N/A: No último capítulo, Eleanor e Eliott partiram rumo ao castelo de Azelaer. Nesse capítulo será a primeira vez que Gisele e Eleanor vão se ver e se conhecer.
¹: Lombardia é um reino que fica em Montesarchio (ao lado de Belverdere).
²: Dulcinéia seria o que hoje chamamos de "amada".
³: Dissimular o desatino seria fingir que o assunto não é com a pessoa, "fingir demência".
⁴: Esculhambar o varão seria o famoso "rompompom".
E agora criei um capítulo APENAS para as informações dos reinos e o mapa (no momento o mapa não tá pronto mas quando estiver vou colocar lá também), se quiser saber mais informações sobre Belverdere só ir conferir esse capítulo!
É só isso, espero que gostem do novo capítulo. 💙
《Gisele Crowther》
Falar com meu pai sobre o ocorrido com Hector não mudou nada, nem com Alisander me ajudando para reverter a situação. Ele apenas deu de ombros e falou que eu estava inventando história.
Tentei não me abalar mais com aquilo, a tamanha injustiça e a falta de compreensão de meu pai. Mamãe então, nem se fala, ela ficou triste com minha ação naquele dia, chegando a me evitar nos primeiros momentos até ceder e conversar comigo onde contei o que realmente havia acontecido e ela pareceu acreditar e ficar do meu lado. Tentou até conversar com papai, mas foi em vão. "Entendo você, Gisele."
E para minha surpresa, ela contou algo sobre seu passado, na qual nunca tocava no assunto.
- Quando eu era mais jovem, estava prestes a me casar com um homem que eu não queria, lá em Lombardia¹. Eu então matei ele... - Falou em um tom mais baixo para que os guardas não escutassem - Em seguida, fugi para Azelaer e me casei com seu pai, mentindo que era a "prometida de Lombardia". Ele só descobriu quase dois anos após nosso casamento... Eu ignorei normas e casei com um homem que já havia uma noiva arranjada, essa era minha irmã mais velha, Amélia.
- Você matou um homem? - Falei, ainda sem acreditar. Jamais havia passado na minha cabeça que minha mãe havia matado alguém.
- Esqueça, Gisele. - Bebericou um pouco mais de seu chá - Não ouse tocar nesse assunto novamente.
- Mas mãe...
- Não, minha filha. Vá arranjar o que fazer. Alisander já foi? - Assenti com a cabeça e saí do cômodo indo em direção a meu quarto.
Atravessei o longo corredor cheio de janelas e quadros, desci as escadas e fui até meu quarto que ficava no segundo andar. Entrei porta adentro e havia uma garota parada de frente para a janela, observando-a.
- Dulcinéia²? - Indaguei, parada na entrada do quarto com a mão na maçaneta. Ela não respondeu. - Não venha dissimular o desatino³!
- Tragam uma taça de vinho pra essa princesa! - A garota virou-se, revelando ser Braeden, minha melhor amiga - Estou de volta, finalmente! - Reverenciou.
- Braeden! - Corri e abracei-a, feliz em revê-la - Como estava a viagem?
- Por que Onier é tão longe? - Suspirou, sentando na poltrona - Estou exausta, mas diga-me, o que aconteceu na minha ausência?
Braeden é filha do melhor amigo do meu pai, o duque Gregório de Osbourne, ela tem traços exóticos, uma beleza deslumbrante, seus cabelos longos vão até à cintura, em um tom castanho claro, olhos verdes e sempre com a postura mais impecável possível. Usava vestidos em tons de amarelo e adorava tiaras com flores. Seu coração acelerava sempre ao encontrar-se com o filho do duque de Henderson, o Edwin, que é um ano mais velho.
- Muita coisa aconteceu, Braeden - Juntei-me a ela, sentando na poltrona ao lado - Foi uma semana tão intensa. No dia do baile, Hector tentou beijar-me, e eu... dei um tapa em seu rosto. Meu pai ficou de queixo caído e mal falava comigo, ele nem sequer me ouviu. O rei Hector saiu ileso de toda situação. Chorei a noite inteira, sozinha. - Na semana das comemorações do aniversário do meu pai, Braeden e sua família estavam em Onier para tratar de assuntos da corte.
- Minha nossa... Que horror... - Arregalou os olhos ao saber - Você deveria ter esculhambado o varão⁴! Que homem nojento! Não descarte essa ideia da próxima vez.
- Não é assim que funciona... Qualquer coisa que eu fizesse contra ele poderia trazer más consequências. - Respondi com desânimo - Senti sua falta.
- Eu também! Mas estou aqui e agora seremos mais inseparáveis! É tão bom estar de volta! - Braeden levantou-se e saiu do quarto, fazendo sinal para segui-la.
Não sei onde estávamos indo, descemos novamente as escadas e saímos do castelo pela grande porta de madeira dos fundos.
Saímos pela porta e nos vemos no jardim do castelo, o dia estava ensolarado e agradável. Algumas criadas andavam pelos caminhos do jardim segurando cestos com flores e verduras, alguns jardineiros trabalhando na poda das árvores e criando belas esculturas nos arbustos. Eles olhavam em nossa direção e reverenciavam na nossa passagem. Caminhamos até o grande labirinto que ficava no fundo do jardim.
- Lembra de quando brincávamos aqui? - A garota deu alguns pulinhos - Sinto falta de ser criança...
- Lembra de quando meu pai trouxe um lindo javali morto? - Falei, recordando-me daquele dia cinza e frio, quando ele voltou da caça.
- E nós choramos muito? Parece que foi ontem - Concordou Braeden - Fizemos até funeral pro pobre bicho...
- Nenhum dia será igual aquele verão quando eu, você, Bartolomeu e a Sophie achamos que o Edwin havia sido pego por um Bessa. Até ele voltar da floresta, foi desesperador. - Rimos - Hoje isso soa tão ridículo, mas éramos crianças...
Fomos interrompidas por Sophie que surgiu repentinamente ali.
- Vossa alteza, Braeden... - Reverenciou e lançou um olhar feio para minha amiga. As duas não trocam mais nenhuma palavra desde a briga entre famílias. - Estão chamando você no salão de baile, parece urgente.
- Obrigada, Sophie. Volto em seguida.
Fiz o caminho de volta para dentro do castelo, indo em direção ao grande salão de baile. Na longa mesa de madeira que estava no meio do cômodo, meu pai ocupava uma cadeira da ponta, virado de frente para a porta. Ao lado, na direita, uma garota de cabelos castanhos, olhos escuros e grossas sobrancelhas estava sentada. Vestes roxas, levemente sujas de terra e uma bolsa de retalhos caindo aos pedaços. Plebeia com certeza.
Ali ainda, parado num canto perto da janela, havia um garoto que parecia ser um plebeu também. Olhos azuis e cabelos bagunçados, suas vestimentas não eram das melhores, mas seu rosto compensava. Muito bonito, por sinal.
- Que bom, estão as duas aqui! - Papai sorriu e fez sinal para que eu tomasse meu lugar - Gisele, essa é Eleanor. Eleanor essa é...
- Princesa Gisele! Vossa alteza, prazer em conhece-la. - Reverenciou a garota.
- Eleanor e seu amigo Eliott, vieram do vilarejo para conhecer um pouco mais dos aposentos do castelo. - O garoto sorriu e reverenciou - Gisele, o que eu vou contar pode ser um pouco chocante para você, mas Eleanor é sua irmã. - Meu pai fez uma pausa, tempo suficiente para eu reagir à notícia - Na verdade, ela é minha filha, mas a mãe é outra.
Eu senti um aperto no peito, me vi ameaçada. Cerrei os punhos e percebi meu rosto ficar vermelho. Eu estava zangada, um turbilhão de coisas passaram pela minha cabeça.
- A história é longa, nosso pai é o mesmo, apenas a mãe é diferente. - Eleanor sorriu, parecendo gentil. Eu não retribuo gentileza.
- Não, não, não... Deve existir algum engano, eu sou filha única. Você não é minha irmã. Nunca vai ser. É só uma dissimulada analfabeta que de repente surgiu nas nossas vidas para se aproveitar da bondade de meu pai. - Alterei meu tom de voz, falando mais alto do que costumo - Quem é sua mãe? Alguém da nobreza? Aposto que não, alguém como você não tem lugar aqui. Só para servir os mais ricos. - A garota olhou-me com ódio.
- Minha mãe é sim uma plebeia, mulher batalhadora, me criou sozinha sem pai nenhum para ajudar. - Retrucou no mesmo tom - Eu sabia que seria uma péssima ideia vir aqui. Mas querendo você ou não, o rei Demétrio é meu pai também.
- Chega! - Papai bateu na mesa, chamando atenção - Eu conheço a mãe de Eleanor desde criança, sempre fomos muito amigos, mas quando me casei com sua mãe, Teodora já estava grávida e nunca mais nos vimos novamente. Você só nasceu quase dois anos depois que Eleanor havia nascido. Ela não nasceu no castelo, mas tem metade sangue real e é muito bem-vinda aqui. Sua meia-irmã poderá morar e usufruir de tudo de melhor que temos a oferecer! Mais respeito de sua parte, Gisele.
- Bastarda! Ela é uma bastarda! - Gritei para que todos pudessem ouvir - Pessoas como você não tem direito a nada, nem herança. Pode usufruir o quanto quiser do castelo, filhinha bastarda. Porque quando eu for coroada rainha dessa ninharia de reino, você será banida daqui. Não quero que um bastardo ocupe um lugar na nobreza.
- Parece então que vossa alteza terá que conviver com uma bastarda. - Respondeu, com voz firme - Obrigada, vossa majestade, mas acho que irei me retirar. Não sou bem-vinda aqui.
A bastarda e o amigo sairam do salão e papai foi atrás. Revirei os olhos e os segui, gritei no meio do corredor:
- Já vai tarde, Eleanor! Volta pro esgoto, rata bastarda!
- Deu, Gisele! Depois eu converso com você. - Meu pai deu as costas, indo atrás da nova filha.
{...}
Eu havia voltado pro jardim, onde Braeden e Edwin estavam conversando.
- Filha bastarda? Conta o que aconteceu! - Edwin perguntou.
- Por Deus! As fofocas voam nesse castelo! - Indaguei - Meu pai descobriu que tem uma filha fora do casamento...
Contei tudo aos dois, não deixando passar nenhum detalhe, expressei o quanto fiquei e ainda estava com raiva.
- Se meu pai pensa que vou ceder e acolher a bastarda, ele está bem enganado... - Franzi a testa - Eu vou fazer da vida dela um inferno.
Ai, ai, ai, o que acharam do capítulo? Gisele com os nervos a flor da pele, sentindo-se ameaçada e a tendência é piorar...
Espero que tenham gostado do capítulo 💙👑 e não esqueçam de votar💛
P.s. já ia esquecendo do capítulo especial que postei também sobre os reinos. Nele tem mais informações e logo o mapa vai estar lá. A qualidade não está das melhores mas dá pra entender💕