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By thedebf

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OBRA VENCEDORA DO THE WATTYS 2021 NA CATEGORIA LITERATURA FEMININA. Melissa Fontoura sempre foi o tipo de gar... More

Epígrafe
BOOKTRAILER + ELENCO
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Epílogo
NOTAS FINAIS E AGRADECIMENTOS!

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By thedebf

Fiz o meu familiar caminho para o trabalho. Peguei o metrô e fiquei em pé por meia hora, desci na estação e caminhei pelas quadras até a entrada do restaurante Flanagan Garden.

A aparência continuava a mesma, nada tinha mudado desde a última vez que estive ali. Sua imponente entrada, com as letras gigantescas no painel e as cinco estrelas brilhando com majestade diante do prédio. Ao vê-las fiquei hesitante. O próximo passo que daria era de grande responsabilidade. Eu tinha considerado tudo, mas o rosto de Tom Flanagan sempre surgia em minha mente como justificativa para aceitar a proposta e permanecer no emprego. Era o pensamento mais imaturo, mas talvez com o tempo mudasse, talvez quando relembrasse da real maneira do sr. Flanagan.

Dei a volta no prédio para adentrar pela entrada dos funcionários. Digitei a senha — que para minha sorte era a mesma — e tive minha entrada liberada. Caminhei pelo corredor até chegar ao recinto cheio de armários onde os funcionários guardavam seus pertences. Assim que pisei o pé lá, todas as pessoas que se encontravam no ambiente viraram-se para mim.

Essa parte eu não tinha pensado com muito detalhe, mas certamente deveria ter considerado. Certamente todos os olhares voltariam para mim, todas as bocas falariam sobre mim. Com certeza queriam saber do motivo de minha ausência, e principalmente como pude retornar após causar uma confusão no restaurante — e como Tom Flanagan aceitou meu retorno. Com isso, novos rumores seriam criados, sobre minha relação com o chefe e o que fiz para conseguir um novo cargo — que eu ainda nem sabia qual era!

O pequeno grupo estava parado, guardando seus pertences e pegando uniformes para trocarem no vestiário. Cada par de olhos ficou focado em mim, aguardando meu próximo movimento. E estranhando minha presença naquele horário, já que eu somente iniciava meu trabalho durante o período da tarde.

— Bom dia — cumprimentei, apenas para não criarem rumores sobre minha falta de educação. Comecei a passar entre eles, indo em direção à porta dupla que me dava passagem para ir ao restaurante. Contudo, não consegui fugir a tempo de ser incomodada com perguntas.

— Melissa Fontoura — chamou uma das jovens. Reconheci seu timbre vocal como sendo uma das recepcionistas do restaurante. Não recordava seu nome, pois não era importante. — Veio pegar as contas da sua demissão? Pensei que já tinha resolvido isso no dia que causou aquela confusão no restaurante.

As outras pessoas que a acompanhavam riram de sua piadinha e aguardaram pela minha resposta. E elas sabiam que eu estourava facilmente e não aturava brincadeiras como aquela. Entretanto, lembrei que tentaria manter meu autocontrole ao máximo e suportar pessoas como àquelas até perceberem que não escapariam da minha presença. No final das contas teriam que aceitar.

Voltei-me para eles e abri um falso sorriso cordial.

— Pelo contrário, vim para retornar ao trabalho. — A maioria deles reagiram em surpresa, mas a jovem permaneceu inabalável. Um sorriso debochado cruzou seu rosto.

— Estou muito surpresa pelo sr. Flanagan ainda aceitá-la no restaurante. — Nem concordei ou discordei dela, pois também não entedia aquilo. — Bem, então boa sorte com o seu trabalho de lavar louças.

Dessa vez pouco dos presentes acompanharam com risos seu comentário. Duas das garotas que estavam ali também tinha a função de lavar as panelas e pratos do restaurante. Olhei-as com simpatia, também cansada de ser considerada inferior pelo trabalho que exercia.

— Eu acho que é melhor você mudar seu tom, pois não é superior a ninguém aqui só porque recepciona os clientes... — Enchi minhas palavras de ironia. — Você não é melhor que ninguém só porque ganha mais ou se veste melhor, ou porque se considera mais bonita. Então, pare de agir assim... — Todo mundo me olhou em total choque. A garota começou a ficar vermelha, provavelmente desejando me estrangular. Me dirigi aos outros colegas e disse: — E não andem com alguém que os considera inferior. Se valorizem.

Dei minha última cartada e sai por cima, voltando a fazer o trajeto ao meu propósito final. Poucos minutos depois eu estava no elevador que abria para o andar em que ficava a parte administrativa do restaurante, assim como o escritório de Tom Flanagan. Guiei-me até lá e bati na porta com certo receio.

A secretária abriu a porta e olhou-me sem surpresa alguma, provavelmente já esperando por minha chegada.

— Srta. Fontoura. — Ela me cumprimentou com um sorriso cortês. — Entre, por favor.

Concedeu passagem para que eu entrasse no familiar escritório do meu ex... Do meu chefe. Eu tinha estado lá pouquíssimas vezes, senão no dia da entrevista de emprego e quando assinei o contrato para iniciar o trabalho. Ainda assim tudo continuava igual, mesmo um ano depois.

E ele estava bem ali, em pé, aguardando por minha chegada. Tom Flanagan encontrava-se impecável em sua maneira habitual de ser, sem exageros, sem ternos caros, cabelo bem ajeitado. Na verdade, ele até parecia um pouco cansado e abatido, provavelmente por uma noite mal dormida — eu compreendia perfeitamente —, mas sua expressão mudou quando me viu. Eu não queria ser o tipo de pessoa que dizia sobre seu olhar ter mudado, como os brilhos de suas íris e no sorriso que se expandiu em sua face. Mas aconteceu exatamente dessa maneira. Tom Flanagan parecia aliviado, e eu não sabia se deveria imaginar que se tratasse da minha chegada.

— Melissa — começou ele, sempre iniciando qualquer frase com meu nome. Sempre se dirigindo diretamente a mim. Aproximei de sua mesa, mantendo uma distância adequada entre nós dois. Nós éramos chefe e funcionaria, eu deveria me recordar disso. — Você veio.

O tom de sua voz soou de forma esperançosa, talvez um pouco surpreso por eu tê-lo escutado pela primeira vez. Até mesmo eu estava surpresa por ter concordado e vindo.

— Como você pode ver, em carne e osso, eu estou aqui — falei, demonstrando com as mãos minha presença nem um pouco fantasmagórica.

— Então, isso significa que aceitou retornar ao trabalho? — Apenas balancei a cabeça em concordância para sua pergunta. — Fico feliz que tenha aceitado... E cumprirei com o que eu prometi.

— É só disso que preciso — esclareci. — Então, o que você tem para mim?

Tom Flanagan pareceu recordar do meu real objetivo ali e indicou a secretária. Ela se aproximou e aguardou pelas obrigações que receberia.

— Josephine irá esclarecer todas as suas dúvidas, mas resumindo sobre sua nova função: você irá trabalhar em conjunto de outras duas garotas atendendo telefonemas e recebendo e-mails para a marcação de reservas. Assim como também irá checar todas as informações dos clientes que irão vir ao restaurante, como nome completo, telefone, endereço, quantos convidados, preferência de horário e dia, e entregar todas essas informações ao nosso maître, que irá se responsabilizar com outra parte dessa obrigação. Você deverá fazer questionamentos sobre qual o tipo de comida que essa pessoa prefere, até mesmo apresentar o cardápio se necessário for, e informar sobre as mesas disponíveis — explicou o sr. Flanagan. Evitei ficar de queixo caído. Aquela não era a nova profissão que esperava, mas nem mesmo eu sabia o que estava esperando. Ele continuou: — Recebemos ao todo mais de 300 ligações ao dia de pessoas desejando fazer uma reserva, sem contar os diversos e-mails. Nunca passe o valor das refeições em hipótese alguma, pois pode ser apenas a concorrência querendo saber. Por causa disso, você sabe que o restaurante fica lotado todos os dias e temos reservas feitas até Julho do ano que vem. Ou seja, não é um trabalho tão fácil. E você deve ter paciência e coordenar com o maître essa função, informando-o e ajudando. Entendido?

— Entendido, capitão — brinquei, fazendo a posição de sentido. Me arrependi no mesmo instante quando notei a secretária Josephine controlando o riso. Meu chefe Tom Flanagan não pareceu se importar com a brincadeira. Na verdade, seus olhos estavam fixos em mim, talvez esperando que eu mudasse de ideia. Fiz uma careta por estar sem jeito. — Não se preocupe, não vou torcer meu pulso segurando um telefone ou digitando no teclado.

Meu comentário o fez recordar do meu pulso não mais ferido. Seus olhos o observaram com preocupação, mas depois o alívio o transpassou ao notar que eu não mais usava a tala.

— Está completamente recuperada? — perguntou, receoso.

— O médico me deu alta e me sinto nova em folha, pronta para mais uma — falei, dando um sorriso de bom humor. Entretanto, dessa vez, minha piada não foi bem sucedida.

— Não diga isso, eu realmente fiquei preocupado com o que aconteceu com você. Espero que nunca mais se machuque — disse Tom Flanagan.

— Um pouco difícil, já que eu sou um ímã para problemas — caçoei, ignorando ainda o olhar aflito no rosto do chef de cozinha.

— Então, ficarei de olho em você para manter todos os problemas bem distantes.

Eu não esperava por aquelas palavras. Poderiam soar com doçura e gentileza, se a secretária não estivesse ali ouvindo toda a nossa conversa. Fiquei constrangida pelo momento e decidi usar o único escape que tinha.

— Vamos? — perguntei, dirigindo-me a secretária. — Estou ansiosa para começar a trabalhar!

Ela apenas assentiu e indicou que a seguisse. Antes que eu fizesse tal coisa, virei-me para Tom Flanagan e disse:

Obrigada, sr. Flanagan.

Eu o agradeci por não ter desistido de mim. Talvez, em parte, eu não merecia aquela nova oportunidade, após ter agido tão insensivelmente e ingratamente com ele. Ao mesmo tempo, ele também não tinha sido fácil comigo, e lidar com Tom Flanagan era complicado. Talvez aquele momento se tratasse de tentarmos novamente, lidando um com outro de maneira diferente, e trilhando novos caminhos para esquecer o passado e tudo que aconteceu entre nós. Mesmo que talvez eu tivesse muita dificuldade, ao menos tentaria.

Não esperei por sua resposta e saí apressadamente da sala, satisfeita por ter me livrado do momento embaraçoso. Esperava que ele não voltasse a agir assim diante de outras pessoas, pois mais rumores constrangedores poderiam ser criados. E já bastava o que estavam fofocando sobre mim — nós — enquanto passava pelo corredor indo em direção a sala de escritório em que eu trabalharia.

A secretária adentrou o recinto antes de mim e a segui. O interior era pequeno, mas aconchegado para três mesas com cadeiras confortáveis e três mulheres jovens que conviveriam ali. Estava ansiosa para conhecer minhas novas parceiras de trabalho. Uma delas — a mais jovem e de cabelos curtos loiros — abriu um sorriso largo ao me ver, provavelmente ansiosa pelo rosto novo. Todavia, a mais velha — de expressão arrogante, sobrancelhas grossas e rosto fino — pareceu insatisfeita pela minha chegada. E eu soube que não nos daríamos bem, mesmo que eu tentasse ser sua amiga.

— Essas serão suas colegas de trabalho — iniciou a secretária Josephine, indicando as outras duas mulheres no recinto. — Essa é Grace — falou, enquanto a mais jovem e gentil acenava em cumprimento para mim. — E essa é a Tiffany.

Tiffany era a mal humorada — acho que poderia me referir a ela assim por causa da sua expressão arrogante, que supus ser permanente. Grace se aproximou e estendeu a mão para mim.

— Seja bem-vinda! É um prazer conhecê-la! — disse em animação. — Espero que nos demos bem.

— Igualmente! — desejei, também esperando que tudo desse certo.

Olhei para Tiffany, esperando que ela fizesse o mesmo, mas ficou no mesmo lugar sem esboçar reação alguma. Virei-me para a secretária Josephine a espera de seus próximos comandos.

— Sua mesa será essa daqui — continuou ela, guiando-me para a mesa perto da janela. Dali teria a vista da entrada principal do restaurante, dos prédios gigantescos e da rua movimentada. Conseguiria acompanhar com facilidade o movimento de Manhattan. — E o horário de trabalho é sempre das 8 horas da manhã até 5 da tarde. Você terá em torno de uma hora de almoço e não trabalhará no fim de semana.

Era bom saber que eu teria 40 horas semanais saudáveis de trabalho, sem precisar me dividir em duas e tentar sobreviver com dois empregos, além de poder sair em horários menos perigosos para pegar o metrô.

— O sr. Flanagan já disse tudo que precisava, então creio que não preciso explanar tudo novamente. — Assenti, compreendendo. — Grace será responsável por coordená-la no início, te ajudando a entender como funciona o programa no computador para o agendamento das reservas, locais de mesas e os menus dos dias. A cada uma vez por mês temos um reunião geral em que decidimos pela mudança de menu, e a presença de vocês é importante para se manterem atentas a tudo e, claro, para explicarem como está o andamento dos agendamentos e quais são as maiores dúvidas dos clientes. Entendido?

Dessa vez não fiz a posição de sentido, preferi apenas concordar com a cabeça.

— Agora vou deixar vocês. Tenham um bom dia! — terminou a secretária Josephine, que poucos segundos depois desapareceu fechando a porta atrás de si.

Fiquei a sós finalmente com minhas mais novas colegas de trabalho. Tiffany voltou a fazer algo no notebook enquanto os telefones tocaram ao mesmo tempo e ela se pôs a atender. Não voltou a dar atenção para a minha presença e focou no próprio trabalho.

Grace estava parada ao lado da própria mesa aguardando por algum pedido meu, ela balançava-se nas pontas dos pés, talvez um pouco insegura para se aproximar. Decidi dar o primeiro passo.

— Então, Grace, você pode me ajudar? Espero não ser um incomodo! — pedi, um pouco receosa por estar dando trabalho a ela. A garota retornou com seu largo sorriso.

— De forma alguma! Vou adorar ajudá-la! — exclamou ela, se aproximando para começar a me explicar.

Sentei-me na cadeira e liguei a tela do computador. Grace começou a me dar todas as orientações, como era o funcionamento do programa, o recebimento das ligações e os agendamentos das reservas. Até mesmo me ensinou como deveria ser minhas perguntas padrões e o tratamento com os clientes. Depois de poucos minutos eu já compreendia de modo geral as coisas, e ela me disse que se eu tivesse alguma dificuldade poderia pedir por sua ajuda; sendo assim, Grace retornou para sua mesa e iniciei meu trabalho.

O telefone tocou e eu o atendi no primeiro toque. Do outro lado escutei uma pessoa em um sotaque francês carregado enquanto falava o inglês.

— Bom dia! Restaurante Flanagan Garden, em que posso ajudar? — indaguei, mantendo a calma para o meu primeiro atendimento, mesmo com a animação emanando por todo meu corpo.

A parte da manhã foi completamente boa. Não consegui contar a quantidade de telefonemas e e-mails que recebi, atendi e respondi. Com isso, percebi a grandiosidade do Restaurante Flanagan Garden. Eram pessoas ligando de todos os lugares, endereços de diversos países e cidades, desejando jantar ou almoçar no restaurante de maior renome de Manhattan. Pediam por salas privadas, tanto para reuniões executivas ou encontro de famosos, ou mesas com vistas privilegiadas, ou com diversos convidados. Pediam por tamanha exclusividade, como reservar o restaurante apenas para dois convidados. Ao ouvir tal pedido, fiquei chocada, pois considerava algo romântico se tratando de um casal. Algo que eu jamais teria, pensei.

De qualquer forma, atendi todos com bom humor, feliz pelo meu primeiro dia naquela função. Quase não percebi quando deu o meu horário de almoço, se não fosse pelo aviso de Grace e meu estômago já dando sinais de vida.

Minha mais nova colega Grace convidou-me para almoçar, o qual concordei sem pestanejar. Tiffany ficaria sozinha, pois havia retornado do próprio horário de almoço. Percebi que ela se isolava e nem fazia questão de comentar algo durante nossas conversas. Peguei meu casaco e bolsa, e acompanhei Grace para o elevador. Mesmo sendo um pouco tímida, sempre tinha algo a dizer.

— Sabe, não fique chateada pelas atitudes de Tiffany — comentou Grace quando adentramos o elevador. — Ela está mal-humorada porque sua amiga foi demitida.

Estranhei no instante que ela disse aquilo.

— Amiga? Foi demitida de onde? — perguntei, curiosa.

— Daqui, ora. Camille foi demitida recentemente e trabalhava no cargo que você está ocupando agora — explicou a jovem loira.

A porta do elevador se abriu no térreo, na entrada do restaurante. Ela saiu, mas não consegui acompanhá-la. Uma garota tinha sido demitida antes de eu ocupar seu cargo... E se sua demissão tivesse sido proposital? Apenas para me passar sua função? Tom Flanagan ousaria ou não fazer isso?

Grace notou minha ausência ao seu lado e se virou.

— O que está fazendo ai? Vamos, se não o restaurante que iremos lota e teremos que esperar! — chamou, aguardando-me pacientemente.

Retornei a consciência e a segui. Precisava tirar isso a limpo com Tom Flanagan e talvez fazer algumas perguntas para a minha nova colega.

— E ela me culpa por eu estar no lugar da amiga dela agora? — Eu estava receosa por sua resposta. Não queria receber a raiva de ninguém de forma injusta.

— Não sei... — respondeu Grace, pensativa. — Elas eram unha e carne, até me excluíam um pouco, e a causa da demissão dela é desconhecida, pelo menos para mim. Mas creio que seja apenas temporário, até ela perceber que você não tem nada a ver com isso, certo?

Eu queria concordar, mas talvez eu tivesse algo a ver com aquilo, pensei. Enquanto empurrávamos a porta para sair, alguém subitamente interrompeu nossa saída, chamando nossas atenções.

— Srta. Fontoura. — Escutei a voz da secretária Josephine chamando-me e virei em sua direção. Ela estava a poucos metros de distância com as mãos cruzadas diante de si. — Venha comigo, por favor.

Arregalei meus olhos sem entender por seu chamado inesperado e olhei para Grace com o olhar de confusão. Ela deu de ombros, tão incompreendida quanto eu, e me empurrou para seguir a secretária do sr. Flanagan.

— Acho melhor deixarmos nosso almoço juntas para amanhã — disse ela, que concordei, permitindo que partisse para fora.

Procurei a secretária e a encontrei, apressando meus passos para segui-la até onde quer que estivesse indo.

Passamos pelas mesas, seguindo em direção as salas privativas do restaurante. Tinha algumas no térreo e fui levada até uma. A secretária empurrou a porta e me deu passagem. Estranhei aquele comportamento e meus pensamentos levaram somente para uma pessoa: Sebastian Johnson. Entretanto, era impossível, pois a entrada do mesmo no restaurante fora proibida por Tom Flanagan. Não tive opção além de adentrar. A sala privativa estava vazia, além da mesa bem organizada que havia.

— Entre e aguarde, pois logo seu almoço será servido — explicou a mulher. Olhei-a em total surpresa, incapaz de acreditar no que tinha acabado de dizer. Comecei a formular um questionamento, mas ela continuou: — E suas dúvidas não serão respondidas por mim.

Percebi que não tinha escapatória, por isso entrei na sala e fiquei sozinha. A porta foi fechada e fui até a mesa, sentando-me na cadeira. Observei o ambiente para distrair a minha mente. Era espaçosa e sem muitos detalhes. Paredes cinzas, sem quadros, sendo o lustre a coisa mais chamativa do ambiente. A mesa também era muito bonita, com um arranjo de flores coloridas sobre a mesa e pratos, taças e talheres bem distribuídos. Olhei cada uma das louças, notando que estavam bem limpas. Sabia qual era o sacrifício para deixá-las assim... Deixava-as de molho, esfregava com uma esponja macia e enxaguava-as em água morna. Todas as louças finas deveriam ser tratadas com cuidados, em uma limpeza máxima e minuciosa. Era uma tortura, mas gostava de ver meu trabalho bem feito.

Eu sabia o motivo de estar ali e quem era o culpado. Não demorou muito para adentrar a sala privativa na companhia do garçom. Tom Flanagan sentou-se na cadeira diante da minha e sorriu cortês.

— Olá, Melissa — cumprimentou, como se fizesse aquilo todos os dias.

— Sr. Flanagan, por que não estou surpresa por ser você a me chamar até aqui? — retruquei, cruzando os braços e esperando por sua reação.

— Esperava por outra pessoa? — caçoou, provavelmente recordando do meu acompanhante da noite passada. — Sinto muito ter te decepcionado, mas achei que seria adequado almoçarmos juntos para comemorar seu retorno ao restaurante.

Desviei meus olhos para o garçom parado ao lado da mesa. Não queria um dos funcionários escutando nossa conversa, e que poderia espalhá-la para os outros.

— Podemos fazer nossos pedidos logo? — indaguei, desejando continuar a conversar somente quando ficássemos a sós. Tom Flanagan concordou e os cardápios foram entregues para nós. Comecei a olhar para os pratos principais, sem ficar de enrolação nas entradas. Eu estava faminta e só tinha uma hora de almoço. Entretanto, haviam diversos nomes de pratos diferentes e eu não tinha conhecimento sobre nenhum. — Qual é a sugestão do chef?

Tom Flanagan riu pela a minha pergunta e fechou o cardápio, pegando o meu e devolvendo-os para o garçom.

— Vamos querer a sugestão do chef — pediu o chef. Não pude negar que foi engraçado ver o próprio chef de cozinha pedindo pela sua própria sugestão. Eu estava curiosa para saber qual era o prato.

— E querem algo para beber? — questionou o garçom, estendendo o cardápio de bebidas. O sr. Flanagan balançou a mão, recusando.

— Um vinho... — iniciou, provavelmente já tendo em mente o que desejava beber, mas tive que interrompê-lo.

— Vou querer água, apenas — pedi. O garçom assentiu, anotando com rapidez os nossos pedidos e esperando pela resposta do chef.

— Mudei de ideia. Vou querer uma água também. — Fiquei surpresa por ele ter mudado o pedido. Eu só havia escolhido beber água pois logo retornaria para o trabalho, e também porque não gostava de bebidas alcoólicas.

— Não vai me dizer qual é a sugestão do chef? — insisti, curiosa para saber qual seria o prato a ser servido.

— Você logo irá descobrir — brincou o sr. Flanagan, mantendo o mistério.

Ficamos em silencio após seu comentário. Sabia que deveríamos ter uma conversa, mas eu não tinha ideia de como iniciar. Não tinha questionamentos — talvez tivesse, mas que envolviam sentimentos os quais estava evitando pensar —, mas temia que o assunto que eu desejava evitar fosse tocado. Ele provavelmente estava insatisfeito pelo o que viu na noite passada, e talvez eu fosse incapaz de mentir sobre o meu falso relacionamento com o CEO.

— Melissa... — iniciou, tentando afastar o silêncio desconfortável que nos rondava. — Como está sendo o seu novo trabalho? Está gostando da nova função?

Suas perguntas fizeram com que eu recordasse dos comentários de Grace sobre a demissão da amiga de Tiffany, e sobre a suspeita que eu tinha sobre eu ter sido a causa desse acontecimento.

— Até o momento está indo tudo bem... — Ele pareceu satisfeito por meu comentário inicial. — Entretanto, eu tenho uma pergunta pra você.

Tom Flanagan olhou-me com atenção, com os cotovelos apoiados sobre a mesa e seu queixo sobre os dedos entrelaçados, e aguardou por meu questionamento.

— Você demitiu uma garota chamada Camille e agora eu ocupo o cargo que ela antes ocupava... Você a demitiu por minha causa? — Fui direta, sem devaneios, e eu também queria uma resposta assim. A minha pergunta o deixou atônito, mas ele não se deixou abalar e respondeu:

— Claro que não, Melissa. Quem te disse isso? — Ele parecia assombrado por minha dúvida, até mesmo ofendido.

— Ninguém... Apenas fiquei sabendo e imaginei isso. Foi inevitável, já que você insistiu tanto para que eu voltasse... — Ergui os olhos, constrangida por ter feito uma pergunta tão acusatória.

— Você quer saber por que demiti Camille? — Atentei-me para suas palavras seguintes, assentindo e dando permissão para que continuasse. — Camille estava querendo se demitir do restaurante, pois planejava se mudar com o namorado para Londres. O problema é que ela não teria direito a nada, e não poderia se mudar com o namorado. Eu fiquei com pena quando soube, por isso propus demiti-la para que recebesse a rescisão pela demissão e pudesse acompanhar o namorado.

Eu estava em choque. Isso era o tipo de coisa que não esperava de Tom Flanagan. Ele sempre foi o tipo de cara que imaginei ser contra romances ou passar a mão na cabeça de funcionárias, mas agora eu sabia que tinha ajudado uma funcionária apenas para que ela pudesse partir com o namorado para outro país.

— Mas aparentemente a pessoas não sabem disso, acreditam que você a demitiu sem justa causa... — comentei.

— Eu a demiti sem justa causa sim, mas pedi que não comentasse sobre o assunto, pois outros funcionários poderiam pedir o mesmo e eu não poderia fazer isso por todos. — Agora eu compreendia perfeitamente o ocorrido, entretanto, ainda assim Tiffany olhava-me com raiva acreditando que eu estivesse ocupando o lugar de sua melhor amiga. Não tinha culpa se Camille não confiava nela para contar a verdade. — Acredita em mim, Melissa?

Eu poderia ainda criar dúvidas em minha mente, mas ele pareceu tão sincero ao contar, que não poderia fazer isso. Balancei a cabeça em positivo, dando um sorriso sem mostrar os dentes, indicando que acreditava.

Para o meu alívio o garçom retornou bem a tempo antes do silêncio voltar a ficar desconfortável, e antes que minha barriga começasse a roncar. Os pratos foram colocados diante de nós, assim como nossas taças foram enchidas de água. Aproximei-me da refeição, tentando entender do que se tratava. Eu sabia que era uma carne, mas não sabia de qual animal.

— Carne de pato — respondeu Tom Flanagan ao notar a dúvida tomando minha feição. — Mas o prato também é chamado de magret du canard.

— Sempre tem que ter um nome estranho?

— Sim — concordou ele, rindo. — Mas é apenas peito de pato com batata e molho.

— Apenas? Acho que isso deve ser mais complicado do que estou imaginando, certo?

— Carne de pato não é fácil de lidar, mas é muito boa de comer — explicou o chef de cozinha, aparentando bom humor.

— Bem, se é a sugestão do chef, imagino que deva ser bom — comentei, ainda hesitando em provar a tal carne. Eu nunca tinha provado carne de pato na minha vida, pelo menos eu acreditava que não.

— Não fique com receio de comer, pode confiar na minha palavra. — Tentei não rir por sua frase de apoio. Mesmo eu tentando confiar em Tom Flanagan, deveria ficar com pé atrás. Mas se tratando de comida, acreditei que era algo de seu completo entendimento.

Cortei um pedaço da carne de pato e levei até os lábios, mastigando minuciosamente, temendo que o gosto ruim preenchesse minha boca. Mas para a minha surpresa era melhor do que tinha imaginado. A carne era macia e o sabor estava levemente apimentando e bem temperado. Não hesitei em comer os próximos pedaços.

Tom Flanagan aprovou minha atitude e repetiu o gesto, começando a provar da própria comida — ou ao menos da própria receita que havia criado. Eu sabia que na cozinha tinha outros chefs, souschefs e cozinheiros que cozinhavam, e mesmo que Tom Flanagan fizesse muitos pratos, ele era majoritariamente responsável pela coordenação da equipe — que não era nada fácil, ainda mais se eu estivesse nela, pensei.

Nosso almoço seguiu-se inicialmente em silêncio, mas a cada vez que eu erguia o olhar notava os de Tom sobre mim. Conseguia ver com clareza que desejava conversar sobre um assunto em específico, o qual eu desejava fugir com urgência. Uma noite tendo de aturar Sebastian Johnson era o suficiente, agora continuar com a mentira era complicado. Eu não queria ser vista como a namorada do CEO, mas no momento era esse meu mais novo rótulo.

— Melissa... — Lá vai ele mais uma vez, pensei, sempre iniciando qualquer frase com meu nome. Aguardei pelo sermão ou qualquer coisa do tipo. — Sobre a noite passada...

— Eu não quero falar sobre a noite passada — interferi, antes que continuasse.

— Você não sabe sobre o que eu quero dizer.

— Mas eu consigo imaginar perfeitamente do que se trata — retruquei.

Ele baixou os olhos para o próprio prato e ponderou por alguns segundos.

— Você não pode me deixar sem respostas... Eu não entendo. — Tom Flanagan parecia frustrado, e isso era uma coisa que raramente se via. Bem, eu nunca o tinha visto assim.

— Não entende o quê? — perguntei, já me arrependendo de incitá-lo a continuar falando.

— Por que Sebastian Johnson? Ele é o último homem do planeta terra que eu imaginei você tendo um relacionamento — indagou ele, parecendo um pouco ofendido e talvez enciumado. O sr. Flanagan estava com ciúmes de mim? Estranho...

— Eu gosto dele, por que não teria um relacionamento? Ele é uma pessoa normal como qualquer outra. — Eu jamais poderia descrever Sebastian Johnson como normal, pois nem isso ele conseguia ser.

— É por causa disso que dúvido do seu relacionamento com ele...

— Está me dizendo que ninguém normal namoraria a mim? — retruquei, usando o meio dramático para fazê-lo parar com o assunto.

— Eu não disse isso — contrapôs o chef. — Me refiro às atitudes dele, que você mesma declarou sendo ridículas, e o atacou por isso aqui no meu restaurante. Portanto, creio que você jamais se relacionaria com um homem que se impõe sobre você.

— Você tentou se impor sobre mim e eu quase me envolvi com você. Todos nós cometemos erros, e eu o julguei precipitadamente. Ele é uma pessoa completamente diferente do que eu imaginava. — Era mentira, obviamente. Sebastian Johnson não era muito diferente do que eu havia suposto, conseguia até mesmo ser um pouco pior.

— Corrigindo: nós tivemos um envolvimento e, mesmo que você se arrependa, aconteceu, não há volta. Entretanto, eu disse que deixaria isso para o passado...

— Eu acho que você está com ciúmes — soltei sem pensar. Me arrependi no mesmo instante quando recebi o olhar de ultraje do meu chefe.

— Não estou não — retrucou abruptamente.

— Então, por que está agindo dessa maneira? — questionei, desafiando-o.

— Estou pensando no seu bem-estar — respondeu com naturalidade, como se fosse óbvio.

— Eu sei me cuidar e Sebastian também pode fazer isso. Não preciso de mais ninguém se preocupando comigo. — Encerrei o assunto rapidamente. Eu não desejava falar sobre meu falso relacionamento com mais ninguém, principalmente com Tom Flanagan, que eu temia a qualquer momento contar a verdade. Se ele descobrisse, certamente poderia espalhá-la, manchando a imagem de Sebastian Johnson, e de Lilly, que poderia perder o emprego como consequência.

Meu chefe fechou a cara, aborrecido pela minha atitude rude. Esse era o meio que eu usaria para mantê-lo longe. O sr. Flanagan sabia que eu era dificilmente tolerável e se eu dificultasse mais as coisas poderia fazê-lo me repudiar, não se aproximando com outros interesses. Mesmo com sua promessa de me respeitar, ainda recebia seus olhares ardentes e longos. Recordei da noite passada e sua proposta indecente de me levar para um hotel! Isso era coisa que se fazia? Eu não me considerava pura, na verdade, meu receio era de aceitar tal proposta.

Terminamos o almoço e verifiquei as horas. Ainda faltava 15 minutos para o meu horário de almoço acabar.

— Acho que preciso retornar para o meu trabalho logo — informei. Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto.

— Não se preocupe, você não irá ter algo descontado do seu salário por se atrasar. — Revirei os olhos para seu comentário.

— Que eu saiba você odeia meus atrasos — contradisse, escorando na cadeira com mais conforto e cruzando os braços.

— Não me importo com o atraso se estiver comigo — brincou, dessa vez seu sorriso se transformando em zombeteiro.

— Pensei que você havia dito que me respeitaria — falei ao notar seu flerte.

Seu sorriso desapareceu mais rápido do que havia surgido.

— Eu estou respeitando você...

— Eu tenho namorado — relembrei, bancando a moça fiel. Meu comentário só o fez fechar a cara.

— Eu sei... — resmungou.

Aguardei que ele saísse e retornasse para a cozinha, entretanto, permaneceu ali. O garçom retornou e recolheu nossos pratos vazios. Voltou novamente e perguntou se desejaríamos algo a mais. Eu estava prestes a negar quando Tom Flanagan pediu:

— Queremos dois Mille Feuille, por favor. — O garçom assentiu e desapareceu com nossos pedidos anotados.

— Você não ouviu o que eu disse? — rosnei, zangada. — Preciso voltar para o trabalho...

— Você não pode sair sem comer a sobremesa — respondeu ele. — Ou deixou de preferir doces a salgados?

Ele tinha pegado no meu ponto fraco, isso eu deveria admitir. Eu era apaixonada por doces e não poderia perder por nada provar aquela sobremesa com nome estranho.

Para meu alívio o garçom retornou e depositou os pratos com as sobremesas diante de cada um de nós. Não hesitei em pegar o garfo e provar um pedaço. Era uma maravilha a Mille Feuille, que aparentava ser feita com massa folhada e creme. Engoli a minha em poucos minutos. Tom Flanagan, por outro lado, era muito lerdo para comer. Porém, supus que estivesse saboreando a comida — a minha fome era grande demais para fazer isso.

— Bem, está na hora de ir — comentei, começando a me levantar.

— É rude você ir embora sem que tenhamos terminado nosso almoço.

— Eu já terminei, não tenho culpa se você é muito lento. — Pela primeira vez em minha vida vi Tom Flanagan revirar os olhos. Eu estava realmente vendo aquilo?

Para minha surpresa ele terminou a sobremesa com rapidez, limpou a boca e ficou de pé.

— Vou acompanhá-la — propôs, ainda de boca cheia. Eu não suportei e soltei um riso alto, chocada pela sua falta de boas maneiras. Depois de ter engolido apropriadamente o alimento, disse: — Eu te divirto?

— Só às vezes...

— Bem, fico feliz em saber que sou o motivo do seu sorriso só às vezes... — Epa! Mesmo eu sendo às vezes um pouco distraída, conseguia notar as investidas dele. E eu não poderia deixá-lo insistindo com isso.

Inevitavelmente recordei da conversa com Amberly no banheiro do baile beneficente — na verdade, era impossível não ficar pensando —, em como havia dito que Tom Flanagan supostamente sentia-se interessado por mim há meses.

— Sr. Flanagan, por favor, pare com isso. — Ele estranhou meu súbito pedido confuso. — Você disse que as coisas seriam diferentes, que respeitaria meu espaço. O que aconteceu entre nós ficou no passado... E eu respeito o senhor, e aceitei retornar porque não tinha opções melhores, mas também pelo motivo de adorar o restaurante. — Olhei-o com hesitação, temendo sua reação. — Então, peço que entenda que não teremos mais nada, ainda mais agora que estou em um relacionamento sério.

Foi difícil usar aquelas palavras, ainda mais porque uma pequena parte delas era mentira. Eu não estava em um relacionamento sério e o que havia acontecido entre nós dois ainda persistia no meu passado, presente e futuro. Não sabia quando deixaria aquilo de lado, até temia que nunca fosse conseguir.

Observei a expressão de decepção no rosto do meu chefe, mas que foi coberto pela máscara da aceitação.

— Eu irei respeitá-la... Mas saiba que jamais irei esquecê-la. — Tom Flanagan deu duas passadas e ficou cara a cara comigo. — Entretanto, tenho uma... Duas condições.

Juntei as sobrancelhas em confusão. Condições para que ele me respeitasse? Não compreendia. Aguardei por suas palavras seguintes.

— A partir de agora você se refere a mim como Tom. Cansei de ouvi-la me chamando de senhor o tempo inteiro, me faz parecer velho. Ok? — Concordei, achando essa condição fácil de lidar. — A segunda coisa é que todos os dias irá almoçar no meu restaurante.

— Como é? — Quase engasguei-me ao ouvir a última condição. Ele só poderia estar ficando maluco!

— Foi isso que ouviu! Você disse que nunca tinha provado da minha comida antes e agora terá uma oportunidade de provar cada prato...

— Acho que está exagerando...

— Não estou. Faça isso por mim, por favor? Quero saber sua opinião a respeito da minha comida — disse. Notei que parecia ser algo muito importante para ele. E se tratando de comida... Bem, eu não poderia rejeitar.

— Está bem, mas também tenho uma condição! — reclamei, fazendo-o se atentar ao meu pedido. — Vou convidar minha amiga também para almoçar aqui!

— Eu te dou o braço e você quer o corpo todo? – Dei de ombros, evitando pensar de forma literal na frase. Eu adoraria o corpo, mas não poderia tê-lo. — Tudo bem, eu aceito, deixo você convidar quem quiser, desde que não seja o seu namorado.

Consegui notar o cinismo em seu tom de voz ao se referir a Sebastian Johnson. Concordei, selando nosso trato com um aperto de mãos. Eu poderia ter dito que nada aconteceu, mas seria mentira. Se tratando de Tom Flanagan, ele sempre tinha um efeito sobre meu corpo. O toque quente de suas mãos — ao mesmo tempo suave, mas calejadas por sempre serem usadas para cozinhar — teve um efeito eletrizante pelo meu corpo, fazendo um arrepio comprimir meu braço e descer por minha espinha. Afastei a mão na primeira oportunidade que tive e despedi-me dele, deixando-o sozinho na sala privada.

Eu não sabia o que passava por sua cabeça, muito menos pela minha. Odiava os sentimentos que tinha por ele, em que alguns momentos desejava asperamente pular em seus braços, mas em outros queria fugir pela segurança da minha sanidade e bem-estar.

Retornei para o escritório de trabalho ainda um pouco zonza do momento que passamos juntos. Meus neurônios transmitiam sinapses em que apenas Tom Flanagan era a mensagem central.

Entretanto, tive que impedir a passagem dessasmensagens e foquei no objetivo principal e mais importante. Quando adentrei oescritório encontrei minhas duas colegas de trabalho ali, cumprimentei-as evoltei a fazer meu trabalho.


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