Belinha entendeu a situação muito mais rápido que eu " Não é fim do mundo morar com o papai" foram as palavras dela, eu sei que na prática vai ser um pouco mais difícil, ela não está pensando nas noites sem os abraço da mamãe, nem nas brincadeiras que minha mãe adorava fazer como se fosse uma criança, ou nas noites divertidas que tínhamos na cozinha, fazendo comidas deliciosas.
Papai não era um pessoas má, só sempre foi distante, daí vem a minha surpresa em ele querer que a Belinha more com ele sendo que nem visitar ele vinha direito.
Mamãe não tá lidando nada bem com a situação, ela que sempre gostou da casa cheia agora vai morar sozinha, ou não, eu ainda não decidi o que vou fazer, ela pode falar o que ela quiser, eu sei que no fundo ela quer que eu fique, e eu? Eu estou totalmente dividida.
- Moana.
- Moana de novo não, escolhe outro. - Falo brava estávamos a meia hora nessa discução.
- Terror então.
- Com você é oito ou oitenta né pirralha?
- Com certeza eu não senti falta das discussões de vocês, como sua tia sempre dizia, Quando o mar briga com a praia.
- Quem apanha é o caranguejo. - Eu e Belinha completamos e caímos na gargalhada, a mamãe volta pra cozinha.
- Eu tô com um pouco de medo. - Belinha fala baixo e olha pra porta conferindo se a mamãe não estava ali.
- Eu também fiquei com medo, quando me mudei.
- Ficou ?- Ela me olha surpresa.
- Aham. - Me aproximo dela. - Mas logo passa, você vai ver.
- Do que minhas mocinhas estão falando? - Nossa mãe entra com um balde de pipoca numa mão e um prato de brigadeiro na outra.
- Em como você tava demorando. - Puxo o balde de sua mão.
- Nem o filme vocês escolheram ainda, e querem me apressar. - Ela se joga no meio de nós duas no sofá.
E ali ficamos o resto da noite, assistindo e comendo, aproveitando a companhia uma da outra, olho pro lado e as duas estão dormindo, saio de vagar pra não acorda-las.
Pego um casaco que está num monte de roupas em cima de uma cadeira, e saio andando pelas rua.
Sinto vontade de chorar, mas nem se quer vem algum motivo certo na minha cabeça, as lágrimas simplesmente escorrem e eu as deixo.
Me sento em uma mureta e começo a pensar alto.
- Quando você disse pra eu não desistir dos meus sonhos por nada, nem se passava isso pela sua cabeça né dona Laura, e agora pra quem eu peço ajuda?
Espero um tempo em silêncio como se eu fosse escutar alguma resposta.
- Um sinal? Qualquer coisa ? A qual é, eu por mim mesma agora né?
Me assusto quando escuto alguém chegar atrás de mim.
- Moça é perigoso ficar aqui essa hora da noite.
- Eu já estava indo, obriga... Yudchi não acredito.
- Achei que não ia me reconhecer. - Ele sorri e abre os braços.
- Como você tá ? - Ele me aperta.
- Eu estava pronto pra te pergunta isso, estou bem e sua mãe e a Belinha ? Ela deve tá enorme não deve ? E essa aliança no seu dedo ? Conta tudo
- É muita coisa pra te contar, não vai ser rápido.
- Bom eu tenho a noite toda e você?
- Sua cara de quem precisa dormir tá estampada. - Aponto pra suas olheiras.
- Nada que um café não resolva, vem eu moro a duas quadras daqui. - Ele segura minha mão e me puxa antes mesmo de eu aceitar.
- Me conta o que mudou nesse últimos anos ?
- Bom agora eu sou um cara, quase casado, tenho meu próprio apê, a faculdade não me matou como eu achava e aqui estou.
- Se eu adivinhar quem é seu noivo você me deve cinquenta reais.
- Não vale.- Ele balança a cabeça.
- Então ela estava certa não estava?
- Completamente, o Fernando é a homem da minha vida.
- YESSSSSS. - Comemoro.
FLASHBACK ON.
( quatro anos atrás)
- Any ele é o meu preferido.
- Tia para, olha o tanto de internos que tem aqui você vai magoar eles.
- Eles sabem que eu amo todos, mas o Yudchi tem um lugar especial no meu coração.
- Gente não liguem por favor, minha irmã fala sem pensar. - Minha mãe diz como se fosse a mãe dela.
- Pra sua sorte, hoje é dia dele cuidar de você dona Laura. - Diz o doutor e um sorriso enorme preenche o rosto da titia.
- Eu vou esperar os outros saírem pra comemorar.
- Lauraaaa. - Minha mãe se envergonha por ela.
-Que foi ? - Minha tia na maior paz e todos ali riem.
- Vocês ouviram a paciente, ela não quer vocês aqui. - Os estudantes de medicina saem da sala.
- Mãe olha o jeito da Belinha. - Aponto pra menina se pendurando na beira da maca.
- Filha desce dai, essa menina ta impossivel hoje.
- Belinha por que você não pega meu carimbo, e marca essa folha inteirinha aqui pra mim? - Yudchi entrega pra ela que fica empolgada pegando o carimbo e a folha e se sentando no chão.
- Viu porque ele é meu preferido? Se ele não fosse casar com o Fernando eu transformava ele em hetero e casava vocês dois.
- Tiaaaaaaa para. - Agora sou eu quem a repreendo.
- O Fernando? Ta louca, aquele chato. - Yudchi se irrita.
- Bom eu sei que vocês gostam de conversar, mas eu preciso ir, e você trabalhar. - O médico aponta pra Yudchi. - Já sabe tirar o sangue e levar ela até a sala de quimioterapia.
- Pode deixar.
Flashback off.
- Entra. - Yudchi diz após abrir a porta do apartemento.
- Deu pra falar sozinho agora amor ? - Fernando vem de um dos corredores do apartamentos e me olha surpreso.
- Oiii.- Aceno de longe pra ele.
- Any quanto tempo.- Ele me abraça. - Eu sei que já faz um tempinho, mas eu sinto muito pela sua tia.
-Obrigada. - Sorrio pra ele.
- Bom eu tô indo tenho plantão no hospital. - ele beija o futuro marido me abraça e logo após sai pela porta.
- Esses anos te fizeram bem não é? - Olho pro luxuoso apartamento.
- E como, a gente só falou sobre mim, vamos me conta sobre você agora.
- Depois do café.
- Durante o café para de me enrolar . - Ele força a sobrancelha.
Sentamos na varanda do apartamento com as xícaras nas mãos e começamos a conversar, conto tudo o que aconteceu, detalhe por detalhe, ele não deixa passar nada.
- Ainda bem que não sou você.
- Obrigada, isso me ajudou muito. - Olho debochada e ele ri.
- Any eu tenho minha opinião, mas não vou te dizer.
- Que tipo de amigo é você?
- Do tipo que vai te apoiar em qualquer decisão, e vai estar aqui sempre, mas se prestasse atenção na nossa conversa, ia perceber que você já decidiu só ta tentando se convencer do contrário, porque acha muito rude, mas não é.
- Eu tô mais confusa do que ja tava.
- Você tem tudo que precisa, e não precisa complicar a vida Any, você é esperta demais pra isso.
Olho pro céu e vejo que uma luz começa a aparecer, a quanto tempo estávamos ali ? pego o celular e olho a hora, realmente estava quase amanhecendo.
Me levanto pra poder ir embora.
- Espera eu tenho mais uma coisa pra te mostrar. - Ele pega a xícara da minha mão, larga ali na varanda mesmo e puxa pelo corredor até um dos quartos.
- Tô com medo.
- Fala baixo. - Ele me dá um leve tapinha.
-Por q... - Antes que eu termine ele me responde, abrindo a porta me dando visão pra um garotinho deitado na cama dormindo.
- Esse é o Lucas.
- Vocês adotaram uma criança?
- Aham, é por isso que vamos casar.
- Ele é lindo.
- É não é? - Ele fala todo orgulhoso.
Passo as mãos pelos cabelos ruivos do menino e um beijo em sua testa antes de sairmos do quarto.
- Toma me liga quando descobrir sua decisão. - Ele entrega meu celular com seu número salvo.
- Se você já sabe, não era mais fácil me falar?
- E estragar toda a diversão?