Shout, Run, Survive [CONCLUÍD...

Od LuckVianna

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"É como um jogo de xadrez. A diferença é que, a cada peça que você mexe, alguém pode morrer. Ou ser salvo. Es... Více

Temporada 1 - Capítulo 1| "O diário de Maryan Hastings"
Temporada 1 - Capítulo 2| "O dia mais macabro"
Temporada 1 - Capítulo 3| "Vamos brincar?"
Temporada 1 - Capítulo 4| "Peguei, está com você!"
Temporada 1 - Capítulo 5| "Meus pêsames"
Temporada 1 - Capítulo 6| "A peça que falta"
Temporada 1 - Capítulo 7| "Caminho sem volta"
Temporada 1 - Capítulo 8| "Não procure respostas"
Temporada 1 - Capítulo 9| "Histórias ao anoitecer"
Temporada 1 - Capítulo 10| "Quem é você?"
Temporada 1 - Capítulo 11| "Na cena do crime"
Temporada 1 - Capítulo 12| "Noite de Halloween"
Temporada 1 - Capítulo 13| "Xeque-mate" • Final
EXTRA: SOBRE A HISTÓRIA
Temporada 2 - Capítulo 1| "Mais uma vez"
Temporada 2 - Capítulo 2| "Eles sempre voltam"
Temporada 2 - Capítulo 3| "No meio do tornado"
Temporada 2 - Capítulo 4| "O rastro das chamas"
Temporada 2 - Capítulo 5| "Cidade da chuva"
Temporada 2 - Capítulo 6| "Caixa de surpresas"
Temporada 2 - Capítulo 7| "A casa de bonecas"
Temporada 2 - Capítulo 8| "O cerco se fechou"
Temporada 2 - Capítulo 9| "O baile da morte" • Parte 1
Temporada 2 - Capítulo 10| "O baile da morte" • Parte 2
AVISOS + NOVOS PERSONAGENS
Temporada 3 - Capítulo 1| "A história não acabou"
Temporada 3 - Capítulo 2| "Nada seguro retorna do escuro"
Temporada 3 - Capítulo 3| "Não há vagas"
Temporada 3 - Capítulo 4| "Jogadas no tabuleiro"
Temporada 3 - Capítulo 5| "Festejando na escuridão"
Temporada 3 - Capítulo 6| "Noite da caçada"
Temporada 3 - Capítulo 7| "Se o telefone tocar"
Temporada 3 - Capítulo 8| "Fantasmas da noite"
Temporada 3 - Capítulo 9| "Rainwood: o berço do caos"
Temporada 3 - Capítulo 10| "Feliz natal, Jesse!" • Parte 1
Temporada 3 - Capítulo 12| "Os mortos também se escondem"
BÔNUS: FAÇAM SUAS APOSTAS!
Temporada 3 - Capítulo 13| "Suspeitos até que se prove o contrário"
Temporada 3 - Capítulo 14| "Abismo do medo"
Temporada 3 - Capítulo 15| "Olhos famintos"
Temporada 3 - Capítulo 16| "Quando um estranho chama"
Temporada 3 - Capítulo 17| "Jovens, festas e assassinatos"
Temporada 3 - Capítulo 18| "A porta de ferro"
Temporada 3 - Capítulo 19| "O mensageiro, a assassina e o náufrago"
Temporada 3 - Capítulo 20| "O azul encontra o mar"
Temporada 3 - Capítulo 21| "A tempestade" • Parte 1
Temporada 3 - Capítulo 22| "A tempestade" • Parte 2
Temporada 3 - Capítulo 23| "Até o fim"
Temporada 3 - Capítulo 24| "A última noite" • Parte 1
Temporada 3 - Capítulo 25| "A última noite" • Final
AGRADECIMENTOS + CURIOSIDADES

Temporada 3 - Capítulo 11| "Feliz natal, Jesse!" • Parte 2

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Od LuckVianna

Pousada Woodhouse, 25 de dezembro, 22:00 horas da noite — Poucos minutos antes de Scarlett e Beatrice se aproximarem da pousada.

Diversas histórias sobre a noite de natal foram contadas e recontadas com o passar dos anos. Geralmente são sobre ceias fartas que aparecem misteriosamente àqueles que precisam, famílias felizes que se desentenderam por algum motivo, ou simplesmente sobre bonecos de neve que ganharam vida.

Entretanto, algumas histórias devem ser mantidas somente nas memórias daqueles que as viveram. Como esta. Porque a realidade obscura por trás de um conto natalino pode surpreender qualquer um e, às vezes, o horror acaba invadindo um conto de natal. Isso não é bom. E aquela história sobre quatro mulheres sozinhas na noite natal estava prestes a seguir o mesmo rumo.

— Começo a pensar que há algo errado. Já não deveriam ter voltado? — comentou Madison, parada na frente do relógio de parede há mais de três minutos.

— Precisa descansar um pouco. — Rose a encarou. — Tenho certeza que estão todos bem e que aquela campainha vai tocar a qualquer momento.

— Não consigo. Sinto algo aqui dentro, Rose... — ela levou sua mão até o peito.

— Vocês duas ouviram isso? — Kendra arregalou seus olhos de repente, olhando para elas do sofá.

— Se for mais uma de suas histórias, Kendra, mantenha-se em silêncio por favor. — Rose suspirou.

— Eu não estou brincando. Esse barulho... — a loira contornou o sofá e caminhou até a parede onde as duas estavam.

— São batidas. Parecem vir de algum lugar próximo, como se estivessem dentro da parede. — Madison explicou.

— Como? Não consigo ouvir nada. — Rose cruzou os braços.

— Acho que pode ser a Jullie. Vou dar uma olhada no andar de cima. — Kendra falou, e então se afastou através das escadas.

Madison e Rose continuaram no salão, impacientes com aquele som quase inexistente vindo de algum lugar atrás daquelas paredes. A sensação de que existiam olhos rondando aquela casa era cada vez mais presente. Estavam sendo observadas, acreditava Rose.

A loira voltou depois de alguns minutos e alegou não ter encontrado nada. Jullie ainda cochilava em seu quarto, o rosto virado para a parede e os olhos fechados por completo. Kendra chegou a encará-la por alguns instantes para ter certeza de que estava adormecida.

— Não consigo entender. Se Jullie continua dormindo, então... o que pode ser este barulho infernal? — com suas sobrancelhas arqueadas, Kendra voltou a tocar a madeira envelhecida que cobria o corredor com seu dedo indicador.

— Talvez seja um animal que se perdeu em algum lugar da casa. Ou talvez... — Madison foi novamente interrompida.

— Espera. Estão ouvindo? Agora vem lá de fora. — Rose exclamou, aflita.

E o barulho aumentou. Agora não eram batidas vindas de dentro da casa, se assemelhavam mais a uma tentativa desesperada de que alguém abrisse a porta principal. Ouviram uma voz, então. Uma voz feminina e potente, alguém estava implorando por ajuda do lado de fora.

— Ah, minha nossa senhora! Eu vou até lá. — Rose se encaminhou imediatamente até a porta e a escancarou o mais rápido possível.

— Ro... Rose! Graças a Deus. — Beatrice adentrou a residência e se jogou aos braços da senhora, com medo.

— O que foi que aconteceu com você? — Madison observou a francesa de cima a baixo, espantada.

Suas roupas estavam sujas e aparentavam terem sido arrastadas sobre o chão imundo. Ela estava tão preocupada e nervosa ao mesmo tempo que ficava claro o fato de ter sido atacada. Mas não conseguia explicar o ocorrido. Sua voz se prendia ao choro em sua garganta.

— Scarlett, ela... ela desapareceu. Ah, meu Deus. — Beatrice balançava a cabeça em negação enquanto se dirigia até a sala de estar.

— Scarlett? O que você fazia com ela? E onde... onde estão os outros? Onde está minha filha, Beatrice? — Madison insistiu.

— Eu não faço ideia. Nos separamos quando tudo começou, no festival. Scarlett estava lá e nos disseram que deveríamos vir para a pousada mas... algo aconteceu. — ela levou a mão até a cabeça, levemente desembaraçando seus cabelos. — Eu não sei onde ela está. Eu só... vi a porta e torci pra que a abrissem o mais rápido possível.

— Espera aí. O que houve no festival? Minha nossa. — Rose rapidamente abraçou a corrente em seu pescoço.

— O assassino estava lá. Jackie quase foi morta no palco e outras pessoas se feriram. Estavam evacuando todo mundo da área e os guiando até o hospital quando deixamos o lugar. Depois disso, eu não sei de nada. — a jovem finalmente pôde se sentar no sofá da sala e aceitou de imediato o copo d'água que Kendra lhe entregou.

— Oh, céus. Mas você viu a Jesse? Digo, deve ter visto ela antes de sair de lá. Ela estava bem? — Madison continuou.

— Sim, sim, ela... ela estava bem quando nos separamos. Estava com o Sam. — Beatrice pressionou sua nuca com a mão esquerda, tentando diminuir a dor extrema.

— Chega de perguntas. Ela precisa descansar um pouco. Acho que a coisa mais sábia a se fazer agora é falar com os dois oficiais do lado de fora. É por isso que estão aqui. — Kendra afirmou com clemência e caminhou até a janela principal. Colocou suas mãos sobre o tecido e espiou o lado de fora.

— Tem... um problema. — a ruiva voltou a falar, encarando os pés apressados da loira.

— O que foi? — Rose perguntou.

— Não há ninguém lá fora. Eu olhei para todos os lados quando cheguei à varanda e tudo o que vi foi a escuridão engolindo esta pousada sem misericórdia. Não há absolutamente... ninguém. — Beatrice exclamou, voltando seus olhos à mulher na janela.

— Ela está certa. A viatura também sumiu. — Kendra arregalou seus olhos enquanto encarava o lado externo.

Apenas o brilho lento dos pisca-piscas no topo da escada. Azul, amarelo e vermelho. Azul, amarelo e vermelho. Outra vez e outra vez. Nada além do silêncio que se instalara sobre o chão de terra que rodeava a Woodhouse. Nenhum policial por perto.

— Bem, acho que agora somos... cinco mulheres sozinhas na noite de natal. Finalmente. — Kendra suspirou.

— Cala essa boca. — Madison deixou o salão irritada.

As três mulheres restantes voltaram a sentar-se no sofá principal e simplesmente esperaram. Decidiram que era melhor aguardar até que os outros hóspedes retornassem — ou torcer pra que isso acontecesse — do que sair naquela noite escura e procurar ajuda.

Dez incansáveis minutos. Rose permaneceu balançando sua perna esquerda, com preocupação, durante todo o tempo. Kendra e Beatrice não se permitiram pregar os olhos por sequer um segundo. Até que de repente...

— O que foi isso? Quem apagou as luzes? — Rose deu um pulo do sofá.

— Madison e Jullie não fariam isso. A energia deve ter acabado. — comentou Kendra.

Logo depois de seu comentário, uma segunda coisa aconteceu. O telefone no escritório tornou a fazer barulho e as três só viram como opção atendê-lo. A noite começara a ficar mais bizarra a cada segundo, e talvez aquela história que Kendra havia contado não fosse mais tão antônima à situação atual. Tamanha coincidência não poderia ser por acaso.

— A energia não foi cortada. Caso contrário, o telefone não funcionaria. — a francesa comentou. — Venham comigo até o escritório. Alguém deve ter desligado todos os interruptores no porão.

Beatrice foi a primeira a adentrar a sala e apanhar o aparelho. Com suas mãos trêmulas, ela o levou até o ouvido e perguntou quem estava falando. Da primeira vez, a voz ofegante não deu resposta. Mas alguns segundos depois, um "Olá" foi identificado.

— Quem está falando? — perguntou, mesmo que a resposta lhe parecesse óbvia ao extremo.

— Feliz natal, Beatrice. — respondeu.

— É... é a mesma voz. — ela sussurrou para as outras duas, logo voltando seus lábios ao telefone. — O que você quer? Lâche.

— Eu quero tornar sua noite mais divertida. Digo... se sentem de fato seguras sozinhas nesta casa? Em uma noite como essa? — ele gargalhou brevemente.

— Nenhum lugar é seguro. Ainda assim encontramos segurança uns nos outros. É assim que deve ser. — a francesa exclamou com clemência.

— Belo discurso. Mas deveria estar se perguntando se sua "segurança" é capaz de me impedir de fazer qualquer coisa até o amanhecer. A propósito, os policiais não puderam. Estou errado, Beatrice? — um silêncio sem fim se opôs à sua voz em seguida.

— Você quer muito jogar este jogo, não quer? Então vamos fazer isso. — ela respirou fundo. — Ninguém sente medo de você aqui dentro.

A jovem encaixou o telefone sobre a mesa outra vez e se afastou rapidamente. Como esperava, ele não voltou a tocar naquela noite. Mas Rose e Kendra a encaravam com julgamento, como se tivesse entregado sua segurança a ele.

— Você ficou doida? Acabou de matar todas nós! — Rose levou as mãos até a cabeça.

— Isso não vai nos matar. Mas... acredito que não sobrevivam se continuarem aí paradas. — Beatrice caminhou até o fim do corredor. — Por que estão me olhando assim?

— Porque não temos ideia do que diabos fazer. — Kendra admitiu. — Se ele entrar nesta casa, estamos mortas!

— Não, Kendra. Sinto muito por dizer isso, mas ninguém vem nos salvar desta vez. Então vamos agir sozinhas. — ela assentiu com a cabeça e se dirigiu até a sala outra vez.

O relógio continuava girando e cada lacuna percorrida pelo ponteiro significava um segundo a menos. Provavelmente um maluco encapuzado — o mesmo responsável pela tentativa de assassinar Jackie Argent e pelo sequestro de Scarlett Cortez — esperava, nesse mesmo momento, o instante certo para atacar. E por mais triste que parecesse, a porta principal, feita de madeira fina e frágil, não seria capaz de protegê-las por muito tempo.

Festival natalino de Shallow Wood, 22:34 da noite.

Josh e Penélope ainda circulavam por aquele inferno de corpos humanos. Grunhidos de dor, pedidos de socorro e revolta enquanto os oficiais levavam seus entes queridos para o hospital. O garoto de cabelos negros se perguntava como aquilo poderia estar acontecendo.

A polícia estava logo ali. As viaturas soavam o forte barulho das sirenes e mesmo assim, a cada instante, encontravam uma nova pessoa ferida. Seja lá quem estivesse fazendo aquilo, não tinha medo e nem se importaria com as fardas policiais.

— Algum sinal da Jackie? — ele perguntou, ainda olhando para trás, certificando-se de que aquele monstro não estava por perto.

— Nada ainda. Começo a pensar que não é mais seguro continuarmos aqui, Josh. — a menina olhou ao seu redor enquanto cobria o corpo com o casaco. O ar gélido voltara a incomodá-la.

— Tem razão. Ela pode ter ido para o hospital, não é? Sam e Jesse também vão para lá depois. Então... vamos encontrar uma ambulância e sair daqui. — Josh segurou sua mão.

Mas de maneira inconveniente, embora quisessem deixar o que sobrou do festival sangrento para trás o mais rápido possível, Penélope sentiu uma dor irresistível no topo de sua garganta quando olhou para frente.

Em primeiro lugar, pensaram ter visto um policial. Ele vestia uniforme e carregava uma arma consigo, o que tranquilizou os dois jovens por um segundo. Entretanto, logo depois, algo pareceu estranho em seu rosto. Seus olhos exalavam sangue escuro e denso como nunca antes.

O corpo dele caiu como se não fosse nada. E atrás do cadáver, aquela figura se revelou. Olhos escuros, botas pretas que cobriam suas pernas inteiras e a sua máscara opaca. Ainda segurava a faca no ar, no exato lugar onde o corpo daquele oficial deveria estar.

— Como... como vamos passar por ele, Josh? — Penélope recolheu suas próprias lágrimas e entregou a mão esquerda ao menino.

— Nós não vamos. Esqueça a ambulância e o hospital. Temos que sair daqui agora! — Josh começou a correr na direção contrária à multidão, seguindo o caminho até perto da entrada da floresta.

— Onde estamos indo? — perguntou eufórica, sendo levada pelas mãos frias do rapaz.

Os dois desapareceram por um segundo quando adentraram uma das torres de vigilância próximas ao local do evento. Era um pequeno prédio escuro próximo à mata, mais ou menos dez metros de altura, provavelmente não utilizado há anos. As escadas estavam empoeiradas e o lugar tinha o cheiro de qualquer animal que tenha sido morto ali dentro há semanas.

— Penélope, olha para mim! — Josh segurou seus dois braços antes de subirem a escada. Tentava não parecer assustado pra que ela se tranquilizasse.

— O que foi? Qual... qual é o plano, Josh? Ele está se aproximando! — Penny insistia, inquieta.

— Precisa me escutar! — Josh a segurou com mais força. — Ele vai entrar por essa porta em menos de trinta segundos. Se nos encontrar aqui, não temos saída a não ser essas escadas que devem levar ao topo da torre. E não há nada lá em cima.

— Eu não estou entendo. O que quer que eu faça? — perguntou, confusa.

— Quero que deixe este prédio por aquela passagem — Josh apontou para uma pequena porta que levava até a floresta. — e se esconda no primeiro lugar que encontrar. Não vá muito longe, a floresta está escura.

— Como... como assim? E quanto a você? — Penélope agarrou seu cabelo com as duas mãos, negando com a cabeça.

— Se eu for junto, ele vai nos encontrar de qualquer forma. Vou subir as escadas e tentar atraí-lo o quanto eu puder. — o menino respirou fundo. — Precisa fazer o que eu estou dizendo, Penny. É a única chance de nenhum de nós se machucar nesta noite.

— Mas e se... e se ele pegar você? E se... ah, meu Deus. — seu choro revolto havia retornado.

— Vou fazer de tudo pra ganhar tempo e sair daqui. Eu prometo te encontrar assim que despistá-lo, entendeu? Permaneça na entrada da floresta. Eu volto pra te buscar, Penny. Agora precisa ir. — ele mostrou o caminho e então se distanciou.

Mas aquele sentimento de negação continuava preso em seu peito. Algo deixava claro à garota que aquilo não daria certo. Ela sabia que não era a melhor escolha deixar o menino para trás, mas contrariá-lo agora era inútil. Então seguiu pela passagem e logo avistou a luz lunar a clarear a trilha florestal. Penélope contou até dez, milhares de vezes. Precisava se manter calma.

Quanto ao Joshua, respirou fundo e esperou até que reconhecesse suas botas escuras chegando à entrada da pequena construção. Então pôs suas mãos em cima do corrimão e, tomando fôlego, arriscou sua vida ao chamar a atenção da criatura.

— EI! EU ESTOU AQUI! VENHA ME PEGAR! — Josh aguardou o momento certo e, assim que teve certeza de que o assassino começara a correr mais rápido, ele subiu as escadas.

O garoto ultrapassava os degraus com a maior velocidade possível. Seu corpo estava cansado, seus braços fracos e seus pulmões ainda mais. Era uma noite fria — mesmo que sem neve alguma espalhada pela ilha — e qualquer objeto metálico no qual tocasse deveria fazer seus dedos arderem.

O Fantasma não demorou muito para alcançá-lo. Suas luvas de couro agarraram a perna de Joshua antes que ele percebesse. Não conseguia entender como ele chegou tão rápido ao topo da escada, mas imaginara que suas vestes pretas tivessem se esgueirado até lá em um ou dois passos.

Ele tentou se contorcer, escapar, gritar e espernear. Mas não conseguiu. O mascarado colocou seus punhos sobre o peito ofegante de Joshua, deixando que sentisse sua própria respiração perto do rosto. Ele podia enxergar a fúria em seus olhos negros.

— Me... me mata. — disse, entre suspiros. — Faça isso. FAÇA AGORA!

Ele implorou que fosse levado naquele momento. Mas ao invés disso, o Fantasma Negro decidiu esfregar sua lâmina sobre o braço do menino superficialmente. Nada além disso. Criou um corte que o fez lastimar ao ver seu sangue escorrendo. E então, se afastando lentamente, ele balançou a cabeça duas vezes.

Deixou claro que não iria matá-lo. Não agora. Ele precisava de outra pessoa primeiro e Josh provavelmente nunca entenderia o motivo pelo qual saiu vivo da torre naquela noite. Mas se o mascarado não o queria, então estava procurando por outra pessoa. E Josh sabia quem era.

— Não, não, não. Não! — chocou seu próprio punho contra a parede empoeirada e, logo depois, voltou a correr.

Josh atravessou a passagem sob a luz azul celeste que o seguia, e por fim chegou à floresta. As árvores estavam tão silenciosas àquele horário que poderiam até ranger com o vento mediano. Mas ele nem mesmo percebeu isso. Continuou revirando seus olhos em busca da silhueta daquela menina.

— PENÉLOPE! — gritou pela primeira vez, e voltou a ficar em silêncio.

A floresta fez o mesmo. As árvores pararam de se balançar e Josh encheu seus ouvidos com o som minucioso das folhas secas sobre o chão. Podia imaginar que alguém estava por perto, embora não pudesse enxergar esta pessoa.

— Penélope? — perguntou, desta vez em voz baixa. — Onde...

Nunca terminou aquela frase. Evans sentiu tremenda dor vinda do lado de trás de sua cabeça. Seus olhos se fecharam com a queda e só voltaram a se abrir quando seu rosto estava no chão, junto das folhas. Mesmo assim, com sua visão ofuscada pela tontura, continuou a clamar aquele nome. Penélope. Penélope. Penélope, mais uma vez. Nunca recebeu uma resposta.

Entretanto, é claro que nunca poderia afirmar com certeza em razão das circunstâncias, mas Josh guardara consigo a sensação de ter ouvido alguma coisa antes que apagasse por completo. Durante mínimos instantes, uma voz feminina vinda de perto e, gradativamente, se afastando. Como se estivesse sendo carregada para longe pela mesma pessoa que havia lhe atacado segundos atrás.

Pousada Woodhouse, 23:00 horas da noite.

— Não consigo entender. O que estão tentando dizer? Que... que um psicopata vai invadir esta casa e devemos impedi-lo? — Madison balançava a cabeça, tentando ignorar a situação.

— A ligação foi clara. Há alguém tentando entrar na Woodhouse. — Beatrice exclamou com convicção.

— Bom, isso é o que você acredita. — Kendra murmurou.

— Não! Não estavam na sala comigo? Como podem estar ignorando isso tudo? — a ruiva questionou com raiva e, no mesmo instante, sentiu seu estômago revirar com o barulho estridente vindo da entrada.

— O que é isso? — Kendra abraçou o próprio corpo.

A porta de madeira estava sendo quebrada. Provavelmente alguém tinha em mãos um machado ou algo do tipo. As batidas continuaram. Cada vez mais fortes e mais certeiras. Era evidente: a superfície amadeirada não aguentaria muito mais.

— É ele. — a francesa disse em voz alta, recuando passo a passo até a parede atrás dela. — Precisamos sair daqui. Se escondam!

Então aqueles momentos de agonia se iniciaram. Cada uma das hóspedes presentes no salão saiu andando em passos rápidos para um local diferente. O grupo se dissociou e logo após as batidas na porta se encerrarem, o silêncio engoliu aquela pousada mais uma vez.

Havia um convidado inoportuno naquela noite. Ele adentrou o local após derrubar a passagem a machadadas. Porque agora sabiam, uma vez que haviam escutado o barulho da arma sendo arrastada no chão, que ele carregava um machado.

Madison levou sua mão até a própria boca e torceu pra que ele não abrisse a porta do armário no corredor. Ao invés disso, o carrasco arrastou suas botas escuras sobre as madeiras barulhentas do corredor, mas não a viu. Nem pensou em abrir aquela porta, por mais alta que fosse sua respiração.

Ele seguiu pelas escadas e alcançou o segundo piso rapidamente. Se dirigiu até um dos quartos daquele corredor e começou a pressionar a maçaneta. E no momento em que percebeu que estava trancada, ele soube que havia alguém lá dentro.

Do outro lado da porta, Beatrice enxugava seus olhos lacrimosos com a ponta do vestido. Não podia gritar, nem sequer dizer uma palavra. Em alguns segundos o mascarado derrubaria aquela porta e então fim de jogo.

Mas ela não perdeu a calma. Embora seu coração pulasse pela boca, tentou pensar em uma rápida solução. Beatrice se deu conta de que aquele quarto era do Johnny, apesar de não tê-lo identificado quando entrou. Ela então se arrastou até o armário próximo e abriu a porta vagarosamente. Imaginou que o jovem Russell guardava algo que pudesse ajudá-la.

E estava correta. A francesa encontrou um taco de baseball na porta do armário. Não garantiria sua sobrevivência mas a ajudaria a passar por aquele monstro. Então Beatrice ergueu suas mãos, posicionou seu corpo à frente da porta, com os dois pés cravados no chão e o taco apontado para a saída.

Tudo aconteceu tão rápido que ela mal poderia explicar aquilo com exatidão. Mas o que se lembra com clareza é que, assim que a porta foi aberta e ela identificou a máscara negra, só pôde pensar em empurrá-lo com o taco o mais longe possível. E foi o que fez.

A batida em seu rosto foi tão forte e certeira que o fez se desequilibrar. Beatrice assistiu o corpo daquele assassino sendo jogado até o início da escadaria. E assim que percebeu o que havia feito, começou a correr.

A ruiva pegou o caminho contrário à escada em que ele deveria estar, e desceu em passos rápidos até o corredor dos fundos. Então avistou uma luz fraca vinda da cozinha, e não hesitou em segui-la.

— O que estão fazendo aqui? — estranhou a inquietação nos rostos de Madison e Jullie assim que adentrou o novo cômodo.

— Ouvimos o barulho vindo do andar de cima. Eu encontrei a vela acesa na cozinha e então... Jullie estava aqui. — explicou. — Onde ele está?

— Provavelmente vindo pra cá. Me ajudem! — Beatrice colocou suas mãos sobre a fechadura pesada da porta que separava o corredor e a cozinha.

— E o que pretendem fazer? — perguntou Jullie, abraçando o próprio corpo, sozinha. — Santo Deus. Acho que estamos enlouquecendo.

— Vocês duas vão seguir aquele caminho — a francesa apontou para a outra saída. — e deixar esta pousada o mais rápido possível. Encontrem Kendra e Rose antes disso.

— Quê? Ficou doida? E o que você vai fazer? — Madison cruzou os braços.

— Vou ganhar tempo pra que façam isso. Essa porta não vai aguentar muito tempo. Saiam logo daqui! — implorou ela, enquanto tentava impedir que o maluco do outro lado adentrasse o cômodo.

— Beatrice, está louca! Não podemos deixá-la. — Jullie insistiu.

— Nada que digam vai me fazer mudar de ideia. Por favor, só peço que encontrem ajuda fora dessa pousada antes que seja tarde. — ela respirou fundo, apanhou o taco outra vez e então esperou. — Agora vão!

As duas mulheres deixaram a cozinha, uma vez que não tinham outra escolha. Quanto à jovem Petit, sentiu seu peito arder mais uma vez ao vê-lo atravessando a porta principal. Suas mãos tremiam como se fossem desabar de seu corpo a qualquer instante. Mesmo assim, ela continuou firme.

O mascarado não hesitou. Avançou seu braço — cujos dedos seguravam o machado — na direção da cabeça da menina. Ela desviou, por sorte. Ele tentou outra vez e acabou fazendo com que a ruiva tivesse de impulsionar o próprio corpo para trás.

Aquilo parecia loucura. Beatrice nunca imaginou que pudesse ser morta por um maníaco com um machado em uma ilha remota. Mas aquela era sua realidade, e tudo no que conseguia pensar era se Madison e Jullie escapariam a tempo.

De repente, sentiu seus dedos escorregarem sobre a superfície amadeirada em suas mãos. Ela deixou o seu único armamento cair no chão. Estava sozinha agora. Então começou a se afastar, ainda no chão, tentando ganhar a maior distância possível.

Mais uma vez, ele não teve misericórdia alguma ao tentar acertá-la com o machado. Embora tivesse colocado toda a sua força sobre a arma, só conseguiu que ela atingisse o chão entre as pernas da francesa. E foi quando ela revidou.

Beatrice agarrou o bastão e o levou até aquela máscara escura. Agora sentia que o jogo havia virado outra vez. Ele caiu no chão, sem nada em mãos. Estava totalmente desprotegido e bastava um toque pra que sua verdadeira identidade fosse revelada.

Mas ao invés disso, a euforia em seu coração não permitiu que a garota o fizesse. Beatrice aproveitou a deixa e saiu correndo pela porta mais próxima. Para a sua surpresa, encontrou as quatro mulheres no salão principal.

— Você está viva! Como foi capaz de fazer isso? Enlouqueceu de uma vez por todas? — Kendra caminhou em passos brutos até ela.

— Eu... eu não tinha escolha. Pedi que deixassem a pousada. Por que não fizeram isso? — ela questionou, enquanto recuperava o fôlego.

— Não deixaríamos você para trás. O que houve com ele? — Rose exclamou, trêmula.

— Ainda está na cozinha, provavelmente desacordado. Precisamos voltar e tirar aquela máscara do seu rosto. — Beatrice insistiu, pronta para pegar o caminho de volta.

— Nada disso! Vamos sair por aquela porta imediatamente. Dane-se a sua identidade. — Kendra se dirigiu até a porta de saída que, aliás, se encontrava destruída.

— É claro que não! Só deixarei este lugar depois de saber quem é o responsável por isso tudo. — a francesa voltou correndo até o local.

Jullie e Madison tentaram impedi-la, mas era tarde. Para o seu azar, quando adentrou a cozinha não encontrou nada além de um pouco de sangue sobre o chão esbranquiçado. O Fantasma já havia deixado o lugar. Beatrice levou suas mãos até a cabeça em negação, incrédula.

E então, como se cada acontecimento naquela noite tivesse sido milimetricamente calculado, um grito veio do salão principal. Se assemelhava à voz de Madison, mas ela não tinha certeza. Então voltou até lá o mais rápido possível.

O espanto nos olhos de cada uma delas era evidente. Estavam assustadas com alguma coisa, mas nenhuma conseguia explicar o porquê. Então Beatrice levou seus olhos até o teto por conta própria, e logo noticiou que havia um buraco enorme entre as madeiras. Com receio, olhou para baixo. E por fim encontrou a coisa mais bizarra que poderia ter visto naquela noite.

Seis horas se passaram desde que o restante dos hóspedes havia partido, deixando que os dois policiais do lado de fora fossem os únicos no terreno naquela madrugada, além das mulheres no salão, é claro. Embora nenhum dos dois tenha sido visto durante todo este tempo, imaginaram que tivessem simplesmente voltado para a delegacia.

O desespero se envolveu em seus corpos então, pois agora sabiam que os dois oficiais não haviam voltado para a delegacia. Pelo menos um deles não. O corpo sobre o carpete era de um guarda da ilha, identificado pelo crachá em seu peito. Olhos perfurados, braços amarrados e um tecido escuro em sua boca. Estava morto.

— Precisamos sair daqui agora. — Jullie comentou em voz baixa. — EU QUERO IR EMBORA! — se exaltou em seguida.

A mulher demonstrava um medo irracional. Tinha vontade de correr para a varanda e sair gritando por ajuda no meio da noite, mesmo que tivesse que atravessar a floresta maldita àquela hora. Entretanto, não o fez. Porque seria covardia deixar as outras quatro mulheres sozinhas naquele inferno e também, é claro, agora não tinha mais a chance de fugir.

Isso porque Jullie virou seu rosto devagar na direção da sala de estar e, em segundos rápidos, teve a impressão de um vulto se esgueirando para perto da enorme árvore de natal do salão. Era o único ponto de iluminação naquele cômodo escuro. Elas se juntaram então, outra vez.

Beatrice se colocou à frente das outras quatro, deixando que seu corpo fosse utilizado como escudo. Mas embora a criatura ainda estivesse a alguns metros de distância, Rose tomou uma atitude precipitada. Seu medo e a vontade exuberante de sair viva daquela casa justificariam, no outro dia, o que ela fez.

A senhora agarrou os fios que ligavam a enorme árvore de enfeites à tomada, com fúria. Rose assim não só desligou as luzes de uma vez como também acabou trazendo a enorme decoração ao chão. Agora podiam enxergar o próprio demônio da noite de natal do outro lado da sala, sendo aquela árvore a única coisa a separá-las dele.

— Não pense em se aproximar, criatura diabólica. — Rose apontou o dedo indicador ao assassino, fitando-o sem medo. — Eu não sei que espírito imundo o consumiu. Mas... VOCÊ NÃO PERTENCE A ESTA TERRA!

— Fique... fique longe de nós. FIQUE LONGE DE TODAS NÓS! — Jullie entrou em pânico e deixou o salão rapidamente.

A mulher abandonou as demais hóspedes e subiu as escadas com desespero. Preocupadas em ir atrás da Morris, Beatrice e o restante deixaram que aquela figura tenebrosa escapasse outra vez. Ninguém viu qual caminho tomou, só sabiam que ainda estava na casa.

Então o silêncio voltou a ser presente. Os passos de Kendra, que subia a escadaria na frente das outras, causavam arrepios ao se aproximarem da madeira envelhecida. Não conseguiam enxergar Jullie Morris naquela escuridão total.

Até que, de repente, ouviram um grunhido de medo. Seus suspiros nervosos indicavam a localização da mulher e também, infelizmente, a do mascarado. Morris se encontrava rodeada pelos braços escuros do assassino, ambos próximos à grande vidraça do corredor principal.

Não sabiam o que fazer. Rose rezava sem parar, pedindo ao seu Deus que protegesse aquela mulher. Kendra e Beatrice continuaram paralisadas. Ele carregava aquele machado afiado na mão esquerda e, com a outra, apertava cada vez mais o pescoço de Jullie. Iria matá-la se ninguém fizesse nada.

Mas alguém fez. Madison Greene provou, nos últimos minutos daquela agoniante noite natalina, que usufruía de coragem tamanha, como a sua filha. E embora não tivesse nada em mãos, muito menos a certeza de que seu plano daria certo, ela o executou.

E fez aquilo por motivos que ficariam claros nos próximos dias de estadia naquela ilha, se alguém sobrevivesse para aproveitá-los, é claro. Madison protegeu Jullie Morris com suas próprias mãos porque sentiu que precisava fazer isso. Ela então jogou seu próprio corpo, com os braços esticados, na direção daquele monstro.

O Fantasma Negro foi atingido com força pelos dedos furiosos da mulher. Tudo aconteceu tão rápido que ninguém teve tempo de evitar. Em dois segundos o corredor se preencheu com alguns cacos de vidro e um pouco de sangue. E graças a isso, Jullie se libertou das garras demoníacas e saiu de perto da janela.

Quanto à mulher que salvara sua vida e o intruso, foram arrastados para o lado de fora da construção em uma queda de mais ou menos oito metros. O barulho da vidraça assustou às outras três, que ficaram sem reação.

A luta acabou quando seus corpos caíram no chão escuro e frio, coberto apenas pela terra úmida do início da madrugada. Ainda tinham enroscados em seus braços as luzes que enfeitavam a janela naquele momento. Se apagaram assim que os fios foram arrebentados com a queda.

Após um tempo encarando o caminho sombrio até lá embaixo, puderam notar que Greene, na verdade, estava sozinha. Não ficaram surpresas com o misterioso desaparecimento do assassino, é claro, embora agora soubessem que ele não havia sido abatido com o golpe, enquanto Madison parecia desacordada.

Festival natalino de Shallow Wood, 23:20 da noite.

Acredita-se que depois de um forte tornado, uma ilha remota sempre volta a encontrar a calmaria. Não neste caso, porque o tornado deixara também a dor dos familiares que perderam seus entes no que deveria ser uma comemoração natalina.

As ambulâncias guiaram o restante dos civis até o hospital, enquanto agora, o que restou daquele festival se dava por pequenos enfeites jogados no chão frio e algumas pessoas que ainda vagavam pela cena do crime. Sam e Jesse estavam entre elas, uma vez que não haviam desistido de encontrar a dançarina perdida.

Também haviam esbarrado com o xerife Tom, que os alertou sobre o perigo de continuarem naquela área. Ele parecia desolado, aliás. Sentia o peso daquelas mortes em suas costas já que concordara em continuar com o evento natalino durante uma série de assassinatos sem respostas. Que ideia tola.

— O silêncio está me matando. Não há mais ninguém aqui, Sam. — Jesse escorou a cabeça sobre o ombro do rapaz, cedendo o resto de suas forças. — Está me ouvindo?

O ruivo continuou calado. Então a menina o encarou, e em seguida à direção para a qual olhava. Enxergou movimentação perto da floresta, e Sam finalmente exclamou alguma coisa.

— Consegue ver aquilo também. Não consegue? Jesse... acho que pode ser a Jackie. — Sam começou a caminhar mais rápido até o emaranhado de árvores escuras.

E finalmente, após terem se desencontrado durante a apresentação, Greene voltou a ver os olhos azuis da dançarina. Seu vestido ainda tinha sangue e suas mãos continuavam trêmulas. Um olhar frio, congelado, paralisado. Estava em transe.

— Jackie? Ah, minha nossa. Jackie! — a garota correu até ela e a cobriu com um casaco na primeira oportunidade.

— N... não... não. — sussurrou. Assustada, virou devagar o seu olhar vago até o casal. — Essa noite não chega ao fim.

— Tudo vai ficar bem. Estamos aqui agora e vamos levá-la até o hospital. Onde você estava, Jackie? — Jesse questionou, enquanto guiava a garota de rosto pálido para longe da floresta.

— Eu não sei. — respondeu com tristeza em seu peito. — Continuei vagando enquanto esquivava meu corpo daqueles que se deixavam cair pelo chão. Eu... eu não consegui ajudar nenhum deles. — lamentou com um suspiro de dor, e então deixou que uma quantia de lágrimas escorresse.

— Não foi sua culpa, Jackie. Ninguém sabia o que iria acontecer. — Sam exclamou, com conforto em sua voz.

— Exceto o garoto na floresta. — ela terminou a própria fala, e derramou sobre os outros dois uma dúvida repentina.

— O quê? Que... que garoto? — Jesse parou de se mover.

— Estava desacordado. — continuou. — Eu... prometi que traria ajuda. Podemos ajudá-lo, não podemos? — ela sorriu de maneira simplória. — Seu nome era Joshua.

Então Jesse e Sam sentiram um calafrio. Foi como se soubessem que as palavras de Jackie tendessem a ser apenas sequelas de seu trauma recente, mas ainda assim não poderiam descartar a possibilidade de que ela estivesse dizendo a verdade.

Então voltaram até o local onde ela havia sido encontrada e, para a sua surpresa, Josh estava no chão. As folhas secas cobriam seu corpo e ele ainda estava desacordado. Provavelmente se não ouvissem à garota, nunca o teriam encontrado.

Pousada Woodhouse, 23:30 da noite.

O relógio continuou a girar e suas cabeças também gostariam de tomar o mesmo rumo. A sensação de euforia e indecisão seguiu presente por mais alguns momentos, enquanto pensavam no que fazer. A porta da frente ainda trazia o vento gélido de fim de noite e a cada instante se tornava mais difícil raciocinar.

Havia uma mulher desacordada do lado de fora, precisavam saber o que fazer imediatamente. Mas era perigoso ir até lá sem um plano. E se fosse uma armadilha? E se alguém estivesse observando aquela pousada nesse exato momento? Provavelmente estava.

— Acho que sabemos exatamente o que deve acontecer quando passarmos por aquela porta. — Kendra engoliu em seco, olhando para as outras.

— É evidente. Se formos buscar Madison agora, ele voltará. E então estaremos perdidas outra vez. E desta vez com uma mulher desacordada entre nós. — Beatrice andava de um lado ao outro do salão.

— Mas não podemos deixá-la sozinha lá por mais nem um segundo. — Jullie se manifestou, após alguns minutos em silêncio no pé da escada.

— Jullie, temos que prezar nossa segurança. — Kendra respondeu. — Aquela mulher...

— Aquela mulher salvou a minha vida! Se têm medo de atravessar aquela porta e andar alguns metros no escuro, podem subir as escadas e voltar para seus dormitórios. Eu faço isso. — Morris sobrepôs levemente o casaco sobre seus ombros e saiu em direção à porta principal.

— Jullie! Espera. Vamos fazer isso juntas. Madison é uma de nós. — Beatrice fez uma pequena pausa, andando até o centro do salão. — Essa pode ser a pior noite de nossas vidas, mas... mas pela manhã, estaremos vivas.

— E se isso não dar certo? E se... e se aquele monstro nos pegar? — Rose indagou, respirando de maneira ofegante e com vermelhidão em seus olhos.

— Ele não vai, Rose, confie em mim. — a ruiva pousou sua mão sobre a da senhora, carregando-a até perto das outras duas mulheres. — Estamos com medo, isso é fato. Mas podemos fazer isso, certo? Esta noite vamos tentar mudar o jogo.

Cada peça estava exatamente onde deveria estar naquele momento. A tempestade passageira no hospital de Shallow Wood estava só começando, enquanto o terror inacabável perseguia cinco das sobreviventes daquele pesadelo.

Entretanto, Beatrice tinha um plano. Jullie e Rose aguardariam dentro da casa enquanto ela e Kendra adentrariam a escuridão para recuperar a mulher desacordada. Mas a francesa sabia que o mascarado não perderia tempo, o que entregava a Jullie e Rose a obrigação de defender aquela pousada. Cada mínimo detalhe foi passado e repassado mais de uma vez. Se o culpado aparecesse, atacariam-no sem pensar duas vezes.

— Já não deveriam ter voltado? — Jullie perguntara pela terceira vez consecutiva enquanto aguardavam. Suas mãos tremiam ao segurar o bastão que Beatrice a havia entregue.

— Fique calma, Morris. — Rose sussurrou. — Já devem ter encontrado Madison, tenho certeza de que as veremos chegando em alguns instantes.

Logo após, as duas se calaram novamente. Voltaram a averiguar as janelas e a porta da frente como se sua vida dependesse daquilo — e de fato dependia.

Era como se um pequeno pêndulo balançasse ao redor de suas cabeças rapidamente. E sabiam que quando ele parasse de girar, uma visita inesperada deveriam receber. Sem batidas na porta, sem um aviso prévio.

Talvez se tratasse de Beatrice, ofegante e com uma notícia não tão boa em seus lábios. Talvez Kendra, com sangue em seus sapatos, ou Madison sendo carregada pelas duas. Frankie, que não dera sinal algum desde que deixou a pousada no início da noite. Ou talvez, por mais que não quisessem, recebessem a visita inesperada de um hóspede sem convite. Um hóspede anônimo.

E então, quando se permitiram descansar as pálpebras por alguns segundos, o convidado se aproximou. O chão amadeirado da varanda rangeu lentamente, indicando os passos pesados de um rosto ainda não identificado na escuridão. Jullie se posicionou perto da entrada, apontando o taco diretamente à porta, enquanto Rose permaneceu atrás dela.

— Apareça. — murmurou da primeira vez, com medo. — APAREÇA! APAREÇA AGORA! — reafirmou com convicção.

E como pedido pela própria, a criatura se mostrou. Os pisca-piscas iluminaram parcialmente seu rosto e seu braço direito. Não restaram dúvidas: a máscara deixava claro que aquele era o intruso. E ele continuou chegando cada vez mais perto em passos curtos, até que pudesse finalmente erguer suas mãos e alcançar a mulher.

Mas antes que o fizesse, Jullie tomou uma atitude. Não hesitou em utilizar a única arma que tinha consigo e, deixando de lado a sua agonia em enfrentar aquele perseguidor, acertou o primeiro golpe em seu rosto. Rose parecia enfurecida da mesma forma, e colocou suas mãos sobre o pescoço do mascarado, empurrando-o contra a parede.

Morris continuou o trabalho e chocou o bastão contra seu estômago mais três vezes. Sentia como se fosse um monstro, como ele. Mas de que outra forma acabar com um senão assim? Então não deu um passo atrás em momento algum.

Finalmente, aliviando a sensação de incerteza que Rose e Jullie carregavam, Beatrice e Kendra adentraram a pousada com Madison em seus braços. A mulher continuava desacordada e foi colocada no sofá o mais rápido possível. Kendra parecia pálida, sua respiração ofegante e suas mãos tremendo cada vez mais.

— Como... como fizeram isso? — perguntou assustada, ao ver a criatura aparentemente inconsciente sobre o carpete do salão.

— Não importa mais. Ele não pode mais ferir ninguém agora. — comentou Jullie, se afastando vagarosamente.

— Está morto? — Rose questionou.

Então Beatrice voltou do corredor da cozinha, sem que ninguém tivesse dado sua falta. Ela agarrou uma enorme faca de cozinha com as duas mãos e a empurrou com toda a sua força na direção do peito do assassino. Respirando fundo e recuperando seu fôlego, retirou o objeto com cuidado.

— Agora está. — exclamou, deixando seu corpo escorregar sobre a parede lentamente.

Então a sensação de descanso finalmente se aproximou, como um dever cumprido. Ainda parecia horrível que um cadáver no salão principal demonstrasse tanta segurança às quatro mulheres. Mas isso se dava pelo fato de que, caso não tivessem acabado com ele, estariam em seu lugar. Elas continuaram encarando uma à outra por mais alguns minutos, incrédulas com a situação.

— Tenho a estranha sensação de que há algo... errado. — exclamou Rose, ainda com os olhos vidrados sobre o sangue no carpete.

E talvez, de fato houvesse. Beatrice compartilhou do mesmo sentimento ao despertar seus olhos e se aproximar mais ainda do cadáver do assassino. Suposto assassino. Porque em suas mãos não carregava nenhuma faca ou machado. Em seus pés, não calçava as botas escuras que havia utilizado algumas horas atrás. Aquele não era o culpado.

— Não... não pode ser. — Kendra levou a mão até seus lábios, dando um passo para trás ao ter percebido o que acontecera ali. — O que foi que fizemos?

— Quem está por trás dessa máscara? — Jullie perguntou, agoniada. — Beatrice! Tire a máscara de uma vez.

A ruiva hesitou de primeira, com pavor e incerteza. Então se aproximou vagarosamente, abaixou seus dedos sobre a face coberta e finalmente puxou aquele pedaço de plástico. A verdade fora tênue e certa: aquilo era uma armadilha.

Debaixo do tecido escuro se revelou o rosto de um dos policiais que deviam fazer a ronda naquela noite, o único que não havia sido visto até agora. Sua boca fora presa por uma mordaça para que não pudesse gritar ou dizer alguma coisa, suas mãos amarradas da mesma forma debaixo da fantasia. Por fim, seu uniforme azul claro indicava três cortes profundos ao redor do peito.

— Eu não acredito. Ele nos fez pensar que... que... — as palavras eram dolorosas demais pra que fossem ditas tão rapidamente. — fomos enganadas. — Jullie concluiu.

— Ele... já devia estar morto. Com certeza estava. — Rose balançava sua cabeça de um lado para o outro.

— Como poderia? Você mesma o viu entrando por aquela porta. Ele foi colocado debaixo dessas vestes e então... mandado para cá. — Jullie rebateu, aflita. — Nós o matamos.

— E o que devemos fazer sobre isso? Vamos ser presas? Não posso ir para a cadeia! — Kendra começou a arrastar seus dedos brutalmente sobre seus cabelos.

— Fique quieta. Ninguém vai ser presa aqui. — Beatrice se abaixou perto do corpo. — Isso... isso é um segredo a partir de agora.

— Segredo? Não vamos contar a ninguém? — Rose questionou.

— Não podemos. Eu gostaria de dizer que foi legítima defesa ou algo do tipo, mas... somos cinco mulheres ao lado de um corpo. Há outro corpo na sala ao lado e temos sangue em nossas mãos. Acham mesmo que levar a história até a delegacia é a melhor opção? — a francesa cruzou seus braços, esperando que alguém mais se manifestasse.

— Não tenho mais paciência para aguentar isso tudo. Eu estou cansada. — Kendra se sentou no sofá. — Vamos esconder o corpo e acabar com essa história de uma vez por todas.

— Estão realmente pensando em fazer isso? Como vamos conseguir dormir à noite? Isso é bizarro! — Jullie protestou por uma última vez.

— Da mesma forma que dormimos sabendo que um de nós é um assassino. As coisas ficarão piores nos próximos dias, se ainda estivermos aqui para presenciá-las. Tomar uma decisão assim não vai mudar nada nessa história. — Beatrice explicou. — Então... mais alguém tem outra ideia?

E desta vez ninguém disse nada. Então uma decisão foi tomada, por fim. Kendra e Beatrice se ofereceram para cuidar do trabalho sujo, uma vez que eram as únicas a não demonstrar repúdio ou agonia ao carregar um corpo até a floresta escura.

O cadáver do policial foi enterrado pouco antes das onze horas e quarenta minutos daquela noite, tendo sido coberto com a terra escura que circundava as árvores perto da pousada. A francesa e a viúva retornaram, então, para dentro da casa após alguns minutos.

— Owen Funchs. — a ruiva murmurou ao se sentar perto das outras. — O nome dele era Owen Funchs. Ele... tinha duas filhas e uma esposa.

— Como sabe disso? — Jullie perguntou sem olhar nos olhos da jovem.

— Vi a foto na carteira. — Beatrice colocou o objeto de couro sobre o sofá. — Acho que esse era o seu primeiro mês na delegacia em Shallow Wood. As datas batiam.

— Já chega. Não vamos continuar falando sobre o homem que matamos. — Kendra apanhou a carteira e se caminhou em passos rápidos até a lareira debaixo da televisão. — Que descanse em paz. — atirou-a no fogo sem hesitar.

Andar de cima da Woodhouse, 23:45 da noite.

Finalmente o descanso após uma noite perturbadora. A porta da frente fora coberta com um tecido qualquer pra que, ao menos, se sentissem mais seguras durante a madrugada fria que se aproximava. Rose se deitou em seu quarto e Madison continuava no sofá, desacordada. Kendra permaneceu ao lado dela.

— Ainda pensando no homem morto? — Jullie se aproximou da francesa, debruçada sobre o corrimão da escada. Ela tinha uma xícara de chá em mãos.

— Não exatamente. Só... continuo pensando sobre tudo. Sem parar. —Beatrice respondeu, bebendo um gole do líquido fervente.

— Eu também. — Jullie suspirou.

— Pensa sobre o quê? — a outra insistiu.

— Sobre a minha filha, sobre Madison não acordar mais, sobre aquele monstro e... sobre algo que me incomoda. — ela levou seus olhos até o teto amadeirado em cima de suas cabeças. — Ouvimos batidas no início desta noite. E o primeiro corpo a ser encontrado também veio lá de cima.

— O que quer dizer? — a ruiva seguiu o olhar pretensioso de Morris.

— Que quem quer que tenha feito isso, não utilizou a porta da frente na primeira vez que esteve aqui. Não saberíamos se ainda estivesse na casa. — uma pausa em sua voz, então terminou. — E... ainda é noite de natal.

As últimas palavras garantiram à francesa o sentimento mais horripilante que tivera nas últimas vinte e quatro horas: um arrepio percorrendo sua espinha e esgueirando-se diretamente sobre seus braços. O vento gélido acabara de contribuir para a sensação de pavor e, ao mesmo tempo, a certeza de que as sombras do natal mais bizarro de sua vida não haviam ido embora por completo.

Então um grito, a confirmação de que havia algo de errado. Uma voz abafada, presa, angustiante. As duas identificaram que vinha do quarto de Rose. O único problema era que ele ficava do outro lado do corredor, garantindo que teriam de se apressar para descobrir o que aconteceu.

A surpresa que a senhora recebeu não foi agradável. Estava prestes a tirar um cochilo após sua oração diária quando ouviu um barulho vindo da janela principal. Não teve tempo de chegar até a porta, ele a alcançou primeiro.

— Eu prometo não contar nada. Prometo de todas as formas! Por favor... por... favor. — murmurava em protesto às suas luvas que a agarravam com força.

Ele a fez ajoelhar diante de seus pés e ainda permitiu que continuasse com sua corrente na mão. Era o que a fazia ter um resto de fé guardada em seu peito. Rose tremia da cabeça às pernas, seus dedos mal conseguiam segurar o pingente.

— Peço encarecidamente que se há alguém olhando por mim agora, que... que me ajude. — seu choro era de medo, não de tristeza. Sua garganta não conseguia mais conter aquela angústia. — Por favor, meu Deus. Por favor!

Ela manteve os olhos na direção da janela atrás do mascarado, evitando encará-lo sequer por um instante. Rose sabia que não passaria daquela noite, mas não gostaria de entregar sua vida àquele monstro desta forma. Infelizmente, alguém teria de fazer isso. Noites assim não acabam com finais felizes.

— Sem perdão. — ele sussurrou perto de seu ouvido, levando o dedo indicador da mulher até sua própria boca, fazendo com que ela calasse a si mesma.

— Gordie... — foi a última palavra dita pela senhora naquela noite, provavelmente em uma tentativa de reza a algo ou alguém que já havia ido embora há algum tempo.

O assassino ergueu seu pescoço com as duas mãos, estrangulando suas veias até que ela perdesse a chance de respiração. Então a aproximou da parede e apanhou o machado que carregava no início daquela noite. Era hora de usá-lo da forma certa.

Começou empurrando a ponta da arma contra os punhos da mulher, enquanto ela gritava e esperneava, mesmo que aquilo não fosse tirá-la de lá. As lágrimas ácidas já tinham atingido suas bochechas, seu pescoço tinha as marcas escuras causadas pelas mãos daquele psicopata e seu corpo continuava relutante.

O Fantasma Negro esgueirou a mão sobre a perna da mulher, trazendo-a finalmente até sua barriga e por fim alcançando o machado outra vez. Depois disso, voltou a multilá-la com a ponta afiada de metal. Rose chegou à conclusão de que ele não queria apenas matá-la, e sim utilizar de seu corpo como um aviso. Era doentio.

Com o passar dos segundos seu choro foi ficando cada vez mais baixo. Em contrapartida, os gritos de Beatrice e Jullie aumentavam do outro lado da porta. Mas o assassino sabia que tentariam intervir em seu plano, então cobriu a entrada com toda a mobilha do quarto. Nunca adentrariam o local a tempo.

Os gritos pararam. A respiração de Rose se acalmou quando seu último batimento se deu. Estava morta afinal. O mascarado havia feito outra vítima nos últimos dez minutos antes que a comemoração natalina chegasse ao fim. Aquela teria sido sua marca, seu aviso, recado ou demonstração do que estava prestes a fazer.

A pousada agarrou o silêncio noturno mais uma vez. Beatrice conseguiu abrir a porta do quarto da vítima alguns minutos depois, quando a criatura já havia ido embora, é claro. O que encontraram dentro do cômodo não era nada agradável. E naquele devaneio entre a madrugada e o nascer do sol, tudo o que se ouvia eram os prantos desesperados de Jullie Morris. Ela entrou em pânico, teve crises de ansiedade após deixar o corredor e só voltou a se acalmar horas depois.

No quarto de Rose, a parede fora manchada com o seu sangue e as luzes de natal utilizadas ao redor de seu corpo. Ele pendurou os braços e pernas da senhora sobre a madeira e abriu, de forma literal, seu abdômen. O sangue foi usado para escrever a frase que deixara acima de sua cabeça, perto do teto.

"— Nem mesmo os mortos podem salvar você agora."

Hospital Geral de Shallow Wood, 23:54 da noite.

O silêncio finalmente voltou a percorrer os corredores do grande prédio. As famílias desamparadas foram abrigadas e levadas de volta ao hotel ou às suas casas, enquanto os enfermos permaneceriam no hospital até o dia seguinte, quando a grande barca partiria.

Melissa adormeceu sobre a poltrona ao lado da cama de Johnny, ainda segurando sua mão sobre o cobertor. Josh e Jackie também haviam sido levados para a sala de exames, o que fazia de Sam e Jesse os únicos jovens naquela ala do hospital. Ademais, era quase meia noite e a garota não havia recebido notícia alguma sobre sua mãe ou qualquer outra pessoa da pousada.

— Ainda pensando neles? — o rapaz esticou seu braço sobre o encosto atrás de Jesse, podendo abraçá-la facilmente.

— Não exatamente. Mas fico lembrando das palavras dele no festival... — a tensão em seus ombros era visível.

— Acho que precisa de uma pausa, Jesse. Descanse essa noite e amanhã falamos sobre isso. Tudo bem? — Sam esboçou um sorriso sincero e a garota assentiu com a cabeça.

— É quase meia noite. — ela suspirou, averiguando o celular em seu bolso. — Gostaria que tudo isso desaparecesse depois da próxima badalada.

— Até eu? — o garoto arqueou a sobrancelha.

— Não seja bobo. — Jesse sorriu.

— Bom... eu posso te mostrar uma coisa? Quero que venha comigo. — Sam estendeu sua mão.

[Música: Snowman - Sia]

Os dois caminharam em passos curtos até a saída do prédio. O vento silencioso trazia uma minúscula dose de calmaria aos dois, como se a tempestade estivesse finalmente indo embora. Sobre suas cabeças, os enfeites verdes e vermelhos caíam vagarosamente, iluminando a passagem principal.

— Acho que não tenho do que reclamar. Estou tão feliz que estamos aqui, Sam. — Jesse descansou sua cabeça sobre o peito dele, podendo sentir seus batimentos acelerados.

— É... é sobre isso que quero falar. Eu quero te dar uma coisa, Jesse. — o menino retirou do bolso do casaco um pequeno colar.

— O que é isso? Ah... ah meu Deus, Sam. Eu não comprei nada pra você. — Jesse respirou fundo, com decepção.

— Não tem problema. — ele levou o pingente até o pescoço da menina, contornando sua pele da forma mais cuidadosa possível. — É um colar do tempo. Lembra de quando nos conhecemos na escola, naquela manhã?

— É claro que eu lembro. As coisas passaram tão rápido. Nós éramos apenas crianças, Sammy... — suas bochecas tomaram um tom cálido enquanto ela revirava os olhos.

— Isso. Eu quero que guarde isso com você até o dia em que eu não esteja mais aqui. Ou... até que sinta que deve deixá-lo ir. — ele esgueirou sua mão até a dela depois de encaixar o colar. — Quero que se lembre, Jesse, que não importa o que aconteça no fim dessa história doida, eu estarei com você. E... bem, quando chegar a hora de nos despedirmos, creio que ainda estaremos juntos em nossas memórias. Em algum lugar do tempo.

— Eu... — ela permaneceu em silêncio por alguns segundos. Não poderia guardar outro sentimento a não ser o alívio de tê-lo ao seu lado. — Eu te amo, Sam Colleman.

— Eu te amo mais, Jesse Greene. — o garoto arrastou seus dedos levemente sobre a pele árdua dela.

E então, debaixo dos enfeites natalinos e exatamente dez segundos antes que o relógio acrescentasse mais dois zeros a si, seus lábios se juntaram. Sam e Jesse aproximaram seus corpos como se fizessem parte de uma pequena cúpula transparente, onde estariam seguros para o resto de suas vidas. E era essa a única coisa na qual Jesse conseguiria pensar agora.

Mas como ainda precisavam retornar ao cenário horrendo do qual vieram, seu tempo de devaneio não durou muito. Logo uma mulher, provavelmente funcionária do hospital, interrompeu o casal com cautela ao cutucar o ombro da menina.

— Com licença. Seu nome é Jesse Greene? — ela esperou que a jovem respondesse, e então lhe entregou um pequeno envelope. — Deixaram isso para você na recepção.

A mulher se afastou, e então os dois perceberam que estavam sozinhos outra vez. A ventania no lado de fora do hospital tornou a tocar a nuca da menina outra vez. Agora sem arrepios, pois ela continuava paralisada, encarando o papel em suas mãos.

Por fim, encerrando de uma vez por todas o natal em Shallow Wood, a última badalada tocou. O barulho estridente causou certa comoção aos dois jovens que ainda aguardavam na porta do hospital, e que provavelmente passariam a madrugada naquele corredor, aguardando seus amigos.

A questão é que nem todas as histórias de natal são capazes de dizer toda a verdade. Essa é uma história da qual aqueles adolescentes jamais esqueceriam, tampouco podiam, já que continuariam presos a ela por mais um tempo. Mas querendo ou não, o último balançar do sino marcava o início de um novo dia. Consequentemente, o fim de um capítulo daquele pesadelo.

Jesse arrastou seus olhos sobre as letras curvadas no papel envelhecido e, após um suspiro para recuperar seu fôlego, dobrou a mensagem novamente e a jogou na lixeira mais próxima. Os dois voltaram para a área de espera no corredor e se recostaram sobre a parede. Era hora de descansar, finalmente.

"— As luzes ainda irão se apagar. Feliz natal, Jesse."

- Um velho amigo.

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