Luke abriu a porta da caminhonete depois de guardar o restante das compras atrás. Percorremos a cidade inteira a procura de inúmeras coisas, claro que depois que saímos da loja de Tim não trocamos nenhuma palavra.
O sol já estava se pondo, e ainda não tínhamos encontrado taças de vidros leves. Catarina tinha cada ideia, mas eu não a culpo.
Ela quer tudo perfeito. Além disso, ela merece.
- Parece que vai chover - Disse Luke atraindo minha atenção
Fazia mais de 2h horas que estávamos nesse entra e sai da caminhonete e ele nem se deu ao trabalhar de olhar para mim nesse meio tempo.
Olho pela janela aberta da caminhonete, o vento gelado me trazendo um alívio e paz. Eu sentia os olhos de Luke em mim, me senti louca por estar de olhos fechados e sentir isso, mas quando o olhei, não era loucura.
Os olhos de Luke estavam me observando, como eu havia pensando.
Eu não vou falar com ele, porque tudo que eu falo é motivo para uma possível discussão. Ele tem raiva de mim, respiro fundo encarando o céu.
Eu não o culpo.
Nada saiu como planejado. Nunca sai.
Depois de encontrar as taças na cidade e as comprar, estávamos voltando pela estrada que dava na casa dos Peterson e o restante da praia à distância.
Mas como Luke disse, realmente parecia que ia chover. Então choveu.
A chuva caiu grossa e rápida. O barulho dos pingos parecia balas de uma arma. E para piorar, os pneus da caminhonete afundaram na lama.
Estava escuro e começando a ficar frio. A cada instante eu me xingava mentalmente por não levar uma blusa de frio. Mas também nada pode me culpar, estava um sol de rachar.
- O que vamos fazer? - pergunto na quinta, talvez sexta, falha tentativa de Luke de tirar o carro da lama
- Não podemos ir andando, apesar de estar perto as coisas vão molhar. Vamos ter que empurrar.
- Empurrar? como assim?
Ele me encarou de sobrancelha erguida
- Vamos sair da caminhonete e empurrar pelo lado de fora.
- Está chovendo, bem capaz da gente escorregar!
- É isso ou ficar a noite toda comigo aqui, e eu duvido que você queira isso.
Passo as mãos no rosto
- Vamos empurrar logo.
Ele sorriu como quem sabia que eu falaria isso. Luke abriu a porta e eu fiz o mesmo, com os faróis ligados naquela escuridão, fomos para frente da caminhonete.
No instante que pisei na lama eu quase escorreguei. Ótimo momento para usar tênis escorregadio, Lily. Meus cabelos já estavam completamente encharcados, não preciso nem falar da minha roupa.
- Eu acho que não vamos conseguir, está muito fundo - Digo observando os pneus afundados na terra, lama, não sei.
- Vamos sim - Ele disse tirando a camiseta e jogando dentro da caminhonete. meu santo amado. Luke ajoelhou no pneu e tentou empurrar, falhando miseravelmente. - Vou precisar da sua ajuda.
Ainda admirando seu corpo - como se eu nunca tivesse visto antes - Eu pergunto:
- Como vamos fazer isso?
- Fica na frente daquele farol e eu desse. No três você usa toda a força que você tem, certo?
Eu estava meio desconectada, admirando ele. Os fios loiros agora escuros caindo no olho, o corpo todo molhado e sem camisa. Deus, estou me sentindo uma adolescente que estava vendo pela primeira vez um homem nu.
Bom, não sou adolescente. E ele não está completamente nú. Eu não sei se sinto alívio ou desapontamento.
- Tá pronta? - Ele pergunta apoiando as mãos no carro
- Estou - Faço o mesmo
- Um
respiro fundo
- Dois
respiro fundo de novo
- três! - Ao ouvir esse número eu forço junto de Luke, a caminhonete parece pesada, eu sinto que não tenho forças o suficiente, mas eu continuou. Se ele não desistiu não sou eu que vai fazer isso. Você consegue, Lily! Força! - Está funcionando, Lily. Mais um pouco!
Continuamos forçando, empurrando, força, Alicia. Força! A caminhonete começa a andar para trás. No alívio, a caminhonete sai do buraco, e eu piso em falso e caio no chão.
Caminhonete sã e salva, eu nem tanto.
- Você está bem, Lily? - Luke se ajoelha do meu lado
- Bem eu estou, só estou toda suja - Faço careta me observando
Luke tinha os olhos brilhando, e prendia o lábio entre os dentes. Eu queria dizer que isso não era sexy, mas céus, é muito sexy.
- Você tá rindo de mim? - pergunto percebendo
Ele solta a risada. Rouca e boa para meus ouvidos. Eu não me aguento e começo a rir também, que clichê.
Ele não esperava, mais eu empurro ele que caiu sentado na minha frente, também sujando-o de lama. Eu só não esperava que ele seria tão rápido a ponto de puxar meus braços, me fazendo cair por cima dele.
Mesmo assim continuamos rindo, igual dois loucos. Eu não sei qual era a graça, se era a lama, cair na lama, ou nós dois estarmos juntos naquilo, passando por isso.
Com a luz dos faróis iluminando nossos rostos, Luke parou de rir aos poucos, seus olhos quentes intercalando entre meus olhos, minhas feições e meus lábios.
- Você é muito linda, Lily. Sempre foi. - Disse com a voz rouca
Aquilo, não deveria, mas tocou meu coração que antes já estava disparado mais agora estava mais do que disparado. Eu me pergunto se seu coração está da mesma maneira. Eu me pergunto por que estamos dessa maneira. Eu me pergunto o que vai acontecer depois.
Nada pode acontecer, esse é o problema.
Então eu levantei.
Toda molhada, toda suja. Estendi a mão para Luke que não precisou pegar para ficar de pé em um segundo.
- Acho melhor a gente voltar, devem estar sentindo nossa falta. - falo
Ele assentiu e foi para o banco de motorista. Eu respirei fundo, uma, duas. Tentando de alguma forma acalmar as palpitações de meu coração.
Não foi nada. Não foi nada. Não sei porquê estou assim.
Entro na caminhonete, obviamente sujamos tudo lá dentro, dez minutos depois estávamos estacionando em frente à casa dos Peterson.
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