Desci a escada devagar com a ajuda da Ramona que reclamava do meu peso em seu ombro e ri em cada passo que eu dava , vi minha mãe na sala chorando sentada no sofá e tirei meu braço do ombro da mona em seguida.
- mãe , oque aconteceu ? - pergunto dando passo devagar até o sofá onde ela estava e ela seca o rosto rapidamente.
- o seu namorado , como sempre agindo sem pensar - ela diz com raiva e eu olho em volta notando apenas o segurança ao lado.
- oque ele fez ? - pergunto respirando fundo e ela me encara.
- contou ao Raul , sobre mim e também sobre você - ela diz e eu nego.
- sobre a sua vida de antes ?
- exatamente isso - ela diz e eu molho meus lábios.
- é o certo mãe , o Raul precisa saber de tudo. Ele não pode ficar sem saber de nada estando no meio de tanta coisa.
- apoia ele ?
- não apoio o Evan ter contado sem você , mas também não apoio vocês esconderem do Raul sobre tudo que fez e fazem.
- ele está mesmo fazendo sua cabeça - ela nega se levantando.
- onde está o meu pai ? - Ramona pergunta.
- saiu pra andar - minha mãe diz seca e sai da sala subindo a escada e eu respiro fundo.
- e por quanto tempo vamos ficar escondidos aqui ? - digo olhando para o segurança.
- o senhor Tarlley está lá fora - ele diz e eu reviro os olhos e saio passando por ele apenas de sutiã sem me importar com nada , vejo o gramado enorme enfrente a casa e molho meus lábios ao ver que estávamos mesmo longe da casa dele.
as árvores verdes e floridas em volta mostravam o quanto o lugar era silencioso, as folhas caídas no chão voavam me fazendo cobrir os braços com as mãos pelo vento frio , desci os degraus de madeira devagar colocando a mão sobre a faixa presa ao meu abdômen.
de longe vi o Evan sentado embaixo de uma das árvores altas que havia ao lado da casa , e o cigarro em sua mão me fez revirar os olhos , ainda mais por saber que o copo em sua mão com certeza tinha alguma bebida alcoólica.
meus passos eram lentos e doloridos , já que a faixa estava apertada e movimentava meu corpo ao andar fazendo a ferida doer.
quando o Evan me viu , seu olhar de irritação era bem visível , soltou a fumaça dos lábios e continuou me olhando até eu me aproximar dele.
- veio aqui fazer oque ? pensei que quisesse um tempo - ele diz rouco e pela sua voz eu sabia que ele estava bêbado.
- peço um tempo e você enche a cara ?
- não é da sua conta oque eu bebo ou não - ignorante e seco , é ele estava bêbado.
ele da um gole em sua bebida e coloca o cigarro entre seus lábios desviando seu olhar do meu.
- eu te pedi um tempo pra pensar , não terminei com você. É tão difícil assim de entender ?
- pra mim é a mesma coisa - ele diz sem me olhar.
- pois pra mim não é.
- foda-se.
- Evan - murmurro irritada e ele me olha - para de beber.
- não manda em mim Emma.
- estou te pedindo pra parar.
- e eu estou dizendo "não" , entendeu ? - ele debocha e eu mordo o lábio encarando em volta procurando paciência com ele.
- já está bêbado , isso é ridículo - digo negando e ele concorda.
- deveria ficar bêbada também , talvez assim resolve tudo que disse que tem que resolver. Incluindo o tempo que precisa.
- por que está fazendo isso ?
- por que é oque pessoas como eu fazem Emma - ele diz alterando a voz - um traficante , que não pensa na família nem nas pessoas que me rodeam. Um filho da puta ambicioso que trocou tudo por poder e dinheiro. Um bosta , que de qualquer forma viraria um merda um dia.
- por que está dizendo isso ? - me aproximo dele e ele ri.
- por que é oque todos pensam.
- você não é isso. E sabe disso.
- vai dizer que não acha isso ? - ele me encara - vai dizer que quando eu te dei esse anel não teve medo ? Pois estaria se prendendo de vez a um marginal , sem futuro algum. Que não pode te dar uma vida normal , sem correr riscos.
- eu não pensei isso - me abaixo sentindo dor e coloco a mão sobre a barriga encostando os joelhos na grama.
- não minta Emma.
- não estou mentindo - digo encarando seu rosto - e sabe que eu não gosto disso.
- vai dizer que não me acha um sem futuro ? - ele debocha - até uma criança entenderia isso.
- eu vejo você como qualquer outra pessoa Evan , pode ter um futuro brilhante se quiser. Pode ser uma pessoa normal , basta querer.
- o problema é esse , eu não quero uma vida normal.
- então por que está aqui se lamentando ?
- no fundo eu não sei , não faço idéia - ele diz bebendo e eu puxo o copo de sua mão fazendo a bebida derramar um pouco sobre a bermuda dele e nego com raiva passando a mão o local onde havia molhado e só depois tenho noção do que eu estava fazendo , encaro seu rosto e tiro rapidamente a mão de cima do seu membro que dava um belo sinal em sua bermuda , mesmo não estando em ereção.
- que foi ? - ele pergunta e eu molho meus lábios tirando os fios de cabelo do rosto.
- não quero te ver bebendo desse jeito - digo e ele concorda escorando a cabeça na árvore - eu amo você.
- me ama ? - ele ri - estranho esse amor não é ? De amar e querer longe.
- não te quero longe - digo e ele concorda com raiva.
- só toma cuidado , eu não tenho muita paciência pra isso.
- como assim ?
- você foi minha segunda namorada Emma. E a única que deu certo , e a única que eu me entreguei de verdade pra abrir um relacionamento sério. Que eu quis ir adiante. Mas não tenho vocação pra mané que corre atrás de mulher.
- não estou pedindo pra correr atrás de mim - digo seca e ele me encara.
- eu posso gostar de você , mas posso deixar de gostar na mesma intensidade.
- que bom - sorrio com raiva e me levanto - vai ser fácil pra você então.
- pra você foi bem mas fácil , não ?
- não - digo séria - pois eu não deixei de te amar , e nem deixaria. Pois o amor não é uma alergia ou uma doença curável , ou até mesmo como uma hipnose , não vai embora assim ao estralar dos dedos.
ele passa a língua sobre seus dentes de uma forma que eu sabia que ele estava com raiva , apenas saio dali sem dizer mais nada , segurando o copo enquanto ando depressa pra casa sem me importar com a dor.
se ele queria encher a cara e ficar na deprê , tudo bem. Só não ia deixar ele começar a dizer oque quisesse pra mim , isso eu não ia deixar mesmo.
- que cara é essa , viu o papai ?
- não - digo entregando o copo do Evan pra Ramona que me encara sem entender.
- estava bebendo ? - ela pergunta cheirando o copo.
- eu não , seu irmão idiota - resmungo me sentando no sofá e ela me encara.
- aquele que você ama , e te fez gemer bastante no banheiro dele ? - ela debocha e eu encaro ela - a é mesmo , estão dando um tempo.
- eu não consigo entender como ele pode gostar tanto dessa vida que ele leva - digo irritada - correr perigo , matar pessoas , eu não consigo entender.
- nem eu - ela diz colocando o copo na mesinha ao lado - jurava que se ele se envolvesse com você de verdade , iriamos todos embora de vez.
- nem mesmo eu , conseguiria fazer ele desistir disso - sou sincera e ela respira fundo.
- e você , seria capaz de largar a sua vida pra ficar com ele ? - ela pergunta e eu molho meus lábios e me mantenho calada por alguns segundos.
- precisamos achar o Raul - digo mudando de assunto.
- ele está próximo , apenas jogando pedras num lago do outro lado do terreno - o segurança do Evan diz encarando um tablet.
- tem câmeras nesse lugar ? - pergunto e ele concorda.
- em todo o terreno - ele diz e eu encaro a Ramona que ri.
- até que a vida dele não é tão ruim.
- experimente levar um tiro.
- sem graça - ela murmurra.