Vermelho, como fogo. Vermelho...

By luanafcosta

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Uma terra vasta, dois monarcas poderosos e amados. Uma guerra que acaba com o sonho da jovem Amelie Knight de... More

Agradecimentos e algumas notas
Mapas
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7

Capítulo 5

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By luanafcosta

Consigo sentir a brisa em meus braços e o calor chegar conforme o dia. Encostada em uma árvore vejo o nascer do sol, não por colinas dessa vez, mas como se ele emergisse diretamente do mar.

— Estamos mais perto do que eu pensava — John chuta a lenha queimada pela fogueira da noite passada.

Após uma semana de viagem parece que finalmente chegamos à capital da província oeste. Por conta da escuridão e do cansaço tivemos que parar em um morro onde montamos um acampamento improvisado para passar a noite. De onde estou consigo ver o centro da cidade, o mar e um pouco do castelo azul de Maresi. A vista é encantadora e eu não consigo olhar para nada que não seja os raios tímidos da manhã iluminando a bela cidade litorânea.

— É bom estar de volta — John diz nostalgíco.

— O castelo não parece estar tão longe — comento ainda sem tirar os meus olhos da paisagem.

— Não fica, quer dizer se formos pelo centro da cidade — ele me olha de relance esperando pela minha reação.

— Não vou mais me esconder, Gallon — sorrio de leve.

— Ficaria difícil depois da sua luta em Volair — ele brinca — Mas Volair era uma cidade pequena, o que Maresi definitivamente não é, existem retratos seus por toda parte.

— Eu tenho plena consciência disso, John — bufo de raiva, quem ele pensa que eu sou? Uma garotinha ingênua?

Ele assente percebendo a minha irritação e nós entramos em um estranho silêncio enquanto ele sela o nosso único cavalo.

— Eu queria ter visto — como era esperado, o garoto impaciente fala primeiro.

— O quê? — pergunto sem dar muita importância.

— Você derrotar aquele gigante — ele sorri como um idiota.

— Ele não era um gigante — volto a olhá-lo — E não foi nada comparado ao que realmente posso fazer.

— Estou começando a realmente ter medo de você, Amelie... — ele olha diretamente em meus olhos com um sorriso torto nos lábios.

— Se você deseja continuar vivo é bom ter — apesar do meu tom de voz sério, John gargalha alto e balança a cabeça negativamente — Nós vamos para o castelo ou não?

— Quando quiser, Alteza — ele faz uma reverência de forma exagerada.

Viro os olhos e tomo as rédeas do cavalo, mas Gallon estende a mão pedindo por elas. Com um olhar torto eu as entrego para ele.

Ele não se junta a mim, apenas vai guiando o cavalo pelas rédeas, adentrando as tão conhecidas ruas. Resolvi tirar o meu feitiço de aparência, todos os aldeões que passam não conseguem desviar os seus olhares de mim ou de John. Estampo o meu melhor sorriso no rosto, alguns retribuem enquanto outros apenas continuam encarando. As pessoas cochicham entre si, mas não nos dirigem nem sequer uma única palavra, aparentemente ainda em estado de choque.

Em cima do cavalo não consigo ver a reação de John, mas posso imaginar perfeitamente a sua expressão. Chega a ser cômico como nos aproximamos tanto em tão pouco tempo, não muitos anos atrás não nos passávamos por desconhecidos que se conheciam apenas por nome. Não entendo por que ainda tenho receios sobre ele, acho que depois de tudo o que me aconteceu não consigo simplesmente entregar a minha confiança tão facilmente.

— Abençoada seja Amelie Knight! — um mercador grita levantando o seu pão.

Um sorriso genuíno toma conta dos meus lábios, outras pessoas gritam palavras de apoio e tentam contato físico. Me assusto com a quantidade de aldeões que de imediato se aglomeraram à minha volta.

— Por favor senhoras e senhores vamos manter a ordem e uma distância respeitosa da rainha — John diz alto, gesticulando para que as pessoas se afastem.

Minhas bochechas começam a doer de tanto que estou sorrindo.

Distraída eu não tinha percebido a linda paisagem à minha frente, o grande e pomposo castelo de Maresi, de um azul brilhante que chegava a cegar quem ousasse olhar por muito tempo.

— Não encare o castelo por muito tempo, Alteza — John tem que berrar para que eu possa ouvi-lo — É feito de vidro, por isso reluz tanto.

— Como isso é possível? — pergunto maravilhada com tão bela arquitetura.

— Não se preocupe, as paredes são uma mistura de ferro e vidro.

Assinto ainda um pouco atônita com tão bela vista. Noto que a quantidade de pessoas está diminuindo conforme avançamos, reparo também nos guardas reais cada vez mais presentes nas ruas, o que significa que estamos próximos dos arredores do castelo.

De repente somos parados abruptamente perto do portão, os guardas do castelo apontam suas lanças afiadas em nossa direção.

— Afastem-se! — um deles vocifera.

Instantaneamente entro em alerta, minhas mãos estão à postos e sorrateiramente desmonto do cavalo, pronta para qualquer reação necessária.

— Calma Ilian! — John solta uma gargalhada contente — Não está me reconhecendo mais? — ele abre os braços de maneira pitoresca.

Tenho vontade de rolar os olhos, típica reação do garoto sorridente.

— S-senhor Gallon? — o guarda, que aparentemente se chama Ilian, parece surpreso e num impulso de entusiasmo ele velozmente abre o portão.

Minhas costas relaxam e expiro um ar que nem percebi estar prendendo.

O sorriso que John esbanja parece quase rasgar o seu rosto ao meio, o conhecido guarda o cumprimenta com um abraço.

— Lady Gallon está tão preocupada! — ele diz se desvencilhando do aperto, ainda sem reparar a minha presença — Ela vai ficar tão feliz quando ver que o senhor retornou!

— Eu andei um pouco ocupado — ainda sorrindo ele direciona o seu olhar na minha direção.

Odeio como ele consegue sorrir para tudo.

— Majestade — o guarda logo se curva.

— É um prazer conhecê-lo, Ilian — digo cordialmente.

— Minha mulher não vai acreditar quando eu disser que conheci a rainha! — ele parece um garotinho que acabara de ganhar um novo brinquedo, esboço um leve sorriso em retribuição à sua animação.

— Eu até hoje não acredito — Gallon solta junto a uma gargalhada, sinto minhas bochechas enrubescerem, viro meu rosto tentando esconder — Nós precisamos entrar, pode nos acompanhar?

— Com prazer! — Ilian responde contente.

De perto o castelo é ainda mais impressionante, os jardins em volta me trazem a sensação de estar no paraíso, sinto o calor reconfortante que John havia me falado. É como se mais nada e nem ninguém existissem e finalmente a minha alma encontra aconchego em um breve momento de paz.

— Bem-vinda a minha casa, Alteza — o orgulho que ressona na voz de John de alguma forma intensifica esse sentimento.

— Meu filho! — uma mulher de cabelos claros levemente ondulados se aproxima, obviamente é a mãe de John — Eu estava com tanto medo!

Mais uma vez o jovem Gallon é o centro das atenções, sua mãe o aperta tanto que tenho a impressão de que ele não está mais respirando.

— E onde está seu pai? — subitamente ela o segura pelos ombros, com os olhos arregalados.

— Acho que ele ficou em Farvey — a feição de preocupação ainda não desapareceu do rosto de lady Gallon — Tive que sair às pressas — ele aponta com o queixo para mim.

— Ah! — ela exclama cobrindo a boca com a mão — Perdão Majestade, não a vi aí — ela acrescenta enquanto faz uma graciosa reverência.

— Não se preocupe lady — respondo polidamente.

— Não estou compreendendo o que está se passando — ela afirma um pouco desorientada.

— Eu estou ajudando Amelie a recuperar o seu trono do regente traidor — ele responde com toda a naturalidade do mundo.

— John! — ela lhe disfere um tapa no braço — Não trate a rainha tão informalmente!

— Está tudo bem, lady Gallon — tento conter uma risada — John me trouxe aqui para que eu possa enviar uma mensagem ao príncipe William.

— O príncipe de Davese? — ela esboça um sorriso estranhamente idêntico ao do filho — Mas que coincidência! Eu estava a caminho de lá agora mesmo.

— E por que você está indo para lá? Aconteceu algo com Amicia? — o semblante de John muda completamente, o temor toma conta dos seus olhos.

— Não querido — a voz e as palavras de sua mãe são doces o suficiente para acalmá-lo — Eu apenas estou um pouco transtornada com tudo o que está acontecendo no país — ela me direciona um olhar sutil, como se estivesse se explicando — E queria ficar perto dos meus filhos — a lady acaricia o rosto dele de forma terna.

— E onde está o Oliver? — mais uma vez John faz o papel de irmão mais velho preocupado.

— Está lá encima terminando de arrumar as bagagens — lady Gallon parece impaciente diante das perguntas do filho — É melhor discutirmos isso na sala de jantar.

Caminhamos todos em silêncio, aproveito para analisar a icnografia do castelo caso em algum momento eu precise usar essa informação, não deixando de reparar que ele é bem decorado com pinturas oficiais e plantas, tendo também as paredes pintadas em tons pastéis.

Ao chegar na sala de jantar me deparo com a paisagem mais exuberante que já vi em toda a minha existência, — as colinas de Farvey que me perdoem — imensas janelas que vão do teto até o chão nos presenteiam com a vista do pôr do sol na orla.

— É de tirar o fôlego né? — John sussurra em minha orelha, logo depois se sentando em seu lugar.

— Você pode chamar o Oliver? — lady Gallon pede a uma criada.

— Estava começando a sentir saudades desse lugar — John confessa sorridente para a mãe.

— É fácil se sentir assim quando você acordava todos os dias com essa vista.

— É realmente estonteante — comento ainda perplexa com tamanha beleza que o meu país abriga.

— Me chamou mãe? — um garoto entra no recinto, ele é praticamente a cópia de John, diferenciando apenas na idade e na cor dos olhos que são de um tom esverdeado.

Ele para de caminhar, perplexo intercala o seu olhar entre mim e John. Lady Gallon limpa a sua garganta e sutilmente aponta em minha direção, ele parece acordar do seu estado de dormência.

— Majestade — o jovem se curva e eu apenas assinto.

— A rainha veio até aqui com o seu irmão — ela explica a situação, posso ouvir um quê de orgulho em sua voz — Vossa Majestade deseja enviar uma mensagem ao príncipe certo?

— Exato, uma carta para ser mais precisa — o garoto se junta a nós na mesa — Onde irei solicitar uma aliança com Davese por meio do matrimônio.

— Perdoe-me Majestade, então você deseja se casar com o príncipe William? — lady Gallon parece ainda estar atordoada com toda essa situação.

— Exatamente.

— Se Vossa Majestade permitir ficarei honrada em ajudá-la — seu timbre tem um som familiar, algo extremamente maternal — Nada me impede de levar a sua carta até Davese e prometo que a entregarei em mãos para o príncipe.

Pondero por alguns minutos, os Gallon são realmente aliados? Essa carta é uma das minhas últimas jogadas. Ao arriscar a minha confiança tenho duas opções: ou irei perder tempo precioso pela mensagem não ter sido entregue ou vou ganhar tempo já que não precisarei encontrar um mensageiro confiável.

As palavras que John me disse na casa de Roy ecoam pela minha cabeça. Eu não tenho opções.

É extremamente desagradável estar nesse estado de impotência, de deixar a minha própria vida e o futuro do meu país nas mãos de outras pessoas. Minha querida mãe que me perdoe, mas não tenho tempo para desconfianças.

— Eu apreciaria muito o seu gesto, lady Gallon — firmo o meu voto de lealdade.

— Partirei o mais rápido possível, Majestade — ela abaixa a sua cabeça em sinal de respeito e se retira do amplo cômodo junto ao seu filho mais novo, me deixando a sós com John.

— O que deu em você para confiar tão fácil em minha mãe? — o tom dele é descontraído, como se ele estivesse fazendo piada sobre.

— Sabe eu não gosto muito de arriscar assim — confesso sem olhar diretamente em sua direção — Mas você não acha a espera de alguma forma um pouco excitante? — volto o meu olhar determinado diretamente para os seus olhos.

— Estar em Maresi te mudou — uma risada fraca escapa de seus lábios.

— Ou eu simplesmente mudei por mim mesma — o olhar intrigado de John chega a me divertir.

— Venha, vou te mostrar onde você pode dormir, Amelie — ele indica para que eu o acompanhe.

— Para você é rainha Amelie — não consigo me conter, eu e ele sorrimos, fitando um ao outro.

— Algumas coisas nunca mudam — seu olhar perfurante faz com que eu desvie a minha atenção para qualquer outra coisa.

Nós trocamos olhares até a porta dos meus aposentos.

— Não se preocupe com a minha mãe e com o meu irmão — ele diz sério dessa vez — Eles entendem que se a estou apoiando é porque tem um motivo.

— E qual seria esse motivo? — pergunto curiosa.

— Você vai descobrir um dia — ele abre um sorriso manso — Até amanhã, Alteza.

(...)

Da sacada dos meus aposentos vejo as carruagens sendo preparadas para a partida de lady Gallon, John está se despedindo de sua mãe e irmão. Ele poderia muito bem viajar com eles, acho que eu até me sentiria ligeiramente menos insegura.

O clima hoje está particularmente agradável, por isso estou trajando um vestido verde-claro, a brisa revigorante balança o tecido suave. Por algum motivo esse lugar me deixa mais leve, meus sentimentos mais viscerais se afloraram na minha curta estadia nessa cidade, e não aqueles que me atormentam sempre que fecho os meus olhos. Por um instante sinto o que não venho sentido genuinamente por mais tempo do que gosto de admitir. Felicidade.

Mas eu sei que isso não vai durar, o meu dever não é esse. Por isso prefiro reprimir tais sensações, quando se prova do paraíso é difícil retornar ao inferno.

John cruza o seu olhar com o meu, ele não sorri e eu não desvio.

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Vocês têm alguma teoria sobre o rumo que a história vai tomar? Conta pra mim! (Mas acho que vocês vão se surpreender haha) Enfim obrigada por terem lido! Até o próximo capítulo
E não se esqueça de votar! Isso me ajuda muito! :)
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