Loki - A Profecia Do Infinito

By adri_bertolin

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Uma das poucas boas ações, sem segundas intenções, de Loki, o deus das travessuras, o levou direto ao maior t... More

Olá, senhor Loki...
Você está horrível
Humanos são tão tolos
Você não recebe ordens de ninguém
Você não tem ideia de como ela é preciosa
Essa parte de mim tem muitos nomes
Boom diia
Você confia em mim?
Ela é incrível
Ela parece quebrada
Eu era muito bobo e inocente
Eternidade vai nos destruir
A humana do Loki
Mas é claro, princesa!
O que sabemos sobre ela afinal?
Que a caça ao tesouro comece.
Vocês demoraram muito para vir me buscar
Você está além das barreiras que impomos
Asgard está sempre nos surpreendendo
O nome dele... és Loki.
Quem é Lin?
Amanhã será um longo dia.
Ninguém aqui está fugindo.
Vai se foder...
Nemesis
Multiverso
Behkimo...?
Talvez você entenda um dia
Eu sou inevitável
Você não está mais sozinha
Parte da jornada é o fim...
Você deu um susto bem grande em todos nós.
Cena extra 1
Cena extra 2
Opa opa

Nós tínhamos um acordo

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By adri_bertolin

Lin estava em seu quarto sozinha e em silencio por horas demais para ser saudável, Pepper temia que ela estivesse se machucando como fazia nas vezes que se sentia tão insuportavelmente suja que nem mesmo novos machucados que não se regeneravam tão facilmente a faziam querer parar de se limpar. Não que ela fosse exposta ao contato com humanos nos últimos dias, mas o susto que levou na ocasião em que deixou ela sozinha e a encontrou rodeada de sangue não permitia que se esquecesse ou que não se preocupasse. Era por isso que se encontrava na porta do quarto em um dilema sobre se deveria bater ou não. Sexta-Feira já havia assegurado de que estava tudo bem, porém a inteligência artificial poderia mentir se esse fosse o comando dado por sua atual mentora. 

Em suas mãos estava uma bandeja com bolinhos, biscoitos, torradas e suco, não se acostumaria nunca com a ideia de que era natural para a mais nova ficar dias sem se alimentar e a prova disso é que não hesitou em nenhum momento antes de preparar um café da manhã para ela.

- Sabe... - A voz vinda de dentro e de muito perto da porta a fez parar no meio do gesto de nervosismo que era estar andando de um lado para o outro. - Eu estou ouvindo os seus passos desde que você chegou. - Lin girou a maçaneta e abriu uma pequena passagem. - Não tranquei a porta, pode entrar quando quiser.

O pouco de seu rosto marcado, que era visível de onde estava, mostrou um sorriso cansado, forçado e melancólico. As olheiras dela estavam mais profundas do que nunca e ela constantemente mostrava estar com dor, mas seu corpo estranhamente parecia estar no auge de soberania e Pepper também se questionava o porquê desta mudança tão brusca estar acontecendo.

Linna se afastou de vagar, desajeitada e com uma tremedeira involuntária que não conseguia controlar. Ela deu espaço para que a outra entrasse sem problemas e se sentou no tapete em um canto distante, estava desenhando antes do barulho de fora tê-la desconcentrado. A Senhora Stark pousou a bandeja com a comida no chão perto dela e se manteve abaixada, curiosa sobre as belas imagens que se dispunham nos papeis espalhados e logo notou que a precisão dos detalhes e traços era muito mais significativa que no normal, eram lembranças.

- Você já esteve nesses lugares? - Ela perguntou com cuidado e carinho, vendo que a garota interrompeu o que havia voltado a desenvolver apenas para olha-la e responde-la.

- Sim, não. Não estive lá pessoalmente, nem nunca vou estar, mas o Loki costumava levar a minha consciência até lá para me distrair. Era divertido. - Um sorrisinho nostálgico apareceu em seu rosto.

- Loki realmente lhe ajudou muito, não foi? - Apesar de desgostar e de certa forma guardar muito rancor em relação ao deus, não podia deixar de admitir que ele foi a única pessoa que esteve presente para ela durante a maior parte de sua vida.

- Oh, sim. Ele foi muito especial para mim, fez com que eu mantivesse uma sanidade que já deveria ter perdido a muito tempo. - Ela deu uma risadinha, era um dos momentos em que lembrava uma criança, e deixou de lado o papel que usava. - Esta é Asgard. - Indicou as ilustrações e se aproximou da mais velha, pegando um dos bolinhos que estavam a sua disposição. - Talvez não a verdadeira Asgard, já que tudo o que eu vi foi através dos olhos do Loki, mas era bem real, fazia com que eu sentisse que eu teria um lar quando tudo acabasse.

Pepper sentiu seu coração se apertar, cada parte de si indicava que havia algo a mais nas palavras da mais nova e que havia um motivo muito maior para o deus tê-la mostrado algo tão íntimo, assim como a ausência de uma raiva ou a presença de um grande conformismo a instigavam a não deixar que o assunto morresse tão rápido agora que tinha a oportunidade de saber um pouco mais sobre ela.

- Era algo frequente para você, ser levada para essa visão de Asgard? - Cada um dos desenhos continha grande dedicação em sua composição, justamente porque se tratavam de momentos muito importantes para ela.

- Não, normalmente ele só me mostrava algum lugar incrível quando eu precisava esquecer de onde realmente estava. - Lin apareceu achar graça quando lhe mostrou as cicatrizes em seus pulsos, não se travam de cortes ou marcas de correntes como a de seu pescoço, alguém havia mordido sua pele e a arrancado no processo. Um ferimento que deveria tê-la matado. - Houve um dia que eu surtei um pouco a mais que o normal, acreditei que Loki era apenas mais uma ilusão minha e que nunca havia sido real. Passei a crer que a única coisa que me mantinha viva não existia e então não quis mais existir também. Eu levei meu corpo a um estado de quase morte e quando Loki sentiu e veio me ver já era quase tarde demais. - Ela riu. - Ele ficou furioso comigo, usou muito de seu poder para me tocar, para que eu conseguisse senti-lo pela primeira vez e então levou a minha consciência para Asgard. Foi lá que passei a aceitar outra vez que não estava sozinha, ele me treinou e me ensinou muitas coisas naquele período, mas não conseguiria me manter por muito tempo então eventualmente eu tive que voltar, apenas para descobrir que não iria morrer e que meus carcereiros haviam me salvado. Nunca me esqueci daqueles dias, foram realmente marcantes para mim.

Havia algo nos deuses que Pepper definitivamente não conseguia entender. Não fazia parte de sua natureza enxergar o universo da forma com que eles faziam e mesmo que já tivesse passado por muita coisa, visto o inimaginável e enfrentado pessoas poderosas em momentos extremos, jamais conseguiria entender a naturalidade com que a mulher, que estava aprendendo a tratar como filha, e estas divindades tratavam situações assim. Por mais que não gostasse de reconhecer Lin foi criada por uma lenda, todas as suas referências de certo e errado vêm dela. 

Nunca agiria como uma humana normal pelo simples fato de que é diferente de qualquer outro ser de sua espécie e é exatamente isso que faz dela alguém tão encantadora, instigante e atraentemente interessante. Ela não problematiza o próprio passado, está sempre progredindo e melhorando, cada coisa nova em sua vida é um aprendizado a mais e uma forma de continuar seguindo em frente, mas também é perceptível que, apesar de tudo, seu lado humano ainda se manifesta e a Stark sofre internamente com tudo de ruim que já lhe fizeram ou que ainda fazem.

- Queria poder dizer que você está bem agora, mesmo depois de tudo... - Lin enchia um copo com suco de morango quase que mecanicamente, era como se ela só estivesse comendo ou aceitando o que a outra havia trazido porque era isso que esperavam que ela fizesse. Sua mão tremia e o liquido era derramado por conta disso, mas não é possível afirmar que ela era consciente do que estava acontecendo ao seu redor. - Porém Loki é alguém importante demais para você, não vai conseguir me fazer pensar por nenhum momento que você está bem, mesmo que tente.

- Nós tínhamos um acordo. - Ela começou hesitante, se encolhendo brevemente e trazendo para perto o suco que conseguiu colocar no copo. - Deveríamos lutar um contra o outro quando perdêssemos o valor, até a morte. - Lin desviou o olhar, parecia constrangida e abalada. - Mas isso não aconteceu, ele me deixou para trás e me deu a oportunidade de viver uma vida melhor. Vocês que não entendem podem dizer o que quiserem, porém se continuo aqui é porque ele realmente gosta de mim de alguma forma. - Uma risada fraca soou de seus lábios e lágrimas vieram aos seus olhos. - Aquele idiota pensa que vocês podem me dar algo realmente bom, eu deveria soca-lo por causa disso.

- Tenho certeza de que posso ajudar você a mudar de ideia, já conversamos sobre isso, você realmente pode conseguir se adaptar e aprender a ser feliz por aqui. - Pepper lhe dirigiu um olhar verdadeiramente acolhedor e carinhoso, isso por algum motivo prendeu a atenção da mais nova e trouxe certo rubor as bochechas dela.

Haviam momentos como aquele em que a Stark dava uma abertura para que a mais velha realmente tentasse ajuda-la, em que abria os braços e permitia que ela a envolvesse em todo os sentimentos bons que estava disposta a oferecer. A ruiva interpretava aquilo como um bom sinal, afinal se há uma percepção de que o auxílio é necessário e se há uma permissão para se intrometer pode-se seguir um primeiro passo em direção a melhora.

- Você é uma boa pessoa, Pepper. - Lin a apertou com mais força no abraço, mas não o suficiente para machuca-la. - Se um dia eu perder o controle me prometa que vai ficar bem longe, com a Morgan, não importa o que aconteça.

- Eu prometo. - Não era um problema para si dar a certeza de que não iria se machucar ou deixar que sua menininha se machucasse caso um ataque de fúria ou uma crise acontecesse, isso afinal poderia até tranquiliza-la, sempre existe um receio de se machucar alguém importante quando não há mais controle sobre o próprio corpo.

Porém o que Pepper não viu foi que no rosto da mais nova se moldou uma expressão doentia, que beirava a insanidade. Ninguém além de Gato, que se mantinha deitado preguiçosamente na cama, era testemunha da bizarrice de suas feições e de suas verdadeiras intenções. Tudo estava se encaminhando perfeitamente bem.

(...)

Pip, o guardião da joia do Espaço, estava jogado em um beco escuro entre as inúmeras construções daquele planeta cujo o nome não lembrava. Ele estava muito bêbado e provavelmente um tanto drogado, mas se sentia satisfeito mesmo que já não conseguisse andar de volta até sua aeronave. Sua noite havia sido realmente boa, havia aproveitado cada segundo possível e gastado até o ultimo resquício de suas economias, ele merecia um pouco de diversão, precisava se esquecer de seus fardos por pelo menos algumas horas.

Seus amigos estavam em guerra uns contra os outros, tudo por conta das malditas pedras que confiaram a eles proteger. Todos os dias ele tinha a impressão de que estava fazendo coisas que normalmente não faria ou que falava coisas que definitivamente não diria. Ele admitia que demorou para perceber, mas sabia que a relíquia que antes se orgulhava tanto em possuir estava agora arruinando sua vida e a daqueles que guardavam suas semelhantes. Em todas as vezes que tentou alerta-los, eles não lhe deram ouvidos e este era um dos motivos de querer mandar cada um deles se foderem, mas enquanto não fazia isso, se limitaria a rir da própria desgraça. 

Já fazia um tempo que se conformou que agora era apenas um troll, o fato de ter ressuscitado muitíssimo mais forte que antes ajudou, é claro, mas ainda assim considerava uma fria ironia do destino que, dentre todos os seres poderosos que possuíam as pedras, apenas ele notou o que elas estavam fazendo.

O álcool o ajudava a pensar coerentemente, seus pensamentos se tornavam muito menos confusos do que quando estava sóbrio, porém apesar disso eles ainda eram muito instáveis e não muito inteligentes. Precisava urgentemente encontrar uma forma de contornar isso e desenvolver algum plano para se livrar completamente da influência da joia, afinal de nada adiantava estar pensando por si próprio se em um momento tentava criar uma estratégia e em outro pensava sobre o quão legal seria mijar em uma planta ou sobre o quão triste era ninguém ter se lembrado do seu aniversário.

Claramente não estava em seus melhores dias, havia passado o dia de seu nascimento bebendo com estranhos e se divertindo com prostitutas, mas agora, ao fim da noite ali, estava ele, completamente sozinho, se segurando para não vomitar mais uma vez na poça de substancias não identificadas em que se encontrava sentado. Ninguém que não houvesse pagado se preocupou em dar-lhe uns simples "parabéns".

No meio de suas divagações e tentativas frustradas de pensar em algo produtivo ele se deu conta de que já estava muito tarde e que talvez não fosse uma boa ideia continuar onde se encontrava considerando que não notaria se qualquer indivíduo estivesse se aproximando dele, o que quando relacionado a Pip não se trataria de alguém com boas intenções.

Ele de fato não conseguia ficar de pé no momento, muito menos andar, mas isso não era um problema para si desde o instante que conseguiu a razão de seus mais novos problemas. Já havia se acostumado a usar a joia de tal forma que não precisava nem toca-la com a mão para usufruir de seu poder, bastou apenas que fechasse os olhos e aproveitasse a costumeira sensação de formigamento para logo em seguida se ver em um lugar diferente depois de abri-los. Estava no mais próximo de uma casa que possuía, sua aeronave.

Demorou um pouco para que seus sentidos voltassem completamente, ou quase completamente já que seu corpo estava um tanto alterado. Pip se apoiou na primeira coisa que conseguiu segurar e levou a outra mão para a própria barriga sendo tomado por um repentino mal-estar, seria um verdadeiro incomodo se precisasse limpar o próprio vomito quando acordasse mais tarde, portanto, ele ficou parado na mesma posição por alguns minutos, apenas a desfazendo quando sentiu alguma certeza de que não colocaria o que restou em seu estômago para fora. Seu ouvido zumbia e sua cabeça latejava, sabia que deveria tomar um remédio ou algo do tipo, mesmo que não se lembrasse de onde havia colocado qualquer uma destas coisas. Com um profundo suspiro ele endireitou a postura da melhor forma que conseguiu e quase caiu para trás quando olhou adiante e encontrou uma figura masculina parada tão próxima de si.

O desespero apareceu rapidamente, ele não tinha a menor condição de lutar agora, mas mesmo assim tentou encontrar qualquer coisa que o ajudasse a se manter vivo e falhou. Não havia qualquer arma consigo ou em algum lugar que conseguisse alcançar, assim como seu cérebro não estava funcionando rápido o bastante para processar a situação e encontrar uma saída. Então o estranho estendeu a mão em sua direção e estalou os dedos, luzes se acenderam e em uma mesa improvisada foi possível ver um lindo bolo decorado. Um bolo decorado...

Seus batimentos cardíacos aceleraram ainda mais, se é que isso era possível, sua postura defensiva foi desfeita e por alguns segundos ele se esqueceu de como se respirava. Alguém se lembrou de seu aniversário e por isso uma risada amarga saiu por seus lábios, ele não deveria ficar tão feliz por algo tão bobo. Seus olhos se voltaram para a figura masculina que o aguardava não tão longe de onde estava, sua visão estava turva, mal conseguia enxergar quais eram os seus traços e mesmo assim não reprimiu um sorriso bêbado para o estranho. Questões como quem era aquela pessoa ou como foi que conseguiu entrar em sua nave nem passavam por sua mente.

Em passos cambaleantes, Pip se aproximou do amigo que agora foi promovido para o posto de seu favorito por ter sido o único que se prestou a mostrar que se lembrava, mas quando chegou perto o bastante para conseguir vê-lo melhor estranhou a vestimenta asgardiana, os chifres retorcidos e a expressão amigável. Com certeza não fazia a menor ideia de quem aquela pessoa era e se sentiu a pior pessoa do mundo por ter se esquecido disso, afinal com certeza eles eram no mínimo próximos para que ele se desse ao trabalho de estar aqui agora. Maldito álcool.

- Feliz aniversário! - O estranho saudou com sua voz rouca e melodiosa. Tinha quase certeza que já a ouviu em alguém lugar.

- O-obrigado. - Respondeu incerto, sua mente trabalhava incessantemente em tentar se lembrar quem era ele.

Seus ombros foram envolvidos por um dos braços dele, uma clara tentativa de tentar aproxima-lo da comida que trouxera sem que houvesse o perigo de cair com a cara no chão. Com animação não disfarçada o estranho o levou para perto do bolo e começou a recitar a canção festiva de Laxidazia. Pip se amaldiçoou por sentir lágrimas vindo em seus olhos, fazia muito tempo que não ouvia a música ou qualquer coisa boa relacionada a seu antigo lar. Ele não entendia e de certa forma nem queria entender porque aquele anjo estava ali lhe fazendo companhia, estava se sentindo tão bem, desejava que essa sensação não passasse nunca.

A primeira fatia de bolo foi engolida com bastante dificuldade e apreensão, seu estômago não estava exatamente receptivo para esse tipo de coisa, porém o seu amigo não lhe julgou em nenhum momento e o acompanhou em seu ritmo. Não faria a desfeita de demonstrar o quão desagradável estava sendo comer aquilo, embora o gosto de cada pequeno pedaço que colocava em sua boca o levasse ao paraíso, ainda havia todo o desconforto que as diversões de sua noite trouxeram como consequência.

Ele tentava ser agradável com o desconhecido e iniciou um discurso bêbado sobre qualquer coisa que não se lembrava mais apenas para não o deixar entediado com seu comportamento levemente alterado. Tudo o que o outro falava lhe parecia tão interessante que seria capaz de ficar a eternidade conversando com ele, isso se não desmaiasse de exaustão nas próximas horas.

- Tem sido horrível! - Ele comentou em uma das vezes que tentou manter uma conversa coerente. - Ela costuma entrar nos meus pensamentos e mudar as minhas escolhas! - houve um soluço constrangedor. - Se eu pudesse, me livraria dessa merda de joia do infinito!

- Sabe, eu estou aqui. Não me importaria em carregar esse fardo por você. - Ele lhe dirigiu um sorriso reconfortante e acolhedor.

Aquelas palavras se repetiram em sua cabeça por todas as horas ou minutos que se passaram. Sem dúvidas seria um grande alivio poder passar a responsabilidade de proteger a pedra para outra pessoa, mas isto também significava que seu amigo seria duramente atormentado pela desgraça que o objeto trás. Teria que pensar muito sobre isso antes que ele fosse embora, o que não era uma tarefa fácil já que tudo parecia confuso demais para si.

Passaram o tempo jogando conversa fora, arriscando beber um pouco mais e relaxaram fumando alguma erva local. Tudo parecia perfeitamente bem, nunca antes ele se sentiu tão acolhido por alguma pessoa, principalmente depois que reconheceu sua natureza troll. Em nenhum momento Pip se arriscou perguntar ao seu amigo qual era o nome dele, sentia vergonha demais por ter esquecido algo tão importante para expor esse seu erro.

Quando a noite já estava em seu fim e os sois já nasciam no horizonte foi que ele se deu conta de que logo ficaria outra vez sozinho e estaria vulnerável a loucura que sua responsabilidade lhe trazia. O homem que lhe agraciou com sua companhia estava prestes a partir e, pela primeira vez em anos, ele se sentiu completamente aterrorizado com a ideia de manter a joia sobre sua guarda, era completamente consciente que mais cedo ou mais tarde derramaria sangue aliado pela sua ganancia tão desproporcionalmente aumentada, ou acabaria morto por um daqueles que já chamou de amigo. Ainda existem muitas coisas que ele deseja fazer antes de partir por algum desastre prematuro.

- Espere! - ouviu sua voz sonolenta dizer antes que o companheiro de capa saísse de sua aeronave. - Você disse que carregaria o meu fardo por mim... - os olhos verdes lhe encaram e ele não conseguiu identificar nada além de curiosidade neles. - Era verdade?

- Sim. - A voz bonita respondeu depois de pensar um pouco.

- Então faça isso.

Pip entregou a joia que tão fielmente guardava consigo nas mãos do estranho e sentiu quase que instantaneamente um alivio gigante tomar o seu corpo. Ele sorriu de verdade, da forma menos alterada que conseguiu e deitou fechando os olhos. Pela primeira vez em anos conseguiu ter muitas horas boas de sono, sem pesadelos ou interrupções, apenas a paz tranquila que seu colchão duro lhe proporcionava. 

Quando acordasse, seus pensamentos estariam livres de qualquer influência e poderia finalmente fazer algo por si mesmo, os dias de manipulação haviam acabado e talvez depois que isso acontecesse e aproveitasse os primeiros segundos de liberdade perceberia que cometeu o erro de entregar uma das armas mais poderosas do universo nas mãos do deus da trapaça, a mesma pessoa que iniciou a discórdia entre os membros da Guarda do Infinito.

(...)

Titã jamais seria um lugar que traria boas recordações ao Doutor Estranho, suas memórias naquele local ainda o perturbam, mas por mais desagradável que fosse ali estava o mago caminhando pelos destroços da antiga civilização do satélite natural de Saturno em busca do homem que precisa enfrentar: Drax, o destruidor. 

Na primeira vez que pode ter contato com tal criatura ele ainda pertencia a um estado muito diferente de seu atual, havia desenvolvido sequelas fortíssimas de uma de suas batalhas e por isso foi rebaixado a um ser de inteligência reduzida, força bruta fraca se comparado ao que possuía antes e perdeu a maior parte da grandeza do que um dia foi, porém agora era relativamente diferente. Considerando o que acredita ser um resultado da falha nas linhas temporais, nesta realidade o homem passou pelos mesmos problemas, seu poder também foi reduzido a quase zero, o que diverge é que ele conseguiu recuperar a maior parte do que perdeu e temos o acréscimo de um detalhe muitíssimo importante, Drax é o portador da joia do poder.

Foi decido que Stephen e Loki seguiriam sozinhos para pegarem duas das três joias que faltam, portanto para não terem problemas e não correrem riscos escolheram dividir entre eles as pedras que já possuíam. O deus ficou com a joia da realidade e a da mente, já que faria mais uma vez um de seus jogos mirabolantes de manipulação e o mago ficou somente com a joia do tempo por ser dentre todas a que mais possuía afinidade, assim como era para a sua forma de agir provavelmente a que mais se mostraria útil.

Diferente das estratégias que vinham abordando em suas últimas conquistas desta vez não haveria espaço para enganação ou truques que levariam as singularidades a serem entregues em suas mãos sem precisarem lutar. Drax não é ingênuo e não ofereceria chances para que jogassem livremente, sua sede de vingança em relação a Thanos o deixou prevenido para qualquer um com uma pedra do infinito que ousasse enfrenta-lo.

Demorou mais do que era esperado para que conseguisse encontrar algum resquício que indicasse a presença do destruidor, mas por fim, quando estava quase desistindo e partindo para outro possível lugar em que fosse provável que a criatura estivesse, ele teve o vislumbre dos sinais de uma fogueira acendida metros adiante de onde se encontrava. Caminhando com toda a calma que reuniu e com toda a determinação que possuía, Strange se aproximou ainda mais do meio-humano, ele não era tolo, não enfrentaria um inimigo que possivelmente pode vence-lo sem antes analisar quais são as suas reais chances.

Segundos mais tarde o mago pode visualizar com clareza onde estava Drax e o que ele estava fazendo, sua presença foi ocultada da melhor forma que conseguiu e ele aguardou onde estava, apenas visualizando a clareira perfeita para um acampamento e os movimentos de seu alvo sem que fosse notado. O destruidor havia abatido um espécime do único animal que conseguiu se adaptar as condições do satélite e agora o assava em uma fogueira improvisada com os destroços de alguma moradia, fazia isso mais pelo prazer de degustar uma boa refeição do que por ter a necessidade de se alimentar, assim como montou uma tenda e uma aconchegante cama apenas por poder desfrutar da sensação de se deitar e relaxar, não por precisar dormir.

Stephen observou o homem arrancar uma coxa ainda sangrenta diretamente do animal no fogo e morde-la como se fosse a refeição mais deliciosa que já havia experimentado, ele parecia distraído e não se preocupava em manter a guarda elevada, como se possuísse a certeza de que ninguém ousaria incomoda-lo. A pedra que procurava estava acoplada a uma das lâminas gêmeas que Drax está acostumado a usar em combate, sem dúvidas uma combinação letal. Tudo o que o mago precisa fazer é pega-la e ir embora, mas por precaução, ativou em sua própria joia um ciclo temporal, não desejava matar ou ferir o seu adversário, porém também não podia deixar que ele usasse isso como vantagem.

A magia brilhou em suas mãos quando iniciou o primeiro ataque, Strange moldou a energia como em um chicote e o lançou diretamente para seu alvo, se fosse um dia de sorte talvez conseguisse pegar seu objeto de desejo em sua primeira jogada. Não era um dia de sorte. Drax sentiu o que estava vindo e levou o próprio braço até a lâmina para impedir que aquele que tentava rouba-lo alcançasse sua arma, ficando assim com o seu lado esquerdo preso pelas cordas laranjas cintilantes que vinham do atacante.

Bastou apenas um olhar na direção do meio-humano para que tivesse a certeza de que havia provocado a sua ira. Não se interrompe um homem que está comendo. O destruidor se levantou lentamente encarando o mago que lhe parecia familiar, embora não pudesse afirmar com certeza que conhecia, sua posição foi revelada e com certeza Drax devolveria o golpe. Ele levou a coxa até sua boca mais uma vez, mordendo com calma antes de larga-la e desaparecer. Por alguns segundos não conseguiu ter o menor sinal de para onde a criatura havia ido, até que sentiu os fios de sua energia ligados a ele se rompendo e um instinto no fundo de seu ser berrou: ATRÁS DE VOCÊ!

Quase não teve tempo de repetir os movimentos já tão conhecidos por si até o momento que ergueu o escudo e recebeu o impacto. Forte, letal e pronto para matar, esse era Drax. O manto da levitação o puxou para longe e enquanto isso, se aproveitando da ajuda de seu companheiro aveludado, Stephen não parou de reagir e lutar. Bloqueou mais dos golpes rápidos, gastando mais energia do que deveria, apenas para garantir que sua magia não romperia diante da força esmagadora, e revidou conjurando suas próprias armas sendo bem-sucedido em atingir seu adversário, mesmo que isso não fizesse a menor diferença, já que o fator cura do destruidor era extremamente elevado.

Seu maior empecilho era o fato de não desejar feri-lo, Strange não é um vilão, não se comportará como um e não machucará pessoas que não fizeram nada de errado, além de estarem no seu caminho. Seu título de mago supremo não é uma nomenclatura sem significado e prova disso é que não houve um confronto na busca pelas joias em não estivesse se contendo no máximo que conseguia.

A realidade se tornou um plano maleável as suas mãos no instante em que ficaria encurralado e logo em seguida a lâmina com a poderosa pedra na mão de Drax se chocou contra a elevação montanhosa que teria limitado seus movimentos, um golpe que poderia ter sido a sua ruina. Stephen apareceu a metros dali, em uma distância e localização razoavelmente seguras, aproveitando-se do fato de que a visão do destruidor estaria limitada devido a imensidão de poeira levantada pela aniquilação de toda a montanha anteriormente atingida.

- Você se esconde, mago. - A voz seria e fria do homem soou do lugar em que ele estava. – Já estou acostumado com os vermes que me perseguem por conta do que devo proteger, seria muito mais simples se viesse até aqui para acabarmos com isso logo, ao invés de ficarmos perseguindo um ao outro nessa brincadeira inútil.

Strange sabia que caso se mexesse um pouco mais ou fizesse qualquer coisa para ataca-lo sua vantagem sobre o esconderijo seria desfeita, portanto em um suspiro de desistência resolveu não prolongar mais o combate. Ganharia em seu próximo movimento.

Drax possui um sexto sentido altamente apurado, ele consegue dizer exatamente onde o seu adversário está mesmo agora quando o ilude o fazendo acreditar que está um passo à frente. O punho sobre suas laminas de combate se apertou com um pouco mais de força, ele estava decido a se aproximar e mata-lo antes mesmo que o mago percebesse de onde o golpe veio. Suas pernas se flexionaram levemente e o destruidor mentalizou perfeitamente onde seu alvo estava antes de agir, seu corpo se impulsionou para cima erguendo o braço que daria o último ataque e por segundos teve a certeza de que o conflito findaria, mas apenas por alguns segundos. 

De repente seu sentido começou a captar a presença de outras milhares de fontes magicas, tão rápido que o homem não fazia ideia de onde tais criaturas poderiam ter vindo e isso o fez hesitar momentaneamente, uma falha que custou todos os possíveis movimentos que ele teria feito. Linhas brilhantes vindas de todas as direções envolveram seus membros e o apertaram de tal forma que de repente se tornou difícil até mesmo respirar, elas agiam sobre si com tamanha influencia que passou a ser quase impossível manter o corpo tencionado e garantir a própria segurança, sua mão fraquejava e por mais que se forçasse contra a magia, não conseguia chegar perto de rompe-la. 

Drax riu amargo, deveria parar de subestimar seus adversários. A única provável forma de se livrar do aperto sufocante que veio até sua mente foi usar mais uma vez o poder de sua pedra preciosa, porém mesmo com a força extra que ela lhe proporcionava continuava não sendo possível escapar do feitiço alheio e sua mão estava paralisada, não conseguia mexe-la nem que minimamente, nada que fizesse seria eficiente para quebrar o encanto e o destruidor se sentia frustrado por isso, estava furioso.

Stephen podia ver um pouco melhor o que acontecia ao seu alvo agora que contava com tantos olhos, ele se manteve concentrado enquanto usava sua energia para conter o "inimigo" ao mesmo tempo que criava um sutil portal para perto do que realmente desejava pegar e levava uma das mãos para isto. Quando tocou a lâmina foi tomado por um quente formigamento, sabia se tratava da joia do poder se manifestando grandiosamente sem o mínimo esforço, porém era como se ela já soubesse quem ele era ou porque estava ali e este seria o motivo de tentar se controlar para não machuca-lo, Strange até arriscaria dizer que ela estava se contendo o máximo que conseguia para não se tornar um empecilho.

Drax se contorcia violentamente para tentar se soltar da magia, mas até ele conseguia notar que de repente foi como se suas forças estivessem sendo drenadas, julgava ser uma obra da feitiçaria do maldito mago e isto tornava seu humor pior a cada segundo que se passava. Entretanto o ápice de sua fúria aconteceu quando ele percebeu uma mão sem corpo tocando a sua preciosa arma e o pior disso foi que sua própria mão abriu sem o seu controle e deixou que o desgraçado levasse tanto a lâmina quanto a pedra embora. Conforme a mão de seu atacante desaparecia com suas propriedades e seu feitiço era desfeito, sua força retornou e um estranho déjà-vu o tomou, era como se em algum momento ele já tivesse presenciado um feitiço como o que o maldito usava e isso lhe fez ter a percepção de que ele não contava com um exército de magos para enfrenta-lo, eram clones. 

O destruidor usou outra vez de seus instintos agora mais apurados do que anteriormente para ter uma verdadeira noção sobre como estavam as coisas ao seu redor e desta forma notou que a aura de um dos seres que o cercavam parecia muito mais forte do que todos os outros, com isso concluiu que ele era o verdadeiro. Jamais seria de seu feitio que deixasse um ladrão sair ileso. Ele firmou a lâmina que sobrou em sua mão e mirou no homem que julgou estar com as suas coisas, deu um passo para frente adquirindo precisão e impulso, olhou fixamente para o mago e lançou sua arma com toda a sua força e raiva.

Strange achou pelos segundos que se passaram depois que conseguiu a joia que seu objetivo estava concluído. Ele estava pronto para voltar para sua "casa" em Nova York, planejava relaxar e meditar um pouco enquanto Loki não aparecia ou a localização da última pedra não era revelada. O mago, afinal, realmente estava precisando de um descanso, sentia seu corpo muito mais pesado que o normal e sua cabeça latejava com frequência, se fosse possível para si adoecer seu diagnostico seria de que estava bem mais do que debilitado. Ele faria questão de repousar um pouco se não fosse pelo fato de que sentiu um objeto pontiagudo perfurar suas costas por trás e atravessar seu peito de forma que ficou quase que completamente exposto do outro lado.

O gosto de sangue veio até sua boca a medida em que caia ajoelhado no chão e a figura imponente de Drax aparecia a sua frente. O destruidor segurou seu rosto como se quisesse assistir de perto a sua morte e ele dizia alguma coisa que já não conseguia compreender, uns pensariam que esse era o sinal de que a vida estava o abandonando, mas tratava apenas de mais um ciclo se iniciando. Stephen morreu vezes demais pelas ações de Dormammu para se assustar com essa sensação.

Novamente o mago se viu escondido com a clareira adiante e seu adversário mais uma vez estava sentado próximo a lareira com o pedaço de seu jantar na mão, com ambas as suas lâminas acopladas a sua cintura e um olhar confuso de quem não entendia nada do que estava acontecendo. Com certo divertimento o mago percebeu que apesar de sua joia ter voltado no tempo e impedindo que morresse, ela não quis alterar o fato de que sua semelhante já havia sido pega e por isto esta agora se encontrava em sua mão, tão dócil quanto conseguia ser embora começasse a energizar demais o membro em questão. Ele a colocou com cuidado no Orbe que guardava consigo e partiu sem que o destruidor soubesse para onde ele havia ido.

Drax, por sua vez, se encontrava muito perdido, ele encarava o lugar onde sabia que o ladrão estava momentos antes sem acreditar no que seus pensamentos estavam dizendo. As habilidades que acabou de enfrentar eram as mesmas do amigo Doutor Estranho e agora sentia uma urgência extrema em avisa-lo que alguém como ele estava atrás das joias do infinito. Precisava descobrir alguma forma de alerta-lo, confiava o bastante do mago supremo para saber que ele encontraria a melhor forma de lidar com a situação. Embora não conseguisse se recordar de como era o seu rosto nunca se esqueceria de como o homem faz bem para a realidade em que vivem.

(...)

Quando Thor se colocou em uma posição estratégica para confrontar o irmão em seu suposto ataque do dia ele não estava exatamente esperando encontrar o outro deus, para ele a qualquer momento algum impostor apareceria ou algum inimigo de Loki revelaria estar atacando inocentes para estragar a imagem que ele está tentando construir aqui um Midgard. Não houve nenhum segundo em que o loiro parou de tentar acreditar na inocência do outro, independente de todas as atrocidades que ele já tenha feito no passado, uma pessoa não pode ser declarada culpada até que se prove o contrário.

Sua vigília estava indo bem, nada acontecia fora dos padrões humanos da cidade. Aquela estava sendo uma noite bastante calma na verdade, não havia nenhum indício de que um asgardiano louco estivesse matando pessoas por aí. Ou pelo menos não havia até o momento em que seus olhos atentos captaram o brilho cintilante da magia que tanto conhecia no topo de um dos prédios ao seu redor.

Com um aperto no peito Thor sentiu como se estivesse mais uma vez voltando para o maldito ciclo em que ele confiava em Loki apenas para ser traído de novo e de novo. Stormbreaker vibrava em sua mão em reposta aos seus sentimentos turbulentos, raiva e decepção já tão conhecidas tomavam os seus sentidos, mas desta vez ele não deixou que seu descontrole emocional o denunciasse e quando avançou em direção ao irmão não houve nenhum sinal de sua presença nos céus ou ao seu redor, nada que o avisasse do que estava por vir.

Nos segundos antes de se chocar com mais novo o deus do trovão percebeu que ele havia sentindo que estava prestes a ser pego, não houve tempo para uma reação que o livrasse do confronto, porém o corpo do outro deus o recebeu de frente, pronto para resistir ao impacto que viria e em um posição perfeita para olhar nos olhos do indivíduo que estragou a sua diversão noturna. A culpa do loiro aumentava a cada segundo.

O antigo rei de Asgard se encaminhou para longe da cidade, voando na maior velocidade que conseguia e garantindo que o aperto sobre o corpo do príncipe permanecia forte o bastante para que ele nem ao menos tivesse a chance de tentar fugir, Thor procurava um lugar em que nenhum humano tivesse a chance de se ferir e que ninguém interrompesse em sua conversa. Em poucos minutos o deserto de Mojave apareceu sobre a sua visão e não houve nenhuma delicadeza de sua parte quando decidiu arremessar o irmão para o chão ali mesmo de onde estava, vários metros acima do solo.

Sou próprio pouso veio suavemente, com sua capa erguida pelo ar e o olhar gélido sobre o deus travesso. Aquela era uma das vezes em que se mostrava como o asgardiano poderoso que realmente era, a figura temível e grandiosa de um deus, não o herói que protege, alguém capaz de colocar medo no coração de criaturas terríveis sem fazer o mínimo esforço. Era uma pena que Loki não se encontrava entre tais seres intimidáveis.

- Olha só quem resolveu aparecer! - Nada abalava a expressão travessa e zombeteira do príncipe mentiroso apesar de estar sujo por ter sido jogado na areia e de seu cabelo fabuloso estar cheio de espinhos por conta do cacto em que bateu. - Juro que estava começando a ficar preocupado, pensei que você estivesse doente ou algo assim por ainda não ter me interrompido em nenhuma das minhas brincadeirinhas.

- Não vai nem ao menos tentar negar que foi você? - Havia certo nojo nas feições do loiro, a repulsa de quem estava olhando para um monstro e, por mais que o amasse, ele nunca tentou evitar que o irmão conseguisse ler exatamente o que estava sentindo em relação as atitudes dele, mas tudo bem, o outro já estava acostumado que as pessoas o olhassem assim.

- E por que eu faria isso? Para você acreditar que sou inocente e depois vivermos juntos felizes para sempre? Não, meu querido irmão, uma vingança de tal tamanho não tem tanta graça assim se ninguém sabe que foi você a executa-la.

- Vingança? Loki, você não conhecia nenhuma destas pessoas, elas não lhe fizeram nenhum mal! - Cada vez mais o deus deixava de fazer sentido.

- Sempre soube que você não é muito inteligente Thor, - uma risadinha saiu de seus lábios - então deixe que eu lhe explique: cada uma das pessoas que eu destruí eram torturadores sádicos, estupradores, aproveitadores, terroristas ou assassinos em massa que nenhum humano competente que descobriu a identidade e fez alguma coisa a respeito. Eles viviam entre seus queridos midgardianos como seres normais, justos e benevolentes, quando longe da visão de todos, seus prazeres mais íntimos contribuíam para a destruição de vidas em todo o mundo.

- Quer mesmo que eu acredite que você matou pessoas, levou outras a um estado irreversível e ativou artefatos de magia negra onde antes eles viviam ou trabalhavam apenas porque se preocupa com o rumo que os humanos estão dando a este mundo? - ele ergueu Stormbreaker na direção do outro em uma clara ameaça, porém este não se mexeu ou se mostrou levemente abalado. - Você não é um justiceiro ou um herói para esse povo! E esse com certeza é apenas mais um de seus joguinhos ridículos para conseguir o que quer!

- Joguinho ridículo? Diga-me Thor, quando você dizimava populações inteiras apenas pelo seu divertimento em guerrear alguém lhe dizia o quão idiota você estava sendo? Ou melhor, você ouviu qualquer um que tentou dizer que estava errado? Quantas vezes eu precisei te manipular para proteger civilizações da sua fúria enquanto todos aplaudiam as suas conquistas e o aclamavam o filho perfeito? Acha mesmo que eu me importo com o que você diz sobre a forma com que eu ajo enquanto estou limpando o mal deste mundo sem derramar nenhum sangue inocente desta vez?

As palavras o atingiam em cheio, não era possível dizer que o outro estava errado, não quando o deus está o julgando por algo que ele próprio já fez de forma pior e que só agora se sente arrependido por suas ações. No entanto o loiro ainda sentia que algo estava diferente em seu irmão, Loki não costumava se gabar das vidas que já salvou e muito menos se importava em derramar sangue inocente, da mesma forma que não costumava falar sobre o passado facilmente. Uma pequena esperança brotou em seu subconsciente.

- Não mude de foco, você se quer teria coragem de fazer alguma destas coisas se Amora estivesse aqui... - sua voz saiu fraca e compreensiva propositalmente. A deusa costumava mantê-los na linha, por assim dizer, e o seu irmão sempre interpretava a citação do nome dela como uma oferta de paz, independente de em qual contexto a palavra viesse, era como um código entre eles sempre que discutiam sobre alguma coisa boba desde que ela morreu. Somente Loki encararia essa frase da forma que ela foi feita para ser vista.

- Então você é um tolo de pensar que uma mulher me impediria de realizar os meus desejos.

Foi visível que o que aquele individuo menos esperava receber agora era uma gargalhada divertida e um olhar aliviado e talvez tenha sido por isso que ele não reagiu a tempo de impedir o golpe certeiro que o atingiu no ombro. Quem quer que aquela pessoa fosse, não era o seu irmão. Stormbreaker o carregou metros para frente por tamanha força imposta nele, levantando poeira e ocultando momentaneamente sua visão do verdadeiro rosto antes escondido pela magia.

Thor se aproximou a passos lentos e calmos, caso ainda estivesse vivo ele mesmo daria o golpe final no impostor que tentou destruir a pouca boa imagem que o príncipe conseguiu nos últimos anos. 

No chão envolto de sangue e com o machado cravado no peito estava uma mulher, mas quando o deus ficou próximo o suficiente para reconhece-la seus olhos se arregalaram levemente e seu próprio corpo travou em hesitação.

- Lin... 

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