de heróis fosse difícil, mas podia viver sem as emoções dos últimos tempos.

Recostou a cabeça na parede fria e fechou os olhos, se deixando levar pelas vozes ao redor. A sala de espera não estava cheia, a maioria dos alunos havia tido sua chance de provar os uniformes no dia anterior. Iida havia entrada já fazia um bom tempo e só seria chamado quando ele saísse. Talvez tivesse um tempo para um cochilo.

— Eu ainda acho que deveriam cancelar o festival.

— Eles nunca fariam isso. Só iria piorar a situação, adiar quase duas semanas é o máximo que... Kaminari, está tudo bem?

Abriu os olhos e encontrou a expressão preocupada de Sero e Mina. Abriu a boca para falar algo idiota e ignorar a enxaqueca constante, mas não houve tempo.

— Kaminari. Sua vez.

"Salvo."

Ficou levemente preocupado quando viu a expressão de Iida ao sair. Ele parecia traumatizado.

Quando avistou a bancada que lhe apontaram ele conseguiu bem entender. Ela parecia bem intensa. A conhecia do incidente com a prancha logo no primeiro dia de aula.

Olhou a garota, Hatsume, de forma apreciativa, esquecendo a dor de cabeça e colocando um sorriso no rosto.

— Denki Kaminari. Estou em suas mãos.

Ela o olhou por trás das lentes enormes da lupa. Denki se sentiu repentinamente nervoso, o sorriso trêmulo com o olhar intenso.

— Mei, não o assuste.

Virou com o susto e viu o outro garoto.

Denki era o primeiro a admitir que era igualmente oportunista. E os piercings nas orelhas e cabelo amarrado eram algo que caiam bem no outro sujeito. Até mesmo a cicatriz tinha seu charme.

Denki renovou seu sorriso.

— Nas suas também.

O outro garoto piscou aturdido e ouviu uma risada de uma das bancadas. Não se acanhou, erguendo os braços para as medidas. O outro deu um sorriso e pegou a fita métrica enquanto Hatsume espalhava algo na mesa.

Deku. Do incidente da prancha. Que tem uma relação estranha com Bakubro.

Ele lembrava dele de USJ também.

Seu sorriso morreu um pouco com a lembrança, se tornando mais forçado.

— As mesmas medidas, Mei. Mas vamos manter o número maior, ele vai ganhar massa com o tempo...Enxaqueca?

Pausou com isso. Não sabia que era tão notável, mas com a voz perto do seu rosto era difícil segurar.

—Hum.

Deku tirou a fita e o olhou de forma analítica.

— Ainda por culpa de USJ?

Piscou aturdido: — Hum?

—Você usou bastante sua quirk lá.

Denki arregalou os olhos, aceitando a cadeira para sentar e o copo com água, confuso com toda a situação.

—Os alunos do suporte tem acesso a algumas informações pertinentes para fazer o uniforme.

—Oh.

Denki desviou os olhos. Devia ter imaginado isso. Ele não gostava de pensar nisso e muito menos que outras pessoas soubessem. Recovery Girl era uma necessidade, com os check ups regulares.

—Você não-

—Não vamos contar a ninguém, não é da nossa conta.

O outro o assegurou com sinceridade.

Sua quirk era um assunto delicado, desde que surgiu quando nem tinha 4 anos ainda. "Uma quirk poderosa" era o que falaram. E como toda quirk poderosa, o efeito colateral podia ser devastador. Nesse caso, no próprio usuário.

Denki sabia disso. Ela sabia por anos. Uma descarga forte pelo corpo, de forma tão regular. Ele teria sorte se passasse dos 30 anos naquele ritmo. Seus pais não queriam que ele entrasse em U.A por isso, mas era sua escolha. Se seu cérebro ia desligar por culpa da sua quirk, ele pelo menos faria algo de bom com sua vida até lá. Algo de útil com essa quirk antes que ela o matasse.

Os outros efeitos também não era bonitos. Esquecimento, desorientação, dificuldade de se concentrar. Ele gostava de entrar no papel de grande idiota, porque no fundo era no que se encaminhava.

—Kaminari.

Deku tocou seu ombro e ergueu os olhos.

— Vamos mostrar o uniforme. Mei e eu fizemos isso com Recovery Girl, para ajudar o máximo possível.

— Ele é bom com quirks.

Hatsume comentou, ainda com a lupa nos olhos, apontando para um caderno na mesa.

— Ele vai ajudar.

Deku ficou vermelho, mas quando o olhou ele assentiu, coçando o pescoço.

— Tenho que passar as notas com o diretor e seu professor, mas é. U.A vai te ajudar no que for preciso, acho que já sabe disso.

—Eu...não sei o que dizer.

Ele não esperava por isso. Sua vida era uma daquelas coisas que se aceita e pronto. Ele não esperava ter uma alternativa. Talvez até mais tempo...Se podia sonhar.

Agora era só tentar não chorar.

Recebeu um sorriso largo em resposta e não conseguiu não sorrir de volta.

—Antes disso, só quero dizer que você, escolhendo ser um herói, apesar de saber o que isso significa ao longo prazo, você é um sujeito bacana, Kaminari. Vai ser um ótimo herói.

"E aqui se vai minha convicção para não chorar."

—O.obrigado.

Ele ficava feliz de ter feito a escolha certa para sua vida. Não importava o quanto tempo ainda restava, U.A seria um bom lugar.

............................................................

Izuku viu Kaminari sair do galpão, um sorriso no rosto e o peso do mundo nas costas, e não conseguia não pensar sobre como a vida não parecia ser justa.

As pessoas diziam que tudo acontecia por uma razão, mas ele não conseguia imaginar uma razão para uma quirk que destruía sem misericórdia ou chance o seu hospedeiro.

Izuku não conseguia achar razão em muitas coisas. Todo o horror que ele viu nos últimos tempos, toda a morte e o sofrimento e o sentimento de puro abandono, tudo isso retirava sua crença, porque se havia razão para tudo isso, se realmente havia um ser supremo, que realmente tinha poder e ciência de tudo, ele não sabia se gostava dele. Não um que matou Yana, Haru e os outros. Seu pai, machucou sua mãe e seu tio.

Que dava quirks para pessoas cujo o corpo não podia suportá-las.

O fazia pensar no paradoxo de Epicuro.

—Deku, Hatsume. Vão vir? Está no horário de almoço.

Aya havia terminado de arrumar a bancada, o olhando da forma preocupada de sempre.

—Só vou arrumar. Pode ir.

Ela concordou, hesitante.

Sentou na bancada, guardando as ferramentas e anotações devagar. Mei parecia absorvida em algo ainda na própria bancada e sabia que ia ter que arrancá-la de lá antes de Maijima-sensei viesse buscá-los à força.

O som da porta abrindo o fez erguer a cabeça rapidamente, imaginando se seria algum dos alunos retornando com alguma dúvida, mas se deparando com Eraserhead.

Que estava vindo na sua direção.

Rapidamente, como toda pessoa que tem alguma culpa no cartório, ele vasculhou sua mente procurando por qual razão o herói estaria ali.

Ele teria muitas.

A maioria delas envolvia algo ilegal da sua parte.

— E.eraserhead!

— Shinsou me mostrou a réplica.

Tentou não tornar seu alívio óbvio, mas pelo olhar levemente desconfiado do outro falhou.

— Oh! Maijima me disse que havia dado permissão, então espero que esteja tudo bem?

O herói assentiu, cruzando os braços e olhando ao redor com certo interesse.

Ou então ele estava olhando as saídas da sala em um possível ataque.

"Vai saber."

— Eu realmente acho que ele vai se sair bem com isso. Vocês tem um estilo de luta bem parecido. E Hichan...Shinsou ele é bom, Eraserhead. Precisa de confiança, mas ele é rápido em pegar as coisas, eu ando treinando junto com ele fora, porque nossas famílias se conhecem. Não que eu seja um bom instrutor e tudo mais, mas ele perguntou se podia e eu apenas pensei, porque não e...desculpe.

Coçou a cabeça percebendo que estava vomitando palavras muito rápido.

Sua reação com Eraserhead sempre variava, entre nervosismo por ser um fanboy, ou por ser um criminoso.

Eraserhead não parecia incomodado, apenas pensativo. Ele estava o olhando de uma forma que não conseguia entender, vasculhando alguma coisa. Ele nunca entendia bem as reações do herói com ele, na verdade.

Quando havia contado isso a Hichan ele havia rido da sua cara por alguma razão.

No fim o outro deu um suspiro e balançou a cabeça.

— É, é. Ele vai treinar comigo, para aprender a usar a ferramenta.

Izuku se sentia feliz por Hichan, mas admitia que sentia também um pouco de inveja.

— Ele vai precisar de toda ajuda possível antes do festival. Espera, vocês não vão se complicar por isso, certo? Se alguém achar que é injusto.

— Eu sou o sensei deles. Qualquer um que me pedir treino extra vai conseguir. É só requisitar e mostrar que realmente quer alguma coisa, não perco meu tempo com quem não vai se esforçar. Quem não tem potencial.

Fazia sentido, se pensasse bem. Os professores passavam o dia no campus e havia horários vagos entre as aulas.

— Isso é bom.

Comentou suavemente, não sabendo o que dizer mais.

Eraserhead continuava o olhando e o fitou levemente confuso, sem saber o que mais ele queria conversar. Talvez sobre os uniformes dos seus alunos?

— Falei com Maijima, você vai ter um horário extra às 14:00. Shinsou já sabe qual a sala que vamos usar.

— O.o quê?

Piscou aturdido. Eraserhead estava lhe oferecendo-?

"Não pode ser verdade."

— Vou treinar vocês dois para o festival. A não ser que não queira-

— NÃO! Quer dizer, eu quero! Mas eu pensei... não sou da classe de heróis.

— Eu disse alunos. Qualquer aluno. Não se atrase. O festival é daqui três semanas, vão precisar de todo tempo que tiverem.

Assentiu tão rápido que pensou que sua cabeça fosse cair. O herói pausou e viu um quase sorriso no rosto dele, a mão apertando seu ombro antes de virar as costas, o deixando ainda paralisado no lugar.

— E Midoriya? Lembre o que eu disse. Me mostre que tem potencial.

Izuku ficou um tempo ainda parado, olhando para a porta fechada.

Nunca, nem em seus sonhos ele havia imaginado que isso aconteceria.

— Eraserhead vai me treinar.

— Yep.

Mei surgiu do seu lado, quase o matando do coração, mas não ligava.

Porque treinaria com Eraserhead.

— Fico feliz, Zuku! Só espero que ele não perceba dessa vez que seu estilo de luta é bem familiar.

Arregalou os olhos.

— Oh. Merda.

...............................................................................

Kaminari estava encarando Shinsou de novo.

Mina tentou não rir, observando de lado o olhar intenso do seu amigo no colega cadeiras à frente quando deveria estar prestando atenção na aula, desenhando com um afinco e dedicação que não parecia ter para os estudos.

Mas quem seria ela para julgar? Shinsou com certeza tinha ficado fofo com a orelha furada.

— Ashido.

— Hum?

Ele pausou olhando para o desenho.

— Já reparou que Shinsou é bem amigo dos alunos do departamento de suporte?

— Agora que falou...é verdade. O que tem?

— Já olhou para um grupo de pessoas antes e quis ser a segunda mortadela do sanduíche?

Ela deu uma risada nasal sem se conter. Kayama-Sensei olhou para trás e abaixou a cabeça.

— Tipo, é meio injusto.

Kaminari continuou, dando um suspiro. Ela nunca imaginou que seu amigo Casanova seria um de suspiros.

Mas estudando em uma sala com pessoas como Yamomo, Todoroki, Kirishima, Uraraka...Ela conseguia entender o sentimento.

— O significado de tanto faz, sei como se sente.

— Eu diria tanto faz, mas todos é melhor.

— Kaminari!

—Alguma coisa para dividir com a sala, Ashido?

—Não Kayama-sensei. Perdão Kayama-sensei.

..........................................

4 anos e 7 dias atrás

— ...preciso de apoio médico e retirada no ponto de encontro-

Nem sempre fazer a coisa certa faz de alguém uma boa pessoa, porque é impossível que esse bem englobe todos os envolvidos. Melhorar a situação para um grupo quase sempre envolve piorar para outro. Então, você pode ser o herói de uma parte, mas o vilão de outra e como vai ser visto na história vai depender do vencedor.

A comissão era só mais uma prova disso. Uma prova do quanto era perigoso quando um grupo guardava todo o poder nas mãos sem ser questionado. Hisashi se perguntava quantos realmente conseguiam ver o tabuleiro, perceber que heróis, vilões, todos eram apenas peças, sendo jogados por outras pessoas.

Como a comissão criava os seus soldados, mas também o lixo que colocava outros para descartarem depois.

Por ter esse conhecimento, e muito mais do que estava realmente acontecendo na indústria de heróis, Hisashi sabia, desde o começo, que esse seria o destino dele: ser descartado.

Isamu Shimura havia morrido aos dez anos, quando Hisashi Shigakari nasceu. Ele morreu debaixo das cinzas de sua família, junto com seus sonhos e ilusões sobre heróis. Ele morreu quando nenhum herói veio, ninguém o procurou. Ele morreu quando percebeu que enquanto Nana era a heroína de muitos, ela havia se tornado a vilã da sua história.

— ...Não! Não tem como esperar, não tem como...merda!

Hisashi Shigakari morreu junto com Itsume Midoriya, quando ela o olhou nos olhos e não havia nenhum ressentimento por ele, mesmo ela sabendo que ia morrer por culpa dele, que ele havia a levado para sua morte. Quando ela arrancou dele uma promessa, que em ordem de cumprí-la havia criado um tufão que iniciou toda a mudança que estava por vir.

— Dédalo...merda! Hisashi!

Hisashi sentiu o gosto de sangue em sua boca. Segundos atrás ele havia deixado de sentir a pressão para parar o sangramento em seu peito. Foi pouco depois de parar de sentir qualquer coisa da cintura para baixo também.

Uma parte sua tinha curiosidade de olhar e ver o estrago em seu corpo, mas não havia tempo para isso. Não havia tempo para mais nada.

— Eu preciso-

Keigo retirou a atenção do comunicador para seu rosto. Hisashi pausou em uma respiração dolorosa. Era a primeira vez que o via assim, sem a expressão relaxada que tentava manter sempre. Os olhos estavam arregalados e frustrados no rosto pálido demais. Havia sangue e terror e se permitiu sentir luto ao ver aquilo, o rosto do garoto se sobrepondo ao de Izuku.

"Só um garoto."

Um garoto que havia sido manipulado pela comissão desde tão cedo que nem mesmo percebia isso.

—E.Eles cortaram a comunicação.

Hisashi notou o momento da realização no rosto dele. Ninguém iria vir. A comissão não mandaria ninguém para ajudar, porque eles tinham Hisashi onde queriam desde o começo. Desde que o quase-herói havia sido colocado em seu encargo, Hisashi havia desconfiado dos motivos. Ele sabia que a comissão havia o colocado com Keigo por uma razão. E talvez, com o tempo, eles tivessem colocado nas costas do garoto a tarefa de sumir com Hisashi, como o pequeno bom soldado que ele era.

Ele nunca saberia qual teria sido a resposta dele. No fim, Keigo não precisou o trair para causar sua morte.

Para alguém que havia passado bem mais do que a metade da sua vida sendo criado por um vilão, Hisashi nunca perdeu a seu complexo de querer salvar as pessoas. Foi o que o colocou nessa bagunça em primeiro lugar. Primeiro Itsume, depois os filhos dela e o que seguiu foi ladeira abaixo.

Izuku tinha que ter herdado justo isso dele.

Hisashi tinha que dar crédito a eles, foi um bom jogo, e havia perdido por não olhar o tabuleiro de cima. Agora ele morreria ali, em um país estrangeiro, longe de todo mundo que amava e traumatizando um garoto no processo.

— Eu vou-

— K-keigo.

O nome fez o outro pausar. Apertou a mão em seu peito e ele se calou. Uma parte sua, uma parte que ainda considerava boa, se sentiu mal pelo o que faria ali. Ainda assim ele o puxou para perto, com a voz entrecortada e urgente. O corpo de Keigo tencionou no abraço, a asa não danificada flutuando em agitação, enquanto lhe falava tudo.

Em outro universo, Keigo Takami teria uma conversa similar, muitos anos adiante. Uma conversa que destruiria sua visão sobre os heróis, que cumpriria sua sina, algo a que foi destinado desde o começo, afinal, era destino do Ícaro cair enquanto tentava fugir da sua prisão.

Nesse universo, ele conheceu Hisashi Midoriya. Ele viu o lado podre da indústria, as mãos sujas de sangue, o mesmo que escorria entre suas mãos enquanto via Hisashi morrer.

Nesse universo, ele caiu antes mesmo de tentar alcançar o sol.

Hisashi pausou a voz em seu ouvido e o sentiu prender a respiração, seu coração acelerado, uma mão suja de sangue segurando a nuca dele no lugar ao terminar tudo.

— Entende?

Keigo assentiu devagar, os olhos arregalados e sem foco. Em choque.

— K.keigo. Olhe para mim.

Hisashi havia o quebrado. Ele sabia desde o começo o quanto a convicção dele era frágil.

"Por que quer ser um herói?"

"É tudo o que sei fazer."

—Você tem que queimar o corpo.

— O quê?

— Meu corpo.

Hisashi engoliu sangue e tentou focar, se manter consciente.

— Queime meu corpo.

Ele conhecia Sensei, ele sabia que ele estaria olhando e não ia arriscar uma chance de Ujiko o usar em um de seus experimentos para depois o colocar contra seu filho ou Inko. Em todos esses anos ele esperou que Sensei iria chegar até ele antes da comissão, mas por alguma razão ele não havia tomado nenhum passo, mesmo não tendo dúvidas que ele sabia onde Hisashi estava.

"Seria engraçado, como o grande vilão me deixou viver para os heróis me matarem."

—Procure Akira. Hatsume. Não deixem a comissão chegar em Izuku. Proteja Izuku. Dele também. Akira vai explicar.

Eles haviam descartado Hisashi do jogo, mas ele deixaria seu próprio tabuleiro armado.

—Prometa.

Apertou a mão do garoto e ele assentiu rapidamente.

Hisashi relaxou e liberou uma mão, tirando as fotos dos bolsos de forma desajeitada. Ele queria olhar para eles uma última vez pelo menos. Sua respiração acelerou, sua visão escureceu na periferia.

Sentiu a mão do outro na sua, o ajudando, trazendo as imagens para mais perto. Estava escuro demais para ver com clareza, mas ele conseguia completar a imagem em sua mente, depois de anos olhando para eles. Hisashi, Inko e Takashi, os dois ainda tão jovens e ingênuos. Izuku e Inko. Izuku caminhando pela primeira vez, Izuku sorrindo, Izuku abraçando com a mãe. Izuku.

Hisashi sorriu. Apenas mais uma coisa.

—Keigo-

Subiu os olhos das mãos trêmulas nas suas e olhou para o outro nos olhos, a expressão já distante.

—Voe.

Quando a ajuda chegou, convenientemente horas depois do chamado de socorro, seu corpo havia sido queimado até as cinzas, como única testemunha um adolescente, de pé ao lado das chamas, apertando nas mãos fotografias ensanguentadas.

Hisashi Midoriya morreu em um país estrangeiro, depois de uma explosão durante uma missão, que nunca ninguém havia conseguido explicar direito como havia acontecido, mas quem conhecia sua história com a comissão sabia que havia sido intencional e armado.

Hisashi Midoriya, dependendo de para quem se perguntasse, era perigoso demais para se manter vivo. Em essência, um vilão que ameaçava com seu conhecimento a fundação dos heróis.

Hisashi Midoriya foi um herói em sua própria história.

..........................................................

"Keigo, voe."


Notas finais

Eu machuquei muitas pessoas nesse capítulo. E como tudo na vida que está ruim, calma que pode piorar.

No próximo capítulo teremos drama e passagem de tempo para o começo do festival, mas antes disso muito vai acontecer. Segurem seus cintos.

Minha defesa do mestrado é dia 12 de fevereiro, então se liguem nessa data que até lá estarei inútil. E depois tenho que arranjar emprego e um novo lugar para morar, então espero que no final de fevereiro teremos o novo capítulo. A boa notícia é que depois disso os capítulos retornarão suas atualizações iniciais, ou seja, a cada 15 dias.

Dezembro e Janeiro para mim foram uma montanha-russa, mas espero que agora as coisas fiquem melhor.

Arte do capítulo: Crazy Clara

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