O clima na Blueberry Hill estava o mais tenso possível quando cheguei.
Sim, Mitch veio com esse apelido idiota para a casa e pegou.
Dois dias haviam se passado desde que a noticia saiu. Thomas Badeaux não se pronunciou mais. Harry e Candice estavam chegando nesse exato momento em Londres, estavamos nos preparando para uma grande e longa reunião.
A sala de reuniões estava pronta para nós. Nate e eu estavamos como baratas tontas pois não sabíamos qual a situação atual do relacionamento dos dois, então não podiamos tomar nenhuma providencia em relação a nada.
- Como você está? - estendi a xícara para Nate.
- Exausto. - ele passou a mão no rosto. Profundas olheiras estavam abaixo dos seus olhos azuis. E eu o entendia, eu estava da mesma forma.
- Você tem ficado aqui? - perguntei sentando ao seu lado.
- Sim, sinceramente, foi o melhor negócio que fizemos. - ele riu. A casa grande, no segundo andar tinha 8 quartos. Um era meu, um de Nate e um de Harry, o resto a banda, que quando passava a noite, dividia.
- O que vamos fazer, Nate?
- Tudo depende dele, Eliza. - disse pensativo.
Os ultimos dois dias, foram um horror para nós da equipe. O assédio da midía triplicou. Não podiamos aparecer na janela de casa sem ser fotografado pela imensidão de paparazzi que nos perseguiam.
Depois de conversas jogadas fora e alguns cafés, ouvimos o carro de Harry na frente da casa. Levantei pegando mais um café. Eu estava nervosa.
- Olá! - Me virei para a voz rouca que apenas olhava para Nate. Que levantou e o abraçou.
- Como está, cara?
- Bem, apesar das circunstâncias. - deu ombros sentando na mesa redonda. Me sentei ao lado de Nate, ficando os dois na frente de Harry. - Então...
- Temos muito o que conversar, cara...
- Eu sei.
- Primeiramente.... - Nate pigarreou. - O filho...
- É meu. - Harry interrompeu.
- Você fez algum teste? - me pronunciei pela primeira vez e, finalmente seu olhar caiu sobre mim.
- Não preciso. - respondeu seco.
- Harry... Sei que você está numa situação de merda, mas precisamos ser o mais meticulosos possível agora. Qual a situação entre você e Candice? - Nate perguntou.
- Estamos bem. - eu e Nate nos olhamos surpresos. - Nós passamos os últimos dois dias conversando. Ela me explicou tudo. Detalhou cada momento em que passou com ele. - ele suspirou cansado. - Foi apenas algumas noites, as quais ela garante que se protegeram.
- E você acredita nela?
- Sim, Elizabeth, eu acredito na minha noiva. - me encolhi na cadeira.
- Mesmo assim Harry... um teste não fará mal algum.
- Nate, isso não é mais discutível. Eu não vou fazer teste algum. - se inclinou na cadeira de braços cruzados.
O celular de Nate começou a tocar e ele saiu da sala para atender nos deixando a sós.
O silêncio desconfortável pairou sobre nós. Eu tinha tanto para falar, mas não saia nada. Harry estava com leves olheiras abaixo dos olhos, seu cabelo estava um pouco maior e ele estava com um leve bronzeado.
- Como você está? - perguntei tentando quebrar o clima ruim.
- Estou bem. - me olhou. - E você?
- Tudo bem...
E o silêncio voltou.
- Me desculpem, eu vou ter que sair. Helena bateu o carro, essa tempestade está um inferno, eu preciso ir até lá. - Nate disse pegando suas coisas. - Eliza, por favor assume para mim.
- Claro. - me levantei. Helena era a noiva de Nate. - Ela está bem? Você precisa de algo?
- Está tudo bem, ela sofreu apenas alguns arranhões. Por favor, só cuide das coisas por aqui.
- Se você precisar de algo me avise. - Harry levantou dando tapinhas nas suas costas.
E então éramos só nós dois na imensa casa.
- Então... - me ajeitei na cadeira. - Acho que seria bom fazermos uma nota de esclarecimento?
- Parece bom.
- Você... - o barulho de granizo batendo na janela nos chamou atenção. - Está horrível lá fora.
- Está mesmo. - ele pegou o celular. - Só vou ver se Candice chegou bem em casa. Um momento. - ele começou a digitar algumas coisas. Mordi os lábios desconfortável e no mesmo segundo meu celular apitou.
"Gatinha, você está em casa? Essa tempestade está horrível, estão trancando todas as avenidas. Me avise, por favor."
Sorri com a preocupação de Dougie e logo respondi.
"Estou na blueberry hill, está tudo bem. Logo já vou pra casa."
- Nota de esclarecimento então? - Harry me tirou dos devaneios e eu larguei o celular.
- Isso! Então vamos colocar que...
Depois de quase duas horas, eu e Harry ficamos montando a nota de esclarecimento sobre os últimos acontecimentos.
- ... E o casamento está de pé. - ele concluiu.
O olhei parando de digitar.
- Você...
E então escutei um estouro e todas as luzes apagaram. Já era noite, e então tudo ficou escuro.
- Acho que faltou luz. - Harry comentou ligando sua lanterna do celular assim como eu.
Fechei o Mac salvando a nota.
- Eu vou pra casa. - disse recolhendo minhas coisas.
- Eu acho que não é uma boa ideia. - ele foi até a janela e mostrou os carros cobertos de neve. Puta. Que. Pariu.
- Era só o que me faltava. - massageei as têmporas.
- Vamos para sala. - nos guiamos pela luz do celular até a grande sala e eu sentei no sofá. Eu estava totalmente frustrada.
Harry ficou alguns minutos tentando acender a lareira até a leve iluminação do fogo se fazer presente. O suficiente para desligarmos nossas lanternas.
Ele sentou no outro sofá e suspirou. Comecei a mexer no meu celular para me distrair do silêncio desconfortável que, mais uma vez, estava presente.
- Então... - ele começou, o olhei. - Você está namorando?
E por essa eu realmente não esperava. Tudo o que eu não queria agora era ter essa conversa com Harry.
- Não. - voltei a mexer no celular na tentativa de ele não falar mais sobre isso. Não adiantou.
- São só amigos?
- Sim, Harry. Somos amigos. - continuei mexendo no celular.
- Amigos que se beijam? - olhei para ele. A luz fraca em seu rosto faziam seus olhos brilharem ao meu olhar. Ele estava tão perto do fogo que suas bochechas estavam vermelhas.
- Podemos não falar sobre isso?
- Tudo bem... - ele foi até a lareira cutucando a madeira. - Eu só acho engraçado que...
- O que, Harry? - larguei o celular com raiva no sofá.
- Você disse que ia me esperar. - falou baixinho. O olhei totalmente perplexa.
- Você vai casar! - esbravejei.
- Eu sei, mas... - ele ficou sentado no tapete em frente a lareira e virou para mim. - Eu pensei que pelo menos por um tempo você iria... - levantei às sobrancelhas esperando ele completar. Ele não o fez.
- Ficar sozinha?
- É. Ficar sozinha. - e então eu não contive a risada amarga que saiu da minha garganta.
- Eu... - Respirei fundo e olhei nos olhos dele. - Eu colei todos os meus caquinhos, Harry. E não vou pedir perdão pela forma que escolhi para consertar aquilo que você quebrou.
Levantei indo até a cozinha com a lanterna. Agarrei a pia respirando fundo. Ele realmente estava achando que eu iria ficar aguardando por ele? Eu estava cansada disso. Na maior parte das vezes, aquilo que você mais quer é aquela coisa que você não pode ter. O desejo nos parte o coração, nos esgota. O desejo pode ferrar com a nossa vida. E a minha estava ferrada. E por mais duro que seja querer muito uma coisa, as pessoas que sofrem mais são aquelas que que sabem o que querem. E eu sabia que queria Harry. Eu queria. Antes de Dougie.
- Alô? - atendi o telefone que gritou em cima do balcão.
- Oi, Liza. Você está bem? - a voz preocupada de Dougie instantaneamente me acalmou.
- Estou bem, estou aqui ainda. Faltou luz e o carro está atolado na neve. Não sei quando vou conseguir sair daqui.
- Quer que eu vá até aí?
- Não precisa, logo eu já consigo ir pra casa.
- Você tem certeza? - eu sorri. Ele era tão bom.
- Tenho, meu amor. Não se preocupe, ok?
- Tudo bem. Você tem companhia pelo menos?
- Tenho sim.
- Qualquer coisa não hesite em me ligar, ok? E me avise assim que chegar em casa que vou até lá.
- Pode deixar.
- Se cuida, gatinha.
- Obrigada, Doug.
Olhei para a chamada encerrada e sorri. Dougie Poynter não era desse mundo.
- Você gosta dele? - dei um pulo virando para Harry que estava a alguns passos.
- Meu deus, Styles. - coloquei a mão no peito sentindo o meu coração acelerado. - Há quanto tempo está aí?
- O suficiente.
Peguei uma taça e fui até a adega escolhendo um dos diversos vinhos que estavam ali o ignorando. Em silêncio o abri e enchi a taça. Dei alguns goles apreciando o gosto doce e suspirei.
- Você acha que dá para tirar a neve de cima do carro? - perguntei para ele que havia pegado uma taça também e se servido.
- É claro que não... - disse como se fosse óbvio.
- Que merda. - murmurei voltando até a sala. Estava começando a ficar com frio. Sentei na poltrona perto da lareira e esperei o calor me esquentar.
- Você vai ficar fugindo de mim o tempo todo?
- Não estou fugindo.
- Não é o que parece. - ele sentou na poltrona ao meu lado.
- O que você quer, Harry? - olhei para ele.
- Eu sinto a sua falta.
Suspirei encostando a cabeça na poltrona.
- Eu também sinto a sua. - disse baixo.
- Desculpa por tudo isso. - ele encostou na minha mão. Me afastei do seu toque e a pousei no meu colo. - Eu queria que fosse diferente. - sua voz era magoada.
- Diferente como?
- Eu... Eu queria dar uma chance para nós.
- Não existe mais nós. Porque quando você se deparou com as escolhas difíceis, tudo ficou complicado. Para mim, para você. E você consegue viver com isso? Com o que teve que deixar? Porque foi eu. Você teve que me deixar. E certo ou errado, Harry, você tem que decidir pelo que está disposto a lutar. E ao que me parece, você está lutando pela sua família. Pelo seu relacionamento com Candice. E a escolha foi totalmente sua.
Voltei minha atenção ao fogo que brilhava a minha frente.
- Eu só estou tentando fazer o que é certo.
- Eu sei.
- Então porque você age como se fosse errado? Como se eu estivesse fazendo algo horrível?
- Porque para mim, você está. - o olhei e contra a minha vontade meus olhos ficaram marejados. - Você escolheu ela. Você vai ter um bebê com ela! E o pior disso tudo, é que aconteceu tudo isso, e mesmo assim você não tem dúvidas que esse filho pode não ser seu. Esse é o tanto que você queria que as coisas fossem diferentes.
- Você não entende... eu estou perdido, Elizabeth. Tudo está tão fodido no momento. Eu não sei o que fazer, o que pensar. Eu sinto que tudo a minha volta vai explodir a qualquer momento e não há nada que eu possa fazer para evitar isso. Eu... - ele fechou os olhos. - eu não consigo imaginar que esse filho não é meu. Porque eu simplesmente não posso mais perder algo. Não depois de ter perdido você.
- Eu estive aqui o tempo todo, Harry. Você não me perdeu. Você não entende? Você não vê? Eu perdi você! Eu simplesmente perdi você de um dia para o outro. E você nem hesitou. Você nem pensou em me escolher.
- Liza...
- Por favor. - levantei a mão fazendo-o parar e quando fechei os olhos as lágrimas caíram. - Eu não quero mais falar sobre isso.
E então, ele simplesmente não falou mais nada. Durante minutos. Torturantes minutos sem nenhuma palavra. E isso me doeu, porque eu pensei que ele iria falar. Que ele iria pelo menos mostrar o quão arrependido ele estava. Nada.
- O que ele é para você? - fechei os olhos respirando fundo.
- Ele é como... - me virei para ele. - Dougie foi como recuperar o fôlego. Como se eu estivesse me afogando e ele foi lá e puxou minha mão.