Profundo

By potterfxck

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Louis Tomlinson vê sua vida se transformar em um pesadelo quando o ex-namorado espalha fotos dele nu na inter... More

Avisos
A N T E S
S E T E M B R O
S E T E M B R O - part 2
O U T U B R O
N O V E M B R O
N O V E M B R O - part 2
F É R I A S D E A Ç Ã O D E G R A Ç A
D E Z E M B R O
D E Z E M B R O - part 2
F É R I A S D E I N V E R N O
J A N E I R O
F E V E R E I R O
M A R Ç O
F É R I A S D E P R I M A V E R A
A B R I L

M A R Ç O - part 2

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By potterfxck

L O U I S

– Por favor – digo, tocando sua face.

Acaricio seu pescoço. Ele parece tão perigoso, no limite, e eu preciso puxá-lo de volta, porque sei que esta decisão, neste momento, é crucial. Não posso ficar com Harry se ele não me deixar lutar minhas próprias batalhas. Ele cobre a minha mão com a dele e a segura entre o pescoço e o ombro. Eu adoro os olhos dele, adoro a forma como ele me olha, o que ele vê em mim, o que somos juntos.

– Detesto não poder fazer nada por você – lamenta ele.

– Você está fazendo tudo por mim apenas sendo você. – Dou um beijo nele. – Prometa.

A respiração dele contra a minha boca é um suspiro e uma renúncia.

– Prometo.

– Obrigado.

Faço mais um carinho em seu pescoço e lhe dou mais um beijo. Ele ainda está quente, ligado, animalesco. E também está sem camisa. Quando sua língua invade minha boca, me desmancho nele. O beijo fica profundo, mais rápido. Minhas costas vão de encontro à parede e ele segura atrás da minha coxa.

– Vamos para casa – digo.

Nem chegamos ao estacionamento e ele está me empurrando contra uma árvore, a casca do tronco ferindo a minha cabeça até ele protegê-la com a mão. Então, muito calor e mãos agitadas. Estou excitado, já estava excitado no corredor, e estou ainda mais quando abro a porta do carro e ele me empurra para dentro, agarrando minha bunda do jeito mais sacana.

– Para casa – digo, arfando.

– É.

– Você dirige.

– Me dá as chaves.

Eu as tiro de dentro da bolsa, embora não saiba muito bem como. Harry não ajuda. Está com as mãos em cima de mim.

– Aqui.

Preciso balançá-las na frente do rosto dele para chamar sua atenção. No apartamento, Zayn e Liam estão nos esperando.

– E aí, como foi?

– Você arrasou com ele?

Harry nem me deixa falar. Vai me empurrando na frente, diz Esperem só um minuto e bate a porta do quarto diante dos rostos surpresos dos dois.

– Que grosseria.

Ele está ocupado demais desabotoando a calça para responder. Uns pulos rápidos, um empurrão em cima da cama, uma camisinha de dentro da gaveta e ele já está em cima de mim, abrindo minhas pernas e checando com os dedos se estou duro o suficiente. Quando sente que estou, faz aquele som hmmm que me deixa louco.

– Rápido – digo a ele.

Não dura muito, mas, ah, meu Deus, é incrível. Uma estocada confiante e ele me preenche, nossas línguas dançam, a fivela do cinto dele tilinta enquanto ele entra em mim, forte e profundamente. Não falamos. Não sei nem se respiramos. Ele precisa de mim, assim como eu preciso dele, com seus defeitos e sua raiva, com aquela bobagem de machão protetor, sua promessa, seu corpo e a forma como ele é, frustrante e imperfeito, maravilhoso e gostoso, violento, inteligente e real.

Ele suga meu mamilo, percorrendo com a língua do jeito que sabe que me deixa louco. Enfia as mãos por baixo de mim e levanta meu quadril para aumentar a fricção onde eu mais necessito. Não é preciso muita coisa. Estou perto. Tão perto, e ele parece maior, mais duro e mais profundo do que nunca, rápido, com a respiração áspera no meu pescoço.

– Vamos lá, baby – sussurra ele, e eu faço um som que parece um soluço, mas nunca me senti tão bem.

Quando começo a gozar, enfio os dedos nos ombros dele. Preciso me segurar nele, mantê-lo aqui, bem pertinho. Ele geme, encosta a testa na minha, beija a minha têmpora quando viro a cabeça e goza dentro de mim, com os dedos entrelaçados nos meus. Ele me segura com tanta força que a dor nas juntas é a primeira coisa que me chama a atenção quando consigo sentir qualquer outra coisa além de prazer.

Agito os dedos e ele os solta.

– Puta merda.

Ele sorri.

– É, foi... Puta merda.

Ele beija o meu nariz, ainda sorrindo, e balança a cabeça.

– Sério, só consigo falar isso. Sei que deve haver palavras mais adequadas, mas...

Harry começa a rir, a barriga se sacudindo contra a minha.

– Você nunca poderá dizer que essa coisa homem das cavernas não deixa você excitado.

– Não deixa!

Como ele continua rindo, eu o belisco.

– Da última vez que você bateu no Nate, eu vomitei!

– Você acabou de gozar em, tipo, quinze segundos. E aquela vez na biblioteca...

– Nem fale daquela vez.

– Depois que eu bati nele. Você estava com tesão por mim.

– Não estava, não!

– Você teria me deixado fazer qualquer coisa com você naquele dia.

– Não teria, não.

– Ah, teria, sim. Eu devia ter beijado você. Pulado todos aqueles meses que passamos nos enganando. Não me diga que você não estava pensando nisso.

– Não estava.

– Claro, porque você é um menino muito bonzinho.

Passo as mãos ao redor da cabeça dele, então o puxo para perto e lhe dou um beijo.

– Tudo bem, talvez eu tenha pensado nisso. Mas só porque você claramente precisava de uma válvula de escape para todo aquele excesso de testosterona.

– Você seria minha válvula de escape?

– Só porque sou muito generoso.

– Eu acabei de fazer você gozar tão forte que você ficou vesgo.

– Bem, claro. A generosidade tem suas vantagens.

Ele começa a rir de novo e eu lhe dou um abraço apertado, amando a sensação do corpo dele contra o meu. Amando Harry. Saímos do quarto saltitando, a mão de Harry no meu quadril, um sorriso safado no rosto que eu não consigo ver mas posso sentir com todo o corpo. Felizes. Acho incrível conseguirmos tanta felicidade em um espaço tão curto de tempo.

Claro que me refiro, sim, ao sexo. Mas não é só isso. Há mais. É como ele faz com que eu me sinta, como eu faço com que ele se sinta, como nós somos juntos. É este ápice de algo lindo que sempre tivemos entre nós, mesmo naquele dia em que nos conhecemos, quando eu estava espiando para dentro do carro dele e tentando não olhar muito para a pequena faixa de barriga nua refletida no vidro da janela.

Mesmo quando tivemos aquela discussão na biblioteca, ou quando ficávamos na padaria sem nos tocar, mesmo quando nos beijamos nos trilhos do trem. Mesmo no dia que eu disse para ele se decidir e saí, esse ápice estava presente – uma possibilidade latente. Eu me sinto um pouco constrangido, porém, em relação a Zayn e Liam, que estão sentados no sofá, vendo TV, meio... tensos.

Liam está sentado ereto e Zayn está com o braço por cima do encosto, o corpo todo virado para ele, com um joelho em cima do sofá, e eu fico com uma impressão de pressa, como se ele tivesse acabado de se afastar dele, embora fosse algo que eu teria visto. Se ele estivesse meio metro mais perto de Liam, com o braço logo atrás dele, inclinado sobre ele, apoiado nele, e tivesse se afastado apressadamente para onde está agora quando abri a porta do quarto... eu não teria como não ter visto. Só que acho que posso ter visto, porque, quando Zayn se vira, há alguma coisa acentuada e brilhante nos olhos dele que me faz pensar em um cavalo prestes a dar um pinote.

Eu nunca vi um cavalo fazendo isso, mas acho que deve ser parecido com Zayn neste momento. Um impulso terrível, mal contido.

– Que porra é essa que vocês estão vendo? – pergunta Harry.

É uma dúvida justa, porque eles estão vendo Meu Pequeno Pônei, com o volume estranhamente baixo. Tipo, mal dando para ouvir de tão baixo. Liam está puxando o tecido da calça de corrida, beliscando na dobra do joelho, onde o pano enruga. Zayn está olhando para todo lado e para lugar nenhum ao mesmo tempo. Não acho que alguma vez tenha visto os dois no mesmo ambiente juntos sem conversar. Eles nunca param de falar.

Conversar é quase uma religião para eles. Tenho certeza de que nunca os vi tão constrangidos. Também nunca vi Liam deixar de responder a uma pergunta direta. Neste momento, sinto vontade de enfiar a cabeça na terra e esperar passar a vergonha, porque é claro que a culpa é nossa. Harry e eu com nosso bater de portas e gritos durante o sexo, altos o suficiente para passar através das paredes finas enquanto Liam e Zayn estavam aqui fora ouvindo tudo.

Não somos horríveis?

Absolutamente horríveis. Não sou um bom amigo. Eles estão aqui para me dar apoio depois da minha reunião com a diretoria e eu os deixei isolados na sala de estar, mergulhados no desconforto dos nossos sons e grunhidos copulando. Se é que era isso mesmo que eles estavam fazendo. Mergulhando no desconforto. Não sei. Só quero descobrir a melhor forma de varrer tudo para baixo do tapete. Pedindo desculpas? Mas como alguém pede desculpas pelos barulhos que fez transando? E de repente Harry, em vez de mudar de assunto, piorou tudo:

– Vocês são daquelas pessoas que deixam a TV no mudo e, enquanto assistem ao que quer que seja, ouvem outra trilha sonora? Tipo ver O Mágico de Oz ouvindo Dark Side of the Moon? Só que, neste caso, com Meu Pequeno Pônei e Louis e eu trepando?

Eu quero morrer. Dou um soco no braço dele.

– Harry!

Zayn começa a rir.

Liam cobre o rosto com as mãos e enterra a cabeça na almofada do sofá. Acho que ele diz algo sobre Twilight Sparkle, um dos pequenos pôneis, mas é difícil escutá-la com a boca encostada no couro.

– Cara – diz Zayn. – Foi épico.

– Né? – Harry sorri como só um homem seria capaz de fazer: 70 por cento ego inflado, 30 por cento orgulho do próprio pau. – Eu merecia uma medalha.

– Querem uma régua? – pergunto. – Para medir os pênis de vocês e compararem?

Zayn faz um barulho de desprezo.

– Ele ganharia.

Das profundezas das almofadas do sofá, Liam faz um barulho que parece um grito misturado com um guincho.

– Querem sorvete? – pergunto.

Porque é tudo o que tenho a oferecer. Infelizmente, não tenho o poder de apagar lembranças com a força da mente.

– Eu quero – diz Liam. – Mas só se você tiver aquele de baunilha com pretzels e manteiga de amendoim no meio, e chocolate por fora, com aquelas faixas de manteiga de amendoim.

– Chubby Hubby.

– Isso. Eu tomaria um de menta com gotas de chocolate também. Mas não aquele horroroso que vocês compraram daquela vez, com fruta dentro, porque você sabe o que eu acho de fruta no sorvete.

– Por que você não vem comigo ver o que tem?

Ele se levanta. Espero que passe por cima de Zayn, cuja perna está bloqueando parcialmente o caminho entre a mesa de centro e a cozinha, mas em vez disso ele dá a volta pelo outro lado e não olha para ele.

– Twilight Sparkle, é? – diz Harry para Zayn. – Foi isso que deixou vocês dois vermelhos e incomodados?

– Não, foi aquela foto que a sua mãe mandou para mim só de calcinha.

– Ah, é? Era tão boa como o vídeo que eu recebi da sua avó na semana passada?

– Cara. Deixe a minha avó de fora.

– Foi o que a sua irmã disse quando queria que fosse a vez dela.

– Ah, meu Deus – diz Liam. – Mande esses dois pararem.

Já estou com a cabeça quase dentro do freezer, mas grito em direção à sala:

– Parem com isso, meninos! Vocês dois são lindos.

Tento parecer desdenhoso, mas é difícil fazer isso quando se está sorrindo tanto a ponto de ficar com dor nas bochechas. A semana depois do dia das fotos pornográficas é insana. As férias da primavera estão chegando. Harry e eu temos trabalhos e projetos de meio de semestre para entregar. Enfrento mais uma reunião com a diretoria de assuntos estudantis, porque meu pai decidiu que quer participar de tudo, só que não diz nada durante o encontro. É uma estranha repetição da primeira reunião, só que com mais gente na sala.

Os e-mails dos cretinos da internet continuam invadindo minha caixa de entrada. Acho que encontraram também meu número de telefone, porque agora fico recebendo um monte de mensagens de voz com respiração ofegante e ameaças malucas. Preciso rastrear todas as minhas ligações e apagar três quartos das mensagens de texto. Decido cancelar meu perfil no Facebook e minha conta no Twitter. Tudo isso também precisa ser documentado, rastreado. Já estou farto desta situação. Queria que fosse possível simplesmente desconectar o telefone, desligar o computador e ignorar toda a enxurrada de lixo em que minha vida se transformou.

E, como se isso não bastasse, Harry não consegue falar com a mãe pelo telefone. Já faz alguns dias que Gemma não lhe manda nenhuma mensagem de texto. Ele está preocupado. Não há nada que eu possa fazer. Estou sobrecarregado, cansado de ser odiado, exausto de tanto trabalho duro. Não há nada que ele possa fazer. Ficamos juntos como se tivéssemos nascido grudados. Estamos na padaria quando o celular dele finalmente toca, enquanto preparo a mistura do pão de endro e ele abre um saco de farinha para colocar na lata. Como estou mais perto do aparelho, olho para a tela.

– É o Bo.

Ele larga a lâmina no chão e eu me adianto para lhe entregar o telefone. Sei que estava esperando que Bo, a mãe, alguém retornasse suas ligações.

– Oi – diz ele. – O que está havendo?

Viro de costas para diminuir o volume da música e os dez segundos que levo para fazer isso são o tempo necessário para o rosto de Harry ficar pálido.

– Há quanto tempo?

Ele percorre a lateral da mesa enquanto escuta.

– Você tentou fazê-la desistir? Ou... Não, eu sei... Não. Tudo bem. E a Gemma, ela...

Ele deixa os ombros caírem. Seus dedos estão brancos ao redor do telefone.

– Tudo bem. Obrigado. Foi bacana da sua parte ligar. Eu... eu assumo a partir daqui.

Quando desliga, ele fica parado por tanto tempo que tenho medo de tocar nele.

– Harry?

– Ela voltou pra ele.

– O seu pai?

– Puta que pariu, ela voltou pra ele.

Era essa a possibilidade que ele estava com medo de mencionar nos últimos dias. A pior coisa.

– Como isso aconteceu?

– Não sei. Bo nem sequer... ele nem sequer a mandou embora. Voltou para casa e todas as coisas dela tinham sumido. Ela deixou um bilhete dizendo que sentia muito, mas que precisava seguir o coração. – Ele dá um soco na mesa. – O coração.

– Elas saíram da cidade ou...?

– Estão no trailer. Ela e Gemma. Foram morar com meu pai.

– Ah.

Não sei bem o que dizer. Nenhuma palavra vai poder consertar a derrota na postura dele. O som pesado em sua voz, como se alguém tivesse lhe tirado todo o ânimo de lutar. Eu sei que ele está mal porque, quando vou abraçá-lo, ele desaba em cima de mim tão pesadamente que preciso me segurar para não deixá-lo cair. Mas isso não dura muito tempo. Depois de dez segundos, ele se afasta.

Não olha para mim quando diz:

– Vou ter que ir pra casa.

– Claro. – Ele precisa se certificar de que as duas estão bem. Conversar com a mãe. Checar a irmã. – Diga o que posso fazer pra ajudar.

– Eu preciso pegar um voo. Arrumar as minhas coisas. Assim que sair daqui.

– Você vai ficar para a prova?

Ele tem uma prova às dez da manhã do dia seguinte.

– Não, não tem por quê. Olha só, você pode procurar voos para mim? Veja qual é o primeiro disponível para Des Moines.

– Tudo bem, mas talvez você devesse fazer a prova, pelo menos. Para que quando voltar...

É a forma como ele desvia o olhar que me faz parar. A dor que consigo vislumbrar antes que ele vire o rosto justamente para que eu não a veja.

– Harry?

Ele agarra o tampo da mesa com as duas mãos. Estou olhando para ele de perfil, os braços tensos, a cabeça baixa, a coluna ereta. Eu sei antes que ele me diga.

Harry não vai voltar.

– Nunca ia dar certo mesmo – diz ele, baixinho. – Eu não devia ter achado que daria.

– O quê?

– Eu não devia ter me permitido acreditar.

– Não sei do que você está falando.

Ele balança a cabeça.

– Não tem importância.

– Claro que tem importância. Harry?

Quando ele vira para mim, é com o olhar muito distante. Em um estado onde eu nunca estive, em um lugar de onde vi fotos, mas não consigo imaginar, cujo cheiro não consigo sentir. Uma cidade ao lado de um oceano que eu nunca vi. Oregon. Nem sei onde fica no mapa. Ele precisou me mostrar.

– Vamos lá. Fale comigo.

– Eu sinto muito. Ela é minha irmã, e eu preciso cuidar dela. Ninguém mais vai fazer isso, ninguém nunca fez. A culpa foi minha por achar... A culpa foi minha.

A forma como ele me olha parece um adeus, mas não pode ser. Nós estamos fazendo massa de pão. Vamos ficar aqui durante horas – acendendo os fornos, cortando os pães, ventilando o vapor. Depois de amanhã começam as férias da primavera e eu provavelmente não vou vê-lo muito durante a semana, mas depois teremos o resto do semestre. O penúltimo ano. O último ano. Ainda temos todo esse tempo. Isso não pode estar acontecendo.

– Você não pode simplesmente ir embora. Precisa pelo menos falar com o seu orientador, tirar uma licença, ou...

Estou apenas começando meus argumentos quando ouço uma batida forte do outro lado da cozinha. A porta do beco está aberta, como sempre, porque a cozinha fica quente demais. Parados ali, emoldurados pela porta, há dois policiais uniformizados.

– Sr. Styles – diz o da frente. Ele é loiro, de meia-idade, e tem boa aparência.

– Policial Jason Morrow. Nós nos conhecemos em dezembro.

– Eu me lembro – responde Harry. – O que vocês querem?

– Temos motivos para acreditar que você está envolvido na venda ilegal de maconha nestas instalações. Gostaríamos de dar uma olhada no local.

Eu me aproximo de Harry. Ele passa o braço ao meu redor e beija o topo da minha cabeça.

– Não diga nada – murmura para mim. Para o policial, ele diz: – Este local não é propriedade minha. Não posso autorizar a busca.

– O jovem é funcionário?

– Não. Ele está comigo.

– Então você é o único funcionário aqui, certo?

Harry se afasta de mim e vai na direção da porta, bloqueando minha visão dos policiais. Já estive nesta posição muitas vezes, olhando para as costas dele enquanto ele se colocava entre mim e algum problema. Só que desta vez o problema veio para ele.

– Sou.

– Então, como é a pessoa encarregada das instalações, pode permitir.

– Vocês terão de ligar para o Bob. Ele é o proprietário. Ele decide.

– Sr. Styles, nós temos uma equipe no seu apartamento neste momento, com um cão farejador. Cooperar com a nossa investigação a esta altura é do seu interesse.

Harry segura a porta e usa a bota para afastar o pedaço de madeira que Bob usa como calço.

– Enquanto vocês não voltarem com Bob ou um mandado, eu não abro esta porta.

Então ele fecha e tranca a porta.

– Ligue para Liam – diz ele. – Vou ligar para o Zayn.

– Harry, você acha...

Mas ele não está sequer ouvindo. Está agachado, mexendo na minha bolsa. Encontra meu telefone, que põe na minha mão.

– Estamos no meio de uma confusão enorme e não temos muito tempo para resolvê-la. Se eles estão no apartamento, preciso saber o que está acontecendo. Ligue para ele.

Meus dedos obedecem. Sinto-me como se visse tudo isso acontecer a alguns metros do meu corpo, sem conseguir fazer nada além da tarefa que me foi designada, que não entendo direito. Tudo está girando na minha cabeça. Harry está indo embora. A polícia está do lado de fora. Ele fechou a porta na cara dos policiais. Eles estão fazendo uma busca no apartamento. Ele precisa ir cuidar de Gemma. Harry está indo embora. Ele pode ser preso. Eu também. Eu sou cúmplice. Não posso fazer isso. Tudo está absolutamente ferrado. O telefone toca sem parar, mas ninguém atende. Harry está com o próprio celular no ouvido, olhando para o nada.

– Ninguém atende? – pergunta ele.

– Ninguém.

Então meu telefone apita com mensagem chegando.

O que está acontecendo???!!!

– É do Liam.

– Pergunte onde ele está.

Pergunto e ele responde: no apê de H e Z. na escada de incendio. Policia ta aqui c/ cachorro farejador!!!

Harry está atrás de mim, lendo por cima do meu ombro.

– Merda. Eu achei que eles estivessem mentindo. Pergunte onde está o Zayn.

O minuto que precisamos esperar parece uma eternidade.

No quarto do Harry c/ policiais e cachorro.

– Tem alguma coisa lá que eles possam encontrar? – pergunto a Harry em um sussurro.

– Não. Eu não vendi o semestre todo, você sabe disso.

– Então não temos com que nos preocupar.

O olhar que ele me dá é quase de pena.

– Queria que as coisas fossem assim. Pergunte se ele pode ligar para você. A gente não devia estar falando isso por mensagem.

Liam diz Tem uma policial me vigiando. Não me deixou atender o tel.

Uma pausa.

Ela tentou pegar, mas perguntei se tava preso, ela disse não, então fiquei c ele. Mas texto é melhor.

– Estou surpreso com que ele tenha pensado nisso – diz Harry.

– Ele vê muitos programas policiais na TV.

Depois de alguns segundos, mais uma mensagem: Estão no quarto do Zayn. Harry está com a mão na minha cintura, bem atrás de mim, junto de mim. Acho que não suportaria se ele saísse.

Encontraram alguma coisa.

– Puta que pariu – diz ele. – Aquele idiota. Eu disse a ele. Eu disse.

– Disse o quê?

– Para não guardar maconha no apartamento. Nunca. Sob nenhuma circunstância. Mas ele é um preguiçoso de merda e não pensa. Puta que pariu.

Ele pega o telefone da minha mão e começa a digitar.

– O que você está dizendo?

– Shh. Vou ligar para ele. Estou dizendo para ele ficar me escutando quando atender. Ele não precisa falar.

Ele deve ter recebido o ok de Liam, porque depois de um segundo faz uma ligação e fica esperando.

– Liam, olha só, preciso que você faça uma coisa que vou pedir. Se quiser ajudar o Zayn, e eu sei que quer, você fará. Em alguns minutos já vai ser tarde demais, então é o seguinte: quero que entre naquele quarto no meio de tudo e diga à polícia que a maconha é minha. Aja como se fosse namorado de Zayn, como se ele estivesse sendo nobre tentando assumir a culpa. Diga que você me odeia, que quer que eu seja preso por tentar colocar a culpa nele. Diga o que for preciso. Talvez você tenha que ir à delegacia prestar depoimento, mas só continue agindo como se não soubesse de nada, o que é verdade, e dizendo que a maconha é minha. Você vai ficar bem, e o Zayn também. Não é ele que eles querem. É a mim. E se ele dificultar a sua vida, dê um jeito de dizer que eu mandei fazer isso. Que insisti. Entendeu?

Harry olha para mim, então para o teto.

– E depois que tudo terminar e você for liberado, quero que encontre Louis e cuide dele para mim. Cuide muito bem dele. Sei que você não pode falar agora, mas me prometa mesmo assim. Ele vai precisar de você.

Uma batida violenta na porta da padaria me faz dar um salto.

– Sr. Styles!

Eles estão pronunciando o nome dele errado. Não sei por quê, é isso que me faz chorar.

– Obrigado, Liam – diz Harry, e desliga o telefone.

Depois abre a agenda do meu telefone. Mais batidas à porta.

– Sr. Styles!

Bo, ele digita. Então insere um número de telefone com código de área 541 e me entrega o aparelho.

– Eu vou abrir a porta – fala. – Vou deixá-los entrar, porque não há nada aqui para encontrar. Eles vão conseguir um mandado e voltarão amanhã para incomodar o Bob de qualquer maneira. Então, eles vão fazer a busca e nós vamos fazer pão, está bem? Talvez eles levem dez minutos, talvez três horas, mas a certa altura vão decidir me levar para a delegacia. Você fica aqui e termina o turno. Não quero que Bob se ferre mais do que precisa. Depois fique na sua, Lou. Eles não devem ter encontrado mais do que 10, 15 gramas no quarto do Zayn. É uma simples contravenção. Só isso.

– Por que você está fazendo isso?

– De manhã você liga pro Bo e conta a ele o que aconteceu. Ele vai fazer o que deve. Diga que eu pedi que ele me fizesse mais um favor, que é ficar de olho em Gemma até eu resolver tudo isto.

– Harry...

Mais batidas.

– Sr. Styles!

Continuam pronunciando o nome dele errado. Não suporto isso. Simplesmente não suporto.

– Preciso que você faça o que eu pedi – diz Harry. – Por favor. Está bem?

– Está bem.

Quando ele me beija, sua boca está quente e cheia de vida, os braços apertados ao meu redor, mas algo acabou, algo já morreu, e eu quero gritar. Agarro a camiseta dele com as duas mãos.

– Eu te amo – digo a ele, sem planejar.

Não é a hora certa, não é a coisa certa a fazer, mas é o que faço quando abro a boca e digo o que precisa ser dito agora, antes que seja tarde demais. Os olhos dele estão cheios de carinho e lamento. Uma cor tão linda, um rosto tão lindo.

– Eu te amo – digo de novo.

Ele me beija mais uma vez, mas tudo o que diz é:

– Desculpe.

Então abre a porta.

Preciso jogar fora o pão francês. O fermento estragou antes de Harry terminar a mistura e a massa ficou com uma aparência estranha. Mas o resto dos pães está legal e eu continuo com o trabalho, conferindo a prancheta, cuidando das batedeiras sozinha no silêncio gritante. Harry foi embora. Foi levado para a delegacia. Ele está perdido e eu estou aqui, cercado por centenas de tarefas, objetos, cheiros, gostos que lembram ele.

Eu choro. Muito. Eu fico e faço o trabalho. Às cinco e meia da manhã, Bob chega. Fica espantado ao me ver.

– Harry me falou de você – diz ele, depois de se dar conta de quem eu sou. – Ele está doente?

– Ele foi preso.

Não sei, talvez eu não devesse ter dito isso a ele. Mas ele vai acabar descobrindo, e imagino que Harry preferiria que ficasse sabendo por mim. A conversa leva meia hora. É desagradável. Depois que termina, fico pensando que deveria ter lidado melhor com a situação. Bob parece triste e derrotado, e eu sinto que fiz um péssimo trabalho defendendo Harry. Talvez, depois que eu for para a faculdade de direito, aprenda a maneira correta de defender o homem que amo quando ele se entregou por posse de drogas que não eram dele mas que poderiam muito bem ter sido. Então penso que é possível que não haja uma maneira correta.

Quando saio da padaria, ligo para Bo, que é monossilábico e um pouco assustador. Acho que o acordei. Não importa. Então não sei bem aonde ir. Eu poderia ir para a delegacia, mas o que faria lá? Harry me disse para ficar longe. Quero fazer o que prometi, mas não aguento. Não sei como é onde ele está. Já vi muitos programas policiais, assim como Liam. Já li histórias de detetives. Tudo o que consigo imaginar é Harry em uma sala impessoal sendo interrogado por uma policial loira, que exige que ele lhe dê nomes.

Imagino Harry com aquele jeito de espertinho dele, dizendo a coisa errada. Ficando cada vez mais encrencado. Mas então penso em Gemma e sei que entendi errado. Ele só iria até certo ponto para livrar a cara de Zayn. Há um limite do que ele abriria mão. Harry vai entrar em um avião de qualquer maneira. Hoje à tarde, amanhã, depois de amanhã... Nada o impedirá de ir. Queria não saber isso a respeito dele. Queria não ter tanta certeza de que ele fará exatamente o que considera certo, sempre. Queria que a coisa certa pudesse ser o que eu quero, mas não é, e isso me deixa nesta situação. Preocupado com Harry. Sozinho, à beira das lágrimas, porque ele vai embora e eu vou ficar, e eu o amo.

Não é justo. Simplesmente não é justo.

Caminho alguns quarteirões até a delegacia e me sento nos degraus do lado de fora. Não há ninguém por aqui tão cedo, apenas alguns carros passando na manhã fria. As férias da primavera começam amanhã, mas Iowa está preso no inverno, congelado e derretendo para voltar a congelar. Hoje eu odeio este lugar. Odeio Oregon, também – o oceano, as montanhas que nunca vi. Odeio estacionamentos de trailers. Odeio a mãe de Harry por ser a fracassada que é, por amar um homem que não merece e levar o homem que eu amo para longe de mim.

Sinto muito ódio. Mas meu ódio não parece venenoso ou tóxico. Parece verdadeiro, inevitável. Preciso odiar essas coisas porque elas estão atrapalhando a minha vida. São problemas que parecem impossíveis de serem resolvidos, pelo menos por mim. Odiar é minha única opção. Ainda estou sentado nos degraus uma hora depois quando o amigo de Nate, Josh, sai da delegacia e faz uma pausa para acender um cigarro.

– Louis – diz ele quando me vê. Tinha acabado de dar uma tragada e se engasga com a fumaça. Leva um tempo para recuperar a voz. – Caramba.

Não pergunta O que você está fazendo aqui? Ele sabe por que estou aqui. Josh com seus cabelos compridos, braços largados e molenga. Eu achava que ele fosse meu amigo. Achava que gostasse de mim. Ele dedurou Harry.

– O Nate está aí? – pergunto.

– O quê? Não.

– Então foi só você quem o dedurou.

Josh parece ter sido atingido por uma marreta na testa por mim. Totalmente despreparado para esta conversa. Eu me levanto com o único objetivo de me aproveitar da surpresa dele. Penso no meu pai no escritório dele – a forma como se levanta para andar de um lado para outro quando quer assumir uma posição de poder sobre mim – e inclusive fico um degrau acima de Josh. Por que não usar quaisquer vantagens que eu possa ter? Por que não acusar? Não mereço isso, a esta altura do campeonato?

– O que ele fez contra você? – pergunto. – O que eu fiz, aliás, para você me odiar tanto? Não entendo. Preciso que você me explique.

– Nada. Quero dizer, eu não odeio você.

– Você o entregou.

– Não, não entreguei, eu juro. Eu...

– O que foi que aconteceu? Você ligou para fazer uma denúncia ou foi pego?

Olho para ele com os olhos estreitados, esperando alguma pista. Mas não preciso ser esperta para perceber. É evidente.

– Eles pegaram você. O que você fez?

– Eu estava fumando um no meu carro.

– Onde? No campus?

– No estacionamento do supermercado.

– Você está brincando comigo.

Ele balança a cabeça.

– Você foi detido por fumar maconha dentro do carro em um supermercado? Como pode ser tão burro?

Agora ele não olha para mim.

– Aí eles perguntaram quem vendeu a maconha e você deu o nome de Harry. Mesmo sendo mentira.

– Eu não tinha escolha.

– Você tinha escolha. Apenas escolheu o mais fácil. Por que não culpar Harry? Nate o odeia mesmo. E Harry não é exatamente seu amigo. É só um traficante. Um artigo descartável. Um ninguém. Ninguém o ama nem vai se importar se ele for expulso da faculdade, certo? Ele não é tão importante como você. Ninguém é tão importante como você.

Quanto mais falo, com mais raiva fico. Mas não de Josh. De Nate. Eu nunca fui realmente humano para Nate. Nunca fui realmente alguém. Se tivesse sido, ele não teria me tratado daquela forma – nem quando estávamos juntos, nem em agosto, nem agora. Ele está por trás disso. Não me importo que tenha sido Josh quem entregou Harry. Foi Nate quem tornou isso possível. Foi Nate quem convenceu todos os nossos amigos, Josh inclusive, de que eu era um viado maluco. Foi Nate quem me tratou mal, me magoou e me agrediu, e foi Nate quem se safou disso tudo. Passei tantos meses sem raiva dele. Por que diabo eu não senti raiva?

– Cadê o Nate?

– Não sei. Deve estar dormindo.

– Ele está em casa?

– Hã?

– Ele já foi para Ankeny, para as férias? Ou ainda está na cidade?

– Ele foi para casa.

– Obrigado.

Desço a escada correndo e deixo Josh lá parado esperando... qualquer coisa. Os urubus. As chuvas de abril. Não estou nem aí. Finalmente tenho força e velocidade, uma direção a seguir, e assim que chego à calçada, começo a voar. Quando chego a Ankeny, são quase oito horas e a estrada está cheia de gente a caminho do trabalho. Como o trânsito no bairro de Nate segue todo na direção oposta à minha, eu já me sinto desobedecendo às regras quando paro em frente à garagem da casa dele.

Mais ainda quando a mãe dele abre a porta. Ela é muito legal. Sempre foi incrível comigo. Parece não saber o que fazer com o fato de eu estar parado diante da porta dela, o que é compreensível. Eu costumava entrar sem bater. Praticamente morava nesta casa no último ano de escola. Agora, sou perigoso – para seu filho, para sua paz. Percebo que ela sabe disso.

– O Nate está?

– Ele não acordou ainda.

– Pode acordá-lo?

– Você não deveria estar aqui.

– Bem, mas estou.

– Você deveria deixar a universidade tratar disso, Louis.

Estou de saco cheio dessas expressões indefinidas. Tenho ouvido muitas delas desde a primeira vez que meu pai usou uma. São palavras e expressões utilizadas como refúgio, um pedacinho de linguagem escorregadia que pode ser escondida. Esta situação. Este problema. Esta questão. Eu sou um promotor de justiça. Não vou permitir que ela se esconda atrás de palavras.

– A senhora viu as fotos?

Ela não consegue olhar para mim.

– Louis, eu não quero falar sobre isso.

– A senhora viu ou não?

– Vi.

– A senhora reconheceu o edredom de Nate ao fundo?

Ela cruza os braços. Olha para um ponto no chão perto dos próprios pés.

– Sou eu naquelas fotos – digo. – Mas é o seu filho também, quer ele goste disso ou não, quer ele queira admitir que está comigo naquelas imagens ou não. Eu não contei a ninguém que elas existiam. Portanto, o fato de o mundo inteiro agora as conhecer é culpa dele. Nate precisa responder por algumas coisas. Portanto, eu gostaria que a senhora fosse acordá-lo.

Por meio minuto ficamos ali parados. Acho que ela fica esperando que eu vá embora, mude de ideia, mas isso não vai acontecer. Por fim, ela se vira e sobe a escada acarpetada. Deixa a porta aberta. Fico parada na soleira, à luz cinzenta da manhã. Um presente indesejado na porta. Posso ouvir o rádio na cozinha. Do andar de cima, escuto um murmúrio de vozes, uma dança verbal entre Nate e a mãe, abafada demais para que eu entenda os detalhes. Uma reclamação. Uma resposta enfática. Então a conversa fica mais alta.

Uma porta é aberta.

– Por que você está do lado dele?

– Eu não estou do lado dele. Mas se descobrir que foi você que fez isso, não espere que eu o apoie apenas porque é meu filho. O que aconteceu com ele é desprezível.

– O que ele fez é desprezível.

– O que ele fez, ele fez com você. Agora se vista e desça.

Passos. Água correndo no banheiro do andar de cima. Nate desce descalço, com uma camiseta vermelha e uma calça jeans, cheirando a pasta de dente.

Esfrega a mão na nuca.

– Eu não deveria falar com você.

– Quem disse? O reitor? Ora, por favor...

– Eu posso ser expulso.

– Você deveria ter pensado nisso antes de tentar arruinar a minha vida.

Ele estreita os olhos.

– Sendo melodramático?

– Você acha que estou exagerando?

– Ninguém tentou arruinar a sua vida, Louis. A sua vida está ótima. Vai ser sempre ótima.

– O que isso quer dizer, afinal?

Ele contrai os lábios. Não responde.

– Você não faz ideia.

Acabo de me dar conta de que ele realmente não faz ideia. Quando disse que sempre seríamos amigos, de alguma forma distorcida, ele estava falando sério.

– Você acha que é como... um trote, uma pegadinha. Como aquela vez em que você e os outros caras encheram todas as janelas da escola de sabão, ou levaram o carro do treinador de futebol até o parque e o deixaram em cima da gangorra. O que você pensou? Estava acordado tarde da noite tomando cerveja, batendo punheta com pornografia na internet e então pensou Acho que vou colocar aquelas fotos da Louis aí?

– Roubaram o meu telefone – murmura ele.

– Ah, mas que papo furado. Isso é uma mentira tão absurdamente deslavada que eu não vou nem... Meu Deus. Foi você, não foi? Você pensou que poderia fazer isso e que seria engraçado, ou incrível, ou que eu merecia. Você não pensou que acabaria com as minhas chances de entrar para a faculdade de direito. Que destruiria o meu relacionamento com o meu pai. Não sabia que eu não dormiria direito durante meses, que eu não seria mais capaz de olhar para um cara sem ter medo, que eu não conseguiria mais vestir uma blusa de manhã sem pensar Será que fico parecendo vulgar com essa roupa? Eu pensei em mudar de nome, Nate. Recebo ligações de estranhos dizendo que querem enfiar uma lâmina de barbear na minha bunda. Foi isso que você provocou. Isso e um milhão de outras coisas horríveis. Eu quero saber por quê.

– Não fui eu que fiz isso.

A voz dele está baixa, insegura. É mentira, uma mentira absoluta e ridícula, frágil demais até para ser reforçada com volume, linguagem corporal, qualquer coisa.

– Foi você.

Ele dá de ombros.

– Você é patético – digo. Porque ele é. É ridículo. Se escondendo atrás desse ódio, olhando com desprezo para mim, olhando com desprezo para Harry. – Eu sinto pena de você.

– É? Bom, você é uma cadela.

– Por quê? Por que eu sou uma cadela? Porque eu terminei com você? Porque estou parado aqui? Porque não deixei você enfiar o pau no meu cu? Eu era legal com você, Nate! Eu amava você! Durante três anos, fiz todas as coisas bacanas em que pude pensar para você. E então você me recompensou com isso. Eu quero ouvir, da sua boca, o que você acha que eu fiz para merecer isso.

– Eu não vou dizer merda nenhuma para você.

A expressão dele é de teimosia. Queria que sua mãe pudesse vê-lo agora. Queria, sim, de verdade. Ele parece uma criança de 4 anos. É um garoto teimoso demais para me dizer a verdade, infantil demais para compreender as consequências dos próprios atos. Ele me odeia porque pode odiar. Porque tem permissão para isso. Porque é homem cis, rico, privilegiado, e o mundo o deixa se safar disso. Não mais. A vida que aquelas fotos arruinaram não vai ser a minha.

– Aproveite as suas férias – digo a ele. – Aproveite o resto do seu semestre. Vai ser o último.

Então consigo ver o medo nos olhos dele. Pela primeira vez, Nate está com medo de mim. Gosto disso. Quando entro no carro, bato a porta e me tranco no silêncio. Estou dentro da caixa de metal agora, mas está tudo bem. Posso ir e vir como desejar. Posso encontrar uma forma de ficar confortável com todas as impossibilidades da minha vida. Não sei o que vou fazer a respeito de Nate.

Não sei se a diretoria me apoiará em uma luta contra ele, se há alguma maneira de enquadrá-lo em um processo criminal ou civil. Fucei um pouco na internet, mas, como até este mês eu não queria pensar em lutar, não havia realmente levado em consideração como essa luta vai ser. Quanto tempo pode levar. Não sei nem o que quero de Nate, agora que estou me permitindo querer coisas de novo.

Hoje não é o dia em que vou me preocupar com isso. Hoje tenho outras impossibilidades em que pensar. Harry está indo embora, e eu o amo. Não posso mudar isso. Posso apenas encontrar uma maneira de lidar com a situação. Tenho trabalho a fazer aqui, coisas erradas a consertar. Saio da garagem e sigo para a casa do meu pai. Preciso de um favor e ele é o único que pode me ajudar.

– Preciso que você tire meu namorado da cadeia.

É uma frase que eu nunca esperei precisar dizer a alguém, muito menos ao meu pai, mas ela sai direta, fluida e fácil. Toda a perturbação e a confusão ficam com ele.

– Você precisa que eu... O seu o quê? Da cadeia?

Talvez eu devesse ter preparado o terreno. Queria ter escolhido outro momento, alguma manhã em que entrasse na cozinha e ele ficasse feliz em me ver. Ao contrário de hoje, quando o encontrei lendo jornal e tomando café, com olheiras profundas, a boca triste demais ao me ver à porta. Mas não existe outro momento. Só este, com esta dor revirando meu estômago enquanto penso que o futuro com meu pai pode ser assim para sempre, essa decepção perpétua, nosso antigo relacionamento impossível de ser recuperado.

– O nome dele é Harry Styles e ele está detido em Putnam. Pelo menos, acho que está. Seria legal se você pudesse descobrir isso para mim, na verdade. Ele estava planejando admitir posse de maconha.

– Você tem um namorado. Que fuma maconha.

– Mais ou menos. Quero dizer, sim, ele é meu namorado. E às vezes fuma maconha. Mas, na maior parte do tempo, ele só... Vende.

Ai. Preciso prestar mais atenção ao que estou dizendo, porque meu pai é esperto. Ele conversa com acusados há muito tempo. Acho que é muito bom em ouvir até o que não é dito. Posso ver em seus olhos quando ele assimila a informação. As rugas do rosto se aprofundam e a papada fica ainda maior. Sempre o achei o pai mais bonito de todos. Nunca o vi como um velho antes, ou fraco, e dói muito, para mim, ser o motivo do seu enfraquecimento.

– É aquele garoto – diz ele. – Aquele do outro lado do corredor. Do ano passado.

– É.

– Você me prometeu que ficaria longe dele.

– Eu fiquei. Por um longo tempo.

Então o silêncio cai sobre ele e a neve começa a bater nas janelas, porque o tempo ficou péssimo. Meu pai toma um gole do café. Seguro as costas de uma cadeira da cozinha e penso na minha mãe. Me pergunto se ficaria do meu lado, se não tivesse morrido. Penso na minha irmã Felicite, no Corpo da Paz. Ela tem acesso à internet onde está e pode checar seus e-mails. Me pergunto se ela já sabe. Penso também na minha irmã Charlotte, que sabe. Ela me mandou um e-mail. Um texto muito, muito longo que eu fechei sem ler, porque o primeiro parágrafo continha as palavras eu perdoo você, e eu não quero o perdão de ninguém. Não sou eu que preciso ser perdoado.

– Conte o que aconteceu – diz meu pai.

– Com as drogas?

– Me conte tudo.

Então eu tento. Tento contar de uma forma que não tentei no outro dia porque estava com muita raiva. Tento contar apesar de sentir que não há tempo para isso e de preferir estar com Harry. Não sei bem o que preciso dizer ao meu pai para tentar tocá-lo através do filtro da dor e da decepção. Tento contar porque o conheço e sei que ele é justo, e que me ama. Começo pelo início e sigo até o momento atual. Digo tudo o que acho que ele realmente precisa saber. O que Nate fez comigo. O que Harry me deu. Tudo o que aconteceu, tudo o que é pertinente. E mais.

Uso a palavra amor. Digo que amo Harry. Porque isso também é pertinente. E porque, agora que disse a Harry, posso dizer a qualquer um. Eu amo Harry. Eu o amo, eu o amo, eu o amo. Quando termino, meu pai sai da cozinha, mas não vou atrás dele. Lavo a caneca de café na pia. Moo mais grãos que tiro do freezer e faço mais um bule. Coloco alguns pratos de cima do balcão e da mesa na máquina de lavar louça. Dou um tempo a ele. Se eu fosse meu pai, acho que precisaria de um tempo. Sou seu filho mais novo, o garoto que perdeu a mãe mais cedo, quando ainda era pequeno demais para se lembrar dela. Era ele quem me consolava quando eu tinha pesadelos.

Foi ele que compareceu a todas as cerimônias de entrega de prêmios, todos os torneios, todas as formaturas. É ele que tem uma foto minha em seu escritório, com um sorriso de dentes separados e os cabelos bagunçados e sujos de areia. Talvez quando o seu último bebê, o filho sem mãe, de cabelo desorganizado, cresce e vai embora, fica o consolo de que ela é inteligente e ficará segura. De que saberá fazer boas escolhas.

Deve ser muito difícil para ele, agora, lidar com as consequências das escolhas que eu fiz. Eu não sou um terno branco. Meu futuro não é algo que eu possa sujar, rasgar ou estragar. Não mesmo. Mas, para meu pai, acho que sou um terno que ele lavou, uma esperança que alimentou, e ele precisa encontrar uma maneira de se ajustar ao que eu fiz. O filho dele está nu na internet. Seu bebezinho está apaixonado por um traficante. Dou um tempo a ele. Depois de apenas dez minutos, ele volta à cozinha. Aceita a xícara de café que lhe ofereço. Fica olhando fixamente para a bebida escura. Olha nos meus olhos e diz:

– Vou fazer algumas ligações.

– Obrigado.

Ele suspira. E larga o café.

– Não me agradeça ainda. Acho que não há muito que eu possa fazer. E preciso dizer, Louis, que não sei se faria nem isso se esse garoto...

– Harry.

– Se esse... Harry não estivesse com um pé na porta.

– Está certo. Obrigado.

É uma grande concessão da parte dele. Se vai fazer algumas ligações, isso quer dizer que está colocando a própria reputação em jogo por Harry, o que significa que confia em mim. Pelo menos um pouco. Passo o braço ao redor dele. Seu pescoço cheira a loção pós-barba. Como meu pai.

– Eu te amo – digo.

Porque é verdade. Sempre o amei. Ele é o meu mundo e me deu muita coisa. Segurança e força, inteligência e coragem, além do conhecimento que é minha arma. Ele é um ótimo pai, e eu o amo. Quando o aperto, ele levanta os braços e me aperta de volta.

– Depois disso, podemos dar um tempo nas notícias bombásticas? – pergunta ele. – Eu vou acabar enfartando por sua causa.

– Espero que sim. Embora talvez este seja o momento de dizer que não vou estar aqui nas férias. Depois que você livrar o Harry, vou ficar com ele até ele voltar para casa.

Mais um suspiro. Um longo minuto, com a neve batendo no vidro, sem a gente se soltar. O colarinho da camisa dele é duro, seu corpo está quente e seu tamanho é surpreendentemente estranho agora que passo tanto tempo abraçado com Harry. Meu pai não é muito alto. Sempre pensei nele como sendo mais alto do que eu, mas ele não é, afinal. É apenas normal. Nós dois estamos fazendo o melhor que conseguimos.

– Falei com o Dick – diz ele. – Temos algumas estratégias a considerar.

– Está bem. Por que não marca uma reunião para nós três e eu levo tudo o que ele tiver para submeter a apreciação?

Meu pai dá um passo para trás e olha para mim com as sobrancelhas erguidas.

– Você vai submeter a apreciação?

– Isso. – Toco em seu braço. – Esta luta é minha, papai. Vou querer a sua ajuda se for o que eu achar que preciso. Mas não se engane quanto a quem está no comando.

Ele ri. Não é uma grande risada. Apenas uma fungada com um meio sorriso e um leve balançar da cabeça.

– Você sempre foi dominador – diz ele.

Mas diz isso com orgulho.

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