CASAMENTO ARRANJADO - Série A...

By SuanyAnjos

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° S.I.N.O.P.S.E° Um casamento arranjado; Uma fuga; Um acidente; Duas vidas que se unem contra a vontade fazen... More

QUADRO DE AVISOS
ELENCO
Prólogo
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By SuanyAnjos



Capítulo 3

~CARMELLA~

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

— Pronta para receber sua alta?

Respirei fundo olhando a enfermeira Karen Smith, ela assistiu o meu caso desde que dei entrada naquele hospital há algumas semanas. Era impressionante, mas tudo sobre o dia do meu acidente não passavam de vagas lembranças. Recordo-me de conversar com os meus pais a respeito do meu casamento e tudo depois disso foi apagado da minha memória e não ajudava que as pessoas em minha volta me contavam histórias estranhas que só deixavam as lacunas piores.

Mas nem tudo foi realmente ruim na minha estadia no hospital, sim, precisei lutar para sobreviver, mas conheci pessoas realmente extraordinárias como a Karen e o doutor Gaspard Wood com quem criei um laço estranho, mas essencial para a minha recuperação.

— Cadê o doutor Wood? — perguntei.

— Ele não virá hoje. — Karen conferiu os meus sinais vitais no monitor antes de anotar os dados na minha ficha. — Mas ele assinou a sua alta, ou seja, você é uma mulher livre!

— Ele disse que estaria aqui quando esse dia chegasse. — Fiz menção de me sentar e a Karen me ajudou.

Infelizmente eu só podia contar com ela, meu pai estava ocupado e a minha mãe se tornou distante de mim nas últimas semanas, nosso relacionamento que não era bom, ficou quase que insuportável quando ela ignorou o meu bem-estar.

— Ele pediu que eu a avisasse que precisou atender uma chamada de emergência, por isso não estará presente.

Karen não sabia mentir e estranhamente aprendi entender seus gestos nos dias que passei dentro daquele hospital. Era louco, mas não havia muito o que fazer além de ficar deitada naquela cama, por isso comecei a observar as pessoas e tanto a Karen quanto o Gaspard se tornaram próximos a mim que passei a conhecer melhor já que os dois estiveram ao meu lado naqueles trinta dias. No dia que acordei do coma a primeira pessoa que vi foi Gaspard Wood com seus cabelos loiros, olhos claros levemente puxados, seu queixo quadrado e sorriso gentil cheio de dentes brancos.

Acompanhei todas as versões dele, desde do rosto sem barba até que ele apareceu com uma barba que o deixou muito sexy e, por fim, não consegui escolher qual Gaspard Wood chamava mais a minha atenção, mas gostava muito de acordar e encontrá-lo ao lado da minha cama, ou até mesmo quando ele me trazia café, ou resolvia sentar ali para almoçar comigo ou me dizer adeus antes de deixar o hospital.

Ele fez com que eu me acostumasse com a sua presença, pois foi nos braços dele que chorei quando me recordei que levei Randall direto para os braços da morte ou quando contei a ele sobre como o meu pai desejava me ver infeliz com aquela história de casamento arranjado, enfim, Gaspard prometeu que estaria ali no dia da minha alta, mas seu sumiço não era à toa, havia uma explicação e ela se chamava Emma Thompson, a residente da cardiologia que Karen havia dito que estava de olho nele há tempos.

— Ele saiu para almoçar com a Emma? — perguntei vendo a Karen respirar fundo parando o que estava fazendo.

— Não se aborreça, Carmella, não é como se você e o doutor Wood estivessem em um relacionamento, não é?

Karen estava certa! Eu não tinha direito de ficar com raiva ou fazer aquela cena ridícula, Gaspard era o meu médico e nada mais além disso, não podia nem mesmo chamá-lo de amigo e criar sentimentos pelo médico era uma loucura! Sem contar que eu tinha uma nova fuga a planejar, afinal, nem mesmo aquele acidente seria capaz de me parar, eu estava disposta a morrer se fosse preciso, mas não me submeteria a um casamento arranjado.

— Você está certa, Karen, só estou um pouco emotiva com a minha alta. — Sorri. — Por favor, me ajude, não vejo a hora de sair desse hospital e respirar ar puro.

Karen sorriu antes de começar a me ajudar, mas tanto ela quanto eu sabíamos que eu não estava contente, afinal, podia sentir o meu coração acelerar ao perceber que eu nunca mais veria o Gaspard e que ele seguiria a sua vida ao lado de outra mulher.

GASPARD

— Seria bom ela saber que você está ao lado dela. — Meu pai parou ao meu lado enquanto eu observava de longe a Carmella deixar o hospital.

O tempo em que ficou hospitalizada, ela fez alguns amigos entre o quadro de enfermeiros e enfermeiras e não foi surpresa ver alguns irem até ela para se despedir, afinal, Carmella era uma mulher extraordinária e qualquer pessoa sensata enxergava isso.

— Brandon está aí? — perguntei.

— Acabou de chegar. — Meu pai apontou através do vidro e percebi o exato momento que Brandon Marshall chegou observando a Carmella de um jeito estranho, como se ela não fosse boa o suficiente para ser sua filha. — Você não irá se despedir?

— Estive ao lado dela todos esses dias, pai, só preciso de um tempo.

— Tempo para o quê? Você sabe que desistir não é uma opção, não é?

— Não vou desistir, pai. — Respirei fundo, estava cansado da pressão do meu pai em relação ao casamento, mas eu havia decidido me casar com a Carmella, mas ainda assim precisava de um tempo.

As coisas aconteceram rápidas demais desde que ela deu entrada no hospital e eu descobri que Carmella Marshall seria a minha futura esposa. Até tentei me manter longe, mas como seu médico isso foi impossível e quando percebi estava envolvido, não sabia mais passar meus tempos de folga sozinho, adorava almoçar com ela ou passar a tarde conversando, mas agora que ela finalmente estava bem, percebi que estava exausto e precisava de um tempo para pensar.

— Sinto por tudo isso, meu filho. Sei que você odeia o fato de que o dei em casamento a uma pessoa desconhecida, mas é uma tradição da nossa família e fiz o melhor para arranjar uma boa moça.

— Carmella é ótima, pai, o problema está nos pais dela.

— Você não se casará com os pais dela, Gaspard e sim com ela.

— Sei disso, mas isso não modifica o fato de que ela odeie essa ideia de casamento arranjado.

— Então, vocês têm algo em comum, porque você também odeia essa ideia.

— Sim, mas diferente de mim ela quase morreu para fugir desse enlace e a conheci um pouco para saber que a ideia de fugir permanece bem fresca em seu pensamento.

— Isso foi antes, Gaspard, tenho certeza que quando ela descobrir que o noivo é você, ela mudará de ideia.

— Não sou nenhum deus, pai.

— Não é, mas é alguém em quem ela confia e por quem criou sentimentos, isso qualquer um consegue vê.

— Mas isso não me dará segurança de que ela aceitará o casamento, pai.

— Você está se preocupando demais. — Ele bateu no meu ombro. — Tudo ficará bem.

Para o meu pai era fácil falar, não era ele quem estava entre a cruz e a espada, Carmella não aceitaria aquela história tão fácil quanto todos pensavam, sem contar que eu não estava pronto para ser responsável pela vida de outra pessoa e tanto ela quanto eu não queríamos aquele casamento, afinal, pensávamos do mesmo jeito de que era impossível que um relacionamento forçado se convertesse em algo bom.

Todos falavam que não deveríamos nos preocupar, mas o que seria do nosso futuro juntos?

CARMELLA

Respirei fundo conferindo o meu reflexo no espelho vendo o quanto eu estava mais magra assim como ostentava uma imensa cicatriz na lateral da minha cabeça, mas a minha aparência não estava estranha, só diferente do que eu era acostumada. Duas batidas na porta me trouxeram de volta da análise do meu corpo.

— Pode entrar — respondi.

— Com licença, filha. — Meu pai entrou no quarto e respirei profundamente, no fundo eu sabia que uma hora ou outra aquela conversa chegaria, só pensei que ele me daria mais um tempo. — Como você está se sentindo?

— Bem. — Coloquei a escova de cabelo sobre a mesinha e caminhei em direção a minha cama sob o olhar atento do meu pai. — É muito bom estar em casa.

— É bom tê-la de volta, mas queria saber se você tem tudo o que precisa? — A atenção dele caiu sobre as caixas de remédios sobre a mesinha ao lado da cama.

Eu ainda ficaria em tratamento por mais um tempo, mas felizmente eu estava entre os 30% das pessoas que se recuperavam por completo após o trauma que tive.

— Tenho sim, pai, obrigada.

— Muito bem. — Ele sorriu. — Precisamos conversar sobre o seu futuro.

— Sobre o meu futuro? — perguntei. — Pensei que depois do meu acidente esse assunto sobre casamento arranjado seria esquecido.

Meu pai me encarou e seu olhar não parecia mais tão gentil assim.

— De forma nenhuma, Carmella, afinal, não deixei de planejar o seu casamento mesmo enquanto você estava naquele hospital.

— Então, quer dizer que enquanto eu lutava para sobreviver o senhor procurava um esposo para mim?

— Sim, afinal, tive convicção de que você sairia daquele quadro clínico horrível e isso me fez fechar o contrato com o seu noivo.

Sorri desacreditando que estava ouvindo tudo aquilo.

— O senhor fez o quê?

— Fechei o contrato com o pai do seu noivo na verdade, mas o rapaz aceitou, enfim, você se casa daqui três semanas. — Meu pai passou a mão sobre o terno caríssimo dele se olhando no meu espelho.

— Não sei se o senhor percebeu, mas acabei de sair do hospital depois de sofrer um grave acidente.

— Percebi muito bem, mocinha, mas esse acidente só aconteceu porque fui muito mole com você! Isso que acontece quando os pais deixam que filhos idiotas tenham sua liberdade. Quase a perdemos, Carmella e não estou disposto a passar por isso de novo.

— O senhor realmente se preocupou comigo ou o medo era perder o contrato milionário que o meu casamento te proporcionaria?

Ele riu de um jeito frio e calculista.

— Ah, por favor, Carmella, não se ache tanto! Você não tem tanto valor assim na sociedade inglesa.

Eu não deveria parecer chocada, mas foi mais forte que eu.

— Não me olhe assim como se estivesse chocada — ele me repreendeu. — É loucura da sua parte achar que alguém de renome a desejaria como esposa depois de todas as merdas que você já fez! — ele falou com raiva. — Nenhuma família que se preze deixaria seu filho casar com uma mulher que foge com o seu amante!

— Randall não era o meu amante! — eu o defendi, não queria ninguém sujando a memória dele. — Eu o obriguei a me ajudar a fugir, ele ficou com medo de perder o emprego.

Meu pai sorriu se aproximando do espelho para arrumar os cabelos.

— Continue com suas mentiras que fingirei que acredito, mas enfim, você teve sorte que encontrei alguém que a quis mesmo com a sua reputação manchada, então, considere-se uma mulher de sorte.

Eu estava sem reação ainda, meu pai sempre foi muito autoritário e severo, mas aquela versão sua era a primeira vez que eu via e precisava admitir que estava com medo.

— Agora — ele se aproximou de mim puxando as laterais dos meus lábios em uma tentativa de me fazer sorrir —, não seja estúpida, quero que você sorria, diga que está feliz e planeje a droga do seu casamento! — Ele se afastou caminhando até a porta e permaneci calada, sem reação. — E antes que eu me esqueça, nem pense em fugir, coloquei dois seguranças na sua porta e eles tem ordens de mantê-la dentro de casa a todo custo. — E na maior e completa demonstração de falsidade, meu pai me lançou um beijo no ar e saiu, deixando-me sozinha.

Engoli em seco percebendo que estava prestes a chorar.

Não chore, não chore!

Mas foi impossível me segurar por muito tempo, toda aquela agressividade do meu pai só me mostrou que vivi todos aqueles anos uma grande mentira, afinal, a minha família era pior do que eu pensava. Devagar caminhei até a cama me deitando enquanto chorava, tudo o que eu mais queria naquele momento era que o Gaspard estivesse ali para me ouvir e segurar a minha mão, ele esteve ao meu lado nos últimos dias me ajudando.

Esqueça esse homem, Carmella.

Sim, eu precisava seguir em frente e esquecê-lo de vez para o meu próprio bem.

-o-

Não sei quanto tempo fiquei deitada chorando, mas acho que adormeci por algumas horas despertando com a presença do meu irmão, Eduard, ajoelhado ao lado da cama me encarando com pena.

— O que fizeram com os seus olhos? — ele brincou me fazendo sorrir.

— Você é um idiota, sabia?

Ele se sentou no colchão me puxando para o seu colo, seus dedos acariciando de leve os meus cabelos.

— Como você está? Fiquei sabendo a pouco que você estava em casa, ninguém fez questão de me avisar.

Suspirei lembrando da minha recente batalha com o meu pai.

— Há alguns meses eu diria que você estava mentindo, mas hoje tive um vislumbre de quem o nosso pai é de verdade.

— O que aconteceu? — ele perguntou.

— Nada.

— O que você fez que o deixou furioso, Mela?

— Eu o deixei furioso, o que você quer dizer com isso?

— Há dois seguranças na porta do seu quarto.

Suspirei fechando os olhos, ele havia mesmo colocado dois brutamontes para me vigiar.

— Ele está com medo que eu fuja de novo.

Meu irmão me olhou abismado.

— Você estava pensando em fugir de novo?

— Ele fechou o contrato de casamento, Edu, enquanto eu lutava dentro daquele hospital Brandon Marshall só pensava nos negócios e todos sabemos que não quero um casamento arranjado.

— Não acredito que depois de tudo o que você passou a sua ideia seja fugir! Você é louca, Carmella?

— Ele encontrou alguém, papai fechou o meu contrato de casamento.

— Isso é bom, depois do seu acidente é satisfatório saber que você terá um bom casamento.

— Papai não se preocupou em me arrumar um pretendente decente, Edu, ele disse que ninguém da alta sociedade inglesa me desejaria como esposa.

— Ele só está chateado que você ainda pense em fugir mesmo depois de quase morrer.

— Não o defenda, Eduard, Brandon Marshall é um monstro e infelizmente demorei muito tempo para perceber.

— Esqueça isso. — Ele tentou me tranquilizar. — Preciso te contar uma coisa.

— Só quero ouvir coisas boas.

Ele riu.

— Fiquei sabendo que o seu pretendente vem jantar hoje aqui.

Aquilo não era uma notícia boa e sim uma piada de muito mau gosto, afinal, eu não estava pronta para conhecer o monstro que seria o meu marido.

— Pensei que teria a sorte de conhecê-lo só no dia do nosso casamento.

— Seria assim, mas depois de tudo o que aconteceu com você, nosso pai achou melhor que você conhecesse o seu pretendente antes.

Eu me afastei do meu irmão não acreditando mais na sua gentileza, infelizmente as pessoas daquela família agiam por interesse e o meu irmão não estava ali como o meu cúmplice e sim para preparar o campo para mais tarde, ele fazia parte do joguinho psicológico do meu pai.

— Você não veio saber se eu estava bem, não é? — perguntei não acreditando em sua audácia. — Ele o mandou, não foi?

— Eu realmente queria saber como você estava, mas não mentirei, mamãe mandou te dizer que há um vestido no closet que ela quer que você use.

Fiquei de pé caminhando em direção à porta do quarto, eu amava o meu irmão, mas precisava ficar sozinha.

— Me deixe sozinha, Eduard.

— Mela, eu...

— Só me deixe pensar por algumas horas, por favor.

— E o vestido?

— Diga a ela que o colocarei, mas agora respeite o meu momento e me deixe sozinha.

Meu irmão ficou de pé segurando a minha mão.

— Eu me preocupo com você.

— Sei.

Eduard me encarou em silêncio, pela primeira vez ficamos mal na presença um do outro, então, ele saiu me deixando sozinha. Devagar caminhei até o closet e peguei o vestido que a minha mãe queria que eu usasse, mas eu nunca seria uma marionete. Sorri o jogando no chão pegando a outra peça que estava ao lado, muito mais curto, vulgar e chamativo. A ideia era surpreender o meu noivo deixando claro que o meu pai estava certo, eu era uma mulher que a sociedade inglesa não respeitava. Meu plano estava traçado. 

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